GILSON LIMA
O que em mim sente está pensando
Livro: 10% HUMANO
Collen, Alann
Esse texto quer homenagear um livro corajosamente lançado em 2016...
Enfim.
Cada vez mais deixo de ser um herege solitário e estou tornando a teoria simbiótica, uma nova teoria CONTROVERSA. Pelo menos lá fora.
Eu começaria dizendo para Alanna Collen que seja bem vinda, mas convido para ela dar um salto e entender que essa constatação tem uma consequência radical: nós já deixamos o humano para trás lá embaixo.
Aqui em cima, na massa de carne, fibras e ossos ainda a consciência do predador humano sináptico se mantém: o humanismo resiste.
Aliás, sobre essa visão do cérebro com uma célula de controle central (neurônio que é a base da neurociência) está cedendo a novas descobertas .
Com equipamentos mais poderosos já foram encontrados mais de 40.000 neurônios só no coração. Coração que os humanos achavam que era apenas uma bomba mecânica de distribuir sangue e seu nutrientes.
Mas ele é muito mais que isso. Os antigos sábios já sabiam bem antes dos modernos da ciência humanista racional. Ele também sente e nutre sentimentos, paixões.
Também o poderoso genoma humano dos New Darwinistas, esses que reduzem a vida mera cognição e a computação de genes a serem editados, tal como um texto físico, também estão perdidos em crenças humanistas reducionistas. Longe de minimizar a conquista do mapeamento do nosso genoma humano, mas sabemos agora que temos agora um pouco mais de 20.000 genes e que nem chega a superar em número o do verme C. elegans. Temos a metade dos genes de um pé de arroz e até a humilde pulga-d’água ultrapassa esse número, com 31 mil genes.
Nenhuma dessas espécies é capaz de falar, criar ou ter pensamentos tão complexos.
Você ainda pode pensar, como um humano, assim como os cientistas que participaram do bolão na época para acertar o número de genes no final do mapeamento, de que o ser humano deveria ter muito mais genes que gramíneas, vermes e pulgas. Afinal, genes constroem proteínas, e proteínas constroem corpos, dizem eles.
Mas com certeza um corpo tão complexo e sofisticado quanto do ex-humano precisaria de mais proteínas e, portanto, de mais genes do que um verme.
Mas esses cerca de 20 mil genes não estão no nosso corpo sozinhos. Não estamos sós. Cada pessoa é um superorganismo, uma coletividade de espécies vivendo lado a lado, em cooperação, para controlar o corpo que nos sustenta. Nossas células, embora bem maiores em volume e peso, são superadas à razão de dez para uma pelas células dos micróbios parceiros que moram dentro da gente e sobre nosso corpo.
Esses 100 trilhões de micro-organismos – conhecidos como a microbiota – são predominantemente compostos por bactérias: seres microscópicos constituídos de uma só célula. Junto com elas, há outros: vírus, fungos e arqueias. Os vírus amigos também estão presentes e são tão pequenos e simples que colocam em xeque nossa ideia de poder do humano superior.
Essa característica não é apenas dos ex-humanos. Quanto mais células compõem um organismo, mais micróbios podem viver nele.
De fato, animais grandes como as vacas são conhecidos por sua hospitalidade às bactérias. Bovinos comem grama, e, se precisassem confiar apenas em seus próprios genes, conseguiriam extrair pouquíssimo valor nutricional de sua dieta fibrosa.
Para digerir esse tipo de alimento, são necessárias proteínas especializadas – chamadas enzimas –, capazes de decompor as moléculas duras das membranas celulares da grama.
Como as mutações genéticas dependem de mudanças aleatórias no código do DNA que só podem ocorrer a cada geração de organismos, esse processo levaria milênios se as vacas tivessem que desenvolver sozinhas os genes que formam essas enzimas. Um jeito mais rápido de adquirir a capacidade de absorver os nutrientes da grama seria terceirizar a tarefa para especialistas: os micróbios. As quatro câmaras do estômago só de um bovino abrigam populações na casa dos trilhões de micro-organismos cuja função é quebrar as fibras das plantas. O bolo alimentar – uma bola sólida de fibra vegetal – viaja para lá e para cá, entre a moagem mecânica da ruminação da vaca e a decomposição química realizada pelas enzimas produzidas pelos micro-organismos que vivem em seu intestino. Para os micróbios, é rápido e fácil adquirir os genes necessários para fazer isso, já que seu tempo de geração – e portanto as oportunidades de mutações e evolução – costuma ser inferior a um dia.
Nós essa ex-espécie mais complexa que chamamos de humanos, radicalizou isso lá embaixo na nossa microbiótica, e lá embaixo nos tornamos essencialmente simbióticos evoluídos. Deixamos os humanos para trás e conquistamos definitivamente a conquista da morte pelo envelhecimento quando éramos mais dependentes de apenas e majoritavelmente de nossas células. Essa massificação, nesse nível e nessa escala é recente, poucas décadas.
Agora imaginem, se uma simples lula havaiana e as vacas podem se beneficiar ao se aliarem aos micróbios, por que nós, humanos, não teríamos feito o mesmo?
Bastou evoluir de um sistema imune militar de combate para uma agência de defesa vigilante, mas de essência cooperativa, aberta a cooperação com todos que queiram cooperar a favor da vida num longo agora junto da rede simbiótica. Nos tornamos definitivamente simbióticos.
Não comemos grama nem temos um estômago dividido em quatro câmaras, mas temos nossas próprias especializações. Nosso estômago é pequeno e simples, e existe apenas para misturar a comida, adicionar algumas enzimas para a digestão e um pouco de ácido para matar os micro-organismos indesejados.
Mas só lá ha cerca de 10 mil indivíduos em cada mililitro de conteúdo no início do intestino delgado. Esse número chega a incríveis 10 milhões por mililitro em sua porção final, onde o intestino delgado encontra o ponto inicial do intestino grosso.
No final da década de 1990, usando as ferramentas da biologia molecular, os microbiologistas deram um grande salto e descobriram mais sobre nosso estranho relacionamento com nossa microbiota.
As novas tecnologias de sequenciamento do DNA são capazes de nos informar quais micróbios estão presentes em nossa microbiota, e assim podemos situá-los em seu local apropriado na árvore da vida.
Nessa hierarquia, do domínio para o reino, depois filo, classe, ordem, família, gênero, espécie e cepa, os indivíduos vão ficando cada vez mais intimamente relacionados entre si. De baixo para cima, nós, os humanos (gênero Homo e epíteto específico sapiens), somos grandes antropoides (família Hominidae) situados junto com os macacos e alguns outros animais na categoria dos primatas (ordem Primatas).
O palpite de um cientista altamente considerado Lee Rowen, já no bolão do Genoma que falamos acima, em Cold Spring Harbor, apontava para a descoberta bem mais profunda que defendi na simbiótica, não estamos sozinhos, e nossos “caronas” microbianos desempenham um papel bem maior em nossa ex-humanidade do que jamais pensamos. Essa percepção está ganhando aos poucos adeptos na velha ciência, ainda que humanista.
Mas já na microbiologia está trazendo uma nova visão de nosso entendimento sobre a nossa individualidade enquanto espécie superior.
Uma nova noção de nossa ligação com o mundo microbiano e eu diria com todo nosso acontecer no mundo.
O reconhecimento do legado de nossas interações pessoais com nossa família e o ambiente desde o princípio da vida.
Cada vez mais meu convite para a emergência da civilização simbiótica, ainda em transição sobre o velho humanismo, está fazendo com que paremos e reflitamos sobre o fato de que poderia haver mais uma dimensão em nossa evolução.
Passamos a depender casa vez mais da cooperação com nossos micróbios, e sem eles seríamos uma mera fração de quem somos. Mas o que significa ser apenas 10% humano? Mudarmos numa consciência de um DNA simbiótico, fractal do pós humano, evoluindo e emergindo uma transição para a CIVILIZAÇÃO SIMBIÓTICA onde a cooperação é a ligação que nos torna o que somos.
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Gilson Lima. É cientista aposentado depois de décadas de atuação independente sobre múltiplos campos da vida e da tecnologia na complexidade. Criou a teoria não natural da simbiogênese cooperativa na evolução cérebro, máquinas, corpos e sociedade. Foi por vários anos pesquisador acadêmico e industrial coordenando bancadas de pesquisas de ciência de ponta, tecnologia e protocolos de neuroreabilitação em diferentes cidades e diferentes países principalmente, europeus.
Tem formação original humanística e foi voltando seus estudos e pesquisas desde o início dos anos 90 para a abordagem da complexidade nas metodologias informacionais, depois na nanotecnologia e nos últimos 15 anos de carreira focou na neuroaprendizagem e reabilitação envolvendo a simbiogênese e interfaces colaborativas entre cérebro, corpos e displays.
Inventor de várias tecnologias, softwares e protocolos clínicos.
Escritor. Muitas de suas atividades e textos estão disponíveis no blog: http://glolima.blogspot.com
Atualmente retomou sua atividade como músico compositor, cantor que atuava na adolescência produzindo atualmente suas canções. Suas músicas e shows podem ser acessados no canal do youtube @seukowalsky
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