quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O CÉREBRO DO FUTURO

Dr. Gilson Lima.
Sociólogo Clínico (International Sociology Association – ISA) e cientista em reabilitação.
giliima@gmail.com


Os ‘baby boomers’ são uma geração de crianças humanas nascidas entre 1945 e 1965 na Europa - durante uma explosão populacional. Eu proponho considerar ‘baby boomers’ no Brasil uma classificação diferente. Seriam crianças nascidas entre 1964 e 1970 e consideraria muito menos a explosão populacional e muito mais a formação de toda essa geração forjada pela pedagogia da imagem televisiva.


São pessoas mais velhas que se queixam da ansiedade do computador e possuem medo dos perigos da Internet, não só para si, mas também para seus filhos e netos. Os doentes com transtorno obsessivo-compulsivo muitas vezes acham que, quando se envolvem com a tecnologia digital, quer se trata de e-mail, compras, ou jogos, eles não podem controlar seus impulsos. Os circuitos cerebrais e comportamentos desajustados dos vícios e compulsões de controle mostram uma considerável, sobreposição, mas ... o cérebro do futuro não será totalmente cibernético e tecnológico como imaginam os nativos digitais e nem totalmente orgânico e biológico como sonham os imigrantes digitais.

Nosso cérebro já é atualmente um symbios, uma simbiose entre circuitos orgânicos e interfaciamento de circuitos eletrônicos. No futuro, cada vez mais presente, em vez de colidir nossos circuitos neurais vão se adaptar melhor e se unir em simbioses cada vez mais intensas com os circuitos inorgânicos. O que chamo de borramento da fronteiras entre o universo orgânico e inorgânico, um symbios (que não precisam ser invasivos para ser intenso).

Os lobos frontais fragilizados dos Nativos Digitais – por causa do excesso estressante de interação com telas e fluxos de pixels  -constroem novos caminhos neurais a partir das interações cara-a-cara. No entanto, a cooperação, a aproximação simbiótica dos nativos digitais com os Imigrantes Digitais tecnologicamente ingênuos e vice versa vão melhorar as habilidades multitarefas de ambos enquanto aumentam sua exposição a jovens Nativos Digitais ao universo off-line e testa a testa.
A nova sociedade simbiótica preenche as lacunas do cérebro e o cérebro do futuro surgirá. Não será - apenas - esse cérebro do futuro experiente em tecnologia e pronto a tentar novas coisas, ele terá dominado a multitarefa e a concentração e afinado suas habilidades de comunicações verbais e não verbais. Ele saberá como se afirmar bem a lógica, mas também como expressar empatia. Terá excelentes habilidades pessoais e será capaz de nutrir sua própria criatividade.
Hoje nós podemos nos maravilhar com os extraordinários avanços tecnológicos da era digital e como a revolução tecnológica alterou dramaticamente nossa cultura e vias neurais do nosso cérebro. Mas se os avanços tecnológicos continuarem na sua trajetória atual, o futuro próximo pode fazer os desenvolvimentos de hoje parecerem triviais, se não de alguma forma ultrapassados. O teclado e o mouse do computador podem ser lembrados como ferramentas brutas que causaram lesões irritantes nos pulsos e dedos enquanto nós entramos em uma era onde o cérebro do futuro controla diretamente os e-mails, pesquisas na Internet e os jogos através apenas do poder de microrítmos corporais. Pode-se imaginar um usuário do cérebro do futuro refletindo, “Lembra quando o Google era gratuito?” Afinal, uma vez o auxílio à lista já foi gratuito, bem como discar a operadora para um serviço de despertar.
Já desenvolvemos tecnologias para interagirmos com telas e objetos sem nenhuma invasividade, sem nenhuma intervenção cirúrgica. Uma porta que se abre com sensores de presença de calor, uma webcam que reconhece a face em quadrantes de pixels e operando as correntes eletrônicas por um material semicondutor em circuitos que registram as correntes elétricas permitindo comunicação direta entre células vivas de um corpo em symbios sensórios que operam máquinas e telas cada vez mais conectadas em múltiplas redes.
Como cientistas já recentemente treinamos pacientes neurais a controlar um cursor de computador apenas com seus micro movimentos em sensoridade. Não se trata de controle por pensamentos, mas pelo corpo vivo e corpóreo. O pensamento, a imaginação é um subproduto da interação física, não uma matéria operante de coisas físicas. Se pensarmos numa vaca amarela e tivermos conectado o cérebro numa maquina com sensoriamento invasivo (micromáquinas sensórias sofisticadas com seus programas de identificação lógica de códigos sensórios) conseguiremos apenas localizar o lugar onde se ativa o pensamento-vaca, mas não teremos acesso para identificar a vaca imaginada e muito menos a cor amarela. Podemos identificar até mesmo que temos uma rede sensória ligada a fotos capazes de produzir sensações e imaginação de cores. Mas se continuar apenas correndo atrás apenas de conexões físicas que nos ajudam a identificar os microcircuitos físicos de interação das cores que procurando colonizar a imaginação e o conteúdo imaginante, só encontraremos efetivamente redes físicas de sinapses. Sinapses são apenas pequenos choques – sem toque físico entre células - para permitir abrir um canal de transmissão de substâncias químicas escravas da imaginação. Porém o inverso é verdadeiro. O pensamento é escravo da localização física da interação, mas a imaginação é como um pássaro, forja ninhos e acontece no mundo voando.