segunda-feira, 28 de setembro de 2020

As três regras que regem as epidemias

 Gilson Lima


Encontrar o centro de atividade das redes epidêmicas é encontrar o que Malcolm Gladwel definiu: o ponto de desequilíbrio. O ponto da virada. É preciso estar atento as pequenas coisas que podem fazer grande diferença.




Esse texto trata-se de uma apresentação aplicada das três regras de mudança que manifestam uma epidemia que Malcolm Gladwell, chamou de: 1. A Regra dos Eleitos; 2. O Fator de Fixação e 3. O Poder do Contexto.

Um parêntese inicial. Então. Pediram para exemplificar a questão do centro de atividade na mineração de dados numa rede. Então vai um exemplo, bem conhecido e que vem muito a calhar nos tempos atuais.                                                                                  

É preciso entender que é no centro de Atividade da Rede que se localizará: O PONTO DA VIRADA OU DO DESEQUILÍBRIO. (Aquela menor diferença que faz toda a diferença).

Vamos “imaginar” um surto do SARS-COV-2. Suponha que, no verão próximo ao final do ano, mil turistas norte-americanos cheguem ao Rio de Janeiro contaminados e com a COVID-19. Vamos imaginar um ciclo de 24 horas.

Digamos que o índice de infecção desse vírus é de 2%, o que quer dizer que uma em cada 50 pessoas que têm contato com um portador do vírus fica doente e ou mesmo que muitos estejam assintomáticos não deixam de ser vetores de contaminação.

Digamos que esse seja exatamente o número de pessoas com quem um carioca médio – nas viagens de metrô e na convivência com os colegas de trabalho – entra em contato todos os dias. 50 pessoas por dia.

O que temos, então, é uma doença em equilíbrio. Os mil turistas americanos transmitem o vírus para mil indivíduos no dia da chegada. No dia seguinte, essas mil pessoas recém-infectadas passam o vírus para mais outras mil; mas, ao mesmo tempo, os mil turistas que iniciaram a epidemia estão recuperando a saúde. Com o equilíbrio entre os que estão adoecendo e os que estão se curando, a doença segue num ritmo constante, porém discreto durante todo o verão e o outono.

No entanto, logo ali adiante aproximam-se as festas de fim de ano. O bairro de Copacabana do Rio estará tomado de gente para ver os fogos. Metrôs e ônibus ficam apinhados de turistas e de pessoas indo às compras. Agora, em vez de ter contato com 50 indivíduos por dia, o morador de Copacabana agora se vê diante de, digamos, 55 pessoas por dia.

De repente, o equilíbrio se desfaz. Os mil portadores do vírus passam a se encontrar com 55 mil pessoas diariamente, e o índice de infecção é de 2%. Isso significa que haverá 1.100 novos casos da doença no dia seguinte. Esses 1.100, por sua vez, estão agora transmitindo o vírus a 55 mil pessoas também, de forma que no terceiro dia haverá 1.210 moradores de Ipanema gripados; no quarto dia, serão 1.331; e, no fim da semana, quase 2 mil, e assim por diante, subindo numa espiral exponencial até que O Rio de janeiro esteja em meio a uma epidemia de COVID-19 a todo vapor em 25 de dezembro.

Aquele momento em que o portador médio do vírus da COVID-19, que antes tinha contato com 50 pessoas por dia, passou a se encontrar com 55 indivíduos diariamente foi o Ponto da Virada ou o Ponto de Desequilíbrio. Esse é o onde se situa o centro de atividades da rede de contaminação desse vírus. Que gera sua força oi pode gerar sua fraqueza para combatê-lo.

 Significou o patamar em que um fenômeno comum e estável – um surto moderado da doença – transformou-se numa crise de saúde pública. Num gráfico de representação de grafos e vértices, nesse caso, seria aquele onde a linha de repente dá uma engrossada fora do comum em suas linhas de conexão.

Os Pontos da Virada e de desequilíbrio são momentos de grande sensibilidade. Mudanças feitas exatamente nesses momentos decisivos podem ter consequências enormes. A SAR-COV-2 se tornou uma epidemia quando o número de cariocas em contato com um portador do vírus da doença pulou de 50 para 55 por dia. Contudo, se essa pequena mudança (essa pequena diferença faz toda a diferença) e se tivesse acontecido na direção oposta – caso o número tivesse caído de 50 para 45 numa semana, por exemplo –, essa alteração teria empurrado a quantidade de vítimas da doença para 478 numa semana. E, com mais algumas semanas nesse patamar, a COVID-19 levada pelos americanos teria desaparecido totalmente do Rio de janeiro.

Cortar o número de expostos de 70 para 65, de 65 para 60 ou de 60 para 55 não teria sido suficiente para acabar com a epidemia. Mas uma mudança bem no Ponto da Virada, de 50 para 45, teria.

As epidemias envolvem a ação das pessoas que transmitem agentes infecciosos, do agente infeccioso em si e do ambiente em que o agente atua. Segundo Malcolm Gladwell, como dissemos, existem três agentes vitais de mudança que manifestam uma epidemia, o que ele chamou de: 1. A Regra dos Eleitos; 2. O Fator de Fixação e 3. O Poder do Contexto.

 

1. A Regra dos Eleitos

Os eleitos indicam que em determinados processos, como o de uma pandemia,  tratar todas os agentes como iguais  pode se tornar um desastre. Alguns  economistas chamaram esse fenômenos de o princípio 80/20[1].

 Trata-se da ideia de que, para eles, em qualquer situação, cerca de 80% do “trabalho” é feito por 20% dos participantes. Na maioria das sociedades, 20% dos criminosos cometem 80% dos crimes. Vinte por cento dos motoristas causam 80% de todos os acidentes. Vinte por cento dos bebedores de cerveja tomam 80% de toda a cerveja.

Agora em se tratando de epidemias, entretanto, essa desproporcionalidade é ainda maior: uma porcentagem mínima de pessoas faz a maior parte do estrago.

Pesquisas anteriores de pandemias que examinaram as pessoas que procuravam clínicas de saúde públicas para se tratar da doença no período de seis meses de um surto indicou que cerca da metade de todos os casos vinha, essencialmente, de poucos locais ou de poucos agentes que representavam em torno de 6% da área geográfica da cidade. Metade desses 6%, por sua vez, frequentava locais com aglomeração ou ambientes de riscos como hospitais e postos de saúde.

São os que fazem a epidemia crescer – os que estavam passando a doença para duas, três, quatro e cinco outras pessoas.  Em outras palavras numa população superior a 100 mil habitantes –, a epidemia sofre uma virada em consequência das atividades de poucas pessoas que viviam em alguns poucos lugares e que frequentavam alguns poucos locais de riscos.

Identificar essas pessoas (centro de atividades) é chave para o combate a disseminação.

Com as epidemias sociais é exatamente esse processo que ocorre. A Regra dos Eleitos diz que é porque um tipo de pessoas excepcionais possui a tendência, por meio de seus contatos sociais, disseminar o vírus por toda a parte.

Outros exemplos. Originalmente, as doenças de infecção aguda, podem ser tratadas rapidamente antes que tenham chance de gerar infecções muitas outras pessoas.

Imaginemos que depois, por causa de problemas de orçamento, a prefeitura decidiu fazer cortes graduais. Assim o número de profissionais da área médica foi então reduzido.  A quantidade de consultas caiu consideravelmente diante da tensão da demanda e a escassez de recursos. Ocorreu também uma diminuição semelhante do número de pessoas que trabalhavam no atendimento externo, diante da pressão e do aumento de contágio perante as condições inadequadas de atendimento. Havia muita política – coisas que antes eram comuns, como upgrades de computadores, deixaram de ser feitas. Manutenção de equipamentos, a limpeza e tantos outros serviços de apoio essenciais para as respostas a pandemia deixaram de dar respostas adequadas a demanda. O setor de compra foi incapaz de dar a manutenção necessária do estoque de remédios e insumos. Os remédios faltaram. Os números de óbitos aumentam consideravelmente e os cadáveres se amontoam, colapsa também os serviços funerários. Doentes infectados sem o devido tratamento e isolamento amplificam a disseminação do vírus, o contágio e o caos se estabelece.

Enfim, tratar todos agentes da rede de disseminação dos vírus como iguais é um grande equívoco e com consequências terríveis numa pandemia.

Imaginemos um outro cenário. Uma simples redução de cuidadores e profissionais da saúde, por exemplo, que pode transformar qualquer infecção contagiosa em uma moléstia crônica ou até mesmo em uma pandemia, de modo que seus portadores podem passar a ter de três a cinco vezes mais tempo para transmiti-la. Isso nos leva a outra regra o importante fator de fixação.

 

2. O Fator de Fixação

Uma das questões chave para esse é um princípio, bem conhecido em virologia, ou seja, quando alguma coisa altera o próprio agente epidêmico aumentando seu tempo de fixação. O agente infecioso muta e as pessoas continuam com o vírus. O vírus se fixa.

As cepas virais que circulam numa epidemia de gripe, por exemplo, no início do inverno são bem diferentes das que circulam no fim dessa estação. A mais famosa de todas – a pandemia de 1918, a chamada gripe espanhola – foi identificada na primavera daquele ano e era, relativamente falando, bastante fraca. Entretanto, durante o verão, o vírus sofreu alguma estranha mutação e, nos seis meses seguintes, acabou matando de 20 a 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Nada mudou na maneira como o vírus estava sendo transmitido. Mas, de repente, ele se tornou muito mais letal.

Esse mesmo tipo de transformação drástica aconteceu com o HIV. Aconteceu muito com pneumonia por Pneumocystis jirovecii[2] em aidéticos (antes conhecido como Pneumocystis carinii[3]). Todos nós somos portadores desse microrganismo provavelmente desde que nascemos ou o contraímos logo depois. No caso da maioria das pessoas, ele é inofensivo. O sistema imunitário o domina sem dificuldades. No entanto, se o sistema é seriamente danificado por alguma coisa, como o HIV, esse microrganismo se torna incontrolável e é capaz de provocar uma forma letal de pneumonia. De fato, a pneumocistose é tão comum entre os pacientes de AIDS que já é vista como um indício quase certo da presença do vírus HIV.

Quando se estudou a fundo o HIV que circulavam na década de 1950 eram muito diferentes das de hoje. Eram tão contagiosas quanto as atuais. Mas fracas o suficiente para que a maioria das pessoas – até bebês – conseguissem combatê-las e sobrevivessem.  

No início da década de 1980 comunidades gays causaram a rápida propagação do vírus HIV no início da década de 1980, o que gerou muito preconceito, mas a epidemia também foi desencadeada porque o próprio HIV mudou. Por um motivo ou outro, o vírus ficou muito mais letal. Uma vez infectada, a pessoa permanecia infectada.

Essa ideia da importância da fixação no momento em que as coisas estão mudando tem enormes implicações na nossa maneira de ver as epidemias sociais também.

Perdemos muito tempo pensando em como fazer para que as mensagens se tornem mais contagiantes – em como alcançar o maior número possível de pessoas com nossos produtos ou ideias. Mas, quase sempre, o difícil na comunicação é descobrir como ter certeza de que a mensagem não vai entrar por um ouvido e sair pelo outro. Isso chamamos na comunicação de fixação. Não dá para tirá-la da cabeça. Ela gruda na memória.

O Fator de Fixação diz que há maneiras específicas de fazer com que uma mensagem contagiante se torne inesquecível – existem alterações relativamente simples na apresentação e na estruturação das informações que causam uma grande diferença na intensidade de seu impacto.

O mesmo acontece numa epidemia. A fixação é geradora de um impacto central.

Até agora, o SARS-COV-2 tem demonstrado pouca capacidade de mutação, mas ele, por exemplo, tem o agravante de gerar uma grande maioria de infectados que não apresentam sintomas da doença, mas continuam a serem vetores de disseminação do vírus. Um dos Centros de atividade desse vírus é a capacidade de localizar e monitorar os assintomáticos. Por isso a testagem em escala de senso é chave para o combate desse vírus.


3. O Poder do Contexto

 As epidemias, são muito influenciadas por sua situação – pelas circunstâncias, condições e particularidades dos ambientes em que ocorrem. Aqui, o dado geográfico, a monitoração em tempo real da circulação dos vértices, das arestas, dos caminhos do contágio na rede epidêmica é vital.  Além do atributo geográfico do dado, em tempo real o monitoramento do clima é vital para o combate na maioria das epidemias e, em todas as de SARS.

O efeito sazonal sobre o número de casos é tão forte que é fácil imaginar que bastaria um inverno prolongado e intenso para retardar ou diminuir de modo substancial – pelo menos durante uma estação – o crescimento da epidemia. O frio favorece o vírus num corpo com um sistema imunológico estressado.  O inverno aponta que os males estão a caminho. Nos meses de inverno, o mapa muda de aparência. Os ambientes de fecham, o oxigênio puro circula menos que o contaminado com as partículas virulentas. Por outro lado, o calor favorece a aglomeração. As pessoas ficam mais afoitas a saírem, aglomerarem em bares, praças e ambientes públicos favorecendo o contágio.

Não são apenas elementos evidentes, como a temperatura, que influenciam o comportamento. A emergência global das redes sociais também geram mudanças mais ou menos sutis e com inesperados fatores podem afetar a nossa maneira de agir. A redes sociais, trouxe em escala global a proliferação da fabricação e dificuldade de controle sobre notícias falsas que imprimem comportamentos de riscos, bem como, a politização e ideologização do vírus enfraquecem as medidas sanitárias seguras.  

Quando se vive cercado e pressionado por milhões de pessoas na rede, é quase uma questão de sobrevivência psicológica impedir que elas fiquem interferindo em sua vida o tempo todo, e a única maneira de conseguir isso são ignorá-las sempre que possível.

Esse é o tipo de explicação relativa ao ambiente que, para nós, intuitivamente, faz sentido. O anonimato e a alienação que marcam a vida nos grandes centros urbanos tornam as pessoas duras e insensíveis. 

Na verdade trata-se aqui do princípio da conformidade. A conformidade se refere aqui na dificuldade de manter nossas crenças diante dos outros. Trata-se da relação com o outro e nossa incessante busca de aprovação, de aplausos. Todos precisamos de aceitação. É muito difícil aplicar a máxima de Robert Lee Frost um dos mais importantes poetas dos Estados Unidos do século. Frost disse: "Duas estradas seguiam diferentes rumos num bosque. Peguei a menos movimentada. Isso fez toda a diferença!

O dilema da conformidade gera uma cobrança subjetiva permanente de reconhecimento. Um medo intenso de não ser aceito, de não ser conforme o reconhecimento dos aplausos do público que o cerca. Inspirafo por Rosnai autor do Homem Simbiótico afirmo que os seres humanos quanto mais se complexificam menos aptos se tornam para resolver os problemas coletivos complexos que eles mesmos criam. Diferentemente das formigas, que se comportam como geniais agentes coletivos e profundas idiotas individuais, os humanos estão se transformando em geniais agentes individualizados e cada vez mais um profundo idiota coletivo.

O fordismo nos transformou em geniais agentes coletivos e imbecis individuais. As redes sociais estão nos transformando em geniais agentes individuais e um perfeito idiota coletivo.

A questão que as redes sociais nos impõe é que se é possível fabricarmos, socialmente, a subjetividade?

Antigamente, a memória viva de um indivíduo estava limitada ao patrimônio de suas experiências diretas e a um reduzido repertório de imagens refletidas pela cultura; a possibilidade de dar forma a mitos pessoais nascia do modo pelo qual os fragmentos dessa memória combinavam-se entre si, em abordagens inesperadas e sugestivas.

Agora diariamente vivemos e assistimos um assalto à nossa subjetividade. Inicialmente, realizado por fora de nossas mentes. Máquinas de modular subjetividades pasteurizam ideias, criam vontades desejantes e produzem novas, desmoronando com o mito da subjetividade dada. A subjetividade dada é, cada vez mais, transformada num complexo processamento de co-auto- modulação simbiótica.

O que está sendo reservado, no presente e no futuro, para a "civilização da imagem?” Já afirmei na virada do milênio de que a nossa civilização intensificará, cada vez mais, uma reprodução mimética, ampliada de si mesma, transformando-nos em seres, também, cada vez mais simbólicos, inundados por um dilúvio de imagens pré-fabricadas.

Em todos os lados em que olho, encontro máquinas sensórias que capturam o real e o processam em codificação determinando pela captura as constituintes de novas espessuras vitais.

Inaugura-se, assim, a fabricação social da subjetividade. Nossos territórios existenciais são plugados nessas ondas precárias; surfamos em ondas eletrônicas de uma mobilidade generalizada nas músicas, nas modas, nos slogans publicitários, nos filmes, no circuito informático e telecomunicacional. O que não é captado pela malha virtual é encarado como se não existisse para o mundo. Habitamos ondas e velocidades em vez de lugares. Como nos alertou Ítalo Calvino: a velocidade reduz as distâncias, “abole as perspectivas e a profundidade da nossa moderna experiência sensorial que era baseada na cognição existencial”. [4]

A chave para conseguir mudar o comportamento das pessoas, isto é, fazer com que elas se preocupem com um vizinho que está necessitando de socorro, às vezes está em detalhes mínimos de sua situação imediata. O Poder do Contexto diz que os seres humanos são muito mais sensíveis ao seu ambiente do que pode parecer.

 Por fim, as três regras do Ponto da Virada, do desequilíbrio de Gladwell  – a Regra dos Eleitos, o Fator de Fixação e o Poder do Contexto – são uma forma de compreender as epidemias.



[1] Richard Koch, O Princípio 80/20. Rio de Janeiro: Rocco, 2000

[2] Pneumocystis jirovecii é uma espécie de fungo, semelhante à levedura, que pertence ao gênero Pneumocystis. O organismo é um importante patógeno humano, pois é causador de pneumonia, particularmente entre os hospedeiros imunocomprometidos, como as portadoras do vírus HIV.

A pneumonia por Pneumocystis carinii, também designada de pneumocistose, é uma das infecções oportunistas mais frequentes nas pessoas infectadas com o VIH. Qual é a diferença do HIV e aids. Não se trata de sinônimos. HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é o vírus causador da aids, que ataca células específicas do sistema imunológico (os linfócitos T-CD4+), responsáveis por defender o organismo contra doenças. VIH é a sigla para Vírus da Imunodeficiência Humana. HIV é a sigla em inglês para Human Immunodeficiency Virus. SIDA significa Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida. Na verdade, são diagnósticos diferentes – a infeção por VIH pode conduzir a uma doença ou síndrome, condição conhecida como SIDA.

O VIH é um virus e a SIDA é a condição que pode decorrer da infeção por esse virus. Assim, pode ter-se uma infeção por VIH sem aquirir SIDA, sendo muitas as pessoas com infeção por VIH que vivem durante anos sem desenvolver SIDA. A SIDA ocorre quando o VIH condiciona danos importantes ou severos na imunidade (sistema imunológico) e é uma condição complexa com sintomas que variam de doente para doente. Os sintomas da SIDA estão relacionados com as infeções que um doente pode apresentar como consequência de um sistema imunológico debilitado e, consequentemente, incapaz de combater outras infeções, ao contrário do que acontece em pessoas saudáveis. Estas podem incluir a tuberculose, a pneumonia, outras infeções e, ainda, certos tipos de neoplasias (cancro).

 [4] CALVINO, Ítalo. Seis Propostas para o próximo milênio. São Paulo: Cia das letras, 1990.  p. 45-67.


quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O Planeta com Febre Alta

Gilson Lima

Desde  Gaia, Geia ou Gé (em grego: Γαία, transl.: Gaía), a mitologia grega, nos mostra a Mãe-Terra como um ente integrado.

  O primeiro a entender e indicar de modo  macro e mais sistemático a vida enquanto Planeta Vivo - pelo que sei - foi Leonardo da Vinci. No entanto, foi a abordagem de Lynn Margulis  descrita no livro: O planeta simbiótico - Uma nova perspectiva da evolução que se ampliou a consciência dessa perspectiva.





Esse livro feito para que o público leigo possa se inteirar da nova onda gerou ainda mais intensamente uma silenciosa revolução que aconteceu no meio acadêmico mundial.

A visão simbiótica aponta e atira, preferencialmente, contra o dogmatismo acadêmico.
A Biologia sofreu abalos em seus mais profundos alicerces. O epicentro deste terremoto pode ser descrito em uma palavra - simbiose. Por causa dela estão sendo revistas à genética, a evolução celular e as explicações científicas para a origem da vida.
Nosso Planeta é simbiótico. Não é só uma formação rochosa inorgânica. É vivo. Com todo um macro sistema de proteção a fragilidade da vida (atmosfera, etc...).

Hoje, sabemos mais precisamente quando a vida apareceu na superfície da Terra, mas como surgiu essa pequena película complexa em nosso planeta, ainda é um evento coberto de muitos mistérios. É do conhecimento da ciência que a vida existente hoje, tenha começado há cerca de 3,5 bilhões de anos. No entanto já foram encontrados estruturas microcelulares, com tamanhos e formas de bactérias modernas em rochas sedimentares com 3,8 bilhões de anos de idade. Então, parece razoável supor que a vida já existia nessa época.  Na escala geológica, esta é uma faixa bem estreita – de 200 a 500 milhões de anos, no máximo.

Tomemos, pois, como referência que a vida tenha começa há 3,5 bilhões de anos, com seres unicelulares que se assemelham a bactérias e algas, e chega à arrebatadora diversidade de formas vivas atuais, incluindo nós. A Terra é apenas um bilhão de anos, mais velha do que os primeiros registros de vida já descobertos. Se compararmos a idade da Terra à de um homem de sessenta anos, veremos que a vida surgiu rapidamente em nosso planeta. O tempo que foi necessário para que a vida aparecesse da Terra pode ser comparado com o tempo que um ser humano demora para atingir hoje a adolescência.

A vida sem cooperação de longo agora não evolui (simbiogênese). Não estamos cooperando nada com nosso Planeta vivo. Ele está com febre. Agravou ainda mais quando o padrão de consumo ocidental está se universalizando com China, Índia,... 

Nos tornamos ainda mais uma bactéria antibiótica, patogênica para  o planeta..

Imagine o que o Planeta fará para combater a febre.
Nosso futuro? De um longo agora?.... Será Vênus? Será uma Lua?  Temos esse "poder" de aniquilar a vida? Ao contrário, nossa mediocridade bárbara e predadora está nos levando ao suicídio, mas não da vida, mas de nossa espécie.
A metáfora da febre criei a partir da visão de Matrix de um lado a turma da técnicociência transformando nossa espécie em mera bateria orgânica (vida)  para Androides e sistemas maquínicos e cibernéticos assimbióticos e não numa diração para uma espécie evoluída de mesclados cyborgues simbióticos.  

De outro a catástrofe da queima do estoque de oxigênio por motores, máquinas e mecanismos de combustão em escala planetária nesse padrão de  moderno consumo industrial. 
O predador não evoluído é como bactérias patogênicas que atacam a cooperação da nossa rede simbiótica e, no caso, da rede simbiótica do Planeta.. Infeções, febres e efeitos colaterais são consequências de um planeta febril.

Qual o futuro de um LONGO AGORA da nossa espécie em proliferação predadora?

No esforço de tentativa de dar uma amplitude a simbiogênese como uma teoria social que tenho feito, defendo que é preciso enfrentar algumas noções ainda limitadas e submersas da ecologia, em teorias do desenvolvimento (com adjetivo de ser ou não sustentado, etc.).

 Não precisamos de desenvolvimento, mas de reciclar nossa relação com o planeta. É preciso enfrentar também a noção de meio ambiente.  O symbios (quando a vida acontece no mundo) acontece junto sempre com o mundo. Não existe um meio ambiente lá e um "sujeito racional" aqui. Estamos dentro. Fazemos parte da rede simbiótica em cooperação ou conflito.  

As abordagens de muitas tribos primitivas eram simbiogênicas. Um dos conceitos tribais de homem branco era: "aquele que caga na água que bebe". 

Antes de derrubarem uma árvore eles colhiam os galhos podres.....  O homem "racional" desenvolvimentista acredita que o meio ambiente seja apenas recursos ilimitados para seus interesses egocêntricos. É o tal de humanismo. O homem emoldurado em si mesmo.

Não somos humanos, somos uma espécie simbiótica complexa em transformação permanente. Estamos como estamos (humanos - se somos) por estarmos agora e não por que somos ou seremos. Não fomos antes e nem serremos "humanos" no futuro. O ponto de mutação do salto civilizatório não é tecnológico e ou do conhecimento, mas quando rompermos com a gênese do predador e voltarmos a complexidade de nossa inteligência para a cooperação com a rede da vida planetária num LONGO AGORA. É isso ou o suicídio da espécie mais complexa e inteligente que esse planeta já acolheu - até agora.