segunda-feira, 9 de junho de 2014

EXOESQUELETO NA COPA => UM SONHO QUE SE REALIZA OU UMA PEÇA DE PROPAGANDA?

Gilson Lima.
Porto Alegre. Pesquisador Ortobras Indústria e Comércio LTDA.  Brasil. Pesquisador do Research Committee Clinical Sociology Association International Sociological (ISA).

ESTAREMOS DE OLHO DIA 12 NA ABERTURA! Que tudo dê certo para que tenhamos  um bom legado científico da copa no Brasil.
Quando conseguimos a copa e as Olimpíadas tínhamos sugerido de montarmos um exoesqueleto e realizar um evento para a copa e ou as paraolimpíadas. Mandamos projeto para a FINEP, mas não conseguimos recursos, mas ficamos esperançosos quando a famosa e milionária equipe de Miguel Nicolelis abraçou o projeto da Copa. Tudo indica que teremos uma grande oportunidade de mostrarmos ao mundo o que a ciência pode fazer pelos cadeirantes.
No início tive divergências com a proposta inicial do evento para a copa. Tínhamos proposto ser montado um exoesqueleto para paraplégico e uma simbiose não cirúrgica.  A equipe de Nicolelis insistia em um exoesqueleto para tetraplégicos com comando invasivo e direto pelo sistema nervoso central - o que considerado prematuro com primatas, imagine então com humanos. Enfim, mudaram de ideia. Isso nos tranquilizou. O evento será com um paraplégico, robótico e sensorizado e sem acoplamento cirúrgico invasivo. 
Aqui no sul, em conjunto com a Ortobras LTDA e com muita determinação continuamos pesquisando  e simulando o uso de exoesqueletos para cadeirantes paraplégicos.
Estamos muito contentes de que o mundo possa ficar atento ao potencial do uso da ciência e do conhecimento para melhorar a vida e a inclusão social dos cadeirantes que sonhamos a tanto tempo. 

DA PRIMEIRA QUESTÃO: a História

Em 2004 no meu livro Nômades de Pedra terminei meu principal livro “Nômades de Pedra”  indicando um desafios futuros para a pesquisa da simbiose corpo, cérebro e máquinas. Um deles seria a atenção ao conceito  biológico de exoesqueleto (LIMA, 2004: 409).


De lá até hoje foram várias palestras, entrevistas.  Visitei Centros de Pesquisa, inclusive, o de Natal junto a equipe de Nicolelis em 2008. Nessa época a antiga equipe de Nicolelis ainda não trabalhava com reabilitação. Mesmo suas pesquisas de base com primatas nos Estados Unidos  que o deram fama internacional. O Instituto de Natal já contava com complexos laboratórios de eletrofisiologia e neurofisiologia e centro cirúrgico para pesquisa com ratos e camundongos. Pude vislumbrar o potencial de uma futura pesquisa de reabilitação. 
http://glolima.blogspot.com.br/2011/08/exoesqueleto-indicacoes-para-um.html


Aqui no Rio Grande do Sul, desde 2008 realizava experimentos clínicos com um exoesqueleto rudimentar de suporte totalmente mecânico, mas ativo e supra muscular (ARGO) em Porto Alegre.
 http://glolima.blogspot.com.br/2010/04/exoesqueleto-ciencia-caminha-para-o.html

Tínhamos parcos recursos, mas já 2011 tivemos o privilégio de bater um recorde de 532 Passos sequenciais com o professor tetraplégico  João Paulo Rito Rodrigues Aço. Ele tinha  47 anos e de modo sequencial e com consumo de oxigênio monitorado percorreu 122,5 metros de distância num tempo de 35,13 minutos realizando   532 passadas com apoio de um andador. Disponível no youtube.
Vendo novamente essa filmagem temos uma ideia de como não é fácil fazer pesquisa de ponta sem grandes volumes de recursos, mas de como modestos experimentos podem mudar conceitos e revolucionar conhecimentos.  O mundo mudou e hoje a pesquisa de exoesqueleto para reabilitação a assistência de exoesqueleto para idosos é uma realidade.

=========================++=========================================
Relato da visita ao Instituto de  Natal em 2008!

Em outubro de 2008 estive apresentando no V Encontro Internacional de Nanotecnologia sociedade e meio Ambiente meus conceitos e experimentos em simbiogênese aplicada em Reabilitação.
Aproveitei o evento para realizar uma visita de campo ao Instituto Internacional de Neurociências de Natal – Edmond e Lily Safra da antiga equipe de Nicolelis.
Conhecia suas experiências controvertidas de interfafe neural com primatas (máquinas e cérebro) em Duke nos Estados Unidos. Tinha acesso das pesquisas em Duke e pude verificar em Natal que as  pesquisas realizadas eram com ratos e camundongos.
Em 2008, Nicolelis não realizavam atividades de pesquisa com reabilitação – nem com animais e muito menos com humanos.
A experiências de Nicolelis e sua equipe eram muito controvertidas, pois exigia muitos sacrifícios de animais, inclusive, primatas. Os animais morriam em poucos dias com seus eletrodos implantados cirurgicamente e diretamente no córtex motor e seguir os sinais de algumas dezenas de seus neurônios mapeados.
Minha recepção no centro de pesquisa não foi tão fácil, mesmo marcando antecipadamente a visita. Acho que o Centro sofria de alguma pressão de sigilo (padrão americano de pesquisa).  No entanto, passei na primeira fase do cadastro. 

Vide um síntese parcial do meu relatório de visita.

INTRODUÇÃO: apresentando o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS)

O Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, propõe a produção e a disseminação do conhecimento científico como forças propulsoras importantes para o que eles chamam de “progresso social e econômico de países em desenvolvimento como o Brasil”.
É aqui o primeiro prédio de Natal do projeto inicial ainda em 2004. Era um hotel de albergue de estudantes. Já em 2004 foi realizado o primeiro simpósio de neurociências Internacional produzido pelo Centro. Começou a operar o instituto a seguir. Nesse ano também cria-se a OSCIP uma organização da sociedade civil intitulada de Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa – AASDAP. Em 2005, inaugura nesse prédio uma nova fase da O Instituo nesse momento contava apenas com duas áreas uma seca (eletrônica) e outra molhada (orgânica).
Em 2007, um outro momento se inicia. Inaugura-se o Centro Internacional como se encontra hoje. Atualmente são nove laboratórios, mais diversas salas de trabalho, biblioteca, áreas administrativas, centro cirúrgico, 3 biotérios dois de ratos e um de camundongo.
Esse Prédio do Centro de Estudo e Pesquisa Cesar Timo-Iaria, está funcionando desde o final de 2005 em Natal.
Além disso, em outubro de 2007 é parte do projeto inaugurar o CAMPUS DO CÉREBRO em Macaíba, com laboratórios sofisticados e centros de pesquisa. Em Macaíba está previsto trabalhar com modelo animal mais complexo como primatas além de toda uma rede de saúde e de educação a ser oferecido para a comunidade.
Com isso futuras inaugurações estão previstas entre 2008 e 2009. A Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa (AASDAP) pretende com isso:

... “repatriar jovens neurocientistas brasileiros que atualmente trabalham no exterior, além de estimular e motivar aqueles que trabalham no Brasil, para que contribuam com a expansão da neurociência no país. Pesquisas com primatas poderão ser feito aqui nessa cidade que tem um dos indicadores de desenvolvimento humano mais baixo do Estado”.

O Campus do Cérebro terá no final então atividades de atendimento a saúde e atividades educacionais integradas. Serão assim 3 centros: pesquisa, saúde e de educação.
Essa ideia é baseada não somente nas importantes contribuições econômicas que a expansão da produção científica propicia a esses países, mas também na convicção de que o crescimento da prática científica de alto nível, com seus princípios éticos, pode ter um papel determinante na formação cultural das futuras gerações de brasileiros.
Segundo o que está documentado a principal missão do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) é:

...“promover a realização e o crescimento da pesquisa científica de ponta que pode contribuir para o desenvolvimento educacional, social e econômico do Rio Grande do Norte e de toda região nordeste do Brasil. Por isso, todos os programas de pesquisa desenvolvidos no IINN-ELS estão vinculados em iniciativas sociais e educacionais que visam a assistir à população das cidades de Natal, Macaíba e circunvizinhanças. Esses programas concentram-se principalmente no desenvolvimento e na educação da criança, e na atenção primária a saúde da mulher. Esperamos que no futuro o IINN-ELS seja um catalisador para o desenvolvimento de iniciativas econômicas baseadas no conhecimento, que favoreçam um crescimento sustentável e ecologicamente equilibrado na região nordeste do Brasil”.

Da noção de desenvolvimento.

Segundo os documentos do Centro é:

“... desejo de fazer da ciência um agente de transformação social e educacional e a certeza de que a produção científica de alto nível deve ser disseminada por todo o país foram determinantes na decisão de estabelecer o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra fora dos principais centros econômicos e de produção científica do país (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais)”.

Com um IDH/renda de apenas 0,636 e uma taxa de analfabetismo de 34% (de acordo com os dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD), a cidade de Macaíba, no Rio Grande do Norte, foi intencionalmente escolhida como sede da maioria das instalações e dos projetos do IINN-ELS.
O objetivo a longo prazo é, sobretudo:

...“contribuir com o processo de minimização das desigualdades sociais e econômicas entre o nordeste e as regiões mais desenvolvidas do sul do país, descentralizando a produção e a disseminação do conhecimento, e tornando a educação científica qualificada acessível às crianças das escolas públicas do Rio Grande do Norte”.

Investimento

A neurociência moderna está gerando uma variedade de novas terapias e tecnologias. Juntos, esses novos produtos constituirão uma indústria revolucionária, a chamada “indústria do cérebro”, que certamente trará um profundo impacto na sociedade.
Desde membros mecânicos controlados diretamente pelo pensamento até novos tratamentos para a doença de Parkinson, uma série de achados e descobertas científicas apontam para um futuro muito promissor da neurociência. De fato, mais de 500 empresas, somente nos EUA, estão concentrando suas pesquisas nas diversas maneiras de tratar doenças neurológicas. Essas empresas vêm investindo em pesquisa de ponta e desenvolvimento tecnológico desde o início dos anos 90.
Nesse campo, o propósito do Centro é:

...“trazer esse novo campo de desenvolvimento industrial ao Brasil e criar joint-ventures entre o IINN-ELS e lideranças internacionais interessadas em investir na criação e no desenvolvimento da “Indústria Brasileira do Cérebro”.

Intercâmbio de Ideias

Como integrante de uma rede internacional de grandes instituições científicas patrocinadas pela “International Neuroscience Network Foundation”, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra recebe regularmente pesquisadores do mundo inteiro interessados em participar:



1. Dos programas de doutorado e pós-doutorado, sabáticos e cursos internacionais ministrados por neurocientistas de grande prestígio internacional.
O intercâmbio contínuo de ideias entre neurocientistas de todo o mundo também será incentivado através do recrutamento de pesquisadores estrangeiros como membros da equipe permanente de cientistas do IINN-ELS. A primeira instituição comprometida com esse objetivo, o Centro de Estudo e Pesquisa Cesar Timo-Iaria, está funcionando desde o final de 2005 em Natal.

2. Além disso, em outubro de 2007 serão inaugurados, em Macaíba, laboratórios sofisticados e centros de pesquisa. Com isso e com as futuras inaugurações previstas para 2008 e 2009, a Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa (AASDAP) pretende repatriar jovens neurocientistas brasileiros que atualmente trabalham no exterior, além de estimular e motivar aqueles que trabalham no Brasil, para que contribuam com a expansão da neurociência no país.


Foto: Vista interna do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra

Enfim, na época o Centro de Estudo e Pesquisa Cesar Timo-Iaria, operava 9 laboratórios. Tinha também um centro de educação no prédio em Natal; 25 alunos de iniciação científica e ao todo  totaliza em torno de 60 pessoas, sendo uns 20 cientistas. Verifiquei, na época que não tinha nenhum pesquisador do Rio Grande do Sul.
Para conhecimento dos laboratórios visitados na época:

  1. Laboratório de Eletrofisiologia de ratos.
  2. Laboratório de Eletrofisiologia de camundongos.
  3. Laboratório de Neurobiologia Celular
  4. Laboratório de Pesquisa computacional em Neurociência.
  5. Laboratório de Neurobiologia Molecular (equipamentos mais potentes e mais específicos).
  6. Laboratório de Eletroencéfalograma (quarto do sono).
  7. Neuroengenharia (produz equipamentos e artefatos, inclusive manufatura matriz de eletrodos, aparatos experimentais, caixas de comportamentos,...

O restante do relatório implica em conhecimentos que não são públicos e que necessitaria de autorização para publicá-los.
Espero que essa introdução dê uma amostra do que já poderíamos vislumbrar no período por onde andaria as pesquisas futuras. Troquei ideais sobre minhas pesquisas em reabilitação e interface cérebro máquinas de modo não invasivo que já realizávamos por aqui. De resto continuamos a acompanhar o desenvolvimento das pesquisas. Houve problemas com a equipe. Nicolelis perdeu parte importante de sua equipe para a Universidade Federal de Natal.  
Agora na copa - como disse antes - esperamos que tudo dê certo. Estaremos torcendo pelo Brasil no campo e fora dele na ciência.

 Gilson Lima.
Porto Alegre, 09 de junho de 2014.


Nenhum comentário: