sexta-feira, 13 de junho de 2014

EXOESQUELETO NA COPA FOI UM FLASH MUITO CARO

Gilson Lima

Coordenador Regional do Research Commitee Clinical Sociology da ISA – International Sociology Association. Professor da UNISC e Pesquisador CNPQ-Ortobras.



A abertura como um todo foi um fiasco. O brasileiro só pensa em jogo. A Copa é um evento global. Todos os satélites do mundo estão voltados para cá e, nem mesmo a elite política se dá conta desse poder.


Sobre o que houve?
Vocês leram no meu texto anterior:

1. Nicolelis - coordenador científico da equipe - queria fazer um exoesqueleto com acoplamento cirúrgico. Lembre que os macacos (primatas) morriam em semanas depois disso. Queria fazer com uma criança da AACD. É mole. Custou para mudar de ideia. Podemos comandar máquinas apenas com micro movimentos corporais - tal como fiz na pesquisa e que muitos já fizeram - de algum modo - antes de mim.

2. Nicolelis queria fazer com um tetraplégico (isso é para quem não tem pesquisa clínica com exoesqueleto) que é o caso dele. No mundo todo sabemos que tem que ser com paraplégicos - se não – nos moldes atuais da tecnologia - vira veículo robótico individualizado e não um exoesqueleto de passada assistida.

3. O projeto re-andar com tecnologia suíça se referencia no ReWalk israelense. Vejam: http://bionicsresearch.com/rewalk-un-exoesqueleto-para-volver-a-caminar/

4. Nos meus experimentos já havia batido o record de 532 passos com o professor João Paulo que é cadeirante com um Argo alemão que é um tutor de assistência de caminhada manual e totalmente mecânico - sem nenhuma lasca de silício. Viram o vídeo? O Nicolelis queria dar 7 passos com 36 milhões.

Cá entre nós. O Nicolelis é muito teimoso. Tem seus méritos,  mas é muito difícil dialogas com os cognitivistas e defensores da inteligência artificial. A turma anterior de Natal já tinha caído fora a meses. O projeto é internacional e com tecnologia suíça e americana. O discurso e o dinheiro (36 milhões) é brasileiro. Fico um pouco irritado com isso por que pedi 2 milhões com contra partida da fábrica Ortobras para fazer algo na paraolimpíada e não levamos. 

Mas o problema pior: tem que ter bengala canadense. Trata de uma questão complexa a do equilíbrio. No nosso projeto que apresentamos ao FINEP de 2 milhões previmos uma tentativa de solução para esse problema. Pelo menos isso não copiaram. Vejam: quando andamos não nos equilibramos, ao contrário, estamos sempre caindo. Aprendi isso com o grupo de micro gravidade da PUCRS. O cerebelo calcula sempre como não cair e não como ficar de pé. Isso tempo todo. Para andar e subir escada pressionamos sempre contra o solo e não o contrário. Agora imagine uma bengala então no gramado da FIFA antes do jogo? E o risco do paciente cair? É um absurdo. 

No projeto Nicolelis e sua equipe não previram nada que superasse os atuais modelos de exoesqueleto. O fato de que os disparadores possam vir de micro ritmos corporais diretamente ou emitidos por sensores fixados no crânio e que capturam ondas elétricas encefálicas, não tem nenhuma importância tecnológica. Disparadores sensoriais podem ser de diferentes tipos: por controle remoto à distância, por movimentos corporais ou por emissão de ruídos, por temperatura, pressão.... não importa são apenas disparadores.   Aqui a confusão do Nicolelis é teórica. Todos os cognitivistas acreditam que o cérebro é um tipo de computador. Eu vim de um doutorado que estudava a informática e pelas limitações da linguagem lógica digital comecei a estudar o cérebro e me encantei com a sua complexidade. O Nicolelis veio da neurologia, estudava o cérebro e descobriu a informática e, nos Estados Unidos, se encantou pela sua tecnologia. Uma estrada, ao contrário, e um destino totalmente diferente. 
Mas vejam. A questão não é contábil. Mesmo sendo o maior projeto científico da ciência brasileira (em termos de financiamento) ele é um projeto científico, não é tecnologia. Investimos muito pouco em experimentos científicos complexos no Brasil e isso é um grande mérito. Insistir em tecnologia é diferente. Por exemplo, uma fábrica da Petrobras que previu-se custar 2 bilhões e termina custando 18 bilhões. Isso é investimento em tecnologia. Então, mesmo parecendo muito - 36 milhões para um experimento complexo da ciência -, é pouco.


De qualquer modo o mundo descobriu o exoesqueleto. Propaganda e divulgação também ajuda a ciência. Aqui no Brasil vão começar a valorizar ciência de ponta e provavelmente as cadeiras de rodas - em médio prazo - não poderão ser mais as mesmas. Acho isso mais que suficiente.

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