quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

ENTREVISTA: a vacina é hoje a opção da simbiogênese!

 

Gilson Lima[1]



Se a criação de vacinas sempre foi tão demorada, se elas hoje foram feitas nesse prazo recorde,  por que devo tomá-las? Elas são seguras? O que é consequência do obscurantismo e de termos alguns psicopatas populistas no poder?

Quer saber? Leia a entrevista.

 

Por que a opção é por vacinar o mais rápido que pudermos?

Existem dois caminhos para enfrentarmos a pandemia. Um, de longo prazo: creio que levará uns 6 anos mais ou menos; e o outro, de curto prazo, mais paliativo, que é a vacina, mas que evita que milhões e milhões de vidas sejam ceifadas, mesmo podendo não ter acontecido.

Os laboratórios, no início, queriam confundir o primeiro caminho com o segundo e foram derrotados nisso, 30 milhões de cientistas, em uma ação nunca antes vista na história, milhares em bancadas, outros conectados em telas, se focaram no  caminho da vacina.

O caminho mais longo é de enfrentar a raiz simbiogênica do problema que é o da programação celular integrada ao DNA. Já sabemos que a questão não é o vírus, mas sim um erro genético no sistema imune para uma gama elevada de pessoas novas, que com o envelhecimento e com certas doenças crônicas típicas, levam a manifestação das doenças, seu agravamento e até a morte. A visita desse vírus no nosso sistema imune é então uma loteria de paz até a morte, que pode ser ainda muito aumentada com o índice de contaminação coletiva que gerará manifestações mais graves da doença e internações e falência dos sistemas de saúde, e muitos que não morreriam – com o que já sabemos hoje da doença – morrerão por plena incapacidade de recursos.

Como enfrentar isso a longo prazo? Investindo em pesquisas moleculares para diagnósticos genéticos e autocorreção do erro cromossômico: a ciência está – nos últimos anos – dominando esses processos. Essas pesquisas são recentes e estão se acelerando com a pandemia, mas isso levará uns 6 anos mais ou menos para ser resolvido. Não adianta colocar só dinheiro na pesquisa, falta conhecimento ainda a ser dominado. Coisas que não sabemos e que precisamos descobrir.

Os laboratórios tentaram no início iludir e chamar para si investimentos pesados para o que erroneamente chamam de vacinas genéticas. Isso seria um atalho, iludir um processo ampliado de acesso social de um conhecimento ainda não dominado e com muitos riscos frente a coisas que não sabemos das consequências da programação da vida celular e suas implicações no DNA. Esse caminho foi abandonado. Os laboratórios e as pesquisas se concentraram efetivamente no caminho mais curto. Isso não significa que a vacinação  em massa não deva ser feita com todos os esclarecimentos necessários e algumas limitações que ainda temos nesse caminho.

Mas como confiar nas vacinas se elas foram realizadas tão rapidamente?

O caminho mais rápido era mesmo o das vacinas. Claro, a vacina mais rápida, antes disso, foi feita em 4 anos. Até agora a vacina mais rápida a ser fabricada no mundo foi a da caxumba, e ainda assim ela levou quatro anos, na década de 1960. Mas ela não teve no máximo 1% de atenção da ciência, na época, para isso.

A aceleração de conhecimento científico que a pandemia gerou foi absurda e isso foi possível pela abertura e diálogos entre bancadas de pesquisa visíveis nesse mutirão mundial contra a pandemia. Não tem como enganar tanta gente por tanto tempo. Esses salvadores de soluções mágicas sem vacina precisam trabalhar mais, além de produzirem tantos ruídos de incertezas.

Nenhuma dessas vacinas oferece riscos severos. Mesmo as de tecnologias mais novas como as de RNAm. Injetar RNA em uma pessoa não mexe em nada no DNA de uma célula humana.

Nesse sentido, não tem nenhum risco da vacina transitar entre núcleo de DNA. Esse processo com RNAm já está consolidado e sem riscos em vários estudos com medicamentos desse porte, eles foram testados em “humanos” nos últimos anos. E, desde o início da pandemia, a vacina foi testada em dezenas de milhares de pessoas em todo o mundo e passou por processos de aprovação de segurança. Essas vacinas novas - de RNAm - necessitam apenas de um pouco mais de cuidados para quem tem alergias severas, mas, no máximo, alguns terão efeitos colaterais irrisórios.

O único grande equívoco foi o de não apostarem na vacina por gotinhas. Seria o melhor caminho, demoraria algumas poucas semanas a mais e algum recurso maior de bancada, mas  que seria compensado com o processo industrial e de logística da vacinação de massa posterior às pesquisas. Eu alertei sobre isso, mas não tive muita audiência. Seria,  inclusive, o melhor caminho de proteção do contágio, visto também a trajetória desse vírus.

As vacinas injetáveis, que foi o principal caminho seguido, são seguras, e foi o que conseguimos.

Por que médicos, professores e algumas pessoas esclarecidas são contra a vacina?

É importante entender que no mundo simbiótico do conhecimento em que vivemos hoje, os profissionais de saúde, médicos, professores e a mídia em geral não são cientistas. São operadores do conhecimento descoberto em pesquisas e conhecimentos complexos que exigem um tipo específico e mais duradouro de dedicação e aquisição... Por exemplo, cientistas que dominam interfaces simbióticas multidimensionais no Planeta são poucos, e os laboratórios e experimentos cabem nos dedos de duas mãos.

O que é a indústria se não um operador social de massificação de escala de um produto. É tecnologia, não ciência de base.

Leva tempo para um conhecimento complexo descoberto ganhar escala social. Ele tem que ser estudado, compreendido, ensinado e massificado em acesso de conhecimento e de produto de prateleira acessível ao consumo.

Muito do que já sabemos sobre essa doença sequer chegou nos médicos, nas indústrias, nos plantões da medicina intensiva de muitos hospitais .

A vacina não é o fim. Não é sequer a imunização. Não vai nos dar o salvo conduto, mas, sem ela, não podemos flexibilizar a economia e o convívio social, e condenamos à morte milhões de vidas que poderiam ser salvas pelo conhecimento que adquirimos.

Então um movimento antivacina é um movimento da ignorância?

Não chamaria de um movimento. Nem que é da ignorância. É uma ação organizada de uma elite que também tem conhecimento avançado.

O importante é que o movimento obscurantista, antibiótico, contra a simbiogênese é anticientífico só na aparência. Ele é manobrado por uma inteligência social. Tem ciência ali também. Alguns cientistas que  o defendem são neodarwianianos e defendem esse cainho de extermínio de massas. 

A ciência foi também predadora como são e foram ainda os humanos. Hitler teve seus cientistas e pensava assim também. A humanidade tem que ser purificada pelos mais fortes. 

É assim que eles pensam que se evolui na natureza. Eles sabem que estão causando mortes e querem isso. Querem que os mais fracos sejam eliminados nesse processo de elevação da raça superior. Apostam no conflito, na discórdia e na desorganização das massas "ignorantes". Apoiam líderes psicopatas e até financiam armas e muitos recursos para seus apoderamentos. Sabem dos riscos de apostarem em alguns psicopatas populistas no poder, mas, mesmo assim, acham que é o melhor caminho para um extermínio de massas. Isso não é conspiração.  Está acontecendo. Eles estão aí assessorando governos e promovendo as discórdias.

São poucos, mas organizados, e aos poucos estão sendo anulados. Estão desesperados porque seus recursos estão acabando. Não tem volta para a emergência da simbiogênese. Para a evolução na cooperação. Experimentamos isso no planeta e vimos que funciona, e nada será mais como antes depois da pandemia. 

Estamos emergindo uma nova civilização simbiogênica: da paz, cooperativa e amplamente integrada com a vida no Planeta. A inquisição está quebrando, e aos poucos os cenários estarão mudando. Sou muito otimista sobre isso.



[1] Gilson Lima. Cientista aposentado, depois de décadas de atuação independente sobre múltiplos campos da vida e da tecnologia na complexidade. Criou a teoria não natural da simbiogênese cooperativa na evolução do cérebro, máquinas, corpos e sociedade. Foi, por vários anos, pesquisador acadêmico e industrial, coordenando bancadas de pesquisas de ciência de ponta, tecnologia e protocolos de neuroreabilitação, em diferentes cidades e diferentes países, principalmente, europeus. Tem formação original humanística e voltou seus estudos e pesquisas, desde o início dos anos 1990, para a abordagem da complexidade nas metodologias informacionais, depois, na nanotecnologia e, nos últimos 15 anos de carreira, focou na neuroaprendizagem e reabilitação envolvendo a simbiogênese e interfaces colaborativas entre cérebro, corpos e displays. Inventor de várias tecnologias, softwares e protocolos clínicos. Escritor. Muitas de suas atividades e textos estão disponíveis no blog: http://glolima.blogspot.com/

Atualmente retomou sua atividade como músico compositor, cantor que atua desde a adolescência e atualmente produz suas canções e coordena a banda Seu Kowalsky e os Nômades de Pedra. Suas músicas, shows e vídeos podem ser acessadas no canal do YouTube. https://www.youtube.com/c/seukowalskyeosnomadesdepedra

 

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Sobrevivemos a 2020. QUE VENHA 2021

Por que o novo é novo?
Gilson Lima

Fragmento de meu principal livro: Teoria da sociedade simbiogênica contada em prosas!


As raposas uma ou outra vez na história, ao serem tomadas por pulgas, submergem pouco a pouco na água para concentrar todas as suas pulgas nos seus focinhos e; com um rápido mergulho, livrarem-se delas. Assim, devemos diminuir nossa estranheza de que de tempos em tempos tenhamos que sacudir nossa própria cultura e ficarmos desnudos dela.
(Ortega Y Gasset).

 

É de Nietzsche a ideia de que o esquecimento é uma habilidade importantíssima para a vida.

Nietzsche, ao que nos parece, não está defendendo um elogio simplório do esquecimento, mas de uma crítica da relação moderna de submissão da vida à história, aos fatos, ao cronos e ao técno-poder sistêmico empobrecido. Uma crítica da relação a um passado com potência colonizadora sobre o presente e que castra e impede a criação do futuro.

É através do peso do passado que selecionamos as circunstâncias do presente. Para emergir o novo na vida precisamos, como defendeu Nietzsche, de certo esquecimento, de certa não-história, de liberação do fardo da história. Acessar o instante como fonte de criação que permite a emersão do novo, da novidade, sem a qual, apenas reproduziremos o curso natural colonizado por cartografias de pesadas lembranças acumuladas por um excesso de memória.

A potência criadora acontece na crença, na paixão desmedida e no gosto pela ilusão da particularidade e não na fria mensuração dos fatos, na sua pobre datação e nominação petrificante.

A vida é sempre interessada. Escolhemos sempre as circunstâncias que julgamos interessar-nos num determinado momento. É da injustiça da vida em relação ao nosso passado, a nossa história, que produzimos e criamos o novo.

A racionalização moderna ergueu suas cercas visando a transformação absoluta da quase infinita potência da escuta sensível da imaginação humana enclausurá-la num oceano já mensurado e congelado. É vital para uma dobra criativa que converta o instante em um novo futuro.

Trata-se de enfrentarmos radicalmente a ideia que conhecemos de fatalismo[1], o qual implica, nada mais nada menos, em um respeito incondicional à potência dos fatos, à crença determinante neles, nos seus encadeamentos históricos tal como a história nos inscreve. O respeito a essa potência factual é também o respeito aos interesses dos mandarins desses fatos. Trata-se de uma concepção que aborta o novo, o que está em vias de nascer. O novo quase sempre ofende o que existe, porque em geral ele é, inevitavelmente, impiedoso e injusto também com o passado.

É bom lembrarmos que a justiça do presente é a que ignora o instante como algo ainda não domado e de potencialidade e indeterminação sobre o futuro. É a que não permite que o homem se realize como um experimentar de si mesmo.

As grandes criações, as ações extraordinárias, as grandes invenções são exemplos cabais de instantes envolvidos pelas nuvens de esquecimento, uma gama de fragmentos extraordinários de traições e de injustiça diante da história.

O instante são fragmentos de vida que se desprenderam do círculo vicioso da memória do qual pode aflorar o surgimento do novo, sobretudo a partir de suas traições e injustiças sobre as crenças e fatos do passado, do rompimento com o ordinário e da realização do extraordinário na vida. O direito ao novo, que deve nascer da criação do que pode vir.

Assim, os seres vivos e potencialmente criativos necessitam estarem envoltos num véu de mistério, de vitalidade, de força, de garra, da ilusão necessária para enfrentarem as cegueiras, as parcialidades desconsideradas, desfazendo o pesado fardo que o passado impõe sobre o presente e o futuro.

O presente não é o instante; ele é o que é e não dá direitos ao que está vindo expressar-se na sua potencialidade inovadora. Apenas é o que é, ou seja, o instante que se relaciona muito mais com o futuro. É para o instante que dirigimos nossas forças, visando dobrá-lo, acolhê-lo no que de mais potente ele possui: a novidade criante.

A história está apenas acostumada a traduzir o novo como acúmulo e sucessão. A novidade precisa ser domada, explicada, decomposta, fazendo tudo para que o novo possa emergir como uma obra que tenha pouco efeito inventante. A novidade é assim, neutralizada, traduz o novo como uma reinauguração do velho, uma continuidade melhorada. O desenvolvimento. Não o novo, a melhoria, o mais rápido, o miniaturizado, o mais útil, mas um velho utilitário.

A modernidade congelou o instante e o presente ficou submetido ao trajeto unidirecional de uma flecha originária de um passado, de um acúmulo de encadeamentos factuais que progride em uma mono-direção ao futuro.

A história não pode transformar nossas vidas em um pesado fardo que nos transforma em funestos coveiros do presente. É necessária a atrofia da história para a imersão vital no presente e para o surgimento do novo e sua conversão em futuro.

A história factual mensuradora não só esvazia o novo e sua potência inventiva da vida, mas ainda reduz as novidades, “as linhas de fuga” presas em sequências de uma cadeia de causas históricas, como que se reencaixasse as intempestividades descarrilantes retornando sempre para o seguro trilho do trem da história. É o moderno desejo cientificista que pretende dar conta de tudo, deixando quase tudo de fora como se fosse apenas um nada que nada tenha.

Os velhos sábios hindus há muito tempo e a física quântica mais recentemente, nos dizem: “Prestem bem atenção! Há algo no nada, há algo nos zeros formais criados pelos árabes, há algo impalpável, imaterial e não é apenas um diminuto da solidez objetiva da matéria”. O mais estranho de tudo isso é que estamos também ali naquilo que antes era nada, estamos em profunda simbiose e ali estamos nós, mesmo estando também aqui simultaneamente.



[1] No sentido de fatal; uma espécie de mescla entre fato + ismo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

PROJETO FALA SIMBIÓTICA PARA TETRAPLÉGICOS QUE NÃO VOCALIZAM

Gilson Lima. Cientista. Inventor. NITAS – Tecnologia e Inovação

Pesquisa Porto Alegre. gilima@gmail.com

DA SÉRIE CONHEÇAM MINHAS INVENÇÕES DE INTERFACES SIMBIÓTICAS!
Ps. As Interfaces simbióticas são o futuro para todos e estarão muito próximas a partir do fim da pandemia! Acreditam!
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1.       Para desacoplar.  Ou com o note desligado. OU faça como se fosse desinstalar uma USB.


  

   Vá no canto da tela e clique na imagem           

“desacoplar base de encaixe”.

Ps. Nunca desacople a tela da base sem remover esse item. Dá problemas.

 

 PARA A TELA FUNCIONAR COM O CURSOR O “TABLET” DEVE ESTAR DESLIGADO. Ligar com a tela desacoplada. Somente assim funciona o cursor.

 


DICAS INICIAIS.

 

1.     PARA QUEM SE DESTINA: Para usuários tetraplégicos ou lesão neuronal severa. Que não vocalizam. Não movimentam os braços e não podem usar um mouse convencional. Devem ter um bom controle de pescoço. É altamente recomendado para quem tem as capacidades intelectuais preservadas (lesão adquirida).  Acoplado na cadeira ajuda ainda mais na reabilitação.

 







BOA ILUMINAÇÃO Borda em vermelho indica que a iluminação está adequada. Se estiver em azul não.

 

Para fechar o programa de mouse clicar no X

 


Para os iniciantes sugerimos USAR AS FALAS RÁPIDAS => SAUDAR – ESTOU.

Também o menu lateral COMUNICAR. Várias opções. Comer, dor, guarda roupa masculina, guarda roupa feminino, oficina de beleza masculina e feminina.

 

 

Abra o teclado. Pode ser embaixo na barra te tarefa ou na própria tela (imagem do teclado).

 

Apresentação mais complexa. Ir em treinar.  Jogos do mouse

 
 


   



    





3.   



  Gilson Lima. Cientista. Inventor. NITAS – Tecnologia e Inovação

Pesquisa Porto Alegre. gilima@gmail.com


 

domingo, 20 de dezembro de 2020

O QUE EM MIM SENTE ESTÁ PENSANDO!

 PENSAR É IMAGINAR => A escuta do sensível e a nova civilização da imagem

Gilson Lima *

 




Estamos se petrificando e nos tornando surdos à escuta do sensível. Para uma aguda escuta do sensível, quase sempre precisamos de um distanciamento do império da luz. Assim, uma certa qualidade de penumbra, de limpeza e de silêncio faz-se muito necessária para que o simples ruído do canto das asas de um mosquito possa ofuscar intensamente nossos ouvidos.

Não custa repetirmos as sábias palavras de J. Tanizaki no seu Elogio das Sombras[i], quando diz que precisamos de lugares onde possamos ouvir uma chuva mansa e contínua caindo bem de mansinho e o ruído apaziguador das suas gotas que, tocando o beiral ou as folhas das árvores, respingam sobre as frias calçadas de pedra das cidades, amolecendo seu limo antes que suas gotas amontoadas em poças sejam sugadas pela terra. Em verdade, tais lugares convêm aos gritos dos insetos, ao canto dos pássaros e, igualmente, às noites de luar. Assim, poderemos saborear a pungente melancolia das coisas em cada uma das estações. Que incontáveis temas não podem ser encontrados nesta chuva dentro de nossa imaginação?

A imaginação passa a ser algo como um campo ou um lugar dentro do qual chove! Dante há muito tempo nos disse em seus versos do "Purgatório" (XVII, 25) "Poi piovve dentro a I´alta fantasia", ou seja, a fantasia, a imaginação é um lugar dentro do qual chove.

O escritor italiano Ítalo Calvino nos sugeriu, a partir desse convite de Dante a criarmos uma nova pedagogia, uma pedagogia da imaginação, que nos habitue a controlar a própria visão interior sem sufocá-la e, por outro lado, sem deixá-la cair num confuso e passageiro fantasiar, mas permitindo que as imagens se cristalizem numa forma bem definida, memorável, auto-suficiente. É claro que se trata de uma pedagogia que só podemos aplicar a nós mesmos, seguindo métodos a serem inventados a cada instante e com resultados imprevisíveis.

Na verdade, isso significa que precisamos é de uma conversão para a fragilidade. Imprescindível se faz, que deixemos os ruídos do mundo nos atravessar.

Para capturarmos intensamente os ruídos do mundo é necessário uma certa fragilidade, um certo silêncio do pedantismo do tagarela, do autossuficiente, do redondo e perfeito saber, em nada possibilita capturá-los, para capturar os ruídos do mundo, precisamos fugir da autossuficiência. É necessário até mesmo certo estado de insônia e sonolência que nos torne mais suscetíveis ao mundo.[ii]

Porém, como podemos tomar de assalto os ruídos do mundo se nem ao menos sabemos que mundo é esse? Que sentidos são esses que provêm de um mundo onde também fabricamos socialmente novos ruídos que podem, intensamente, não só potencializar nossos sentidos, mas fabricar novos?

O filósofo Peter Pál Pelbart, encontrou e destacou nos diários de Kafka uma passagem que nos diz: “a noite nada se opõe para que eu seja dilacerado”. Novamente vem a nós a imagem da fragilidade, a necessária qualidade de fraqueza para que possamos ser invadidos pelos ruídos do mundo[iii].

No entanto, trata-se de uma insônia produtiva, que altera nossos estados naturais de alerta, que favorece as invasões. Somos como que cercados por todos os lados sem força para combater o cerco. Quando não resistimos mais, deixamos o corpo ser invadido de assalto pelo entorno. É como abrir a janela no inverno e ficar exposto, nu ao seu frio arrebatador. Essa, é uma sensação clara de fragilidade. Trata-se de um elogio à porosidade, à permeabilidade frente ao excesso do mundo; alguém que se sente atravessado demais, pelo mundo.

Entretanto, isso não pode significar que nos tornamos apenas receptores do mundo; que não sabemos selecionar. Vivemos também numa era de "hiperaceleração" e de obesidade informacional que produz um conhecimento cada vez mais ausente de sabedoria. Na verdade, é a coisificação e petrificação dominante que quer nos transformar em devoradores de todos os atravessamentos que o mundo nos apresenta. Não precisamos engolir tudo, pois, engolir tudo é vomitar para dentro.[iv]

Para bebermos intensamente da singularidade do processo de pensarmos por imagens, com uma imaginação criativa, liberta da autofagia do consumismo petrificante, precisamos estar totalmente presentes na imagem quando do minuto da imagem.

A imagem atinge as profundezas antes de emocionar a superfície. Isso é verdade em uma experiência de criação, ou até mesmo numa simples leitura de um texto linear. A imagem que a leitura nos oferece torna-se realmente nossa. Enraíza-se em nós mesmos. Aqui a expressão cria o ser. Por essa criatividade, a consciência imaginante se revela, simplesmente, mas muito puramente, como uma origem. Isolar esse valor de origem de diversas imagens deve ser o sentido de quem quer penetrar num estudo da imaginação criativa.

Somos, hoje, a ''civilização da imagem'', ainda que para muitos de nós, até a pouco, ela recém estivesse em seu início – muito distante da inflação simbólica atual. Muitos somos ainda filhos de uma época intermediária, em que se concedia bastante importância às ilustrações coloridas de quadrinhos que acompanhavam a infância e de brincadeiras artesanalmente criadas, sem o atual impacto da exposição diante de raros tubos catódicos e diversos tipos de display digitais.

Cada vez mais as imagens se tornam a forma dominante de comunicação em nosso cotidiano. O moderno animal racional da escrita linear se transforma cada vez mais num animal simbólico, onde a cultura da palavra convive intensamente com a cultura da imagem, onde realidade imaginária e a realidade vital se fundem cada vez mais.

São produtos de um contexto onde as tecnologias intelectuais avançam mais rápido do se é capaz de ser absorvida pelo conhecimento complexo. O que é ainda mais agravante: este avanço é exponencial. Será que estamos preparados para os desafios desta inflação informacional?

A televisão que é o símbolo mais visível da mídia, já mudou significativamente o modo como nós processamos as informações. A TV fala com o corpo, não com a mente. O que nos espera a civilização da imagem imersa no bit, no dígito binário convertido em miniaturas de pixels[v] invisíveis, mas enquadrantes de significados e significações.

Ler um texto e olhar uma fotografia são duas operações diferentes e mesmo do ponto de vista mental são processos que põem em jogo duas áreas cerebrais diferentes. A imagem midiática, por exemplo, apresenta-se por inteiro, pronta a ser consumida mobilizada pelos truques sonoros e de enquadramentos que amplificam as conexões sensórias dos leitores de imagens.

Para descobrir como reconceitualizarmos uma aprendizagem icônica, precisamos observar o "ambiente de mídia" ao qual os nossos estudantes estão expostos hoje. E como estas novas mídias estão afetando a forma como nossos jovens e filhos hoje aprendem. Verificamos que a tela de vídeo tem um impacto muito direto no nosso sistema nervoso e ao mesmo tempo muito pequeno na nossa mente. Então, a maior parte do processamento da informação está sendo executado na própria tela. Diante da TV nossos olhos seguem as imagens, mesmo que nossas mentes estejam em outro lugar. E isto é completamente involuntário, devido à forma como somos biologicamente programados - o sistema nervoso dos mamíferos é treinado para responder a qualquer mudança no ambiente que possa afetar a sua sobrevivência.

Estamos condicionados a responder a estímulos com o que os psico-fisiologistas chamam de "resposta orientada". Ela irá prender nossa atenção no estímulo ou provocar a nossa "resposta defensiva", que nos faz recuar ante este estímulo. As mudanças e cortes na TV de hoje provocam contínuas "respostas orientadas", prendendo a atenção sem satisfazê-la. Nós nos acomodamos aos estímulos à medida que os conhecemos.

Uma resposta completa a um estímulo é conhecida como fechamento (closure). A maioria dos estímulos gera uma "resposta orientada" e recebe seu fechamento. A maioria dos especialistas diz que este processo demora cerca de meio segundo. Podemos ter centenas de "respostas orientadas" a cada dia, cada uma delas consumindo meio segundo de seu tempo para identificar a ameaça e descartá-la.

Na nova paisagem da mídia em que nós e nossos filhos e os jovens estão vivendo, a TV imprime o que alguns neurologistas chamam de colapso do "intervalo de fechamento", ou seja, nós nunca completamos o estímulo inicial - a TV provoca rápidas sucessões de "respostas orientadas" sem dar tempo para o seu fechamento. Esse processo é também conhecido como "redução do intervalo", onde a tv elimina o efeito distanciamento do intervalo entre estímulo e resposta.

Assim nossos olhos e cérebro têm de fazer minúsculas compensações - e estas compensações, alguns argumentam, afetam as habilidades gerais de escrita e capacidade de racionalidade. Em vez de usarmos apenas os olhos sequencialmente, como ocorreria no processo disciplinar da educação letrada, a civilização da imagem cresce dando rápidas olhadas a imagens. Nossos jovens e crianças ao serem convocados a ler um texto de maneira linear e tradicional, aplicam esse mesmo processo de leitura de imagens com o movimento dos seus olhos nas páginas impressas.

Diversos estudos estão nos mostrando que mais do que absorver as palavras, conceitos e sentenças à medida que são escritas, o mundo da civilização da imagem cada vez mais computadorizada, está utilizando uma nova leitura, que alguns erroneamente chamam de leitores preguiçosos.

Na verdade é um diferente tipo de leitor, capaz mais de decifrar, do que de ler. A incapacidade de concentração faz com que, para ele, seja difícil ou até mesmo impossível compreender aquilo que leu. Trata-se do declínio do rendimento no que se refere às aptidões provenientes da cultura do texto impresso no pagus[vi] latino.

Os novos leitores parecem dar rápidas olhadas às coisas, várias vezes, saltando de ponto a ponto como se estivessem tentando compilar uma fotografia para que a página faça sentido. Em muitos casos, não estão compreendendo, estão só formando imagens. Não achamos que isso seja um problema. Embora um universo de um bombardeio de dezenas ou até centenas de canais de televisão ainda seja uma espécie de mito da aceleração informacional, que produz uma inútil inflação informacional.

A cultura icônica favorece a percepção acima da abstração, o sensitivo sobre o conceitual, respostas mais emotivas que racionais, do tipo mais do gosto não gosto do que do concordo não concordo. Na cultura icônica o intuitivo e o emocional têm primazia sobre o intelectual e o racional.

Assim, um dos maiores desafios da aprendizagem da atual civilização da imagem, provém da criação de uma metamorfose complexa que potencialize as qualidades específicas da cultura do texto com a da cultura da imagem. A partir desta nova metamorfose, o texto certamente não terá o mesmo monopólio nas narrativas que eram provenientes das hermenêuticas de profundidade por séculos e séculos. O tratamento para a conquista tratamento do conhecimento complexo envolverá além do texto linear, hierárquico e seqüencial também a dimensão sensória, emocional e a cultura icônica. O desafio será a conquista do conhecimento complexo para além do poder alienante das navegações das imagens ou, até mesmo, de querer poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo onde o querer informar-se muito sobre quase tudo nos leve a não sabermos quase nada sobre coisa nenhuma.

Entretanto, é necessário para a conquista do conhecimento complexo, cada vez mais, aprendermos integrar a imagem contexto a conceitos e discernimentos. Isso é crucial para superarmos a trivialidade da atual cultura icônica, onde a parafernália imagética expressiva, o extravasamento de efeitos especiais, o deslumbramento puro e simples dos recursos visuais e sonoros, a proliferação de figuras retóricas visuais e verbais ao virem sempre prontas e embaladas, serve, muitas vezes, para esconder um imenso vazio de conteúdos significantes. Caso contrário estaremos nos dirigindo para a uma sociedade atrofiada de sabedoria onde alguns poucos e espertos analistas simbólicos fabricadores de subjetividades icônicas manipulam com muita facilidade os muitos, produzindo crenças e realidades superlativas e sem substantivo, novas formas sem conteúdos, sensações sem reflexões que são sintetizadas num mero e reducionista consumismo simbólico e informacional.

Esperamos que a civilização da imagem possa vencer a “petrificação espelhar” da imagem, sem perder sua potência imaginante, para que cada vez mais possamos ultrapassar as barreiras e armadilhas da racionalidade moderna e quebrar as grades curriculares que nos aprisionam e que organizam o saber em nossas instituições escolares, como se estivéssemos condenados a uma eterna reprodução do conhecimento, estruturada numa linha de montagem para uma sociedade industrial do trabalho robótico.

No entanto, a imagem e a imaginação não nos levam automaticamente aos caminhos da sabedoria. Como já vimos, para que não nos tornemos surdos e insensíveis aos excessos do mundo é preciso encontrar-nos frente a frente com o disforme, com a imperfeição, com um certo desejo de amor pela imaturidade e seu sedutor estado de incompletude e que para preservar esse estado de inacabamento embrionário, que pela sua fraqueza significa, ao contrário, uma força criadora, é preciso enfrentar a gorda saúde auto-suficiente, pronta, construída, que, ao contrário, é uma doença que nos deixa cegos e surdos, ou seja, escassos dos ruídos do mundo, sem iludir e ser iludido pelas superfícies das ondas do mero consumo simbólico e informacional[vii].



* Esse texto, com pequenas reformulações, foi originalmente publicado no livro Nômades de Pedra: teoria da sociedade simbiogênica contada em prosas, Porto Alegre, 2005, p. 347-350.

Gilson LimaCientista aposentado depois de décadas de atuação independente sobre múltiplos campos da vida e da tecnologia na complexidade. Criou a teoria não natural da simbiogênese cooperativa na evolução cérebro, máquinas, corpos e sociedade. Foi por vários anos pesquisador acadêmico e industrial coordenando bancadas de pesquisas de ciência de ponta, tecnologia e protocolos de neuroreabilitação em diferentes cidades e diferentes países principalmente, europeus. Tem formação original humanística e foi voltando seus estudos e pesquisas desde o início dos anos 90 para a abordagem da complexidade nas metodologias informacionais, depois na nanotecnologia e nos últimos 15 anos de carreira focou na neuroaprendizagem e reabilitação envolvendo a simbiogênese e interfaces colaborativas entre cérebro, corpos e displays.

Inventor de várias tecnologias, softwares e protocolos clínicos. Escritor. Muitas de suas atividades e textos estão disponíveis no blog: http://glolima.blogspot.com/

Atualmente retomou sua atividade como músico compositor, cantor que atuava na adolescência produzindo atualmente suas canções e coordenando a Banda Seu Kowalsky e os Nômades de Pedra. Suas músicas e shows vídeos podem ser acessadas no canal do youtube. https://www.youtube.com/c/seukowalskyeosnomadesdepedra

[i] Elogio das Sombras, J. Tanizaki, São Leopoldo, 2000. Mimeografado (adaptado).

[ii] PELBART,, Paul. A Vertigem por um fio: políticas da subjetividade contemporânea. São Paulo, Iluminuras, 2000. p 63.

[iii] Ibid, id.

[iv] Ibid, 64

[v] Pixels são os pontinhos na tela que formam a imagem. As imagens televisivas ou de uma tela de computador são formadas por inúmeros pontinhos. A quantidade desses pontinhos numa mesma tela é que garante a maior ou menor resolução da imagem. Quanto menor o tamanho de um pixel, maior será o número total de pixels numa mesma tela e maior será a qualidade da resolução da imagem. Numa tela de computador são os pixels que permitem arrastar e abrir janelas, gerando o que se denomina de interface gráfica. Hoje, abrimos uma janela na tela de um computador, arrastamos janelas de um canto para outro, mudamos o lugar espacial de uma imagem sem alterarmos a integridade dos mesmos dados armazenados. Fazermos isso por meio de comandos simples de interfaces com um apontador clicável, um mouse. Isso pode ser considerado algo banal, mas foi isso que nos levou para uma grande revolução no mundo da informação digital. Tal possibilidade marcou o nascimento da cultura da interface para muito além da programação dirigida apenas para a máquina abstrata.

[vi] Pagus (em latim, campo ou local onde o camponês pisava). Um texto pagus tem as seguintes características: 1) É um texto escrito em páginas estáticas, demarcadas fisicamente por um plano reto, do tipo tábua; 2) Tem um ciclo próprio (um início, um desenvolvimento e um fim). É uma unidade isolada - um texto, um livro é uno, ou seja, uma unidade em si mesma; 3) A organização da sua narrativa é linear, como se seguíssemos uma linha, como se, cada vez mais, acumulássemos conhecimento numa seqüência progressiva enquanto caminhamos na imaginante linha da leitura. A dominância do pagus sobre o pensamento implicou em duas grandes metodologias de reconstrução simbólica da realidade. A primeira, é aquela que se subordinou à idéia de tempo, de precisão linear, presa ao conhecido cronos (tempo cronológico), ou seja, uma representação temporal do tempo, tipo uma flecha que se dirige permanentemente em uma direção progressiva e nunca mais reencontrará o seu início. A segunda, é que isto acabou por levar-nos a um entendimento muito equivocado de inteligência e memória humana. Até hoje, alguns cientistas ainda pensam que nós transferíamos com a leitura, o estoque de informações que estavam impressas nos documentos que se deslocavam mecanicamente para o cérebro. Achavam que era assim que nos tornávamos inteligentes. Hoje, sabemos que esta é uma maneira muito primitiva da inteligência, conhecida como memória computacional de longo prazo.

[vii] PELBART,, Paul. A Vertigem por um fio: políticas da subjetividade contemporânea. São Paulo, Iluminuras, 2000. p 64.