quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sanguinários

Há um ditado contado por nossos avós. O meu bisavô era Sírio Libanês. Eles diziam: Quando um adulto vê uma criança se afogando larga tudo e vai salvá-la. É instinto. (Peter Singer lembrou isso nessa semana em palestra no Fronteiras do Pensamento - Porto Alegre).
Parece que o instinto sanguinário Bashar Assad desconsidera isso. Ele realmente é terrivelmente do mal. A foto diz tudo. Terrível. A pergunta não é apenas de retaliar ou não esses sanguinários.

Pensem um pouco. Não se monta arma químicas e ataques químicos sem logística. Tem produtos que foram adquiridos, montados em bancadas; é preciso técnicos para isso; é preciso embalar e transportar; é preciso toda uma logística específica para isso .... Alguém também encomendou os artefatos. Alguém pagou por eles. Alguém vendeu. Uma logística do mal deve ser desvelada e aniquilada.

domingo, 25 de agosto de 2013

A questão judaica é uma grande mentira! Banalização do mau na era tecnológica, não.

Assisti a dois filmes sobre o tema da questão judaica. Um mais ficcional:  The DEBT - Traduzido como: A grande mentira e o outro mais reflexivo que assisti numa sala de cinema: Hannah Arendt que é o retrato de uma genialidade que sacudiu o mundo com sua descoberta da banalidade do mal
.
The DEBT trata de um suspense de espionagem filmado em Tel Aviv, no Reino Unido, e Budapeste. A Dívida é dirigida pelo indicado ao Oscar John Madden e o roteiro é de Matthew Vaughn, Jane Goldman e Peter Straughan.
É uma refilmagem adaptada do filme de 2007 israelense Ha-Hov [ The Debt ].
A história começa em 1997 com uma notícia chocante que atinge 3 agentes secretos aposentados.
Todos os três agentes foram venerados por décadas em Israel por causa de uma missão secreta de um sequestro por volta de 1965-1966. O resultado publico da  missão era uma grande mentira. O objetivo da missão era sequestrar na Alemanha Oriental um criminoso de guerra o nazista Dieter Vogel um cirurgião cruel, assassino e torturador de Judeus -incluindo - de crianças e velhos.
Era um operação de grande risco e com um custo pessoal considerável. O suspense se constrói por dentro de dois períodos de tempos diferentes (passado e presente) com ação e revelações surpreendentes. A operação na época foi um fracasso, mas eles mentiram sobre sua finalização. O prisioneiro fugiu, mas eles criaram uma versão de que o cirurgião teria sido morto de modo heroico pela personagem de Helen Mirren.
 (Focus Features e apresentação de uma produção Miramax Films).

Por 30 anos eles foram vulnerados como um rochedo que paira sobre suas cabeças o moralismo clássico do judaísmo. Tiveram que conviver com a farsa até a notícia - já aposentados - da possível descoberta de que o nazista estava vivo na Ucrânia.
A questão aqui é o problema mobilizador inquestionável por um país inteiro de uma invasão e sequestro e da dificuldade dos combatentes espiões enfrentarem a culpa de um fracasso de uma missão cujo o seu fracasso era inconcebível.
Aqui me parece que os Judeus se enredaram na confusão que os bárbaros nazista lhe infringiram.
A questão judaica, como a muçulmana, a cristã, hindu, budista é uma questão de tolerância religiosa, cultural e comportamental. Não se trata de uma falsa questão biológica,  de raça.
A diversidade, a pluralidade cultural e de crenças é tradada como uma guerra contra um racismo. Isso torna a questão de INTOLERÂNCIA aqui pior do que ela já poderia ser: UM ABSURDO.

O próximo filme que assisti sobre o tema foi:  HANNA ARENDT. Retrato do gênia que sacudiu o mundo com sua descoberta da banalidade do mal. Depois de participar do julgamento do nazista Adolf Eichmann em Jerusalém Hannah Arendt ousou escrever sobre o Holocausto em termos nunca antes escrito. Seu trabalho instantaneamente provocou escândalo na comunidade intelectual que
tanto a idolatravam.  Arendt continuou forte em sua abordagem,  mesmo sendo atacada igualmente por amigos e inimigos. Porém ao mesmo tempo em que os emigrantes judeu-alemães lutam para superar suas dolorosas associações com o passado o filme expõe a sedutora mistura de arrogância e vulnerabilidade.
 Hannah Arendt revelou  uma alma definida e marcada pelo exílio por questionar o senso comum intolerante e conservador.
O mais absurdo é que muitos apelam bases "científicas" e racionais para vingar e proteger ou pior ferir e até mesmo aniquilar uma raça - que não é uma raça  - e sim um legítimo campo de práticas culturais e religiosas.

Ser Judeu é participar de um campo histórico, cultural e religioso de uma parte histórica da humanidade, ou seja,  ser Judeu - se torna uma crença mobilizada não apenas por comportamentos de  comunicações de moleculares, mas de práxis culturais e sociais.

 Por mais ridículos que possa ser os argumentos biológicos a eugenia é também muito mais complexa do que essa ideologia radical e maléfica da  intolerância promovida por qualquer membro "inteligente" de nossa inteligente espécie. 
Porém a genialidade de Arendt é que ela toca numa questão ainda mais sutil e vital dessa barbárie. Como uma espécie tão inteligente é capaz de banalizar o mal dessa grandeza e escala e modo tão explícito?
No roteiro do filme: O Advogado do Diabo tem um diálogo do diabo comentando em voz alta sobre o porque ele consegue sempre uma brecha para entrar na alma humana: a vaidade!
Basta um pequeno elogio que o princípio da da conformidade do outro - um aplauso individual ou em coro - abra um canto, uma janela, um ponto ou uma compota imensa para sua energia maléfica entrar. É só entrar sem esforço. 
Arendt mostra também uma saída: o mal não pode ser banalizado pela impessoalidade de sistemas racionais, funcionais e cada vez mais enclausurado por sistemas  cibernéticos automáticos.
"Ninguém" é mais poderoso atualmente do que o SEU SISTEMA. Trata-se talvez de um poderoso "senhor" de comando invisível,  tomado por seus circuitos invisíveis. 
Quando nos deparamos no dia a dia com problemas quem não ouviu que a culpa e do SEU SISTEMA;.
A culpa e sempre do sistema . Um sistema onde pessoas e intencionalidades são ausentes! 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Mudar o Brasil é mais dificil que curtir no face!

O título já diz tudo. Onde está a meninada da rede? Cansaram;  deletaram. Delegaram?
7 de setembro está chegando. Não está na hora de Preparar para voltarem para as ruas - quem sabe até la a chinelagem já tenha se cansado? Não há vácuo no poder para quem quer construir o novo.
Gilson Lima.  

quarta-feira, 31 de julho de 2013

GREVES POR MAIS MÉDICOS?

Quando se faz greve por que um Governo – seja qual for - está abrindo mais vagas para os médicos num país de imensas zonas carentes de atenção primária e básica, ou seja, quando está se propondo mais médicos para quem não tem quase nada em matéria de defesa da saúde é um corporativismo brasileiro doentio que mostra sua face mais egocêntrica.
Ainda bem que nem todos pensam assim e tão alinhados a seus sindicatos.
É importante lembrar que a medicina é um saber prático e de alta complexidade perital (de perito), sobretudo, quando estamos falando de procedimentos invasivos como os realizados em ambiente hospitalar pelos cirurgiões que penetram precisamente com suas ferramentas cortantes em diferentes partes de nosso corpo em favor da vida.

LEMBREMOS QUE: A peritagem cirúrgica de alta complexidade é a que deve ser realizada em ambiente hospitalar (la onde as bactérias benignas - a maioria - se enclausulam e as malignas em geral estão a espreita  mais do que em qualquer lugar). É nos hospitais onde a saúde está em cartarse de desespero. Os hospitais são apenas uma camada da complexidade do enfrentamento das doenças e em um grau elevado de complexidade. Estamos lá quando - em geral – já perdemos várias batalhas anteriores.
Muito do que carece a população brasileira é antes de tudo de conhecimento distribuido e democratizado com informação didática em atenção a atendimentos alternativos e preventivos em favor da saúde e não doença.
Com o avanço da indústria da saúde - inclusive- quase tudo da camada básica do saber perital -principalmente da diagnose clínica - será democratizado amplamente. Hoje procedimentos artesanais realizados por peritos serão transmutados rapidamente para aparelhos domésticos. A rede democrática de conhecimento está produzindo efeitos no mundo todo sobre saberes de média e baixa complexidade perital em defesa da saúde e prevenção da doença. Por isso estamos vivendo cada vez mais. Mais do que viveram nossos antepassados recentes, nossos bisavós, por exemplo.
No Brasil é interessante que quando se pensa em investir em MAIS SAÚDE se foca apenas no enfrentamento da doença (médicos, hospitais,..) e não no investimento em favor da saúde.
Outra coisa importante é lembrarmos que a saúde é cada vez mais realizada por uma gama heterogênea de saberes plurais que mesclam com o saber profissional.
Os profissionais da saúde também são muitos e heterogêneos e não apenas constituido de médicos - que são importantes, mas são apenas uma possibilidade dessa malha de saberes.
No entanto, muito das práticas de saúde – até mesmo de prescrição básica de remédios - são proibidas, até mesmo para farmacêuticos, quimicos e bioquimicos formados em Universidades com cursos aprovados pelo Ministério da Educação.
São tantos os profissionais da saúde. Vejamos alguns: enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, educadores físicos, assistentes sociais, educadores em geral, sociólogos clínicos e de saúde,..... a lista não para.
Muitos saberes também de suporte como: operadores de máquinas, analistas de dados e de imagens, coletadores de sangue, vacinadores, analistas de genomas, tecnólogos desenvolvedores de aplicações, protocolistas,... a lista também não para .... São tantas as práticas em favor da saúde que é um absurdo monopolizar e proteger como práticas médicas saberes que não são dotados de alta complexidade invasiva – incluindo: terapias e atividades clínicas, prescrição de fármacos,.... e essa lista também é grande.
Viva os médicos, pois a maioria deles são batalhadores em defesa da vida e abaixo ao corporativismo egocêntrico (consciente ou não) a favor da doença e da morte. O Brasil é grande e nossa carência em saúde é imensa.
Que venham os médicos nos rincões dos lares e da periferia marginalizada. Eles serão, certamente, sempre bem recebidos.

GILSON LIMA. Cientista em reabilitação, Doutor em Sociologia e pesquisador da interface: cérebro, corpo e máquina e professor.
"O que em mim sente está pensando". 
BLOG http://glolima.blogspot.com/
Skype: gilsonlima_poa

Tweets: http://twitter.com/#!/glolima
Curriculum Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4797676U0

terça-feira, 16 de julho de 2013

ANA PAULA. Ontem tive o prazer de conhecer a maravilhosa menina dos olhos carta que escreveu com os olhos e a ajuda da mãe contando sua história de drama e de superação. É emocionante.

GILSON LIMA. Cientista em reabilitação, pesquisador da interface: cérebro, corpo e máquina e professor. "O que em mim sente está pensando".
E-mail: gilima@gmail.com

Segue a carta que ela escreveu e colocou em seu Blog.

Meu nome é Ana Paula Soares de Almeida. Tenho 21 anos. Escrevo esta carta para contar um pouco da minha história…


Hoje faz 8 meses e meio que estou sem conseguir falar e movimentar pernas e braços, sendo totalmente dependente para me comunicar, mexer, deslocar, alimentar, vestir, calçar, higienizar… Uso sonda nasal para a alimentação e para a administração dos medicamentos, mas já consigo comer e beber algumas coisas pela boca. Comunico-me através do alfabeto ESARIN, que é um quadro que minha fonoaudióloga montou com as letras organizadas na ordem de uso mais frequente na nossa língua. Eu olho para a letra, alguém a aponta, eu confirmo com uma piscada ou com o movimento afirmativo de cabeça e assim vou seguindo até formar a palavra ou a frase que quero dizer. É desta forma, com a ajuda da minha mãe, que estou escrevendo esta carta. Já tenho controle cefálico (de cabeça) e um fraco controle do tronco e movimento levemente os ombros e alguns dedos das mãos. Compreendo, sinto e lembro tudo. Minha vida se resume a um quarto, da cama para a cadeira de rodas e vice-versa. Passo meu tempo assistindo à televisão, lendo, recebendo visitas e fazendo os tratamentos e os exercícios que minhas terapeutas indicam. Faço tratamento fisioterápico, fonoaudiológico e psicológico em casa e semanalmente vou ao Centro de Reabilitação de Giruá, uma cidade que dista cerca de 50 km da minha cidade, Três de Maio, também para estes mesmos tratamentos, além de acompanhamento nutricional e terapêutico ocupacional. Realizo, ainda, acompanhamento neurológico regular. Alguns destes tratamentos são gratuitos, ou seja, fornecidos via Secretaria de Saúde, e outros são particulares, custeados pela minha família, com auxílio de doações que recebemos por meio de rifas ou outras formas de arrecadação promovidas por amigos, comunidades, clubes de serviço, empresas…

Tudo isso começou com uma dor de cabeça muito forte e acompanhada de tontura e náusea. Entre a noite do dia 31 de agosto de 2012 e o final da tarde do dia primeiro de setembro, fui 3 vezes ao plantão do hospital. Meus pais contam que eu mal conseguia caminhar, eles praticamente me carregavam, eu estava com dificuldade de coordenação motora, minha fala não era conclusiva, eu ria muito e sem motivo e até perdi o controle de esfíncteres. Nas 3 vezes fui atendida por médicos diferentes, que sabiam, obviamente, que eu já havia estado ali. Era medicada e mandada de volta para casa. Diagnosticavam-me, entre outras coisas, com crise de ansiedade, labirintite e mal estar decorrente de algum alimento que pudesse não ter me feito bem. Na terceira vez, antes de sair do hospital, convulsionei e fui parar na UTI. Fiquei dois dias em coma, fui entubada e fiz traqueostomia. Foram 35 dias na UTI e mais 14 em leito comum. Passei muito mal, mas, ao contrário do que muitos pensavam e até diziam, talvez imaginando que eu não entendesse, melhorei e pude vir para casa. Meu provável diagnóstico é Romboencefalite Criptogênica. Segundo os médicos que já me avaliaram é uma doença bastante rara e pouco conhecida. Como eu gostaria de ter um diagnóstico mais preciso, uma certeza… Existe algum tratamento diferente para eu me recuperar? Onde? Quando? Como? Pra mim é bem difícil estar passando por isso. Há dias em que estou até bem, só que em outros eu choro muito.

Sempre fui falante, comunicativa, determinada e, segundo os que me conhecem, prestativa. Já superei outros problemas de saúde, dentre os quais meningite viral aos 3 meses, fratura de braço aos 11 anos e gripe A aos 17. E este também quero superar. Sou Companheira Leo (Leo Clube) desde 2009 e adoro este clube de serviço. Gosto de ler, de escrever (pretendo escrever um livro para contar minha história em detalhes), de assistir filmes, de internet e da cor verde. Hahaha (risos)! Tenho um blog em que estou contando minha história, que se chama A Vida Numa Cadeira. Cursei um semestre de Sistemas de Informação na faculdade aqui da minha cidade. Fiz a prova do ENEM e, com ela, consegui vaga para a graduação em Comércio Exterior, porém não pude iniciar as aulas por causa da doença. Trabalhei em um mercado no setor de frios e ultimamente era atendente em uma empresa do ramo de computadores.

Meus pais se chamam Marli e Aldair. Tenho dois irmãos: Maikel, de 27 anos, e Cristian, de 24. O Cristian mora com a companheira e o filhinho deles, que nasceu em março deste ano. É meu afilhado. Meu irmão Maikel é especial. Ele tem uma lesão cerebral congênita chamada paralisia cerebral ou encefalopatia estática. Por esta razão, ele apresenta epilepsia, deficiência intelectual, comprometimentos motores, distúrbios de fala e alterações comportamentais, exigindo supervisão constante. Ele já iniciou seus tratamentos logo após o nascimento e desde os 8 anos, aproximadamente, frequenta a APAE. Minha mãe já enfrentou grandes dificuldades para suprir as necessidades do Maikel. Ela chegou a vender suas próprias roupas para pagar consultas e medicamentos. Quando ele tinha quase 3 anos de idade, minha mãe e meu pai começaram seu relacionamento. A história dos meus pais está fortemente ligada a alimentos. Explicando… Eles inicialmente foram proprietários de uma churrascaria, que infelizmente faliu. Da venda da churrascaria sobraram em torno de R$ 100,00, que foram investidos na compra de mercadorias para a produção de pizzas, por sugestão de uma amiga da família. Minha mãe sempre foi boa na cozinha e meu pai nas vendas. Ela chegou até a ser professora de cursos profissionalizantes de culinária do SENAC. E eu, sua assistente. O cardápio de pratos congelados foi ampliado aos poucos, até ser substituído unicamente pela produção de salgadinhos. Mas foi em 2003 que os salgados deram lugar aos doces. E esta é até hoje a fonte de renda da minha família. Os doces da minha mãe são maravilhosos! Meu pai auxilia na compra dos ingredientes e materiais, na embalagem e na distribuição dos doces. Eu atuava na embalagem e na degustação. Hahaha (risos)! Com a minha doença, a produção precisou diminuir muito, pois meus pais dispensam a maior parte do tempo aos cuidados comigo e, claro, ao Maikel, à casa e a todas as demais necessidades comuns que já existiam anteriormente. Eles fazem isso com muito amor e carinho. São maravilhosos e guerreiros. Já passaram por vários momentos complicados. Já tiveram um Natal com R$ 3,00 na carteira, já moraram por 6 meses em um quarto comigo e meus irmãos, já nos fizeram uma “festa” de dia das crianças com uma lata de leite condensado, já superaram um infarto do meu pai…

Nós moramos no 2º andar de um prédio inacabado. Este prédio começou a ser construído pela minha avó paterna, dona Marina, já falecida, e apresenta pendências de inventário. Ela tinha a intenção de que no 1º andar funcionasse a churrascaria e no 2º houvesse dois apartamentos. Meus pais, com muito esforço, finalizaram um dos apartamentos para se tornar o nosso lar. O acesso ao apartamento é bem difícil. É feito por uma estreita calçada lateral de tijolos e sem cobertura ou por dentro do 1º andar, onde há pedras soltas no chão. Em seguida há uma escada, também sem cobertura, bem inclinada e mal construída, com 17 degraus de alturas e larguras diferentes. Com a cadeira de rodas é um sacrifício! Meus pais sempre precisam pedir ajuda a algum vizinho, amigo ou mesmo funcionário do mercado em frente ao prédio quando precisam sair comigo.

Esta é basicamente a minha vida no momento. Escrevo para divulgar a história no intuito de buscar ajuda, seja em relação a novidades no tratamento ou a qualquer outro aspecto que possa facilitar a nossa rotina. Gostaria que meus pais pudessem voltar a trabalhar e que eu recuperasse minhas habilidades perdidas.

Sou grata desde já pela atenção.

 Ana Paula Soares de Almeida

Três de Maio/RS, 16 de maio de 2013.

terça-feira, 2 de julho de 2013

A juventude simbiótica (simbiogênica) é filha da revolução feita pelos Nerds.



GILSON LIMA. Cientista em reabilitação, pesquisador da interface: cérebro, corpo e máquina e professor.
"O que em mim sente está pensando". 
E-mail: gilima@gmail.com



Os Nerds são ótimos, mas muito da suas faces antissociais (seus défitis de inteligência social) nos impôs a comportarmos ilhados, o os nos potencializou muito como agentes individuais, com grande capacidade de agenciamento de si mesmo. Isso foi ótimo. A terrível geração materialista os clássicos - dos socialistas aos liberais individualistas - de modo altamente contraditório, se associaram a ações coletivas que anulavam as pessoas.

 Os Nerds nos modernizaram com seus sistemas cibernéticos, mas nos afastaram das ruas, da vivência de pele, do desassossego do outro, .... A rua abandonada foi ocupada pela violência e veículos rápidos e cuspindo combustão envenenada – digo: rápidos, mesmo às vezes andando um pouco mais veloz do que uma carroça milenar.

O sonho dos Nerds é da pura cibernética, é controlar toda a energia das redes em códigos e cálculos lógicos de modo que assim também possamos controlar e programar os comportamentos humanos. É a velha ideia nas organizações do sistema sem sujeito. O sistema puramente cibernético (esse sujeito que é anônimo - o seu sistema) está sempre acima dos comportamentos humanos. Nós amamos seus robôs de busca, mas não não somos os robôs, somos simbioticos.

Como deuses pitagóricos (deuses números) o seu sistema é uma entidade metafísica, que programa as redes e seus nós juntos. Nós estamos apenas presos numa rede dentro do vento.

 A nova geração do simbiótica em gestação no planeta é híbrida. Voa nos nós velozes das redes de vento, mas querem também viver em simbiose com a lentidão humana e o convívio das ruas e praças, dos pátios, do universo do lúdico e longe das hipocrisias instaladas em sólidas crenças que petrificaram junto aos sistemas anônimos que nos dominam. Isso é MUITO NOVO. Saudamos e sejam bem vindos!!!!.

 Eles querem viver nas ruas também, e livres, diversos em crenças e convicções que se respeitam. Como livres voam pelos bytes e as suas telas, mas estão aprendendo a trazer o espírito criativo e lúdico das interfaces criativas e lúdicas das redes sociais para a vida social também fora das telas e dos displays. São pacíficos, inteligentes, criativos, múltiplos, tolerantes, sempre curiosos ao novo e não gostam de hipocrisias.

 Os Nerds foram uma transição da dimensão e império da matéria para uma revalorização da lógica suportada na velocidade da energia elétrica. Isso é ótimo. Os simbióticos são complexos e também analógicos. Rápidos e lentos. Híbridos. Avançam e desaparecem, são recursivos. A cultura da interface com a vida fora dos displays é mais lenta e mais pele em hibridismo torna-nos melhores e mais complexos do que éramos num puro cyberpitagorismo ou no humanismo altamente conservador.

 Que venha novos tempos e com ele novas formas de pensar e acontecer em paz no mundo com o mundo e não como uma entidade divina fora dele.


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Em nota. 01. Um parêntese sobre educação: Nada adianta pensar a educação só pelo prisma dos recursos (de novo – os velhos materialistas).  Se algo não está nada bem colocar mais recursos nisso pode ser pior ainda. Acelerar ainda mais a sobrevida de um atraso que perdemos lá atrás. Com o atual design de espaços e salas de aulas altamente teoricistas, que separam a cognição da emoção, a aula do intervalo em padrões de encontros tão rígidos; quase não encontramos locais de experimentação, não encontramos disciplina para experimentar e aprender além do nome das matérias que se organizam também em rígidas disciplinas; a neurose da memorização de longo prazo como dogma da inteligência cognitiva, a desconsideração do corpo e das atividades esportivas e lúdicas (tidas como saberes primários ou pré-cognitivos), a inexistência da ligação entre as teorias acadêmicas e as práticas de experimentações de oficinas que integram o fazer e o pensar em constante singularidade em uma simbiose viva. Pergunto-me: Por que a geração democrática deixou intacto o sistema escolar herdade da ditadura e da Guerra Fria? Entra governos democráticos e sai governos democráticos e só se faz puxadinho no atual sistema educacional que herdamos de 1969.  Existem hoje um total descompasso entre vida e escola na sociedade do conhecimento. 

Em nota 02. Os velhos movimentos sociais, sindicais, partidários organizados apenas pelas dinâmicas coletivas sem pessoas  - que deixam de acontecer como si mesmas e junto no mundo - são muito mais violentos e primários. Associam o poder a testosterona da guerras de movimentos de ataques frontais e organizados. Nada de novo.

domingo, 23 de junho de 2013

Uma nova matriz civilizatória é possível?

Gilson Lima. Esse texto foi escrito informalmente logo após o acontecimento de 11 de setembro de 2002. Reproduzi o fragmento - sem revisões de erros ortográficos ou os novos incrementos que recebeu no meu Livro: Nômades de Pedra, 2005 (esgotado).  

“Lá no coração da floresta, longe de tudo que se conhece, de tudo o que você aprendeu na vida em escolas, livros, música e rimas você encontra a paz, a afinidade, a harmonia e até segurança. Um dia em uma cidade grande é muito mais perigoso que qualquer outro nestas florestas. Da para você entender?”
(Roteiro do filme americano: Instinto).

Nada é mais selvagem do que a civilização moderna; na verdade, é mais perigoso se viver um dia em Nova York do que quinze na Selva Africana. Entendeu?


As grandes mudanças na história civilizatória ocorreram na união de duas questões: a primeira é a existência de grande(s) acontecimento(s) e a segunda é quando por causa desse(s) acontecimento(s) várias forças sociais e tecnológicas se juntaram para criar uma nova “matriz operacional” nessa mesma civilização.
Primeiro vamos a um pequeno esclarecimento, o que estamos entendendo por acontecimento. Foi Bruno Schultz que melhor tratou sobre isso, ele escreveu um livro chamado "Sanatório”, onde introduziu uma distinção primordial entre fato e acontecimento .
Os fatos são a velha maneira moderna de encapsular a realidade, mensurá-la pela coisificação estática, onde são ordenados no tempo e dispostos em seqüência como uma fila. Eles – os fatos - agrupam-se apertados e pisam uns nos calcanhares dos outros. Suas almas serão marcadas sempre pela continuidade e sucessão. Cada fato tem uma passagem, tem seu lugar reservado para sua viagem no trem da história.
Como todos bem sabem, para manter o trem no trilho da história é necessária uma meticulosa assistência disciplinar, um apurado e detalhado controle. Privado desta assistência controladora, a imersão na realidade vital fica propensa quase totalmente a transgressões, travessuras irresponsáveis, palhaçadas amorfas. Ao não exercermos vigilância nesse trem da história engatilhada por vagões factuais, ele – o trem - descarrila, vira turbulência, cria suas travessuras.
Os acontecimentos, ao contrário, são múltiplos fragmentos que chegam atrasados na estação desse trem factual, não foram encapsulados e perderam o trem da história. Os acontecimentos quando chegam na estação já ocorreu a distribuição das passagens não podem ser explicados como fatos ou apenas pela mensuração dos fatos, por isso, não possuem nenhum lugar no trem da história.
Os acontecimentos também não são contrabandos que encontram lugares clandestinos nos vagões. Na verdade, eles não cabem no trem, estão condenados a pairar errantemente sem lar, suspensos no ar. O tempo regular, cronológico é estreito demais para abrigá-los.
Podemos também nos perguntar: mas os acontecimentos se dão ou não no tempo? Como, se instalar no acontecimento? Para compreendermos esses dilemas, é necessário aderirmos a uma multiplicidade de planos, como se mergulhássemos na própria atualização de tudo que acontece, como somos muito limitados é como se mergulhássemos no vapor, no que escapa ao corpóreo, uma simulação imaginante. O acontecimento suga os fatos, é mais que a soma deles,  possui uma eterna juventude que não se situa no tempo cronológico, ou seja, é imemorial, não é localizável no tempo factualizado.
O acontecimento é como um vapor que se eleva. Mergulhar nele é como dar um salto numa piscina de vapor. Eles não são como um fato que é um estado ou capturas de registros sobre as coisas; é incorporal, da ordem do imemorial. No plano do acontecimento, não é possível mapearmos sua localização específica, pois ele não é localizável, não é apenas os fatos que aconteceram no fatídico dia 11 de setembro nos Estados Unidos da América.
Urge uma inovadora resignificação do entendimento do acontecimento, para que possamos nos tornar efetivamente contemporâneos no presente.
Comecemos então por verificar a partir do impacto com cinco fios principais que estão a compor a emergência de uma nova matriz operacional das sociedades multiculturais e simbióticas - (RIFKIN, 1999) . Juntos, eles (esses fios) estão a permitir tecermos uma estruturação complexa capaz de emergir – até mesmo – um novo tecido para uma nova era civilizatória.
Vejamos:

1. A desmaterialização da vida. A sociedade industrial concebia e concebe o corpo imerso no conceito da vida como uma energia indissociada desse mesmo corpo, ou seja, vida e matéria são uma unidade indissolúvel. Para a sociedade industrial foi o que envolveu e o que envolve a capacidade deste mesmo corpo de produzir trabalho. O corpo, neste sentido, também a vida, deveriam submetererem-se a um programa de disciplinamento capaz de revelar suas capacidades energéticas de ordem neuromuscular e de exercícios mentais disciplinados e objetivos ligados, sobretudo, à memória, tratando a informação, também como insumo material (estoque de dados a serem analisados) para a sua gestão organizacional. Hoje, entretanto, com a sociedade imersa na aceleração tecnológica e no domínio do técno-poder, as ações do corpo são ampliadas tanto pelas conquistas realizadas pelo domínio da informação digital como pelo domínio da informação genética. Do ponto de vista da informação digital, isto se dá perante a integração da vida a recursos de múltiplas máquinas cognitivas, ou seja, diferentes tipos de artefatos físicos e softwares numéricos que nos permitem, como telenômades, comunicarmo-nos acessarmos e produzirmos conhecimentos a distância na velocidade da luz. Assim, ampliamos enormemente nossas capacidade de memória física e gráfica, bem como, múltiplos processos interativos de suporte à produção de conhecimentos. Do ponto de vista da informação genética, isto se dá perante a capacidade que adquirimos, pela primeira vez na história da humanidade, de manipularmos um volumoso e poderoso estoque bruto de dados genéticos independentes da matéria viva (infogenes), tornando possível, posteriormente, isolarmos, identificarmos e recombinarmos esse estoque bruto de informações. Essas conquistas estão estabelecendo, cada vez mais, uma simbiose da vida e da mente humana com o ambiente inorgânico dominada, atualmente, por lascas de silício. Isso nos leva a uma profunda ruptura sobre o entendimento da vida e da morte, da sua criação e da sua reprodução. A vida desmaterializa-se; ela é manipulada fora da matéria e estocada fora do corpo material. O corpo passa a ser visto como suporte material da vida e não mais como parte intrínseca dela. Vivemos a ruptura com o paradigma societal que emergiu a partir da conquista ocidental moderna, sobretudo, a sociedade industrial e os sustentáculos de seus fios operacionais.

1. Desmaterialização da economia e a emergência do biopoder. A vida desmaterializada passou a ter donos. A vida pela primeira vez na história humana é um instrumento patententeável. Proliferam-se práticas de patentes de genes, de linhas de células, de tecidos geneticamente desenvolvidos, de órgãos e organismos, bem como, de processos e metodologias utilizadas para alterá-los. Isso implica na criação de um novo e produtivo insumo para o mercado: a vida.
Esse processo iniciou-se em 1971, quando Ananda Chakrabarty, um microbiologista indiano, na época um funcionário da General Eletric (G.E.), solicitou concessão de patente, junto ao PTO (U.S. Patents and Trademark Office - Instituto Nacional da Propriedade Industrial dos Estados Unidos), para um microrganismo geneticamente construído, projetado para devorar derramamentos de óleo nos oceanos. O PTO recusou a concessão, alegando que seres vivos não são patententeáveis, de acordo com a Lei de Patentes norte-americana. Chakrabarty e a General Eletric apelaram a decisão ao Court of Customs and Patent Appeals (Tribunal de Tributos Alfandegários e Patentes), onde, para surpresa de muitos observadores, ganharam por uma estrita diferença de três a dois. Na opinião da maioria desse Tribunal, o fato de microrganismos serem seres vivos não era algo legalmente significativo, eles defendiam que os microrganismos patenteados eram mais semelhantes a composições químicas inanimadas do que a cavalos, abelhas, framboesas ou rosas, ou seja, consideravam o microrganismo mais próximo de um produto químico do que um cavalo. Esse processo ainda vaguearia pela Suprema Corte Norte-americana onde recurso impetrado pelo PTO sobre a decisão do Tribunal tocou no âmago da questão, ou seja, do valor intrínseco da vida e do seu significado. Os defensores desse recurso defendiam que a vida em qualquer nível deveria ser entendida como vida e não como um produto. Entretanto, em 1980, pela primeira vez da história humana, por uma estrita margem de cinco votos a favor para quatro contras, os juízes da Suprema Corte Norte-americana decidiram a favor de Chakrabarty, concedendo patente à primeira forma de vida geneticamente construída. Falando em nome da maioria, o juiz William Brennan, o juiz-presidente, argumentou que a decisão teve por fundamento, não a distinção entre seres vivos e objetos inanimados, que para eles não era relevante, mas, a consideração se os microrganismos de Chakrabarty eram ou não uma invenção humana. Essa decisão deu embasamento legal à marcha que se acelera cada vez mais em ritmos alucinantes para a privatização e comercialização do domínio da eugenia frente ao ecossistema e as derivações de seus sistemas sociais. A comunidade financeira, acostumada a tirar proveito da exploração da matéria manufaturando-a industrialmente, imediatamente reagiu ao que podemos considerar o batismo legal da biotecnologia, transferindo e migrando enormes volumes de recursos financeiros para a aquisição de nanicas experiências genéticas escondidas em porões. Os analistas de Wall Street chegaram a comparar o nascimento da biotecnologia como um evento tão importante para a humanidade como foi a descoberta do fogo (RIFKIN, 1999) .
Assim, por mais de uma década, a luta pelo controle dos recursos naturais da biodiversidade tem dominado a pauta das reuniões da United Nations Foot and Agriculture Organization (Organização de Alimentos e Agricultura das Nações Unidas). A agenda de debates tem girado principalmente sobre a possibilidade de os países industrializados do hemisfério norte acessar e manipular os biorrecursos naturais localizados em países ou nações de baixa capacidade de domínios tecnológicos, sobretudo e, principalmente, os localizados no hemisfério sul, onde ainda existem escassas populações indígenas, mas com ricas características genéticas, bem como, uma qualitativa biodiversidade, que ainda insiste em sobreviver ao genocídio desenvolvimentista da industrialização, as quais podem ser encontradas, principalmente, nas ainda densas formações florestais como a Floresta Amazônia. É o início da maratona global visando demarcar  e patentear o patrimônio genético do planeta, ou seja, da odisséia para delimitar e privatizar, para fins de mercado, todos os grandes ecossistemas que compõem a biosfera terrestre.
Isso implica, sobretudo, aos cientistas, tecnólogos e às empresas biotecnológicas a localização, manipulação e exploração de recursos genéticos para fins econômicos. Apenas para citarmos algumas, basta lembrarmos das pioneiras e muito conhecidas empresas de biotecnologia como as: Amgem, Organogenesis, Genzyme, Calgene, Mycogen e Myriad. Só nos Estados Unidos já existem 1,3 mil empresas de biotecnologias, com um total de 13 bilhões dólares de rendimentos anuais e 100 mil empregados. Para termos uma idéia, já existem no início deste século dezenas de megaempresas que possuem a biotécnica como sua atividade fim, entre elas as conhecidas: Du Pont, Novartis, Upjohn, Monsanto, Eli Lilly Rohom e Hass, Dow Chemical etc.
A mundialização do comércio, a flexibilização das fronteiras para a circulação de informações, conhecimentos e integração tecnológica em tempo real dos mercados tornaram-se possíveis, gerando o nascimento de uma nova gênese vital. A biosfera natural da Terra passa a conviver com uma outra gênese vital, biotransformada, concebida em laboratórios e artificialmente desenhada para substituir o esquema revolucionário da vida natural. Uma economia global de ciência da vida começa a dominar, sem precedentes, os vastos recursos biológicos do planeta. Áreas de ciências da vida que vão da agricultura à medicina estão se consolidando sob a proteção de gigantescas empresas da “vida” nos mercados biotecnológicos emergentes. É interessante verificar que a defesa de populações nativas, florestas tropicais como a Amazônia, por exemplo, são defendidas tanto pelas empresas biotecnológicas como por ecologistas. Entretanto, enquanto as primeiras defendem taticamente sua preservação até a finalização do seu mapeamento genético visando identificar e isolar as ricas e específicas características genéticas para realizarem futuras manipulações, simbioses e, até mesmo, como estoque informacional de reserva defensiva diante das experimentações genéticas que já estão sendo realizadas; enfim, os biotecnólogos defendem, na verdade, a captura e o encapsulamento do estoque informativo genético. Os ecologistas, diferentemente, defendem a bioesfera natural, os nativos indígenas com suas culturas e conhecimentos específicos, as formações florestais e a preservasão física da biodiversidade natural sobrevivente do genocídio industrial. Os megaempreendimentos e os empreendedores da bioeconomia, após completarem os levantamentos bioinformacionais, após conquistarem seus banco de dados genéticos, muito certamente, não se interessarão mais pelo discurso preservacionista, bem ao contrário, a destruição da camada bruta da natureza vital poderá significar, até mesmo, um poderoso domínio privativo dos biorrecursoss com grande potencial inventivo sobre os que poderão vir a necessitar desses biorrecursos no futuro.


3. A emergência da civilização da eugenia . O mapeamento de aproximadamente 37 mil genes que compõem o genoma humano implica em novas descobertas sobre seleção genéticas, incluindo, como vimos, a intensificação de criação de chips de DNA e simbioses entre sistemas orgânicos e inorgânicos. Viveremos ainda mais a aceleração das experiências como a da terapia genética, a engenharia de ovos humanos, de espermas e de células embrionárias. O projeto genoma prepara o terreno para a explosão da alteração da espécie humana e o nascimento de uma civilização eugênica. Enfrentamento de distúrbios genéticos, personalização de bebês, melhoramento genético da herança hereditária visando o aperfeiçoamento do nosso código genético, são algumas das inúmeras variáveis que compõem o cardápio da emergente civilização eugênica, sobretudo, a preocupante possibilidade da criação de uma aristocracia geneticamente melhorada diante de um massivo conjunto de seres humanos geneticamente precarizados.

3. A emergência da bioinformática: computando o DNA. Trata-se da união das ciências da informação com as ciências da vida: o computador e o gene. Não se trata apenas de uma mescla de saberes complexos, mas, sobretudo, da migração do predomínio da informação digital para a informação genética. Assim, não apenas o suporte das experimentações genéticas que são agilizados, mas os próprios artefatos digitais começam a sofrer radicais e profundas alterações (como já demonstram as experiências de computadores utilizando chips vivos ou de computadores com arquiteturas baseadas em DNA e com processamento de algoritmos quânticos). É importante lembrarmos que, graças ao surgimento da informação digital, foi possível a descoberta da manipulação informacional da vida, ou seja, a informação genética. Entretanto, o predomínio da informação digital está se transferindo para a informação genética. Se, após a segunda guerra mundial a aceleração tecnológica foi movida pelo predomínio da informação digital, ou seja, na relação entre informação digital e informação genética, o predomínio foi quase absoluto da informação digital. Nos próximos anos, esse predomínio será invertido. O computador e a informática fornecem para a emergente economia biotecnológica a comunicação e a organização para administrar a informação genética. Isto implica que artefatos digitais e softwares facilitam: decifrar, catalogar e trocar o estoque e o capital genético que é e será utilizado pela bioeconomia. As tecnologias de informática e as tecnologias genéticas estão se fundindo (sob o predomínio das segundas) numa nova e poderosa realidade tecnológica.

5. A emergência da nova evolução simbiótica. Estamos a iniciar uma nova evolução neodarwinista, onde emerge uma espécie simbiótica entre econatureza e redes biotecnológicas. Segundo um outro fascinante cientista chamado Rosnai em seu livro: ”O Homem Simbiótico”  uma nova espécie pós-biológica está emergindo no planeta. Ela é produto deste novo ecossistema composto da simbiose entre vida e artefatos sensório-cognitivos integrados a complexas redes de processos orgânicos e não orgânicos, sejam eles de máquinas lógicas e redes cada vez mais sofisticadas; sejam de complexos ambientes orgânicos e inorgânicos. Esta simbiose esta proporcionando a emergência de um novo tipo de humanidade; ela está dando início ao lançamento de novas bases para se repensar a evolução biológica e as teorias socias. Estamos a presenciar o surgimento de uma nova natureza radicalmente revista, uma perspectiva simbiótica que será produzida de um novo ambiente holístico entre mente e matéria, de sistemas de autopoiese  orgânica com suportes artificiais e inorgânicos auto-organizativos, constituindo uma condição pós-biológica imbricada numa cultura de complexidade criativa. A teoria darwinista provou ser uma companhia muito compatível com a era industrial. A emergência da nova bioeconomia, com seus interesses desmaterializados, implicará na revisão não só das teorias da evolução natural como das teorias sociais frente as complexas questões colocadas pela emergência da simbiogênese são profundas e levam-nos a um confrontro com nossos valores mais íntimos que tratam, antes de mais nada, de ponderarmos sobre a questão máxima da finalidade e do sentido de nossa existência.