terça-feira, 12 de março de 2024

Biodiversidade e Simbiogênese: não somos tão humanos quanto pensávamos

Gilson LIMA [1] - Gilson Luiz de Oliveira Lima ======================================================================================================================
Uma coisa se pode ter como certa: a vida humana deixou de ser absolutamente centrada no corpo humano. Como nos diz o filósofo: é preciso livrar-se do homem para liberar a vida (Nietzsche). 
Estamos ficando cansados do homem, sobretudo, diante da ideia de que o homem aprisionou a vida aos limites do homem. (LIMA, Gilson. Nômades de Pedra, 2005) ======================================================================================================================

NOTA: Esse texto foi uma espécie de despedida de minhas atividades de cientista formalizado academicamente, tanto de contribuição da teoria da nova espécie simbiótica e como pesquisador em neurorreabilitação e de bancadas de processos e produtos.
O texto foi publicado em capítulo de um livro na Europa, debatento com defensores da tal Inteligência Artificial. Como é um livro de difícil acesso, resolvi tornar acessível esse capítulo nesse Blog Pessoal.
 Espero que possa contribuir para o entendimento da emergência da nova espécie simbiótica no Planeta.

Dados do Livro:
Artificial Intelligences: Essays on inorganic and non-biological systems 

Coordinated by Alexandre Quaresma 
Originally published in 2018, Madrid (Spain) by Global Knowledge Academics as part of Intellectual Challenges of the New Century book collection. 
Global Knowledge Academics Creative Commons Attribution - Non commercial. 

Artificial Intelligences: Essays on inorganic and non-biological systems. 
ISBN: 978-84-15665-29-8.
This book has been financed by the International Technology, Science & Society community. www.technosciencestudies.com 

  Palavras iniciais 

 Nosso microbioma é simbiogênico. Nossa espécie deixou de ser apenas humana e se tornou simbiótica, produto de uma aliança de longo agora integrada em cooperação com uma rede simbiótica, uma gama imensa de micro organismos benéfica a nossa complexidade em evolução. Em nosso corpo, de cada 11 células, apenas uma é humana. A maioria das células humanas (internas ao nosso corpo vital humano), não é realmente humana. 
As células bacterianas superam as humanas numa relação de 10 para 1 e não ameaçam nossa saúde e são de vital importância para nossos processos fisiológicos básicos e com a conquista da morte pelo envelhecimento, nossas parceiras não humanas assumem processos cada vez mais complexos. Em 1859, Charles Darwin publicou uma perigosa ideia numa célebre obra A origem das Espécies que, depois de resistências acadêmicas, acabou se constituindo num paradigma da biologia moderna. Darwin baseou sua teoria em duas ideias fundamentais: variações casuais, que foi posteriormente denominada de mutação aleatória, e a seleção natural. No entanto, ainda segundo Dennett, mais de 120 milhões de norte-americanos acreditam que Adão foi criado por Deus há dez mil anos, a partir do barro, e que Eva foi feita com a costela do seu companheiro. São os que acreditam no criacionismo e no design inteligente (DENNETT, 1986). 
Darwin foi decisivo para uma ruptura com a noção criacionista do humano por um design inteligente – sobrenatural. Para Dennett, é por meio da evolução que encontramos o cerne da descoberta mais perturbadora de Darwin. A ideia de que não é necessário algo de grandioso, especial e inteligente para a criação de uma coisa menor. Dennett, chama de teoria da ordem descendente da criação. Ninguém jamais verá uma lança fazendo um fabricador de lanças. Tampouco verá uma ferradura criando um ferreiro. Nem um vaso de cerâmica gerando um ceramista. As coisas ocorrem sempre na ordem inversa, e isto é tão óbvio que simplesmente parece ser uma lei universal (DENNETT, 1998). 
Com o Homo habilis, o “faz-tudo” que começou a fabricar instrumentos de pedra cerca de dois milhões de anos atrás, também começou a se erguer uma sensação de eles serem mais perfeitos do que os seus artefatos. Darwin refuta completamente isso com a sua teoria da seleção natural. Ele demonstra que não é assim que as coisas aconteceram. Isso desafia a ideia popular de que a vida possui um sentido. A ideia de um criador que é mais perfeito do que as coisas que cria é uma ideia profundamente intuitiva. 
É exatamente a esta ideia que os defensores do design inteligente se referem quando perguntam: “Você alguma vez já viu uma construção sem construtores, ou uma pintura sem um pintor?”. Esse raciocínio é algo que captura esta ideia profundamente intuitiva de que jamais se obtém um desenho gratuitamente (DENNETT, 1998). 
Conversando com Dennett, filósofo da mente e entusiasta da evolução, afirmou que daria a Darwin a medalha de ouro pela melhor ideia que alguém já teve. Para esse filósofo da mente, essa ideia brilhante unifica o mundo dos significados, dos objetivos, das metas e da liberdade com o mundo da ciência, com o mundo das ciências físicas. Quero dizer, nós falamos sobre a grande lacuna entre a ciência social e a ciência natural. O que preenche esta lacuna? Darwin, ao nos mostrar como objetivo, desenho e sentido podem surgir da falta de sentido algum, a partir da simples matéria bruta. 
O desdobramento evolutivo da vida ao longo de bilhões de anos constitui uma história empolgante acionada pela criatividade inerente a todos os sistemas vivos. Expressa troca entre recursos e natureza ao longo de caminhos distintos de mutações, intercâmbios de genes e simbioses aguçadas pela seleção muito mais natural do que fisicalista. Reconhecemos com Georges Comte de Buffon que todos somos parte da grande trama comum da vida existente neste planeta, mas ainda estamos à procura do salto singular do homem-macaco. 
Darwin nos legou duas ideias “perigosas” que até hoje foram pouco consideradas pelo atual reducionismo científico, mesmo com elevada produtividade de mais de milhões de cientistas da vida e, sobretudo, da vida humana. Um dos maiores desafios da formação escolar e acadêmica é a de reencontrar numa teia nova e complexa às ciências humanas e o saber das humanidades com as ciências da vida.
A alienação disciplinar da ciência moderna nos afasta das compreensões das questões complexas básicas, como é o caso da evolução e suas implicações sobre nossas visões sobre o humano e o humanismo. Essa falta de borramento entre as fronteiras disciplinares tem um efeito perverso de estagnação e precarização reflexiva entre todos os saberes humanos, ou seja, a ideia de que devemos proteger as ciências sociais e a humanidade do pensamento evolucionário é uma receita para o desastre. 
A noção de borrosidade (entre fronteiras, bordas), surgiu de um problema matemático na teoria de conjuntos fuzzy proposto pelo lógico polonês Jan Lukasiewicz . Trata-se de uma abordagem crítica das noções de limite e de precisão, essenciais à teoria dos conjuntos que funda a analítica formal da ciência moderna (ZADEH, 1982). 
Uma boa metáfora para o mundo do conhecimento complexo da vida e uma abordagem crítica das noções de limite e de precisão, essenciais à teoria dos conjuntos que funda a sua analítica formal. Um conjunto de realidade BORRADA evoca novas abordagens paradigmáticas. Um conjunto de realidade borrada evoca novas abordagens paradigmáticas. 
O "borramento" é uma propriedade particular dos sistemas complexos no que se refere à natureza arbitrária dos limites infrassistêmicos impostos e à abertura das relações suprassistêmicas dos contextos e respectivos observadores e experimentadores. A borragem disciplinar das ciências da vida é mais indeterminada. 
Certa vez Darwin resumiu a seleção natural em poucas e precisas palavras: “multiplicar, variar, que o mais forte sobreviva, que o mais fraco morra” (WRIGHT, 1996: 07). 
Na abordagem da simbiogênese , decorrente da evolução proposta por Darwin muito focada no conflito e na competição “produtiva”, não existe um conjunto aqui sem o conjunto ali. Não existe natureza separada da cultura. Não existe virtual que não seja real. 
Enfim, não existe possibilidade de enfrentar de modo complexo e aberto os desafios da elucidação da vida sem o contágio e ligação dos saberes desligados. Esse contágio inicia-se pelo borramento entre as sólidas fronteiras disciplinares.
Houve uma época, até muito recentemente, que a ciência acreditava que a vida era uma ilha fisiológica de funções internas dos humanos, verdadeiramente humanos. Isso começou a mudar no início dos anos 60, quando a falecida norte-americana Lynn Margulis (1938 – 2011) – infelizmente mais conhecida por ser casada com Carl Sagan (famoso divulgador da ciência). 
A descoberta revolucionária de Margulis dá um nó na teoria da evolução. Do conflito e da competição a mola mestra da evolução de longo prazo das espécies se deslocam para a cooperação (MARGULIS, 2002; MARGULIS, Lynn; SAGAN, 2002a; MARGULIS, Lynn; SAGAN, 2002b). 
Margulis demonstrou correta a teoria da endossimbiose em experimentos controlados e consolidados onde demonstrou que as mitocôndrias como entidade separadas formaram-se em simbiose cooperativa de longo prazo com as próprias células eucarióticas. 
Essa descoberta é tão revolucionária que até hoje quase toda a ciência médica e grande parte das práticas clínicas complexas e da grande parcela da indústria farmacêutica não entenderam ainda seu grande significado. 
Um dos problemas é romper com a visão equivocada que os micro-organismos são nossos inimigos mortais. Se fossem – pelo menos a maioria deles – nós não existiríamos. 
Qual a grande implicação dessa descoberta? Nosso genoma “humano” – cada vez mais barato de ser escaneado e decifrado individualmente – não passa apenas de uma parte importante e minoritária do genoma de nossa espécie duradoura. Apenas no nosso sistema digestivo a relação é de 1/150.
 Para uma ideia da significância dessa rede, a totalidade do genoma humano que encontra-se entre 20 a 25 mil genes efetivamente é muito insignificante se o vermos separadamente e isoladamente apenas. Descobrimos recentemente que somos parte de uma rede complexa de vida, uma rede viva entre o humano e o não humano. 
A falta de saúde em nosso organismo, de acordo com o atual estágio da pesquisa científica, é apenas as correlações entre taxas mais baixas de infecções microbianas e mais altas de doenças imunes em humanos. 
Sabíamos até agora apenas isso: correlações. 
Agora sabemos que é muito mais do que corelações. Nossa espécie para ser duradoura junto com o ambient onde acontecemos é plural em vida e cooperação. Sozinhos somos ainda mais frágeis do que somos. 

  Três implicações significativas das ideias perigosas da evolução 

 Uma das mais significativas implicações para uma reflexão complexa e borrada entre disciplinas é a de realizarmos a quebra do dogma moderno e iluminista da noção central de Homo Universalis e sua derivação normativa nos estatutos dos mesmos direitos. 
Trata-se de uma matriz humana – narcisista, onde tendemos a pensar que sozinhos dispomos de todos os recursos necessários para manter nossa saúde. As implicações para a saúde e a vida é imensa. Por exemplo, quando pensamos em micro-organismos que vivem em nosso corpo (e no mundo em geral) pensamos em entidades patogênicas. Os seres malignos (a nós). 
Assim, descobrimos que não vivemos numa ilha fisiológica. Nosso microbioma é simbiogênico. Nossa espécie deixou de ser apenas humana e se tornou simbiótica, produto de uma aliança de longo agora integrada em cooperação com uma rede simbiótica, uma gama imensa de micro organismos benéficos a nossa complexidade em evolução. 
Em nosso corpo, de cada 11 células, apenas uma é humana. A maioria das células humanas (internas ao nosso corpo vital humano), não é realmente humana. 
As células bacterianas superam as humanas numa relação de 10 para 1 e não ameaçam nossa saúde e são de vital importância para nossos processos fisiológicos básicos e cada vez mais complexos. A evolução nos mostra que estamos corretos com a perseguição de nossa hipótese simbiogênica, ou seja, nos seres humanos, complexos acontecemos no mundo em redes de cooperação de longo prazo e além de nós mesmos e juntos no ambiente em que acontecemos no mundo. 
Não devemos preocupar conosco apenas quando falamos de saúde e doença. Além do ambiente e hábitos onde acontecemos, o nosso próprio corpo tem outros seres que como nós acontecem junto quando acontecemos no mundo. Nós, humanos, somos parte de um microbioma (híbrico, simbiótico) – mesmo não nascendo com ele. Mesmo que em nossa infância ele não esteja nem sequer formado. 
Começamos a compor essa rede nos primeiros segundos após o nascimento (amamentação, contatos com familiares, ambiente social geral...). Nos últimos dez anos, estamos desvelando a complexa teia microfísica de nosso ecossistema microbiótico. Por exemplo, algumas das bactérias benignas do nosso organismos contêm genes que codificam compostos benéficos que o corpo não consegue produzir sozinho. 
Assim, mudanças no bioma microbiano intestinal contribui significativamente para o aumento das taxas de doenças e do nosso equilíbrio biótico saudável. Sabemos, hoje que muitas doenças crônicas ainda existentes são decorrências de uma bioenergia nutricional que modelou nossos corpos desde o Paleolítico. nas sociedades modernas – entre elas obesidade, hipertensão, doenças coronarianas e diabetes – seriam o resultado de uma incompatibilidade entre padrões dietéticos modernos e o tipo de dieta que nossa espécie desenvolveu para se alimentar como caçadores-coletores pré-históricos.
 Em síntese, a evolução nos obriga a enfrentar algumas certezas “milenares” e a arrogância humanista tomada por uma visão deturpada do micromundo. Sabemos que as Bacteróides fragilis vivem em 80% das pessoas no planeta e ajudam a manter o sistema imune em equilíbrio. 
Desde o vexame que os racionalistas a-simbióticos tiveram com a publicação aberta da ciência do censo dos genes microbianos em 2010, verificamos que apenas do sistema digestivo de humanos existem 3,3 milhões de espécies – com assinatura de gene próprio cada uma catalogada. 
Todos nós humanos, compartilhamos um núcleo complementar básico de genes bacterianos úteis, que podem provir de diferentes espécies e, pasmem, significam hoje 99,9% do DNA. O extraordinário é que que os cientistas agora tem que lidar com algo que significa 150 vezes os 20 a 25 mil genes catalogados do genoma humano. Isso significa muito o quanto é imensa a nossa insignificância solitária.
Descobrimos também a ontogênese no ecossistema onde a vida acontece é vital para a espécie humana e suas singularidades, nem mesmo gêmeos idênticos compartilham a mesma constituição microbiana. 
Nosso sistema imune militar, de combate a todo tipo de visitante a nossa rede, evoluiu simbioticamente em busca de cooperação. Nossa rede de células humanas tornou-se minoritárias. Várias funções que não podem ser exercidas pela modesta rede de células humanas receberam novas cooperações. 
Uma das maiores conquistas foi a da morte pelo envelhecimento. Até a pouco, uma experiência raríssima para poucos membros de cabelos brancos da espécime “humana”. A espécie pós-humana, cuja rede biótica é amplamente e majoritariamente formada por células não humanas, mesmo num corpo humano. Isso é recente na evolução. Uma das maiores conquistas foi a da morte pelo envelhecimento. Poucas décadas atrás alguém com 40 anos não se parece em nada com um simbiótico com 40 anos. 
Muitas bactérias assumem atividades que nossa limitada rede de células humanas jamais conseguiria dar conta sozinha. Também essa revolução recente aconteceu primeiro lá embaixo, a nível celular. Nosso sistema imune deixou de ser um militar que atirava em todos os estranhos que acessavam a rede biótica e passou a interagir numa perspectiva maior de cooperação de longo agora. Mas a consciência inata, biótica ainda não chegou na consciência encefálica da ampla maioria dos simbióticos, que ainda são cerebrais, cognitivos e predadores inteligentes.
Claro que a descobertas da gestão e tratamento potável das águas ajudaram, a massificação de esgotos, o tratamento adequado do leite para crianças pós-amamentação com a pasteurização adequada, a anestesia. A lista é grande de tantas outras descobertas que realizamos como: o coquetel Aids, a angioplastia, medicamentos contra malária, RCP (reanimação cardiopulmonar), insulina, terapia de reidratação oral, marca=passos, radiologia, refrigeração, cintos de segurança nos carros. Foram fundamentais a descoberta do processo antibiótico, das agulhas bifurcadas, cloração, pasteurização e fundamentalmente, o uso de sanitários/esgotos e até o processo controverso das vacinas. 
Alongamos a existência como nunca antes os humanos tinham pensado, replicado em níveis nunca alçados no nossa história do planeta de replicação de nossa espécie. Mas nada se compara com a recente revolução micro celular que a inteligência inata realizou nos últimos anos, alterando a dinâmica da competição militarizada do nosso sistema imune e alargando com uma nova dinâmica de cooperação de longo agora o acesso a células não humanas para dentro de nossa rede biótica. As alterações naturais do processo de envelhecimento não afetam com a mesma intensidade todos os órgãos, nem ao mesmo tempo. São vários fatores que interferem no processo, retardando ou acelerando a senescência.
Entre os aspectos da involução senil temos: redução da capacidade funcional, perda qualitativa e quantitativa de elementos celulares, resultando em tecidos moles hipotofiados, desorganização do tecido conjuntivo, redução da água corporal, levando a desidratação dos tecidos em geral e redução do consumo de oxigênio. As fibras elásticas se rompem, as de colágeno se desorganizam, ocorrem desordens do núcleo das células e em outros elementos celulares. 
A produção de proteínas, e de outros elementos importantes são gradualmente paralisadas e as funções viscerais se tornam menos eficientes. As glândulas endócrinas deixam de funcionar de forma harmoniosa, ocorrem modificações nas paredes das artérias e veias, alterando a circulação sanguínea. 
Normalmente se tem a percepção da chegada do envelhecimento a partir de mudanças externas, relacionadas com a aparência. São cabelos brancos, rugas nos cantos dos olhos e testa e pequenos sulcos ao redor da boca. Mas as alterações não ocorrem somente na aparência, também nos órgãos internos ocorrem mudanças. Á medida em que o tempo passa, o ser humano torna-se mais suscetível a doenças e o organismo fica menos resistente ás condições ambientais. 
É comum no andar do processo de envelhecimento, ocorrer a diminuição da marcha, ou seja, alterações no equilíbrio e uma tendência em que o caminhar fique mais lento parte devido ao estado de pressão sofridos pelos discos da coluna. O sistema músculo esquelético também é afetado pela perda da massa muscular e pela desmineralização na estrutura óssea. Essas alterações podem comprometer a postura e o equilíbrio. Os idosos perdem estatura, devido também ao retraimento das cartilagens vertebrais, e parcial capacidade visual. 
Felizmente estas mudanças são gradativas, normalmente não acontecem de uma só vez. A partir dos quinze anos começamos a perda neuronal encefálica e com trinta anos de idade, o cérebro começa a perder peso, no início de forma lenta, e depois cada vez mais rapidamente. Aos noventa anos o cérebro pode ter perdido até 10% de seu peso. Juntamente com a perda da substância cerebral, pode ocorrer um retardamento gradativo das respostas, principalmente as de reflexo, dificultando em muitas vezes as tarefas diárias. 
Apesar de tudo isso, podemos recentemente observar que um simbiótico de 50 anos em nada parece com um humano de 50 anos de poucas décadas atrás. Doenças do envelhecimento apenas estão começando a serem conhecidas de modo menos genéricas. Antes tudo era genericamente classificável. Com a transmutação simbiótica enfrentar o envelhecimento apenas se preocupando com as células humanas pela medicina humanista, tem tornado o enfrentamento da morte pelo envelhecimento uma produção de idosos páreas semivivos a mercê de muitos interesses de grandes conglomerados químicos não simbióticos. A visão da evolução simbiogênica da vida tem nos levado também a revisar as reputações de muitos micro organismos. 
Por exemplo, a Helicobacter pylori. Recentemente descobriu-se que se trata, na verdade, de um microrganismo comensal (benigno). Sua ausência pode desregular a acidez do estômago, até facilitar a obesidade (atua na grelina- hormônio da fome). Muitas bactérias espirais presentes no ambiente ácido do estômago são conhecidas, pelo menos, sabemos isso desde 1875, mas até pouco tempo ela foi considerada apenas um patógeno (provoca doenças). 
Os americanos – como sempre – apontaram suas armas e ela foi combatida com antibióticos. Hoje, menos de 6% de jovens americanos apresentam testes positivos de| Helicobacter pylori. A indústria fármaco está colonizada por princípios não simbióticos. A indústria de alimentos também. Ao contrário, nosso conhecimento sobre a vida é mais sobre a doença é mais antibiótico, do que simbiótico. 
Quando pensamos em investir em saúde, políticos e população em geral pensam em médicos e hospitais. Nos hospitais onde reinam as doenças e os micro-organismos mais perigosos a teia da vida humana em cooperação. 
É lá que devemos evitar e se deslocar para lá apenas para situações complexas e críticas. O saber da vida deve ser socializado e distribuído entre farmacêuticos, agentes de saúde, familiares, mídia, produtos domésticos, a indústria da saúde, etc. 
Não devemos reduzir a ciência da vida a disciplinas médicas ou de qualquer especialidade perital segmentada e, deixar a sociedade fluir o saber e o conhecimento sobre a vida, a saúde. Os médicos devem se deslocar para um conhecimento de nível mais complexo. Quase tudo – em matéria de simbiótica (saúde da vida) pode ser resolvido nessa frequências menos complexas e distribuindo conhecimentos antigos e represados. 
A segunda e significativa implicação da noção de evolução que Darwin nos legou foi a de que não somos humanos, estávamos humanos, éramos provisoriamente humanos. Toda espécie biológica é derivação do tempo em troca de recursos com a natureza. Os humanos chegaram até aqui se envolvendo em uma complexa simbiose de significativas trocas entre a natureza e recursos. Uma outra significativa implicação desse novo diálogo complexo é a de, depois de Darwin, a noção histórica de tempo não é mais monopólio da cultura dos humanos. O tempo, agora, faz parte da natureza e da bionatureza. 
Darwin, estranhamente para muitos cientistas reducionistas, demonstrou que a natureza biológica em si tem história, integrada ao ecossistema onde essa vida acontece. A noção de tempo não é mais monopólio da cultura humanista. A vida tem história e se produz na história. Os reducionistas modernos, com suas peritagens exatas e congeladas, pressupõem que a vida natural não é uma geometria sedentária. Ela se movimenta, recria-se, auto organiza sempre quando acontece junto no mundo natural. A dicotomia, natureza e cultura, vida social e vida natural torna-se uma visão simplificadora e reducionista que a modernidade nos legou. A natureza tem temporalidade. 
A própria natureza e não somente a cultura tem tempo, história. Distinções artificiais entre matéria e vida perdem sentido. O mundo não é dado como organizado (não existe uma ordem dada). É uma possibilidade. Leis e devir. Percepção não é uma fotografia positiva da realidade: diagnóstico. Relatividade. Princípio da incerteza. Matéria se expande (tempo mesmo na matéria). Matéria se auto-organiza. O universo evolui e o simplificador tempo flecha seja como uma flecha ascendente (evolução) e ou descendente: entropia (LIMA, 2007). 
A implicação metodológica para a ciência dessa complexidade da vida acontecendo “online” num mundo em história permanente é imensa. Por exemplo, temos que dar um adeus tardio à pretensão simplificadora de traçados racionais em busca de exatidão congelada no tempo. Há um tempo não racionalizável nos quadrantes dessa geometria. 
Tentativas de mensurações reducionistas de uma matemática universal, dada como acesso ao universo de uma ordem dada e objetiva (sem valoração subjetiva, sem intencionalidade,...) diante de uma realidade geométrica dotada de uma ordem dada a ser medida se esfumam diante de uma natureza que fica ali, parada, sem tempo; a nosso dispor e pronta para ser medica, mensurada ou descrita em espelhada exatidão. 
O universo e o mundo natural não sendo dados mais como organizados, capazes de serem capturados por representações mecanicistas e construções reducionistas da realidade em porções cada vez menores ou maiores, divididas em incontáveis parcelamentos e funções para reduzir a matéria a poucos atributos, não ajudam a entender a complexidade do real. Outra significativa implicação da ideia de evolução é a da ruptura de que nosso corpo humano não é perfeito.
O culto naturalista. Da natureza em ordem e perfeita. Assim, como produtos históricos de interação entre natureza e recursos disponibilizados onde acontecemos, também não fomos projetados, a priori, para funcionar durante muito tempo e agora estamos obrigando nosso corpo a continuar em atividade muito depois de expirada a sua data de validade. Esse programa é uterino. Está no painel de controle do DNA. Poucas fábricas de células troncos são autorizadas a produzir até a morte novas células tais como eram fabricadas no programa uterino. Enquanto nossa modesta consciência sinpática não coopera com a inteligência inata, ao contrário, paralisa e a controla teremos que, nessa transição, redesenhar o design humano da conquista longeva.
 O corpo humano tem grande beleza artística, mas, do ponto de vista da engenharia, é uma rede complexa de ossos, músculos, tendões, válvulas e articulações que tem uma analogia direta com as polias, bombas, alavancas e dobradiças das máquinas,... (todas falíveis e datadas de operação). Por exemplo, uma das mais complicadas façanhas da evolução é o nossa conquista ontogenética de ficarmos sobre os dois pés. Nos tornamos imperiais no Planeta. Somos uma espécie única com tamanha complexidade e adaptabilidade fisiológica. Até hoje, um dos momentos mais significativos da aprendizagem de uma criança humana é quando ela, deixa de engatinhar e entre tentativas e erros aprende a ficar sobre os dois pés: torna-se um bípede. 
No entanto, ser bípede, mesmo para os modernos humanos (cerca de 200.000 anos atrás), não é da nossa natureza filogenética. É uma conquista ontogenética da nossa adaptação à natureza onde acontecemos, mas é também um problema. Os humanos ficaram de pé e adaptaram a postura bípede ereta num projeto corporal complexo e somos os únicos entre os mamíferos (mesmo entre os primatas). 
Não há dúvida de que, ao ficarmos de pé sobre as patas traseiras, promovemos o uso de novos instrumentos, aumentando significativamente a nossa inteligência. Porém, os complexos processos fisiológicos da caminhada bípede geram também uma série de problemas. Por exemplo, o andar humano. 
Embora a gravidade ajude, uma rede intrincada de tendões nos ajuda a conectar os órgãos à coluna vertebral, impedindo-os de cair e de imprensar uns aos outros. Nossa coluna vertebral teve que sofrer algumas adaptações: as vértebras inferiores ficaram maiores para suportar a maior pressão vertical, e nossa coluna curvou-se um pouco para nos impedir de cair para a frente. 
No decorrer de um único dia, os discos da parte inferior das costas são submetidos a pressões equivalentes a várias toneladas por centímetro quadrado. Ao longo da vida, toda essa pressão cobra o seu tributo. Muitas das enfermidades debilitantes e até fatais do envelhecimento decorrem em parte de nossa locomoção bípede e da postura ereta. 
Cada passo que damos coloca uma pressão extraordinária em nossos pés, tornozelos, joelhos e costas – as estruturas que sustentam o peso de todo o corpo acima delas. No decorrer de um único dia, os discos da parte inferior das costas são submetidos a pressões equivalentes a várias toneladas por centímetro quadrado. Ao longo da vida, toda essa pressão cobra o seu tributo, assim como o uso repetitivo de nossas articulações e o esforço constante que a gravidade impõe a nossos tecidos.
Quando jovens, nem sentimos suas imperfeições e, com o tempo, desgastamo-nos e de alguma outra forma os problemas de saúde se tornam mais comuns. A questão é como não ter tantos defeitos que nos deixarão ou nos deixam relativamente incapazes em nossos últimos anos. Nossa espécie está envelhecendo a passos rápidos e colocando novos desafios conquistados pelo conhecimento da própria teia da vida. Com a conquista do envelhecimento, as doenças não podem ser evitadas apenas com pequenas orientações de comportamento, mas precisamos, então, de um novo design de cooperação corporal. 
Nossos corpos não foram projetados para durarem muito mais do que algumas poucas décadas. A vida é um sistema aberto e que acontece num ambiente adequado a receber e manter a vida, mas um rearranjo simples pode resolver problemas, mas criar outros. Na verdade, muitos fornecedores de juventude em receitas gostariam de nos fazer acreditar que os problemas médicos associados ao envelhecimento são culpa nossa, decorrentes principalmente de nosso modo de vida decadente. É claro que qualquer pessoa pode diminuir a duração de sua vida por comportamentos sedentários, má alimentação, fumo,..., mas isso por si não é suficiente. Nenhuma intervenção simples compensaria as inúmeras imperfeições espalhadas por toda a nossa anatomia. 
As ciências da vida, ao alterarem suas concepções não simbióticas da natureza vital, vão conquistar rapidamente avanços incríveis que vão compensar muitos dos defeitos de concepção contidos em todos nós.
Pensemos no olho e no ouvido. A versão humana da visão é uma maravilha evolutiva. Com a idade, nossa visão diminui à medida que o líquido protetor da córnea vai perdendo a transparência, os músculos que controlam a abertura da íris e a focalização das lentes atrofiam-se, a lente engrossa e amarela, reduz nossa precisão visual e a percepção das cores. Algumas modificações anatômicas podem ajudar muito, e podemos manter com alterações tecnológicas a preservação da audição dos idosos. 
Podemos também criar sistemas mais precisos de visão e de audição que dos humanos médios. Se os seres humanos tivessem sido feitos para durar mais, seríamos diferentes. Para vivermos mais tempo, estamos cofabricando um corpo simbiótico distinto dos que a natureza nos desenhou com seus discos abaulados, ossos frágeis, quadris fraturados, ligamentos rompidos, veias varicosas, catarata, perda da audição, hérnias e hemorroidas: a lista das mazelas corporais que nos afligem à medida que envelhecemos é longa e muito familiar. 
Estamos nos dirigindo para a emergência de uma nova espécie simbiótica altamente duradoura com partículas minúsculas dedicadas totalmente aos bilhões de esforços jeitosos e cooperativos necessários para nos manter intactos e que nos farão experimentar um estranhamento sobre o que conhecemos como existência ou sobre o que é o real movido pela nossa atual singularidade humana.
Se informação não é conhecimento, e se conhecimento não é sinônimo de sabedoria, não é preciso lembrar que essas conquistas geram riscos, desafios éticos e sociais imensos que julgamos não estarmos, ainda, à altura de enfrentá-los.
Temos, cada vez mais uma compreensão da importância da simbiogênese, não apenas a demonstrada nas nossas interações com os micro organismos (Margulis,xxx), mas um borramento amplo de fronteiras entre o mundo físico, social e biológico, que, há décadas, Michel Foucault demonstrou com a emergência do biopoder, da transubstancialização do poder-corpo para o poder-vida. 
Nossa hipótese da simbiogênêse social é que estamos – como espécie - borrando uma passagem evolutiva da era simbiótica e não parabiótica. No lugar de transformar o mundo nós vamos agora mudar o próprio ser em evolução. 
Como disse antes: não somos humanos, estamos ainda apenas de consciência sináptica dos humanos predadores, mas o futuro duradouro é do simbiótico e estamos a caminhos acelerados nessa direção. Caminhamos aceleradamente, com a manipulação molecular, para uma interação magnética de comunicação celular pré e pós ulterina e vemos a passos largos, a saída da era neolítica, em que logramos a tarefa de dominar nosso ambiente, para uma nova era da programação simbiótica.
As nossas próximas tarefas serão o domínio de nosso próprio corpo e dos organismos vivos em geral. Não se faz programação simbiótica sem interfaces simbióticas. Interfaces em cooperação com a vida numa longo agora.
A linguagem da vida planetária é magnética e não radioativa, elétrica de condução inorgânica. Isso já está demonstrado até por mecanismos elétricos e não magnéticos que é a base da interface simbióticas e que não dominamos ainda.
Por exemplo, o marca-passo tem sido utilizado com sucesso na medicina desde 1958. Hoje, a taxa anual é da ordem de 400.000 implantes. O marca-passo tem sido utilizado com sucesso na medicina desde 1958. 
Hoje, a taxa anual é da ordem de 400.000 implantes (KEMPF, 1998). Outros dispositivos, já foram demonstrados em diferentes experimentos e estão sendo também implantados no corpo humano ao largo dos últimos anos. Por exemplo, eletrodos para fazer conexão elétrica à espinha dorsal, de modo a estimular órgãos paralisados (utilizado em Larry Flynt, o famoso editor da revista pornográfica Hustler, para recuperar sua virilidade, após uma tentativa de assassinato que o deixou paraplégico) e o incrível implante de olhos artificiais (na verdade, câmeras CCD ligadas a processadores de imagens) para os cegos, projeto desenvolvido pelos oftalmologistas norte-americanos John Wyatt e Joseph Rizzo. (LIMA, 2005).
Porém, ainda são dispositivos de base bioeletrônicos, próbióticos, mas ainda não magnéticos e muito menos de bases em interfaces simbióticas. Vamos precisar de um novo corpo molar também simbiótico. 
Nessa nova era de uma evolução borrada entre os recursos orgânicos e os inorgânicos em cooperação com a vida estaremos transferindo para as criaturas vivas e para as máquinas ou para matérias inorgânicas parte das suas propriedades singulares, um borramento de uma nova ecologia simbiótica. A vida inteligente está constituindo uma potente beta natureza (seca, inorgânica) e gerando um novo recurso simbiótico com a alfa natureza (úmida e orgânica). 
São exatamente os recursos da ciência e da tecnologia modelados por uma sociedade do conhecimento que estão nos impelindo para entrar numa nova era da evolução. Estamos iniciando a embarcação de uma nova era de interfaces simbióticas. (LIMA, 2005). 
Nossa indicação final é que não vivemos apenas uma nova convergência neurodigital, de amplificação cognitiva ou uma nova emergência do pós-humano, ou pós-evolutiva, ao contrário, estamos deixando para trás o humano demasiadamente humano e emergindo novos seres simbióticos modelados por uma aceleração envolta de uma evolução simbiótica, uma evolução geradora de seres bióticos mais duradouros numa nova ecologia simbiótica, mais recursiva, ou seja, com novos e potentes recursos e sentidos parabióticos. 
Nos últimos anos, artistas como Stelarc se dedicaram à discussão cultural e política da possibilidade de ultrapassar o humano através de radicais intervenções cirúrgicas, de interfaces entre a carne e a eletrônica, ou ainda de próteses robóticas para complementar ou expandir as potencialidades do corpo biológico. 
Mais que apenas antecipar profundas mudanças em nossa percepção, em nossa concepção de mundo e na reorganização de nossos sistemas sociopolíticos, esses pioneiros anteciparam transformações fundamentais em nossa própria espécie. Essas transformações poderão inclusive alterar nossa herança genética e reorientar o processo darwiniano de evolução.

Por fim: a ideia da Simbiogênese aplicada à reabilitação 

 Meus projetos de pesquisa acadêmicos ou industriais que coordenei com equipes interdisciplinares operados sempre em simbiose com as redes sociais são experimentais e demonstrativos e integram também o esforço de sistematização da Teoria Biossocial da Simbiogênese com as tecnologias assistivas e de assistência à vida. 
Na nossa abordagem, priorizamos basicamente três grandes famílias de relações simbióticas entre a vida humana e as máquinas, ou seja, symbios (que acontece junto) e da amplificação dos recursos com interfaces diversas entre corpo, máquinas e softwares e o ambiente onde a vida acontece. São elas: a chamada muscular-motora, a sensória e a cognitiva. 
E que a interação simbótica dos dysplays podem e modelam a plasticidade das redes encefálicas. Imaginem: uma tela de dysplay modelando o seu cérebro interiormente e alterando caminhos para realizar processos e atividades lesadas seja pela formação, seja por aquisição. 
Quando propus isso em minha tese de doutorado (2004) , os cientistas do cérebro vinham como uma piada. Pouco se sabia de neurogênese (reduzida – na época ao hipocampo, responsável pelas lembranças e reconstruções factuais da memória e acontecimentos). A plasticidade da rede encefálica não era considerada.
Nem em processos de reabilitação. Agora imaginem poder modelar as redes encefálicas e reabilitar sinais e passagens de oxigênio com o simples só de micro ritmos corporais, faces, braços e pernas com o uso de displays como o de computadores e celulares. Depois 11 anos em demonstrações isso pode ser verificado. As telas e os displays e seus velozes sinais em velocidades de um bilionésimo de segunda interferem, borram com nossos sinais bio-elétricos-químicos que são muito, mais muito mais lentos. 
Hoje meus processos e protocolos de reabilitam estão sendo usados em muitas partes do mundo e por muitos pacientes realizando reabilitações neurais, micro motoras, cura da sialorreia e retorno de sinais corporais que estavam desligados. Em 2008, o Google financiou discussões e experimentos que converteram num importante e pouco conhecido seminário para verificar como o cérebro humano se comporta quando um usuário usa os aplicativos do Google. 
As teses de remodelagem do cérebro foram aceitas e uma boa parte da discussão neuronal e dos resultados de experimentos e dados foram sistematizados num manuscrito chamado Ibrain: surving The tecnhological alteration of the modern mind por Gary Small e Gigi Vorgan (2009). 
Para saber um pouco dos resultados dessas descobertas em português podem buscar em meu blog na internet Depois de várias pesquisas e resultados surpreendentes de remodelagem das redes neuris por pilotagens de telas com a cabeça, olhos, bocas,... na reconfiguração da rede orgânica encefálica viva e de resultados surpreendes de reabilitação de pacientes com lesões neurais severas criei um quadro básico para entendermos o processo simbiogênico (cérebro-corpo-máquinas-ambiente) para identificar as implicações orgânicas do processo quanto à escala do acoplamento. 
Uma primeira escala – MOLAR: Macro acoplamento simples com interfaciamento de melhoramento apenas clínico e reeducacional. O acoplamento molar não envolve intervenção cirúrgica e não envolve programação microeletrônica (lasca de silício ou outro dispositivo micro informacional como o infogene). 
A segunda escala – MICRO: Envolve acoplamentos com interface de programação microeletrônica (disparadores, lascas de silício com chips miniaturizados...), ou seja, envolve acoplamento da escala micro (não visível) e macrofísica (visível) numa simbiose simultânea. 
A terceira escala – MOLECULAR: É a escala do borramento da fronteira molecular, abaixo do universo da microrrealidade. Entramos nas escalas de máquinas e dispositivos nanométricos com interfacionamentos biomoleculares. Aqui encontramos o borramento da fronteira da realidade seca inorgânica com a realidade úmida – inorgânica. 
As combinações entre os universos nano-micro-molar-societal envolvem complexos sistemas de referências e abordagens inter e transdiciplinares. Nos últimos dez anos, diversos cientistas consolidaram de vez a certeza que nosso corpo humano não é uma ilha de autossuficiência – por demonstrações – sabemos agora de vez que somos uma rede social também no mundo orgânico e fisiológico. Enfim: descobrimos definitivamente que não somos mais humanos! Darwin nos mudou para sempre quando descobriu que os humanos não são humanos em si, mas apenas nos tornamos humanos. 
A biologia, tal como a cultura, tem história. Estamos humanos e não somos humanos. Evoluímos tanto nessas últimas décadas que médicos e clínicos que se formaram antes dessa descoberta podem estar praticando procedimentos invasivos muito mais ofensivos às nossas redes de cooperação do que do conflito das doenças. 
Essas práticas - mesmo produtivas nas suas consequêcias impositivas destroem micro organismos benéficos, tecidos benéficos e – na maiorua das vezes desnecessariamente -, colocam em risco nossa simbiose de longo prazo diariamente em situações críticas à vida. Seus focos são direcionados para cuidar mais da doença e de processos antibióticos do que próbióticos. 
Claro que usar antibióticos poderosos – arrasar toda massa biótica estranha e matar todos os micro-organismos indiscriminadamente é o caminho mais fácil. Salvamos a vida, mas o custo é alto na posterior reabilitação. 
Ganhamos tempo na crise, mas matamos muito da vida em longo prazo. Precisaremos de um novo modo de viver, organizar, financiar e distribuir conhecimentos e recursos dignamente. De modo muito mais evoluído que fizeram as velhas elites modernas até aqui. Precisamos ir além, de todas as suas conquistas. Não voltar para traz com escravidões disfarçadas de “desenvolvimentos” sustentáveis ou não e que lotam nossos portos com seus contêineres. 
Precisamos de uma civilização simbiogênica, que vive num planeta simbiótico e, talvez, para isso, de novas elites e civilizações socialmente mais evoluídas. Cada vez mais entendemos a importância para a evolução simbiogênica das máquinas com as regiões cerebrais dos humanos, cada vez menos só humanos. 
Aprendemos quanto estamos equivocados e na direção certa do nosso complexo processo do conhecimento e aprendizagem. Hoje, temos urgência em entender profundamente a significância dessas modificações diante do gap geracional e da atual desconexão dos sistemas educacionais que herdamos. 
Que venham novas abordagense novas práticas hibridas e que a simbiogênese de Margulis possa ser efetivamente entendida por todos humanos: que não somos mais humanos como pensávamos que éramos. 
Somos simbióticos, ainda com consciência sináptica dos predadores inteligentes em transição para uma efetiva civilização simbiótica. 

  Referências 

DARWIN, Charles. A Origem das Espécies. Rio de Janeiro. Editora Jorge Zahar, 2007. 
DENNETT, Daniel. Darwin's Dangerous Idea: Evolution and the Meanings of Life (Simon & Schuster; reprint edition 1996) (ISBN 0-684-82471-X)
 ___________. A Perigosa Ideia de Darwin. Rio de Janeiro: ROCCO, 1998. ________ Brainstorms: Philosophical Essays on Mind and Psychology (MIT Press 1981) (ISBN 0-262-54037-1) 
KEMPF, Hervé. La Révolution Biolithique: Humains Artificiels et Machines Animées. Paris: Albin Michel, 1998. 
LIMA, Gilson. Nõmades de pedra: teoria da sociedade simbiogênica contada em prosas. Porto Alegre: Escritos, 2005.
LIMA, Gilson. Sociology in Complexity. Sociologias – V 1. PPGS/UFRGS, 2007
LUKASIEWICZ, Jan. Aristotle's Syllogistic from the Standpoint of Modern Formal Logic, Oxford University Press, Amen House, London, 1958.
MARGULIS, Lynn. Microcosmo. São Paulo: Cultrix, 2002. 
MARGULIS, Lynn; SAGAN, Dorion. O que é Vida. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2002a. 
MARGULIS, Lynn; SAGAN, Dorion. O que é Sexo. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2002b. 
SMALL, Gary; VORGAN, Gigi. The tecnhologicgary; al alteration of the modern mind por Gary Small e Gigi Vorgan. Nova York: HerperCollins Publischers, 2009.
STELARC. “Das estratégias psicológicas às ciberestratégias: a protética, a robótica, e a existência remota”. Em D. Domingues (org.), A arte no século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo: Ed. Unesp, 1997. 
WRIGTH, Robert. O Animal Moral: porque somos como somos: a nova ciência da psicologia evolutiva. Rio de Janeiro: Campus, 1996. 
ZADEH, A. Fuzzy Sets. Information and Control, 8:338 – 353, 1965. 

Referências bibliográficas eletrônicas 

STELAC. Pseudônimo de Stelios Arcadiou (19 de junho de 1946, Limassol, Chipre) é um artista performático cujas obras concentram-se fortemente no futurismo e na extensão das capacidades do corpo humano. http://stelarc.org/_.swf (última visita 14/08/2015). 
LIMA, Gilson. Encontro com Daniel Dennet. Reinventando o universo do humano com a ciência em ação. http://glolima.blogspot.com.br/2010/11/encontro-com-daniel-dennet-reinventando_28.html (última visita 14/08/2015). 
LIMA, Gilson. Vídeo que mostra coordenei um experimento onde batemos o record de 512 passos sequenciais com um paciente tetraplégico num exoesqueleto não robótico. Mapeamos também o consumo de oxigênio-energia no trajeto. http://glolima.blogspot.com.br/2011/07/exoesqueleto-para-alem-da-cadeira-de.html (última visita 14/08/2015). 
LIMA, Gilson. Tese de Doutorado: A Reconstrução da Realidade com a Informação Digital: a emergência da dupla competência sociológica. (UFRGS, 2004). https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4226/000453996.pdf?sequence=1 (última visita 14/08/2015). 
LIMA, Gilson. Seu Cérebro no Google. A nossa hipótese de pesquisas com usos de computadores e outras atividades online é que esses usos – cada vez mais intensos - causam alterações rápidas e mensuráveis para um circuito neural do cérebro, particularmente, em pessoas sem prévia experiência com computador. http://glolima.blogspot.com.br/2012/12/seu-cerebro-no-google.html (última visita 14/08/2015).

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[1] Gilson Lima. cientista, inventor de várias tecnologias, softwares e protocolos clínicos, escritor, músico.

Desde o início dos anos 90, quando concluiu sua tese de mestrado, envolveu em sociobiologia que permitiu a elaboração da sua Teoria Social da Simbiogênese, tendo por referência de base as pesquisas em micro biologia celular de Lynn Margulis.

Ao mesmo tempo em que foi criando e processando a sua teoria simbiótica, realizou múltiplas pesquisas de bancadas com invenções de produtos e processos.

Iniciou suas pesquisas na complexidade em metodologias informacionais e criticando a abordagem cognitivista computacional do cérebro e mente, foi migrando para coordenar por quase duas décadas pesquisas clínicas de pacientes com lesões neurais severas envolvendo interfaces simbióticas entre micro ritmos corporais e displays (terapia magnética).

Na perspectiva da Teoria Social da Simbiogênese, a sociedade é vista como um sistema complexo e dinâmico de interdependências, onde os “indivíduos” e grupos estão constantemente se influenciando e transformando uns aos outros.

A Teoria Social da Simbiogênese propõe ainda uma visão mais integradora das diversas ciências sociais, incluindo a sociologia, a antropologia, a psicologia e a biologia,... Segundo Lima, cada uma das diferentes disciplinas tem uma perspectiva única e importante para compreender as relações sociais, mas é necessário integrar essas perspectivas para ter uma compreensão mais complexa do paradigma e mais abrangente da sociedade.

A teoria da simbiogênese sugere que a evolução dos seres vivos não ocorre apenas por meio da seleção natural, mas também pela integração de novos elementos em suas redes bióticas. A partir da incorporação de novas bactérias que se beneficiam mutuamente, os simbióticos podem evoluir e se adaptar às suas condições de vida de forma mais eficiente.

A teoria da simbiogênese pressupõe que as espécies em um ecossistema são interdependentes e se beneficiam mutuamente em uma relação simbiótica. Essa interdependência não se limita apenas aos organismos vivos, mas também inclui o meio ambiente físico. Nesse contexto, a integração de novas bactérias na rede biótica pode levar a uma nova espécie em evolução: os simbióticos.

Os seres humanos são exemplos mais de simbióticos evoluídos na rede celular, pois contêm em seus corpos uma grande quantidade de bactérias que desempenham funções vitais em seu organismo, como a digestão e a produção de vitaminas, retardo do envelhecimento, etc. Essa relação simbiótica entre os seres humanos e as bactérias que os habitam é fundamental para a saúde e o bem-estar de toda a rede simbiótica.

Em seu último livro: Inteligência Inata,  defendeu que a partir da ampla incorporação evolutiva de novas bactérias na sua rede biótica de longo agora que se beneficiam mutuamente, os novos simbióticos podem ainda evoluir e se adaptar às suas condições de vida de forma mais eficiente e mais longeva. 

Para Lima, a emergência dos simbióticos altamente evoluídos e de amplo potencial de inteligência inata, ocorreu muito mais aceleradamente com os humanos nas últimas décadas, ainda que a evolução de sua rede simbiótica em dinâmica cooperativa e fractal com a inteligência inata encontra-se ainda em transição dominada pela velha consciência sináptica humanista não cooperativa, racionalizadora, linear, centralista e ainda dominante predadora com o ambiente onde os simbióticos evoluídos acontecem no mundo.     

Atualmente retomou sua atividade como músico compositor, cantor que atuava na adolescência produzindo atualmente suas canções e coordenando a Banda Seu Kowalsky e os Nômades de Pedra. Suas músicas, shows, vídeos podem ser acessados no canal do youtube. 

https://www.youtube.com/c/seukowalskyeosnomadesdepedra

Webpage: http://www.seukowalsly.com.br

 Último Livro: 

https://www.google.com.br/books/edition/Intelig%C3%AAncia_inata_o_caminho_da_intelig/RwZhEAAAQBAJ?hl=pt-BR&gbpv=1&printsec=frontcover

https://www.amazon.com.br/Intelig%C3%AAncia-inata-intelig%C3%AAncia-artificial-simbiog%C3%AAnese-ebook/dp/B09TC9YJF5  

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