quinta-feira, 28 de julho de 2016

O QUE CHAMAMOS DE STRESS É UMA DOENÇA DAS SOCIEDADES DA MODERNIDADE E ECONOMIA INDUSTRIAL



“Festina Lent”
(provérbio italiano = apressa-te lentamente).

Gilson Lima[1]

O Stress é algo natural, de vital importância e criado na evolução para defender o nosso corpo dos perigos e ataques de predadores. Diante de ameaças nosso cérebro prepara nosso corpo para enfrentar: ejeta adrenalina para diminuir ou zerar a dor, cortisol para aumentar nossa agilidade e resistência e intensifica a ação da amigdala (um núcleo interno cerebral responsável pelas emoções como medo e ameaças).
Aquilo, porém que chamamos de stress é uma doença social adquirida e inventada, principalmente, a partir da economia industrial. Uma tensão nervosa permanente, uma patologia que ativa, os mesmos processos primários de defesa do corpo, mesmo quando não estamos sendo atacados ou submetidos por um determinado perigo ou ameaça. Uma doença histórica, cultural e inventada e que só pode ser curada socialmente, não apenas individualmente.
Não se trata de um problema moral, mas um problema social, econômico que descapitaliza a criatividade aplicada, a bondade, a solidariedade, a atração social entre o mundo e as pessoas e injeta a violência e o desespero sutil  ou bárbaro.
Nenhuma ideia, dessas antes da modernidade industrial, o homem viveu. Essa tamanha obsessão de medir e se submeter cientificamente o controle do tempo. De valorizar, premiar quem conseguisse otimizar cientificamente o seu tempo, de produzir ou consumir mais com a menor quantidade de segundos.
Segundo Domenico de Masi “Nem mesmo os escravos da Grécia e na Roma pagã, trabalhavam mais do que seis horas por dia. Salvo casos excepcionais, como a construção de muros de defesa ou a preparação de festas, a corrida pertencia ao mundo da ginástica; já a dedicação em regime de tempo integral, pertencia à guerra”.  (DE MASI, 2003: 600)[1].
Nós, os humanos, na era industrial, vivemos a ânsia da velocidade, a hipnose de conexão em tempo real, a alucinação do tempo sem espaço. Uma aceleração sem trégua, um auto-acelerar-se permanente.   
Domênico de Masi, nos lembra dum episódio interessante: no começo do Século XX, um chefe indígena das ilhas Samoa – Tuiavii de Tiavea – teve a oportunidade de realizar uma viagem a Europa e de escrever uma espécie de reportagem antropológica sobre usos e costumes dos brancos europeus que ele chamou de Papalagi. Vejamos:

 “O Papalagi está sempre descontente com seu tempo e se lamenta com o Grande Espírito porque não lhe deu tempo bastante... Nunca entendi bem essa coisa e penso que se trata e penso que se trata mesmo de uma grave doença. `O tempo me escapa ´, `O tempo corre como um potro enlouquecido!´, `Me dê um pouco de tempo´. Essas são as queixas habituais que fazem os homens brancos... Suponho que seja uma doença porque o homem branco tem vontade de fazer algo que seu coração deseje de verdade, por exemplo, andar ao sol, ou passear no rio com uma canoa e queira amar sua menina, assim estraga toda sua alegria, atormentando-se com o pensamento: `Não tenho tempo de estar contente.´... Há  Papalagi que afirma nunca ter tempo. Correm em volta como desesperados, como possuídos pelo demônio e onde quer que estejam fazem o mal e provocam mal-estar e criam espanto porque perderam seu tempo”.

Continuamos a repassar essa doença as crianças e jovens, naturalizamos que o mal estar embrutecedor que sabotam nossa inteligência, onde viver e conviver se torna apenas um instante, nada mais que um instante que já se foi. Podemos inventar uma nova e mais radical modernidade reflexiva, onde podemos nos apressar para que possamos conviver e viver lentamente.




[1] Cientista, inventor, escritor, compositor, cantor, professor universitário e pesquisador industrial.
(2) MASI, Domenico. Criatividade e Grupos Criativos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 

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