sexta-feira, 21 de junho de 2013

AS LIÇÕES INTEMPESTIVAS DOS JOVENS SIMBIÓTICOS


Gilson Lima. Doutor CNPQ-UNISC e cientista em reabilitação.

Uma análise informal e inicial. Acho que para quem está realmente interessado em fazer esse país avançar as manifestações de rua organizada pelas redes sociais foi um acontecimento. O país voltou a colocar na agenda a política. Não a velha política: eleitoral, partidos, movimentos sindicais e lobistas tradicionais,... De sempre. Mas uma nova política ampliada que acontece nas redes e nas ruas em simultaneidade – muito além do modelo moderno de representação eleitoral e dos partidos como centros dirigistas e até detentores do monopólio da representação política.

A grande mídia teve que alterar seus padrões standards de programação e integrar a dinâmica dos acontecimentos das redes em suas telas. Estamos apreendendo muito com tudo isso.
Claro que temos os poucos gatunos, ladrões e oportunistas que tendem a desmoralizar esse acontecimento. Também a velha guarda com suas crises de explicações e ações. Também parece que aos poucos estamos vendo uma parcela da velha guarda da política tentando entender esse novo modo de fazer o poder público dinamizado em tempo real entre telas e ruas pela garotada.

Pelo que percebi os simbióticos das redes estão nos ensinando coletivamente muitas coisas. Por exemplo:

• Que vivemos num país de cidades e que podemos nos ligar todo o país no mundo pelas cidades. Que o automóvel não necessita ter o monopólio de quase todo o espaço público. Que transportar milhares de pessoas diariamente com ônibus é algo muito primário. Que as cidades são as que menos detêm os recursos dos impostos que pagamos. Tudo se centraliza para retornar minguado em favores e interesses publicamente duvidosos.
• Descobrimos que nos Transportes somos nós que pagamos as contas para deslocar, ficamos presos em gargalos perdendo tempo precioso de nossas vidas, temos um péssimo serviço de transporte e não sabemos nem sequer como eles calculam o custo de tudo isso e continuamos a investir nosso futuro em energias poluidoras e que desconsideram o nosso ecossistema. Claro que não podemos pensar numa alternativa de transportes nas grandes cidades tendo por base a municipalização dos recursos, mas como continuar viver em cidades que dependem de migalhas e sem o nosso controle diário do que estão fazendo com nossos recursos?
• Que não dá para ficar produzindo manifestações todos os dias, mas podemos conquistar espaços diários para circular em grupo e interagir nas ruas e praças de modo livre e seguro. De que podemos Limpar as ruas aos poucos e vamos livrando as ruas dos outros quem nos ameaçam, dos que estão ali só para prejudicar, destruir, machucar, os egocêntricos do mal. Quem sabe vamos conquistando grandes vias apenas para pedestres e continuarmos a caminhar em grandes espaços públicos e conviverem em segurança, sem grades e até sem automóveis para deslocamentos curtos.
• Descobrimos que é possível uma nova cultura política diferente da atual cultura dominante da política operada pelos mercenários, saqueadores da esfera pública, dos moralistas de tutela que decidem o que é certo ou errado em nossos comportamentos como se fôssemos bestas incapazes (com intenções não reveladas, escondidos em instituições dirigistas ou nos argumentos moralistas ou meramente instrumentais).
A questão agora é torcer pelos jovens continuar a usar a sagacidade e criatividade para irem adiante e continuarem suas conquistas de curto e longo prazo. Algumas dicas de quem já errou muito:

Sejam criativos. Inventem novos modos de manifestar. Decentralizem. Usem os espaços públicos. Mas não criem conflitos, sejam múltiplos e respeitadores das divergências. Tenham paciência com os velhos. Cuidem bem das crianças e dos fracos. Sejam lúdicos não usem bandeiras ou palavras de ordem dirigistas (usem a cultura, a música, a arte). Não sejam como os velhos sacerdotes da política que só respiram o poder pelo poder. Política também é vida, diversão, prazer, a alegria do convívio público. Não sejam rancorosos. Divirtam-se, torçam pelo Brasil. Vamos ganhar da Espanha. Adelante rizomaticamente. Não é sonho. É uma nova realidade que está sendo fabricada coletivamente.

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