quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

IDÉIAS: A Cidade do Futuro e o Futuro da Cidade

Gilson Lima
Texto publicado em 1996.

Revolução cientifica e tecnológica; impactos deste final de milênio trazem reflexões sobre o futuro da cidade. Dois grandes cenários podem ser imaginados.Hoje, a população mundial é doze vezes maior do que na época de Isaac Newton. Três quartos dessa população se aglomeram em apenas 2% do território do planeta. Somente 20% da população mundial consome 80% da energia e das manufaturas produzidas no planeta. Vivemos no auge da revolução cientifica e tecnológica, que forjará um impacto indiscutível nesse mundo de cidades do final do século.Podemos imaginar dois grandes cenários:• 0 primeiro é o de mantermos o atual modelo das poluídas e decadentes cidades industriais, as quais abrigarão perto de 7 bilhões de seres humanos no ano 2025, tomadas por meninos e meninas, criados nas ruas, que os acolhem com suas regras, e não mais pelas famílias, cada vez mais nucleares. Também haverá miseráveis ambulantes, sem endereço, sem um lugar para onde voltar no fim de sua jornada diária, ora vivendo embaixo dos viadutos, ora vivendo nas estações subterrâneas dos metrôs. Poderíamos imaginar uma "população tatu" formada por milhares, que cavam buracos em busca de um lugar para habitar; moram nas crateras dos viadutos ou nos edifícios abandonados, formando os cortiços. Nômades contemporâneos, produtos de uma sociedade de trabalhadoras sem empregos, após a revolução científica que substituiu a quase totalidade dos processos de trabalho por rotinas eletrônicas sem a intervenção humana. Imaginamos também a nova elite cosmopolita morando em distantes condomínios privados, cercados de muros, grades, sistemas eletrônicos de segurança particular, contatando os melhores professores para educarem seus filhos, formando ilhas de excelência diante de um mar de excluídos, sempre reclamando dos custos sociais de seu status junto aos excluídos. Buscam a eterna juventude, freqüentando salas de musculação, no interior de seus condomínios, fazendo todo tipo de plástica, massagens, transplante de órgãos deficitários. Comem alimentos naturais, sem produtos químicos que debilitam o corpo. Possuem uma agenda transnacional, estando conectados e plugados ao mundo em tempo real, a bordo de aviões ou de helicópteros particulares. Não estão mais integrados em grandes infra-estruturas de deslocamento, mas navegam através da infovia (fax, satélites, Tvs a cabo, correios eletrônicos). Geralmente estão muito bem informados por reconhecidos analistas simbólicos.• O segundo cenário As cidades, após urna profunda reciclagem transformam-se em cidades-jardins. Restabelecem a biodiversidade, e o mundo do trabalho, robotizado, produz manufaturas acessíveis a todos. Todos possuem acesso a renda através de diversas fontes alternativas. A humanidade encontra-se com o lúdico. Acaba o horário comercial e os deslocamentos massivos de trabalhadores. Os produtos nocivos ao meio ambiente são destruidos, assim como as ogivas nucleares. Restabelece-se a importância do convívio comunitário da intervizinhança. A participação política é "on-line" e quotidiana. As cidades são mantidas por tecnologias limpas, fazendo-nos esquecer dos tempos dos combustíveis fósseis. Entramos na idade solar. O mundo se integra pela arte através da teleparticipação planetária. A média de vida aumenta enormemente, bem como diminui o tempo de vida dedicado à reprodução das necessidades.Também se amplia a qualidade da existência realizada pelos novos remédios. Todos têm acesso amplo a uma educação livre e qualificada. Os mestres são mais respeitados do que os delegados e juizes. Fome, miséria, poluição e desrespeito à natureza são lembranças de um passado distante. A ciência conquista o espaço definitivamente e, no planeta, reina um profundo respeito pelas diferenças étnicas e religiosas. Todos vivem cm paz numa unidade interdependente e intersolidária.É preciso mantermos acesas as esperanças, e cada um deve fazer sua parte para que o segundo cenário possa ser o dominante. O futuro começa agora. Lembremos das raposas que submergem na água para concentrar todas as suas pulgas no focinho e, com um rápido mergulho, livrar-se delas. Uma que outra vez na história, os homens e mulheres precisam sacudir sua própria cultura e ficar despido dela. Façamos como as raposas. Vamos reciclar a cidade e a civilização, suas instituições; e deixemos vir o terceiro milênio.

Gilson Lima, é Doutor em Sociologia. Professor e pesquisador do IPA- Porto Alegre.


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Um comentário:

Escriba Editora disse...

Um abraço para o Mestre Gilson Lima! Parabéns pelo BLOG! Vou adicionar nos meus favoritos e ler de vez em quando.
Do Amigo e admirador:
Alexandre Quaresma