segunda-feira, 19 de julho de 2010

PENSAR CANSA: vamos diversificar a aprendizagem escolar? Por Gilson Lima

Gilson Lima
Doutor em Sociologia das Ciências. Pesquisador CNPQ. Pesquisador Ortobras. Professor da UNISC. Sua ênfase atual de pesquisas envolve a interface cérebro-mente e máquina.  Pesquisador do Research Committee Logic & Methodology e do Research Committee Clinical Sociology of the International Sociological Association (ISA). Pesquisador do LaDCIS - Laboratório de Difusão de Ciência, Tecnologia e Inovação Social. Colaborador do Núcleo de Violência e Cidadania do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Coordenador do Diretório de Pesquisa do CNPQ: Ciência Tecnologia e Inclusão – NITAS.

TO THINK TIRES: will we diversify the school learning? By Gilson Lima

PhD in Sociology of Sciences. Professor and Researcher at the Graduate Center of the University Methodist IPA. (Brazil). His current emphasis of researches involves the interface brain-mind and machine. Researcher at the Research Committee Logic & Methodology and at the Research Committee of the Clinical Sociology Association International Sociological (ISA). Researcher at the LADC – Laboratory of the Diffusion of Science, Technology and Social Innovation. Contributor of the Center for Violence and Citizenship of the Post-Graduate Program in Sociology at the Federal University of Rio Grande do Sul - UFRGS. Coordinator of the Research Directory of CNPQ: Science Technology and Inclusion - NITAS.

Pensar cansa. As células glias liberam uma substância nos locais onde ocorrendo uma alta atividade sináptica chamada de adenosina. É uma resposta da glia aos neurotransmissores. Quanto mais intensa a atividade sináptica mais adenosina será liberada pela glia. A adenosina acumula ao redor das células neuronais e age sobre os neurônios impedindo que eles fiquem excessivamente ativos – o que coloca um “teto” na sua capacidade de processar informação. Praticar muitas horas seguidas de atividades intelectuais não permite manter o mesmo desempenho. A boa notícia é que a fadiga é específica e limitada aos circuitos que trabalharam demais. Se você mudar de atividade, por exemplo, atividades físicas ou tocar um piano ou realizar atividades experimentais num laboratório a seguir de uma aula teórica, seus dedos e corpos estarão aptos a realizar as tarefas sem maiores problemas de desempenho.

Platão (427-430 d. C.) já sabia disso ele defendia que música e exercícios são vitais para a inteligência humana e assim que acontecia a aprendizagem na antiga Academia Grega. Um lugar para experimentar a si mesmo, inclusive, o próprio corpo em pleno exercício de autoaprendizagem.

Os ambientes de aprendizagem precisam ser devidamente planejados para possibilitar estímulos estéticos capazes de minimizar as ameaças e estimular a sensibilidade e o aconchego, permitindo organizar novos desafios e conquistas do conhecimento aos alunos. Se possível, em grupos reduzidos, onde se verifica o aumento da participação, a expansão da personalização e da individuação e da ação coletiva, bem como, e conseqüentemente, do rendimento de todos.



  • Figura 01.  Modalidade de aprendizagem escolar: AULA TEÓRICA. Conexão de sentidos, Mobilização do corpo (sinestese reduzida) e Estados de mentitude que envolvem: oralidade, escrita, atenção focal - olho). Na educação formal da sociedade industrial, as salas de aulas são montadas como se fossem um casulo, do tipo de uma armadura medieval, visando a limitar e a moldar o corpo e a mente a fim de tornar-se uma modesta máquina cognitiva, para o mundo do trabalho.
Na complexidade, precisamos do processo de individuações, em favor de ações coletivas e não da simples individualização. Os processos de associações de células cerebrais individuais são envolto em redes neuronais complexas da mente e são bem diferentes das estruturas modernas das macroindividualizações funcionais mecanicista, onde para agirmos coletivamente precisaríamos anular-nos enquanto agentes individuais e suprimir nosso agenciamento individual a favor de estruturas, normatizações e instituições que permitiriam, assim, pela anulação do individuo, a plena realização do agenciamento das ações coletivas. Na complexidade organizacional, assim como nos processos celulares celebrais, quanto mais individuamos, isto é, individuar e não individualizar - para diferenciarmos - mais agimos coletivamente e vice-versa. Somos como são os solistas de Jazz, quanto mais dominamos nosso instrumento, mais solamos e, quanto mais solamos de modo complexo, mais qualificamos a orquestração coletiva.
Também como educadores, devemos preparar as instruções informacionais, mas antes, precisamos preparar-nos também para um ambiente favorável a suprimir as ameaças que interfiram negativamente no grupo de aprendentes. É necessário que estabeleçamos um clima que favoreça ao máximo os estados de mentitude microcerebrais, que chamamos de alerta relaxado. Não avisarmos que vai haver uma prova, por exemplo. Não temos que fazer uma lista de verdades objetivas, que sejam certas ou erradas. Os resultados das atividades devem estar sempre em aberto e tudo o que delas resultar tem valor. Porém, uma conquista do conhecimento é, antes de tudo, uma conquista de desafios. Assim, remover a ameaça não é o suficiente; temos que lançar os desafios.










Figura 2. Modalidade de aprendizagem escolar - DEMONSTRATIVA. Conexão de sentidos, Mobilização do corpo (sinestese ampliada ao toque e mais movimentação corpórea) e Estados de mentitude que envolvem: oralidade, escrita, atenção focal (olho), tato, sentidos diversos,... Nesta modalidade a experiência de aprendizagens dos estudantes é de participação, por meio de um conhecimento que está sendo demonstrado, ou seja, conhecimentos adquiridos são demonstrados. Podem, também envolvem recursos visuais e de áudio visuais como ilustração do conhecimento almejado.

Outra coisa a entendermos na aprendizagem é a importância do intervalo. Da dobra. O fazer nada após aprender algo também é muito bom. Quando paramos por 15 minutos, conseguimos organizar as idéias. Vimos com imagens do cérebro que as estruturas cerebrais envolvidas com a memória se ativam nesses minutos sem fazer nada. Você consegue estocar, quando não faz nada depois. Isso tem conseqüências na hora de elaborar currículos escolares. Precisamos ter tempo para fazer nada, para jogar futebol.

As crianças têm de ter esse tempo. As mães - coitadas - se transformam em taxistas e passam o dia largando e buscando as crianças em aulas de tênis. violino, inglês, informática. Bo entanto, as crianças precisam ficar sozinhas, brincar. Precisam de tempo livre. Se você força as coisas muito cedo, o aprendizado para ela não será prazeroso e ela pode desistir de aprender.

Então fazer nada após aprender algo é bom. Quando paramos por 15 minutos, conseguimos organizar as idéias. Em geral, para as crianças, já sabemos que 15 minutos de aula são mais produtivos do que uma hora. As crianças têm de ter esse tempo. Se você força as coisas muito cedo, o aprendizado para ela não será prazeroso, e ela pode desistir de aprender.

Hoje enfatizamos o discurso na sala de aula, mas a ênfase devia ser na experimentação envolvida por condições emocionais positivas deveria ser também fundamental. Essa é a forma com a qual as crianças aprendem melhor -aprendendo numa pedagogia da experiência. Da experimentação do próprio aprendizado. Nós, adultos, também.

Modalidade de aulas demonstrativas















Figura 3. Modalidade de aprendizazem escolar. EXPERIMENTAL. Conexão de sentidos, Mobilização do corpo (sinestese ampliada ao toque e mais movimentação corpórea) e Estados de mentitude que envolvem: oralidade, escrita, atenção focal (olho), tato, sentidos diversos,...
Nesta modalidade, a experiência de aprendizagens dos estudantes é direcionada a meios e recursos capazes de demonstrar um ou mais determinados conhecimentos. Podem envolver, também, recursos visuais e audiovisuais como ilustração do conhecimento em demonstração.

Como educadores temos o desafio de descobrir sempre a forma com que o aprendente no aprendizado se desperta para uma atenção curiosa. Nesse prisma a motivação é a chave mestra.
Concordamos com os neurocientistas quando eles afirmam que processos individuais e coletivos de aprendizagem envolvem também as relações e as associações entre uma ou mais moléculas e que os mecanismos cerebrais da memória e da aprendizagem estão também associados a microprocessos neurais responsáveis pela atenção, percepção, motivação, pensamento e outros processos neuropsicológicos, de forma que, perturbações em qualquer um deles, tendem a afetar, indiretamente, a aprendizagem e a memória.

A simbiose da aprendizagem é muito complexa, vai desde o nível quântico molecular ao macrofísico corpóreo e comportamental, em nível individual e coletivo.
Não somos educados para a alegria do viver e, sim, para vestirmos hábitos operados por rituais repetitivos que os tornam cada vez mais naturais e reais. Precisamos de uma pedagogia do acontecimento. Que compreenda a aprendizagem como uma autaexperimentação. Uma pedagogia que estamos denominando como a pedagogia do acontecimento diferente da pedagogia meramente cognitivista onde o próprio aprender se volta, agora, para a experimentação da própria expansão bionatural do próprio ato de aprender, do próprio conhecer e da própria expansão do conhecimento, do autoacontecimento da própria aprendizagem.
Pensamos que um diálogo de modo muito ampliado com as ciências da mente pode nos ajudar a compreender melhor o labirinto cognitivista, cada vez mais computacional (reducionista) em que nos encontramos na educação e na soeciedade, ao mesmo tempo, permitir renascer uma educação através da redescoberta da mente nos processos do aprendizado complexo, frente à conquista, também, do conhecimento complexo e, mais especificamente, do conhecimento do conhecimento.

2 comentários:

Goiás Inclui disse...

professor, gostaria de saber se pensar envelhece e emagrece? As vezes parecemos mais velhos quando estamos preocupados e emagrecemos também pelo mesmo motivo né?

GILSON LIMA disse...

O cérebro também tem limites e cansa. Exemplo: Células glias.

Incorporar um tempo livre na aprendizagem seria interessante. Um tempo para não fazer nada permitindo que o cérebro trabalhe sob menos pressão externa.

As crianças têm de ter esse tempo. As mães se transformam em taxistas e passam o dia largando e buscando as crianças em aulas de tênis, violino, inglês, informática. As crianças precisam ficar sozinhas, brincar. Se você força as coisas muito cedo, o aprendizado para ela não será prazeroso e ela pode desistir de aprender.
Fazer nada após aprender algo é bom. Quando paramos por 15 minutos, conseguimos organizar as idéias. Vimos com imagens do cérebro que as estruturas cerebrais envolvidas com a memória se ativam nesses minutos sem fazer nada. Você consegue estocar, quando não faz nada depois. Isso tem conseqüências na hora de elaborar currículos escolares. Precisamos ter tempo para fazer nada, para jogar futebol.
Então fazer nada após aprender algo é bom. Quando paramos por 15 minutos, conseguimos organizar as idéias. Em geral, para as crianças, já sabemos que 15 minutos de aula são mais produtivos do que uma hora. As crianças têm de ter esse tempo. Se você força as coisas muito cedo, o aprendizado para ela não será prazeroso, e ela pode desistir de aprender.
Hoje enfatizamos o discurso na sala de aula, mas a ênfase devia ser na experimentação envolvida por condições emocionais positivas. Essa é a forma com a qual as crianças aprendem melhor. Nós, adultos, também não aprendemos assim. Temos que descobrir a forma com que aprendizado desperte nossa curiosidade.
Pensar cansa. Falta muito para entendermos o processo da fadiga mental, mas já sabemos que as células glias liberam uma substância nos locais onde ocorrendo uma alta atividade sináptica chamada de adenosina. É uma resposta da glia aos neurotransmissores. Quanto mais intensa a atividade sináptica mais adenosina será liberada pela glia. A adenosina acumula ao redor das células neuronais e age sobre os neurônios impedindo que eles fiquem excessivamente ativos – o que coloca um “teto” na sua capacidade de processar informação. Praticar muitas horas seguidas de atividades intelectuais não permite manter o mesmo desempenho. A boa notícia é que a fadiga é específica e limitada aos circuitos que trabalharam demais. Se você mudar de atividade, por exemplo, atividades físicas ou tocar um piano ou realizar atividades experimentais num laboratório a seguir de uma aula teórica, seus dedos e corpos estarão aptos a realizar as tarefas sem maiores problemas de desempenho.

PS> Platão (427-430 d. C.) já sabia disso ele defendia que música e exercícios são vitais para a inteligência humana e assim que acontecia a aprendizagem na antiga Academia Grega. Um lugar para experimentar a sim mesmo, inclusive, o próprio corpo em pleno exercício.

Gilson Lima – Sociólogo da Ciência – IPA.
Pesquisador do Research Committee Logic & Methodology and at the Research Committee of the Clinical Sociology Association International Sociological (ISA).
E-mail: gilima@gmail.com.
Blog http://glolima.blogspot.com