A grande discussão sobre se devemos
adequar o homem ao ambiente ou vice-versa é polêmica no universo da PcD e está
presente na sociologia da tecnologia.
Entrevista para a Revista Sentidos por: Alexandre Quaresma. REVISTA SENTIDOS NÚMERO 84. Edição de Aniversário. Nas Bancas e Livraria Cultura.
Desenvolvimento tecnológico não Significa necessariamente desenvolvimento humano...
Gilson
Lima, (ao lado com o robô symbios) é natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, e doutor em Sociologia com foco
em metodologias informacionais. É pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e também pesquisador junto à Ortobras
em inovação e tecnologia, com atividades na área da interface entre
corpo-cérebro-mente-máquina visando gerar novos produtos e processos de
reabilitação e acessibilidade. Professor da Unisc (Universidade de Santa Cruz
do Sul) e Membership do Research Committee on Clinical Sociology da ISA
(International Sociological Association).
ENTREVISTA
"Somos também cérebros vivos
estudando outros cérebros vivos e eles são muito singulares e não são
objetos estáticos, não ficam quietos para analisarmos. Estão sempre ativos.
Eles existem também em si, mas sempre em interação. Se auto-organizam. Daí
também nossa limitação". Gilson Lima.
Qual o papel das tecnologias na reabilitação humana?
O papel é a evolução simbiogênica entre cérebro, corpo e máquina, tanto para reaprendizagem após lesões como para a melhoria da qualidade de vida na velhice. Tecnologias acopladas ao corpo para a reabilitação são processos antigos. Podemos encontrar o uso de talhas ou talas para imobilizar um desconforto físico na Antiguidade.
Eram
feitas de bambu, folhas, cascas etc. As primeiras evidências do uso apareceram
em corpos mumificados, que datam de 2.750 a 2.625 antes de Cristo. Já em 1517,
temos registros de uma órtese sofisticada feita de metal com o formato de um
braço e que tinha ajuste da posição na articulação. Porém, os estudos e as
pesquisas na área de lesões da medula iniciaram-se como uma das consequências
da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, em razão do surgimento de um grande
número de mutilados, onde cerca de 80% dos lesionados morriam por falta de
cuidados bem básicos de reabilitação.
Nos últimos anos, os estudos
cerebrais e da reabilitação operada com tecnologia avançaram muito. Até pouco
tempo atrás os paraplégicos estavam condenados a terem suas pernas amputadas. Existe também muito a fazer e aprender com tecnologias de processos clínicos, não necessariamente apenas tecnologias de produtos.
Nos últimos anos, os estudos cerebrais
e da reabilitação operada com tecnologia avançaram muito. Até pouco tempo atrás
os paraplégicos estavam condenados a terem suas pernas amputadas.
Tenho trabalhado muito a
integração da cibernética, da pilotagem de telas com microrritmos corporais na
reabilitação e temos obtido resultados surpreendentes em pacientes com lesão
neuronal severa.
Se por um lado alguns lutam
legitimamente por direitos básicos como rampa e acesso especial para
deficientes físicos, entre outras adaptações, outros, talvez mais arrojados,
defendem a ideia de que seria mais inteligente e até economicamente viável
fazê-Ios (pessoas com deficiência física) andar novamente, utilizando
tecnologias semelhantes às atualmente usadas para fins bélicos. O que o senhor
pensa sobre isso?
Não vemos
esses dois lados como antagônicos. É preciso ligar o presente com o futuro,
sempre. Se não estivermos pesquisando inovações, lá adiante o futuro será
apenas uma repetição, melhorada ou piorada, do passado. Uma repetição mais
pequenina, miniaturizada, mais forte, mais veloz, talvez, não melhor, apenas
uma replicação. Mas digo, o que seria mais inteligente a curto prazo? Mudarmos
as cidades totalmente inadequadas ao uso de cadeira de rodas ou apostar em
tecnologias complementares e soluções de mobilidade individual? Os dois. Temos
tudo a fazer. Nossas Cidades não estão sequer adequadas para uso pleno dos
pedestres, mal damos conta de uma manutenção básica em vias
"carroçáveis". Não falo apenas isso para os atuais cadeirantes - que são
milhões neste país -, mas também para os futuros idosos que serão muitos e
muitos nas próximas décadas e que exigirão assistência simbiótica de caminhada corporal;
ambientes de pisos regulares e detalhes de integração cada vez mais
simbióticas. Existem pesquisas de órteses robóticas também para membros
superiores e temos grandes possibilidades para utilizarmos exoesqueleto como
assistência aos idosos diante do envelhecimento da população. A Honda, no
Japão, tem um investimento muito grande em pesquisas de diferentes produtos de
exoesqueleto para idosos. Vejo que num futuro não muito distante o mercado do
envelhecimento - num
sentido amplo - demandará muitos produtos envolvidos na família do exoesqueleto
com um enfoque na saúde e na qualidade de vida.
Segundo o
seu entendimento, qual o papel social da sociologia da tecnologia?
Um papel
geral não sabe, mas eu venho de uma formação inicialmente humana (sociologia).
No Brasil, a sociologia é fortemente marcada pela abordagem clássica do
surgimento da sociedade industrial na Europa do século XIX e com forte cunho
ideológico e político (aqui com p minúsculo porque uma política do conhecimento
também pode ser realizada amplamente com P maiúsculo). Mesmo quando trabalhava com
políticas públicas tínhamos pouco diálogo com a ciência aplicada e metodologias
informacionais em redes cibernéticas e engenharias. Tive que estudar muito além
do que os currículos tradicionais determinavam. Os estudos "chatos".
Comecei pela experimentação em metodologias informacionais em rede até chegar aos
estudos neurocientíficos e da neuroaprendizagem. Tive que me deparar com temas
e metodologias complexas e fragmentadas.
É preciso ligar o presente com o
futuro, sempre. Se não estivermos pesquisando inovações, lá adiante o
futuro será apenas uma repetição, melhorada ou piorada, do passado.
Pesquisei e
lecionei muito no campo da informática por mais de dez anos, de 1993 a 2004.
Minha tese de doutorado foi em Metodologias Informacionais em 2004. Aos poucos fui me dando conta da importância da
informação computável, mas também dos limites da inteligência artificial. Tenho
desenvolvido projetos, processos de reabilitação em base simbiótica com
tecnologias de processos e produtos aplicados para casos de lesões severas
envolvendo a área micromotora operada pelos lobos cerebrais e pelo sulco
lateral (ou sulco de Sylvios), onde o uso de telas computáveis tem ajudado muito
na reabilitação em bases de neuroaprendizagem. A sociologia clínica, por
exemplo, é um campo singular da prática, de um saber fazer pensando. Aplico uma
abordagem que eu denomino simbiogênica, de simbiose. Um symbios entre o
corpo, o cérebro no corpo e o ambiente onde nós acontecemos no mundo.
Acredita-se
que o corpo seria apenas uma "plataforma", a partir da qual se
construiriam novas possibilidades e melhoramentos, sempre pela via técnica. Por
outro lado, essas mesmas tecnologias, que pretensamente seriam usadas para
"melhorar" e "turbinar" o ser humano, também poderiam ser
usados para a reabilitação. Seriam dois caminhos de uma só via técnica? Interessante
é que vemos nesse campo do debate apenas a espécie humana como seres
"superados" pela ciência (trans-humano). Precisamos da ciência e da tecnologia
para isso. Por isso, já somos simbióticos. A evolução caminha em simbiose do corpo
com as máquinas e o ambiente. Para ser duradouro, esse caminho deve ser marcado
pela cooperação em longo prazo.
É essa
cooperação de longo prazo que separa as espécies duradouras da vida na história
de nosso planeta. Quem se depara com a microbiologia descobre
- de
imediato - que é preciso quebrarmos a noção iluminista central de Homo
universalis. Não somos - sequer - uma ilha fisiológica. Somos parte de uma rede
simbiótica de longo prazo entre células nativas, micro-organismos e ambiente. A
maioria das células humanas não é realmente humana. Em nosso corpo de cada 11
células apenas uma é humana! Nosso microbioma é simbiogênico. Algumas das
bactérias benignas do nosso organismo contêm genes que codificam compostos
benéficos que o corpo não consegue produzir sozinho. Reabilitação, mesmo a
clínica, está mais no campo da reeducação interdisciplinar do que apenas das
técnicas informacionais ou de engenharias prescritas. Na reabilitação, quando
mais cedo começar, melhor. Nada disso é futuro.
Como estão atualmente as pesquisas em neurociências no sentido de interfacear o cérebro humano e a infraestrutura técnica já existente? Ou seja, quanto tempo ainda vai levar para um cérebro controlar uma máquina e vice-versa?
Esse debate
é possível apenas se considerarmos o cérebro isolado do corpo e como se ele
fosse um grande sistema de fiação telefônica e de processamento de dados. Controlar
máquinas é algo comum. Hoje precisamos de máquinas para produzir máquinas.
Muitas delas nós humanos não somos capazes de montar, só outras máquinas muito
sofisticadas podem fazê-lo, mas são máquinas. Apenas isso. Pensar, aprender
conhecimentos sociais em uma cultura é muito mais do que processar dados e
informações. Acho que às vezes os tecnólogos esquecem que já controlamos
ferramentas, máquinas, micromáquinas, motorizadas ou não, desde a Antiguidade. Herdamos
esse talento do Homo habilis, o "faz--tudo" que começou a
fabricar instrumentos de pedra cerca de dois milhões de anos atrás. Porém, hoje
dependemos cada vez mais de energia inorgânica, motores e química fina para
viver mais e melhor. Como disse, nosso corpo é imperfeito, mas não creio que
possamos ter nesse planeta vida auto-organizada e complexa sem um corpo
orgânico complexo.
Acho que às vezes os tecnólogos esquecem que já controlamos ferramentas, maquinas micromáquinas, motorizadas ou não, desde a Antiguidade.
Nosso cérebro, diferente do funcionamento maquínico e elétrico que já está muito mais esclarecido, tem ainda muitos mistérios na modelagem de sua bioenergia. Os humanos descobriram o combustível fóssil e acharam que tinham resolvido de vez o problema da energia. Descobrimos a lasca de silício para processar a lógica em sinais elétricos e acreditamos que o cosmos todo ficou digital e lógico. Agora descobrimos os displays individuais e acreditamos que o cérebro mudou e virou uma tela de pixels. O caminho é sempre a simbiose cooperativa. Veja quantos estudos estamos fazendo de produtos biocompatíveis com nossa rede biótica? Mesmo tendo por referência a absurda cifra de 30 milhões de cientistas pesquisando diariamente no mundo. Quantos? Quase nada. Muito já se pode fazer com processos não invasivos e subcutâneos, mas o sistema nervoso central não é muito afeito a visitantes estranhos, muito menos cobre silício, soldas. Sem querer desmerecer a importância dos processos de acoplamentos robóticos, existe muita confusão dos cognitivistas ao afirmar que estabelecemos comandos de sinais biológicos como se fossem comandados pelos pensamentos. Se pensarmos numa vaca vermelha e tivermos conectado o cérebro numa máquina com sensoriamento por ressonância magnética poderemos identificar que temos uma rede sensória ligada a fotos capazes de produzir sensações e imaginação de cores, mas não vamos encontrar nada de vacas e nem mesmo de vermelho. Mas se continuarmos apenas correndo atrás de conexões físicas e de identificar os microcircuitos físicos de interação das cores com vacas, vamos colonizar a imaginação, só encontraremos efetivamente redes físicas de sinapses. Sinapses são apenas pequenos choques sem toque físico entre células - para permitir abrir um canal de transmissão de substâncias químicas escravas da imaginação. Porém o inverso é verdadeiro. O pensamento é escravo da localização física da interação, mas a imaginação é como um pássaro, ele forja ninhos e acontece no mundo voando. Já treinei pacientes com lesões neurais a controlar um cursor de computador apenas com seus micromovimentos em sensoridade simbiótica. Isso já pode ser muito utilizado em reabilitação. Não se trata de controle por pensamentos, mas pelo corpo vivo. O pensamento, a imaginação são uma energia mental que é subproduto dessa interação física e sensória.
Acho que às vezes os tecnólogos esquecem que já controlamos ferramentas, maquinas micromáquinas, motorizadas ou não, desde a Antiguidade.
Nosso cérebro, diferente do funcionamento maquínico e elétrico que já está muito mais esclarecido, tem ainda muitos mistérios na modelagem de sua bioenergia. Os humanos descobriram o combustível fóssil e acharam que tinham resolvido de vez o problema da energia. Descobrimos a lasca de silício para processar a lógica em sinais elétricos e acreditamos que o cosmos todo ficou digital e lógico. Agora descobrimos os displays individuais e acreditamos que o cérebro mudou e virou uma tela de pixels. O caminho é sempre a simbiose cooperativa. Veja quantos estudos estamos fazendo de produtos biocompatíveis com nossa rede biótica? Mesmo tendo por referência a absurda cifra de 30 milhões de cientistas pesquisando diariamente no mundo. Quantos? Quase nada. Muito já se pode fazer com processos não invasivos e subcutâneos, mas o sistema nervoso central não é muito afeito a visitantes estranhos, muito menos cobre silício, soldas. Sem querer desmerecer a importância dos processos de acoplamentos robóticos, existe muita confusão dos cognitivistas ao afirmar que estabelecemos comandos de sinais biológicos como se fossem comandados pelos pensamentos. Se pensarmos numa vaca vermelha e tivermos conectado o cérebro numa máquina com sensoriamento por ressonância magnética poderemos identificar que temos uma rede sensória ligada a fotos capazes de produzir sensações e imaginação de cores, mas não vamos encontrar nada de vacas e nem mesmo de vermelho. Mas se continuarmos apenas correndo atrás de conexões físicas e de identificar os microcircuitos físicos de interação das cores com vacas, vamos colonizar a imaginação, só encontraremos efetivamente redes físicas de sinapses. Sinapses são apenas pequenos choques sem toque físico entre células - para permitir abrir um canal de transmissão de substâncias químicas escravas da imaginação. Porém o inverso é verdadeiro. O pensamento é escravo da localização física da interação, mas a imaginação é como um pássaro, ele forja ninhos e acontece no mundo voando. Já treinei pacientes com lesões neurais a controlar um cursor de computador apenas com seus micromovimentos em sensoridade simbiótica. Isso já pode ser muito utilizado em reabilitação. Não se trata de controle por pensamentos, mas pelo corpo vivo. O pensamento, a imaginação são uma energia mental que é subproduto dessa interação física e sensória.
O cérebro é realmente ainda a última barreira intransponível da fisiologia humana, ou podemos dizer que já estamos começando a transformar essa realidade?
O cérebro não é para mim a última barreira intransponível da ciência, mas a conectividade mental que é operada pelo cérebro, corpo, máquinas e ambientes pode ser. O cérebro é um campo físico de energia que precisa de nutrição orgânica como qualquer outro órgão corporal complexo. Do ponto de vista material e orgânico, o cérebro é nosso órgão mais complexo, que não pode ser visto isoladamente, mas em rede simbiótica. A energia mental que gera a complexidade auto-organizada quando acontecemos no mundo ainda tem muitos mistérios. Ela vem também do corpo, do outro e do ambiente em que vivemos socialmente. A energia somática das emoções é cada vez mais percebida como significativa pelo império dos estudos racionais e da linguagem lógica. Tanto para a aprendizagem, para a memória e cada vez mais para a comunicação.
A abordagem
computacional e cognitivista é muito produtiva, mas nos leva a bifurcações sem
saída. Por exemplo, o neurônio é essencial para o cérebro, uma célula com
comportamento social altamente complexo, mas limitada a transportar
informações. Existem muitas células não neuronais que operam a rede encefálica e
de modo muito importante para que possamos ser como somos. Destas sabemos ainda
muito pouco. Sabemos muito sobre neurônios e os centros de atividade das redes
neurais, mas o estudo da bioquímica do cérebro vivo como um todo ainda é um
dilema repleto de mistérios. Na verdade somos também cérebros vivos estudando
outros cérebros vivos e eles são muito singulares e não são objetos estáticos,
não ficam quietos para analisarmos. Estão sempre ativos. Eles existem também em
si, mas sempre em interação. Se auto-organizam. Daí também nossa limitação.
Como as próteses e exoesqueletos que
começam a surgir podem contribuir nesse contexto de restabelecimento da
locomoção e, por conseguinte, da dignidade humana?
Exoesqueleto é um conceito que trazemos da biologia.
Os animais, segundo a biologia, podem ser artrópodes (exoesqueleto) ou vertebrados
(endoesqueletos). A diferença aqui é entre ter esqueleto externo e esqueleto interno.
Imaginem um caracol. Tudo que se encontra dentro do caracol está protegido pelo
seu exoesqueleto (aquela casca dura que achamos ser a casinha dele). Nós, seres
humanos, acabamos, de um jeito ou de outro, ao longo da nossa evolução, levando
os ossos para dentro do corpo e criamos uma complexa massa externa de frágeis fibras
que permitem muita flexibilidade, excitação de sensibilidade.
Já treinei pacientes com lesões neurais a controlar um cursor de computador apenas com seus micromovimentos em sensoridade simbiótica. Isso já pode ser muito utilizado em reabilitação. Não se trata de controle por pensamentos, mas com o uso do corpo vivo.
A complexidade da vida está na capacidade de movimento. E os humanos são muito complexos porque seus movimentos são possíveis por seus ossos não estarem à mostra. Por outro lado, isso nos torna altamente frágeis. O estudo da possibilidade de integrarmos exoesqueleto nos seres humanos está vinculado a lesões que afetam nossa mobilidade.
Minha abordagem de exoesqueleto é muito ampla e não
inclui apenas máquinas de reabilitação robotizadas como se tornou mais
conhecido atualmente pela pesquisa tecnológica. Óculos são também um
exoesqueleto (fantástico porque nos protege e nos repõe a visão). Imagino - num
futuro próximo - roupas com tecidos entrelaçados de nanopartículas de aço e
muito resistentes, tornando-se algo muito mais útil do que nos cobrir do frio, calor
e da chuva. As novas vestimentas simbióticas serão também uma unidade autônoma
de diagnose permanente do funcionamento de nossos órgãos no corpo, acoplado com
microssensores diversos para múltiplos fins de interação com o ambiente. No
mundo, algumas pessoas com déficit de mobilidade já estão utilizando em escala
reduzida órteses robotizadas que são muito sofisticadas. Temos muitos desafios
clínicos e tecnológicos ainda não completamente sanados para um uso pleno e em
grande escala social de órteses robóticas sofisticadas de exoesqueleto. Alguns são de infraestrutura pública e não apenas
de fabricação, de montarmos um produto.
Como o Brasil está posicionado nesse
competitivo e promissor mercado em termos de iniciativas de projetos e
pesquisas?
O Brasil
está bem na pesquisa científica. Quem dera nossas pós-graduações fossem
referência para as diversas escolas e extensões de ensino em geral. No Brasil o
estudo de órteses de exoesqueleto tanto puramente mecânicas como as hibridas
com processos e máquinas de reabilitação robotizadas são muito recentes. Quando
comecei minhas pesquisas básicas no assunto, em 2005, praticamente toda a
literatura e pesquisa aplicada eram internacionais e, mesmo assim, muito
reduzidas. No Brasil existem projetos acadêmicos isolados e um projeto muito
apoiado e em andamento, coordenado pelo dr. Miguel Nicolelis. Trata-se de um
projeto para tetraplégicos (veja, não é para paraplégicos), onde se montou um
exoesqueleto para a Copa (em 2014), comandado diretamente - segundo ele - pelo
"cérebro". Miguel Nicolelis é brasileiro, tem uma base de
transferência de pesquisa no Brasil na cidade de Natal, Rio Grande do Norte,
mas ele atua efetivamente nos Estados Unidos. Seu projeto é altamente complexo,
mas altamente invasivo e que só será possível de ser realizado com apoio de
pesquisas acumuladas feitas nos Estados Unidos com modelo animal (ratos,
camundongos e primatas).
Meu envolvimento experimental clínico com o
exoesqueleto começou em 2006, quando conheci um professor universitário
paraplégico e comecei a me concentrar numa possível alternativa de montar um
exoesqueleto para cadeirantes. Minha primeira conferência pública sobre o tema
foi em Natal, num seminário internacional de nanotecnologia, em 2008. A
produção de órteses de baixa complexidade no Brasil é um campo muito modesto e
recente até hoje. Não creio sequer numa possibilidade de projetos dessa
complexidade apenas com apoio da comunidade brasileira. Nossas pesquisas são
embasadas em experimentações e tecnologias já utilizadas internacionalmente em
muitos países (Japão, Hungria, Alemanha, Israel, Estados Unidos, Rússia,
França, Suíça...). Será necessário obtermos parceria e aprendizagem internacional.
É o que estamos fazendo. As pesquisas em órteses complexas, amplamente interdisciplinares,
são caras e de longo prazo. Temos tentado financiamentos de incremento de base
para produzirmos um exoesqueleto simbiótico e não temos conseguido sucesso.
"Alexandre Quaresma é escritor
ensaísta, pesquisador de tecnologias e consequências socioambientais, com
especial interesse na crítica da tecnologia. É membro da Renanosoma (Rede de Pesquisa em
Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente), vinculado à FDB (Fundação Amazônica
de Defesa da Biosfera) e membro do Conselho Editorial de Ciência e Sociedade da
Revista Internacional de Ciencia y Sociedad, do Common Ground Publishing. E-mail: a-quaresma@hotmail.com