domingo, 1 de junho de 2014

SÉRIE SINOPSES = Como pensam as mulheres

Série sinopses => Tipo = Entrevistas com cientistas
Título: Como pensam as mulheres
Autor: Louann Brizendine
Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76276-6014,00.html
Título: Como pensam as mulheres. 

LOUANN BRIZENDINE. 
 QUEM É
Professora da Universidade da Califórnia. Formada em Neurobiologia pela Universidade Yale e em Psiquiatria pela Harvard Medical School.
 O QUE FEZ
 Tem uma clínica para atender mulheres com base nas pesquisas sobre neuroquímica. 
O QUE PUBLICOU. Como as Mulheres Pensam (Campus/Elsevier) Autor: Louann Brizendine. Uma neuropsiquiatra aponta as razões biológicas que tornam o cérebro feminino diferente do masculino. A neuropsiquiatra americana Louann Brizendine percebeu na faculdade que precisava investigar a tão famosa curiosidade masculina - o que se passa na cabeça das mulheres? Reparou que poucos estudos consideravam as grandes variações hormonais sofridas pelas mulheres ao longo do mês. 
Ps. A cientista escritora afirmou que agora vai se dedicar a entender o cérebro dos homens e a escritora.  


VEJAMOS ALGUMAS IDEIAS



1. A cientista aponta a falácia do movimento feminista que desconsidera a singularidade da mulher na mulher e do homem no homem. 
2. A falácia da busca de uma igualdade humana desconsiderando as diferenças bioquímicas entre homens e mulheres. A conquista do respeito às diferenças é mais significativa do que a luta abstrata do formalismo igualitário que desconsidera as singularidades bioquímicas entre as mulheres e os homens.
3. Todos humanos nascem com cérebro "feminino" até a oitava semana. Depois disso alguns de nós receberão uma inundação de testosterona e nunca mais seremos os mesmos. Serão homens.
4. Nas mulheres, os circuitos ligados à audição e à linguagem têm 11% mais neurônios que nos homens e a estrutura relacionada à emoção e à formação da memória também é maior.  Isso tem consequências comportamentais.
5. As mulheres usam cerca de 20 mil palavras por dia. E os homens só 7 mil.  No homem praticamente a parte esquerda do cérebro masculino se ocupa da fala. Cada metade do cérebro é especializado por diferentes atividades motoras e intelectuais. Em geral, por isso os homens costumam se expressar com menos palavras que as mulheres. Isso se explica pelo banho de testosterona durante a fase fetal diminui o tamanho de algumas estruturas no cérebro dos homens, como os centros de comunicação e emoção. Também entre 9 e 15 anos, o nível de testosterona nos meninos aumenta cerca de 25 vezes, uma quantia enorme com consequências comportamentais masculinas também significativas.
6. O lado esquerdo do cérebro comanda a parte direita do corpo. Enquanto a parte esquerda do corpo é comandada pelo lado direito do cérebro. O lado direito do cérebro comanda as tarefas ligadas a criação, emoção, imaginação,... e o da esquerda ligadas a lógica e a razão.  Garotos costumam montar melhor quebras cabeças tridimensionais. Garotas tem mais fluência verbal. Rapazes gostam mais de ação, moças de emoção. Os homens podem ter mais interesse em carreiras que não exijam tanta interação com outras pessoas e as mulheres nas que têm mais socialização. 
7. Nas mulheres os dois hemisférios esquerdo e direito são muito mais interligados e comunicam-se mais rapidamente aumentando suas capacidades de realizar tarefas e ocupar mais de um assunto ao mesmo tempo. As mulheres tem mais facilidade de identificar e compreender simultaneamente as partes de um objeto (cores, detalhes, falas), mas os homens terão mais facilidade de distingui-las. As duas metades do cérebro masculino se comunicam muito mais lentamente e os homens são geralmente mais focados e com mais capacidade de concentração, de desligamento do mundo exterior e assim de maior precisão de tarefa especializada.
8. As mulheres então podem fazer muito mais atividades ao mesmo tempo do que os homens e os homens tem mais facilidade para pensar visualmente. As mulheres são capazes de se ocupar de mais de um assunto ao mesmo tempo. Mulher consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo e o homem não.  Os homens ficam extremamente mais concentrados em cada ação executada, porém, o cérebro do homem é mais compartimentado (faz uma coisa de cada vez). Por exemplo, quando escreve o homem fica praticamente surdo. Assim, em compensação os homens se concentram com mais facilidade. Por outro lado, essa característica faz com que eles não prestem atenção a necessidades e vontades das outras pessoas. 
9. As mulheres conseguem traduzir sentimentos em palavras com maior rapidez. As mulheres tem sentidos mais aguçados que os homens. Veem mais detalhes e costumam sentir mais cheiros que os homens. O cérebro de uma mulher dormindo e em repouso é mais ativo que o do homem. As mulheres continuam recebendo informações do meio ambiente mesmo dormindo. As mulheres ouvem duas vezes mais que os homens. As mulheres veem melhor no escuro do que os homens.
10. No cérebro masculino, a estrutura dedicada ao impulso sexual é duas vezes e meia maior que no feminino. 
11. As mulheres têm grande facilidade para interpretar expressões faciais. Com um simples olhar, percebem o que o outro está sentindo. As mulheres têm enorme capacidade de notar expressões faciais. Muito superior aos homens em geral. As células nervosas que fazem com que sejam capazes de olhar para o rosto de outra pessoa e saber o que ela está pensando ou sentindo existem em maiores quantidades no cérebro feminino e são muito mais ativas que nos homens. 
12. O cérebro é profundamente afetado pelos hormônios. Por causa da diferenciação hormonal o cérebro das mulheres indicam de que elas têm duas vezes mais probabilidade de sofrer de depressão que os homens por causa das constantes alterações hormonais. Ao longo da vida, a mulher passa por várias fases hormonais, o que influencia em seus pensamentos, emoções e interesses. 
13. Durante a gravidez, há grande aumento nos níveis de progesterona e estrogênio no cérebro da mulher. Isso faz com que ela fique muito mais concentrada no bem-estar da criança. São tantas alterações que o cérebro feminino chega a encolher 8% durante a gravidez por causa do aumento e da diminuição de algumas de suas estruturas. Porém, seis meses depois de dar à luz, seu tamanho volta ao normal. Enquanto isso o homem está bioquimicamente distante do que seja carregar um novo ser dentro de seu próprio corpo.

 Por fim, não devemos desconsiderar que os circuitos cerebrais vão sendo reforçados pela sociedade. Ela ensina o que é aceitável para homens e mulheres, e isso influencia no que achamos que somos capazes de fazer. Estereótipos são muito ruins. É preciso honrar as diferenças individuais e permitir que cada um faça o que lhe interessa. 


SINOPSE DA NOTÍCIA:
The Female Brain (Como as Mulheres Pensam, da Campus/Elsevier), lançado nos Estados Unidos em agosto de 2008, tornou-se um best-seller e foi traduzido em 18 idiomas. Louann Brizendine, neuropsiquiatra americana, percebeu ainda na faculdade que precisava investigar a tão famosa curiosidade masculina  sobre o que se passa na cabeça das mulheres. Para isso tomou como foco principal de sua pesquisa as grandes variações hormonais sofridas pelas mulheres ao longo do mês.  Em entrevista a revista ÉPOCA de sua casa, em São Francisco, Brizendine apontou as razões biológicas que tornam o cérebro feminino diferente do masculino, explicando o que faz acontecer as diferenças entre homens e mulheres e de que forma se manifestam no comportamento. Porém alerta para a construção dos estereótipos como um fator negativo e diz, -“é preciso honrar as diferenças individuais e permitir que cada um faça o que lhe interessa”-. 

As mulheres têm grande facilidade para interpretar expressões faciais. Com um simples olhar, percebem o que o outro está sentindo

  Por MARCELA BUSCATO
A entrevista na íntegra!

ÉPOCA - O cérebro já é feminino ou masculino desde o nascimento? 
Louann Brizendine - O padrão cerebral de todo feto é feminino até a oitava semana de gestação. Depois disso, se o feto for masculino, seu cérebro sofrerá uma intensa inundação de testosterona, hormônio que começa a agir nos pequenos testículos do bebê e viaja até o cérebro pela corrente sanguínea. Esse banho de testosterona muda os circuitos do cérebro de femininos para masculinos. 
ÉPOCA - Quais as diferenças entre os dois tipos de cérebro?
Brizendine - No cérebro masculino, a estrutura dedicada ao impulso sexual é duas vezes e meia maior que no feminimo. Nas mulheres, os circuitos ligados à audição e à linguagem têm 11% mais neurônios que nos homens e a estrutura relacionada à emoção e à formação da memória também é maior. 
ÉPOCA - Se já nascemos com cérebros masculinos ou femininos, qual é a influência da sociedade sobre o papel da mulher e do homem na comunidade? 
Brizendine - Os circuitos cerebrais vão sendo reforçados pela sociedade. Ela ensina o que é aceitável para homens e mulheres, e isso influencia no que achamos que somos capazes de fazer. Estereótipos são muito ruins. É preciso honrar as diferenças individuais e permitir que cada um faça o que lhe interessa. 
ÉPOCA - É verdade que os homens pensam com um hemisfério do cérebro de cada vez ao desempenhar uma atividade e as mulheres usam os dois?
Brizendine - Sim. Talvez seja por isso que as mulheres podem fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo, enquanto os homens têm grande dificuldade. Eles ficam extremamente concentrados em cada ação executada. Por outro lado, essa característica pode ser ruim num relacionamento, porque faz com que eles não prestem atenção a necessidades e vontades das outras pessoas. 
ÉPOCA - É possível dizer quem é mais inteligente, homens ou mulheres?
Brizendine - Todos os estudos mostram que na média homens e mulheres têm quocientes de inteligência similares. Porém, o padrão de pensamento talvez seja diferente. O homem tem mais facilidade para pensar visualmente. As mulheres conseguem traduzir sentimentos em palavras com maior rapidez. 
As mulheres têm grande facilidade para interpretar expressões faciais. Com um simples olhar, percebem o que o outro está sentindo 
ÉPOCA - Esses padrões de pensamento influenciam na escolha da profissão?
Brizendine - Homens e mulheres são capazes de desempenhar as mesmas profissões. Mas, pelas características do cérebro, os homens podem ter mais interesse em carreiras que não exijam tanta interação com outras pessoas e as mulheres nas que têm mais socialização. 
ÉPOCA - A senhora afirma que as mulheres usam cerca de 20 mil palavras por dia. E os homens só 7 mil. Qual é a razão?
Romano - O banho de testosterona durante a fase fetal diminui o tamanho de algumas estruturas no cérebro dos homens, como os centros de comunicação e emoção. Também entre 9 e 15 anos, o nível de testosterona nos meninos aumenta cerca de 25 vezes, uma quantia enorme. A testosterona age como um fertilizante para fazer algumas células crescer, mas também tem a capacidade de fazer regiões do cérebro encolher ou morrer.
ÉPOCA - Por que as mulheres implicam com os homens quando eles não reparam no novo corte de cabelo?
Brizendine - As mulheres são muito interessadas em sua aparência física. Se o homem não repara, elas acham que não são amadas. Querem a aprovação masculina. É um instinto básico feminino. 
ÉPOCA - As mulheres percebem facilmente se estão agradando ou não?
Brizendine - Elas têm enorme capacidade de notar expressões faciais. As células nervosas que fazem com que sejam capazes de olhar para o rosto de outra pessoa e saber o que ela está pensando ou sentindo existem em maiores quantidades no cérebro feminino e são muito mais ativas que nos homens. 
ÉPOCA - É por isso que as mulheres choram tanto? Para chamar a atenção?
Romano - É verdade. As mulheres choram quatro vezes mais facilmente que os homens. É uma maneira de demonstrar tristeza para eles.
ÉPOCA - Os hormônios desempenham um papel crucial no início do desenvolvimento do cérebro masculino. E na mulher?
Brizendine - O cérebro feminino é profundamente afetado pelos hormônios. Há indícios de que as mulheres têm duas vezes mais probabilidade de sofrer de depressão que os homens por causa das constantes alterações hormonais. Ao longo da vida, a mulher passa por várias fases hormonais, o que influencia em seus pensamentos, emoções e interesses. 
ÉPOCA - A gravidez altera o cérebro?
Brizendine - Durante a gravidez, há grande aumento nos níveis de progesterona e estrogênio no cérebro da mulher. Isso faz com que ela fique muito mais concentrada no bem-estar da criança. São tantas alterações que o cérebro feminino chega a encolher 8% durante a gravidez por causa do aumento e da diminuição de algumas de suas estruturas. Porém, seis meses depois de dar à luz, seu tamanho volta ao normal. 
ÉPOCA - É verdade que a mulher fica mais inteligente depois que tem filhos?
Brizendine -   Alguns estudos sugerem que sim. Os pesquisadores acreditam que, como o cérebro fica muito focado em tudo o que se relacione ao bebê, acaba concentrado também em outros assuntos.
ÉPOCA - Todo esse conhecimento sobre o cérebro feminino pode contribuir para a melhora dos relacionamentos?
Brizendine - O fato de perceberem que pensam de maneiras diferentes pode ajudar a diminuir conflitos. 
Foto: Andy Feeberg 

sexta-feira, 2 de maio de 2014

MAIS UM DIA DO TRABALHO SE FOI => DICAS PARA PENSAR O PRESENTE E O FUTURO DO TRABALHO NO MUNDO

O século XX massificou o uso dos antibióticos, esses mesmos que mata todas bactérias que nos atrapalham e ajudam ao mesmo tempo, massificamos a vacina e socializamos das descobertas da ciência (hoje existem quase 50 milhões de cientistas no mundo pesquisando qualquer coisa diariamente - no início do Século XX eram apenas cerca de 5.000). 
Tudo isso gerou uma grande parcela de pessoas de cabelos brancos circulando pelas instituições e espaços públicos.
Uma novidade na história da humanidade onde encontrar idosos com cabelos brancos na sociedade era uma raridade até o Século XIX. Na metade do Século XXI, muito provavelmente a maioria da população “humana” terá mais do que cinquenta anos. Algo nunca antes acontecido na nossa evolução.
Nossa vida média que está sendo conquistada rapidamente girará em torno de 700.000 horas, mais do que o dobro de nossos avôs (300.000 horas).  Esses (nossos avós) trabalhavam 120.000 horas no curso de suas vidas, enquanto nós trabalhamos 80.000. Os nossos filhos por sua vez, viverão em média de modo muito pessimista a que tudo indica em torno de 900.000 horas (em torno de 104 anos) e trabalharão naquilo que entendemos na sociedade moderna como tarefas humanas atuais de trabalho que não ultrapassarão mais do que 50.000 (quase 6 anos).
As consequências são perturbadoras. Em três gerações a longevidade mais do que dobrou; a maior parte da população ativa trabalha em setores terciários; o tempo livre aumentou para a maior parte da população rica e abastada; as emoções e os sentimentos recuperaram terreno em relação à pura racionalidade moderna, todos os ramos da vida feminizaram-se; o tempo e o espaço desestruturaram-se; a qualidade e o prazer da existência tornou-se objetivo prioritário.
Falar do futuro não é tarefa fácil. Para muitos, sobretudo os positivistas, o tratamento do futuro não é objeto da ciência, trata-se de uma atividade a ser realizada pelo pensamento mágico, uma atividade para bruxos e esotéricos. Entretanto, pensamos de modo diferente, para nós é possível o pensamento complexo, através de simulações buscarmos ensaios e aproximações com o futuro. Certamente que o futuro simulado não é o futuro vivido. O tempo encarregará de validar as hipóteses e aproximações.
Nesse sentido, pensamos que na segunda metade do Século XXI - em um pouco mais do que quatro décadas - ao que tudo indica estamos prevendo novas descobertas sobre a vida e a morte que estão sendo realizadas fará com que descobriremos descobertas sobre a vida e a morte mais do que realizamos em 40.000 anos procedentes.
Nossa elite política, econômica precisa se mexer como nunca antes na história. Enquanto a população envelhece, os planos de saúde se multiplicam e os números de postos de saúde, de hospitais e leitos estão REDUZINDO. Imaginem daqui a uns 15 anos. O que será de nós nessa velocidade degradante? As mesmas ruas construída a dezenas de anos atrás lotam de velhos automóveis cuspindo um consumo de combustão. Imagine o que será andar de "carro" particular nessas mesmas ruas daqui a uns 15 meses. As escolas seguem ensinando como se vivêssemos o início do iluminismo... IMAGINEM COMO SERÃO e quão preparadas estarão NOSSAS FUTURAS ELITES POLÍTICAS E ECONÔMICAS.
Pasmem! como poderemos viver no futuro se nossas políticas pragmáticas do presente não ultrapassam as esquinas mais próximas e As velhas ideologias modernas. IDEOLOGIAS MODERNAS sendo pensadas como se fossem ainda muito modernas.
Dia do trabalho 2014. Brasil. As Centrais Sindicais seguem sorteando dezenas de automóveis em Comícios populares. Esperemos então 2015. Quem sabe?

Dr. GILSON LIMA. Natural de Belo Horizonte – Minas Gerais. Doutor em sociologia com foco em metodologias informacionais. Pesquisador pós-graduação do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Pesquisador junto a ORTOBRAS Comércio e Indústria LTDA em inovação e tecnologia – com atividades na área da interface entre corpo-cérebro-mente-máquina visando gerar novos produtos e processos de reabilitação e acessibilidade.MEMBERSHIP & COORDENADOR REGIONAL do RESEARCH COMMITTEE CLINICAL SOCIOLOGY da ISA - International Sociological Association.Professor da UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul.Contatos: E-mail: gilima@gmail.com

segunda-feira, 17 de março de 2014

ENTREVISTA GILSON LIMA => Exoesqueleto, Henry Ford, energia e reabilitação!

ENTREVISTA À JORNALISTA: Marina Goulart (UNESP – São Paulo). fevereiro 2014
Dr. Gilson Lima. Sociólogo clínico, pesquisador e cientista em reabilitação.




1. Como e onde começaram os estudos sobre exoesqueletos humanos?

Exoesqueleto é um conceito que trazemos da biologia. Os animais, segundo a biologia, podem ser artrópodos (exoesqueleto) ou vertebrados (endoesqueletos). A diferença aqui é entre ter esqueleto externo e esqueleto interno. Imaginem um caracol. Tudo que se encontra dentro do caracol está protegido pelo seu exoesqueleto (aquela casca dura que achamos ser a casinha dele).
Nós seres humanos acabamos, de um jeito ou de outro, ao longo da nossa evolução, levando os ossos para dentro do corpo e criamos uma complexa massa externa de frágeis fibras que permitem muita flexibilidade, excitação de sensibilidade. Porém, para que isso aconteça ficamos muito frágeis. Sem precisar sequer sair de casa, expomos nossa fragilidade corpórea aos perigos da aventura do viver. A complexidade da vida está na capacidade de movimento. E os humanos são muito complexos por que seus movimentos são possíveis por seus ossos não estarem à mostra. Por outro lado isso nos torna altamente frágeis. Por decorrência dessa complexidade para os humanos simplesmente viver no dia a dia se torna uma grande aventura de risco.
O estudo da possibilidade de integrarmos exoesqueleto nos seres humanos está vinculado a lesões que afetam nossa mobilidade. Minha abordagem de exoesqueleto é muito ampla e não inclui apenas máquinas de reabilitação robotizadas como se tornou mais conhecido atualmente pela pesquisa tecnológica.

Assim, podemos encontrar o uso de talhas para imobilizar um desconforto físico na antiguidade. Eram feitas de bambu, folhas, cascas etc. As primeiras evidências do uso da imobilização com finalidade terapêutica apareceram em talas para imobilizar partes do corpo com fraturas encontradas em corpos mumificados, que datam de 2750 a 2625 antes de Cristo.  Imagem =====>
Em 1517 (imagem ao lado esquerdo), temos registros de uma órtese já bem sofisticada feita de metal com o formato de um braço e que tinha ajuste da posição na articulação. Porém, os estudos e as pesquisas na área de lesões da medula iniciaram-se como uma das consequências da primeira e segunda guerra mundial em razão do surgimento de um grande número de mutilados das guerras mundiais onde cerca de 80% dos lesionados morria por falta de cuidados bem básicos de reabilitação.


Em minhas pesquisas tenho trabalhado com o conceito do exoesqueleto aplicado na reabilitação de paraplégicos. A Argo Medical Technologies (Alemanha e Israel) foi uma das pioneiras na linha dos exoesqueletos para reabilitação de paraplégicos. Desde 2008 o exoesqueleto tem sido considerado uma linha de atuação de minhas pesquisas em reabilitação.


2. Quem foram os pioneiros a pesquisar o exoesqueleto no Brasil?

No Brasil o estudo de órteses de exoesqueleto tanto puramente mecânicas como as hibridas com processos e máquinas de reabilitação robotizadas são muito recentes. Quando comecei minhas pesquisas básicas no assunto em 2005, praticamente toda a literatura e pesquisa aplicada eram internacionais e, mesmo assim, muito pequena. Minhas primeiras experimentações em reabilitação datam de 2006, mas minha primeira conferência pública sobre o tema foi em Natal num Seminário Internacional de nanotecnologia em 2008. Mesmo a produção de órteses de baixa complexidade no Brasil é um campo muito modesto e recente até hoje ainda. As pesquisas em órteses complexas, amplamente interdisciplinares, são caras e de longo prazo foge muito a cultura disciplinar e de baixo enfoque inclusivo das pesquisas tecnológicas no Brasil. 
Existem projetos acadêmicos isolados no país e um projeto muito apoiado e em andamento no Brasil coordenado pelo Dr. Miguel Nicolelis. Trata-se de um projeto para tetraplégicos (vejam não é para paraplégicos) onde se está produzindo um exoesqueleto para a copa (ainda em 2014) comandado diretamente pelo “cérebro”. Miguel Nicolelis é Brasileiro, tem uma base de transferência de pesquisa no Brasil na cidade de Natal em Rio Grande do Norte, mas ele atua efetivamente nos Estados Unidos. Seu projeto é altamente complexo, mas altamente invasivo e que só será possível de ser realizado com apoio de pesquisas acumuladas feitas nos Estados Unidos com modelo animal (ratos, camundongos e primatas). Ele tem um grande apoio de financiadores públicos e privados e é uma iniciativa muito importante para a difusão dos estudos e pesquisas nesse campo. Até onde sabemos, seu projeto da copa será uma experiência com um jovem tetraplégico. Um grande desafio.
No entanto, defendo também que temos muito que caminhar antes de tentar restabelecer ligações diretas invasivas entre comandos cerebrais e máquinas. Sem querer desmerecer a importância dos processos de acoplamento cirúrgicos utilizados por Nicolelis, existe muito confusão dos cognitivistas de que estabelecermos comandos de sinais biológicos como se fossem comandos pelos pensamentos. Já desenvolvemos pesquisas e recursos tecnológicos para interagirmos com telas e objetos sem nenhuma invasividade, sem nenhuma intervenção cirúrgica e muito já pode ser feito nesse sentido. Uma porta que se abre com sensores de presença de calor, uma webcam que reconhece a face em quadrantes de pixels e operando as correntes eletrônicas por um material semicondutor em circuitos que registram as correntes elétricas permitindo comunicação direta entre células vivas de um corpo em symbios sensórios que operam máquinas e telas cada vez mais conectadas em múltiplas redes sem nenhum acoplamento cirúrgico.
Se pensarmos numa vaca amarela e tivermos conectado o cérebro numa maquina com sensoriamento invasivo (micromáquinas sensórias sofisticadas com seus programas eletroquímicos de identificação lógica de códigos sensórios) conseguiremos apenas localizar o lugar onde se ativa o pensamento-vaca, mas não teremos acesso para identificar a vaca imaginada e muito menos a cor amarela. Podemos identificar até mesmo que temos uma rede sensória ligada a fotos capazes de produzir sensações e imaginação de cores. Mas se continuar apenas correndo atrás apenas de conexões físicas que nos ajudam a identificar os microcircuitos físicos de interação das cores que procurando colonizar a imaginação e o conteúdo imaginante, só encontraremos efetivamente redes físicas de sinapses. Sinapses são apenas pequenos choques – sem toque físico entre células - para permitir abrir um canal de transmissão de substâncias químicas escravas da imaginação. Porém o inverso é verdadeiro. O pensamento é escravo da localização física da interação, mas a imaginação é como um pássaro forja ninhos e acontece no mundo voando.
Já treinei por décadas pacientes com lesões neurais que controlam um cursor de computador apenas com seus micros movimentos em sensoridade simbiótica. Isso já pode ser muito utilizado. Não se trata de controle por pensamentos, mas pelo corpo vivo. O pensamento, a imaginação é um subproduto da interação física, não uma matéria operante de coisas mecânicas.

3. Há previsão de quando as pessoas poderão usufruir dessa tecnologia?

No mundo, algumas pessoas já estão utilizando há décadas algumas poucas órteses que já são muito sofisticadas, mas em escala reduzida. Temos muitos desafios clínicos e tecnológicos ainda não completamente sanados para um uso em grande escala. Existem duas vertentes de uso de exoesqueletos. Uma para finalidades de enfrentamento de déficits de mobilidade motora, sobretudo, de lesões neurais e consequências do envelhecimento do corpo e a outra para amplificação de capacidade de força e mobilidade. A primeira, encontramos em pesquisas que visam a saúde e reabilitação, principalmente, de paraplégicos (membros inferiores), mas também de lesões que reduzem ou imobilizam os membros superiores, assistência a idosos e ao processo de envelhecimento e a segunda, de amplificação humana em estado de normalidade que é utilizada – quase sempre – para finalidades militares como o aumento da capacidade de força, carga e de enfrentar os limites da mobilidade humana de nosso corpo biológico.
 
4. Quem poderá usar o exoesqueleto tecnológico?

Depende do projeto. Os atuais projetos robóticos no mundo são para uma escala muito reduzida de pessoas. No Japão pesquisas de exoesqueleto da Honda estão cada vez mais focadas nos idosos. Não devemos esquecer que caminhamos para ter na primeira vez na história da humanidade uma civilização majoritária de vovôs e vovós que sofrerão dos limites de nossa natureza corporal biológica. Existe uma imensa família de possibilidades de usos de exoesqueleto para finalidades de qualidade de vida e acessibilidade. Por exemplo, os paraplégicos que não podem movimentar os membros inferiores tem uma taxa média de vida reduzida diante de uma pessoa que não sofre de mobilidade reduzida. Viver é atividade em fluxo corpóreo. Parar de usar um órgão é altamente danoso para a vida dos tecidos e de sua funcionalidade. A melhor forma de evitar ou retardar os problemas associados à falta de movimentação muscular é a reabilitação e se ela puder ser realizada em bases amplamente interdisciplinar, melhor ainda. A questão aqui é quando isso vai acontecer massivamente? Vou dar um exemplo. As limitações de uma sofisticada órtese eletrônica, por exemplo, é a mesma de uma cadeira de rodas motorizadas e dos veículos elétricos que estão sendo produzidos. O problema da carga e recarga. Quando Henry Ford nos brindou na primeira metade de século passado com a linha de montagem veicular produzindo o acesso ampliado ao mercado dos automóveis e um massivo mercado interno de consumo ele também nos induziu a opção de massificação da energia por combustão (esse foi um grande estrago). A pesquisa de energia e baterias elétricas que estavam no mesmo patamar naquele momento ficou congelada e colonizada para dar apenas um pequeno apoio a energia de combustão. Vejam que as baterias dos automóveis não desenvolveram praticamente quase nada durante décadas e servem apenas para apoio a energia de combustão. Hoje apesar de o petróleo estar em tudo, ainda bem, ainda o associamos apenas ao consumo de energia de combustão. Recentemente estamos acordando para soluções de estoque e realimentação de cargas alternativas em base de energias alternativas a combustão, mas podemos muito tempo e estamos sofrendo a consequência disso. Todos os setores industriais sofrem e a solução que envolve assistência à energia biológica (como é o caso do exoesqueleto) não foge a regra. Existem modelos militares de exoesqueleto que já permitem – dependendo do uso – de seis horas de autonomia. Também temos muito que evoluir nos motores e redutores. 

5. Como é a pesquisa do senhor sobre o assunto?

Venho de uma formação inicialmente humana (sociologia clínica). Minha abordagem de pesquisa que realizo com o apoio da Ortobras (uma fábrica que atua há mais de quarenta anos em acessibilidade) é amplamente interdisciplinar. Aplico uma abordagem que eu denomino simbiogênica, de simbiose. Um symbios entre o corpo o cérebro e o ambiente onde nós acontecemos no mundo. Nosso foco são os cadeirantes paraplégicos que movimentam apenas os membros superiores e possuem bom controle de tronco.
Realizamos pesquisas ainda em formato experimental e de simulações. Interagimos com Universidades e Institutos. Analisamos as teses teóricas e os experimentos acadêmicos. Buscamos sempre parceria no conhecimento.  Nossas pesquisas e interesse em experimentações envolvem dimensões tecnológicas, mas também clínicas, neurológicas e sociais de reabilitação. Conseguimos que um paraplégico realizasse 512 (quinhentos e doze) passos sequenciais, com relativo apoio e assistência utilizando apenas uma órtese ativa, mas apenas mecânica e sem nenhuma lasca de silício. Temos realizado estudos de simulação sobre usos de robótica para verificar até que ponto o uso de motores pode não ser devidamente adequado e simulamos soluções de redução de consumo de energia tanto de oxigênio como de eletricidade. Começamos ambiciosos, pensando em dar adeus à cadeira de rodas. Agora com um pouco mais de um ano de pesquisa integrada junto com a fábrica estamos muito mais focados na reabilitação e no aumento da taxa de vida do cadeirante. O lema da Ortobras é: a vida não para e não temos de imediato uma pretensão de que o cadeirante vai rapidamente reandar normalmente de novo. A ciência ainda não domina toda a complexidade da caminhada humana no ambiente gravitacional. Por exemplo, uma abordagem meramente tecnológica e eletromecânica, pode ser muito eficaz para um mecanismo de apoio, mas clinicamente distante de uma reabilitação saudável. O mesmo vale para uma visão apenas clínica de neuroaprendizagem e de reabilitação que desconsidere as dimensões tecnológicas que já se encontram disponíveis. Nós acontecemos no mundo com o cérebro, o corpo e todo um ecossistema ambiental. É uma simbiose, um symbios. Não podemos desconsiderar essa complexidade. A visão tecnológica apenas é reducionista. A clínica isolada também.
Estamos avançando, mas não criamos ilusões. Também focamos em assistência e não em invasividade cirúrgica que tornaria o processo industrial ainda muito mais complexo e o financiamento inviável em médio prazo. Muito já poderia estar sendo feito para que o número de mortes possam diminuir drasticamente em decorrência dos problemas associados com a imobilidade.

6.Há pesquisas que pretendem utilizar o exoesqueleto para outras utilidades?

Como falei antes tanto para finalidades de reabilitação e inclusão com para finalidades militares – como as iniciativas da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (mais conhecida pela sigla DARPA, do original Defense Advanced Research Projects Agency). Nós estamos pesquisando exoesqueleto como assistividade aos paraplégicos. Existem pesquisas de órteses para membros superiores e também temos grandes possibilidades para utilizarmos exoesqueleto como assistência a idosos diante do envelhecimento da população. A Honda no Japão tem um investimento muito grande em pesquisas de diferentes produtos de exoesqueleto para idosos. Não acredito muito no avanço de exoesqueleto para fins militares de guerra. A infantaria cada vez menos tem sentido diante dos avanços das tecnologias de sensoriamento de satélites de alta definição e de sofisticados armamentos operados a distância pelas pesquisas de artilharia. Vejo que num futuro não muito distante o mercado do envelhecimento – num sentido amplo – demandará em médio prazo muitos produtos envolvidos na família do exoesqueleto cada vez mais integrado a roupas também simbióticas assistivas e com um enfoque mais na saúde e na qualidade de vida. 


7. O que o motivou a pesquisar sobre exoesqueleto?

Minha trajetória de pesquisa é incomum. Venho da sociologia contemporânea e desde minha formação tive uma abordagem complexa e não disciplinar da pesquisa. Isso me levou ao isolamento disciplinar de um lado e a necessidade de abertura para o diálogo com diferentes áreas do saber de outro. No Brasil, a sociologia é fortemente marcada pela abordagem clássica do surgimento da sociedade industrial na Europa do Século XIX e com forte cunho ideológico e político (aqui com p minúsculo por que uma política do conhecimento também pode ser realizada amplamente com P maiúsculo). Tive que me deparar com temas e metodologias complexas e fragmentadas. Pesquisei e lecionei muito no campo da informática por mais de 10 anos de 1993 a 2004. Minha tese de doutorado foi em Metodologias Informacionais em 2004. Aos poucos fui me dando conta ao mesmo tempo da importância da informação computável, mas também (algo menos comum) dos limites da inteligência artificial e como ela seria um desastre se a inteligência humana fosse “totalmente” domesticada pela artificializada da lógica computável e o domínio da servidão absoluta das telas e displays no cotidiano. Hoje, infelizmente, vivemos muito da abordagem dos sistemas computáveis que também negativamente vem colonizando em demasia nossa mortal vida diária. 
Assim comecei a estudar o cérebro com apoio de colegas da neurociência e da reabilitação. Queria entender as diferenças entre o cérebro e as fantásticas máquinas cognitivas computáveis. E elas são radicais. Os primeiros informaticistas - que inventaram o computador - acreditavam que estavam imitando o cérebro humano com suas aceleradas máquinas cognitivas (computáveis). Fui cada vez mais me dando conta da distância que tinha os postulados da inteligência artificial e a complexidade da inteligência proveniente de nossa complexidade humana e social. Verifiquei que poderíamos ganhar muito mais se pudéssemos cooperar em simbiose entre o universo orgânico e inorgânico em vez de tentar substituir a complexidade humana pela artificialidade da inteligência computável. Assim, comecei a trabalhar em equipes interdisciplinares envolvendo casos de lesões neuronais severas. Mergulhei no estudo do cérebro e me encantei. Fiz um caminho diferente dos tradicionais na pesquisa onde se estuda o cérebro o depois se descobre a informática e se se encanta pela informática e suas derivações computáveis como a genética, a biotecnologia, a nanotecnologia, etc. Hoje vivemos sobre o império da cognição computável como os antigos viveram sobre o império da filosofia. O meu caminho foi outro. Tenho desenvolvido projetos, processos e produtos de reabilitação em base de tecnologia assistiva para casos de lesões severas envolvendo a área micro motora operada pelos lobos cerebrais e pelo sulco lateral (ou sulco de Sylvios) onde o uso da reabilitação com telas computáveis que tem ajudado muito na neuroaprendizagem e re-educação.
O meu envolvimento com o exoesqueleto começou em 2005 quando conheci um colega professor universitário paraplégico e comecei a me concentrar numa possível alternativa de experimentações e simulação de um exoesqueleto para cadeirantes. De lá para cá minhas atividades tem sido entre a pesquisa e a fábrica Ortobras que fica aqui no Rio Grande do Sul, numa pequena cidade de Barão e que tem dado um grande apoio para minhas pesquisas e projetos que envolvem - sempre que conseguimos - parcerias com Institutos Acadêmicos ou Universidades. Temos um conceito simbótico definido. Fizemos simulações em escala de bancada e experimentações clínicas provisórias e estamos na difícil busca de financiamento para montarmos um exoesqueleto para paraplégicos. Temos um longo caminho pela frente. 
A simbiogênese que desenvolvo em publicações e pesquisas é uma teoria social (desde grupo de células, moléculas, órgãos, corpo e ambiente em interações de redes de cooperação a longo prazo). As mediações de encapsulamento de máquinas, cérebro, corpo e ambiente são symbios (um fazer tudo junto) em cooperação de um longo agora. O cérebro não pode ser visto solitariamente e nem a tecnologia. Na reabilitação busco novos symbios entre corpo, cérebro, máquinas e ambiente.  Quando vemos um filme o cérebro mediado por symbios sensórios torna as imagens reais (sentimentos e expectativas se tornam consequência de mediações em symbios que para nós é real e não virtual). Não temos essa dualidade entre real e virtual na simbiogênese. Somos sempre uma rede social de imensas moléculas, bactérias amigas interagindo em nosso corpo e ambiente externo. O mesmo vale para as nossas interações com as máquinas sensórias, musculares e cognitivas (computacionais). Forjamos em evolução através de mediações em symbios. Aplico a simbiogênese na reabilitação e pratico uma sociologia mergulhada na complexidade entre atividades clínicas, sociais, de engenharia, de softwares, robótica e industriais o que exige muito diálogo e paciência para transitar entre os diferentes protocolos e saberes. Tento levar como referência a célebre lição de um pensador da complexidade Edgar Morin de tentar ligar saberes que estão disciplinarmente e ou funcionalmente desligados.  Esse tem sido meu principal desafio e meu caminho de aprendizagem.

SÍNTESE CURRÍCULO!

Dr. GILSON LIMA. Natural de Belo Horizonte – Minas Gerais. Doutor em sociologia com foco em metodologias informacionais. Pesquisador pós-graduação do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Pesquisador junto a ORTOBRAS Comércio e Indústria LTDA em inovação e tecnologia – com atividades na área da interface entre corpo-cérebro-mente-máquina visando gerar novos produtos e processos de reabilitação e acessibilidade.
MEMBERSHIP & COORDENADOR REGIONAL do RESEARCH COMMITTEE CLINICAL SOCIOLOGY da ISA - International Sociological Association.
Contatos: E-mail: gilima@gmail.com


Curriculum Lattes COMPLETO: http://lattes.cnpq.br/7472045664213665

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O CÉREBRO DO FUTURO

Dr. Gilson Lima.
Sociólogo Clínico (International Sociology Association – ISA) e cientista em reabilitação.
giliima@gmail.com


Os ‘baby boomers’ são uma geração de crianças humanas nascidas entre 1945 e 1965 na Europa - durante uma explosão populacional. Eu proponho considerar ‘baby boomers’ no Brasil uma classificação diferente. Seriam crianças nascidas entre 1964 e 1970 e consideraria muito menos a explosão populacional e muito mais a formação de toda essa geração forjada pela pedagogia da imagem televisiva.


São pessoas mais velhas que se queixam da ansiedade do computador e possuem medo dos perigos da Internet, não só para si, mas também para seus filhos e netos. Os doentes com transtorno obsessivo-compulsivo muitas vezes acham que, quando se envolvem com a tecnologia digital, quer se trata de e-mail, compras, ou jogos, eles não podem controlar seus impulsos. Os circuitos cerebrais e comportamentos desajustados dos vícios e compulsões de controle mostram uma considerável, sobreposição, mas ... o cérebro do futuro não será totalmente cibernético e tecnológico como imaginam os nativos digitais e nem totalmente orgânico e biológico como sonham os imigrantes digitais.

Nosso cérebro já é atualmente um symbios, uma simbiose entre circuitos orgânicos e interfaciamento de circuitos eletrônicos. No futuro, cada vez mais presente, em vez de colidir nossos circuitos neurais vão se adaptar melhor e se unir em simbioses cada vez mais intensas com os circuitos inorgânicos. O que chamo de borramento da fronteiras entre o universo orgânico e inorgânico, um symbios (que não precisam ser invasivos para ser intenso).

Os lobos frontais fragilizados dos Nativos Digitais – por causa do excesso estressante de interação com telas e fluxos de pixels  -constroem novos caminhos neurais a partir das interações cara-a-cara. No entanto, a cooperação, a aproximação simbiótica dos nativos digitais com os Imigrantes Digitais tecnologicamente ingênuos e vice versa vão melhorar as habilidades multitarefas de ambos enquanto aumentam sua exposição a jovens Nativos Digitais ao universo off-line e testa a testa.
A nova sociedade simbiótica preenche as lacunas do cérebro e o cérebro do futuro surgirá. Não será - apenas - esse cérebro do futuro experiente em tecnologia e pronto a tentar novas coisas, ele terá dominado a multitarefa e a concentração e afinado suas habilidades de comunicações verbais e não verbais. Ele saberá como se afirmar bem a lógica, mas também como expressar empatia. Terá excelentes habilidades pessoais e será capaz de nutrir sua própria criatividade.
Hoje nós podemos nos maravilhar com os extraordinários avanços tecnológicos da era digital e como a revolução tecnológica alterou dramaticamente nossa cultura e vias neurais do nosso cérebro. Mas se os avanços tecnológicos continuarem na sua trajetória atual, o futuro próximo pode fazer os desenvolvimentos de hoje parecerem triviais, se não de alguma forma ultrapassados. O teclado e o mouse do computador podem ser lembrados como ferramentas brutas que causaram lesões irritantes nos pulsos e dedos enquanto nós entramos em uma era onde o cérebro do futuro controla diretamente os e-mails, pesquisas na Internet e os jogos através apenas do poder de microrítmos corporais. Pode-se imaginar um usuário do cérebro do futuro refletindo, “Lembra quando o Google era gratuito?” Afinal, uma vez o auxílio à lista já foi gratuito, bem como discar a operadora para um serviço de despertar.
Já desenvolvemos tecnologias para interagirmos com telas e objetos sem nenhuma invasividade, sem nenhuma intervenção cirúrgica. Uma porta que se abre com sensores de presença de calor, uma webcam que reconhece a face em quadrantes de pixels e operando as correntes eletrônicas por um material semicondutor em circuitos que registram as correntes elétricas permitindo comunicação direta entre células vivas de um corpo em symbios sensórios que operam máquinas e telas cada vez mais conectadas em múltiplas redes.
Como cientistas já recentemente treinamos pacientes neurais a controlar um cursor de computador apenas com seus micro movimentos em sensoridade. Não se trata de controle por pensamentos, mas pelo corpo vivo e corpóreo. O pensamento, a imaginação é um subproduto da interação física, não uma matéria operante de coisas físicas. Se pensarmos numa vaca amarela e tivermos conectado o cérebro numa maquina com sensoriamento invasivo (micromáquinas sensórias sofisticadas com seus programas de identificação lógica de códigos sensórios) conseguiremos apenas localizar o lugar onde se ativa o pensamento-vaca, mas não teremos acesso para identificar a vaca imaginada e muito menos a cor amarela. Podemos identificar até mesmo que temos uma rede sensória ligada a fotos capazes de produzir sensações e imaginação de cores. Mas se continuar apenas correndo atrás apenas de conexões físicas que nos ajudam a identificar os microcircuitos físicos de interação das cores que procurando colonizar a imaginação e o conteúdo imaginante, só encontraremos efetivamente redes físicas de sinapses. Sinapses são apenas pequenos choques – sem toque físico entre células - para permitir abrir um canal de transmissão de substâncias químicas escravas da imaginação. Porém o inverso é verdadeiro. O pensamento é escravo da localização física da interação, mas a imaginação é como um pássaro, forja ninhos e acontece no mundo voando.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O CÉREBRO-GAME: o império neuronal da informação como um jogo de sintetização binária da realidade

Dr. Gilson Lima. Pesquisador CNPQ-Ortobras. Cientista de Reabilitação.

Dia das crianças, natal, aniversários,... os jovens e seus novos presentes. Cada vez mais a meninada é inundada por jogos de telas. Alguns deles se tornarão jogadores crônicos que jogam entre 7-9 horas por dia e alguns deles desenvolverão uma espécie de cérebro-games uma dinâmica que consolida a ativação intensa dos processos de recompensa ao mesmo tempo em que desliga simetricamente ou deixa menos ativo os processos interativos de inteligência interpessoal - mesmo quando os usuários não estão jogando videogames - seus lobos frontais que são os responsáveis pela dinâmica das decisões complexas e pelo planejamento do futuro.
Fonte da imagem: https://www.google.com.br/search?q=lobo+frontal&rlz=1C2ASUT_enBR455&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=Nl9yUuroCovSkQeQrIGIAQ&sqi=2&ved=0CAcQ_AUoAQ&biw=1366&bih=597#facrc=_&imgdii=_&imgrc=mnYt5HZYAo3CRM%3A%3BUnz1yN8wWGoh7M%3Bhttp%253A%252F%252Fupload.wikimedia.org%252Fwikipedia%252Fcommons%252F5%252F54%252FFrontal_lobe_animation.gif%3Bhttp%253A%252F%252Fpt.wikipedia.org%252Fwiki%252FLobo_frontal%3B300%3B300

Os jogadores de tela - como em todas as atividades de alta concentração - tendem a se envolver em seu jogo, esquecendo ou ignorando o que mais está acontecendo ao seu redor. O aumento da excitação física e psicológica do jogador freqüentemente deixa-os se sentirem tensos e irritáveis. Já foi descoberto que jogar vídeo game pode aumentar a pressão arterial e freqüência cardíaca e agita o sistema nervoso autônomo, acionando mensageiros químicos relacionados ao estresse, como a adrenalina, geralmente liberados pelas glândulas supra-renais em resposta ao perigo. Assim, os jogadores crônicos podem ter consequências negativas para o corpo, e consequentemente, para o cérebro e o comportamento em geral.


Se um leão entrasse em nossa casa pela porta dos fundos em uma peça onde estamos uma cópia rudimentar a preto e branco da imagem do leão na nossa retina chegaria em menos de 200 milissegundos à amígdala, que responde com a elevação da tensão arterial, da pulsação e da tensão muscular, muito antes que a zona da cor do nosso córtex cerebral tenha podido elaborar uma imagem nítida (em tom de amarelo-bege, castanho). Entretanto já teríamos corrido para a porta certa! (Quem não dominar rapidamente este mapa de imput-output não ficará para contar a história às gerações seguintes!).
A palavra estresse, na verdade, caracteriza um mecanismo fisiológico do organismo sem o qual nós, nem os outros animais, teríamos sobrevivido. Se nosso antepassado das cavernas não reagisse imediatamente, ao se deparar com uma fera faminta, não teria deixado descendentes. Nós existimos porque nossos ancestrais se estressavam, isto é, liberavam uma série de mediadores químicos (o mais popular é a adrenalina), que provocavam reações fisiológicas para que, diante do perigo, enfrentassem a fera ou fugissem.

É pela ação de rápidos processos bioquímicos que, num momento de pavor, os pelos ficam eriçados (diante do cão ameaçador, o gato fica com os pelos em pé para dar impressão de que é maior), o batimento cardíaco e a pressão arterial aumentam, o sangue é desviado do aparelho digestivo e da pele, por exemplo, para os músculos que precisam estar fortalecidos para o combate ou para a fuga. Vencido o desafio, vem a fase do pós-estresse. Quem já passou por um susto grande sabe que depois as pernas ficam trêmulas e, às vezes, andar é impraticável.

Estresse é um termo que se vulgarizou nos últimos tempos.
O estresse é uma dinâmica positiva de nossa evolução. Graças a ele conseguimos sobreviver diante dos predadores e ações que colocam em risco nossas vidas. No entanto, o estresse do mundo atual é muito diferente do que existia no passado.

Tudo parece rápido e automático, somos mesmos e muito produto do inconsciente. É importante que saibamos que mesmo os processos bioquímicos rápidos das atividades estressantes - ainda sim - são muito lentos perto da velocidade da energia elétrica que alimenta as interações das telas.

Vejamos um exemplo: O neurônio (células da informação cerebral) operam na escala de tempo dos milissegundos, isto é, geralmente são necessários alguns milissegundos para que um neurônio dispare para que um sinal nervoso viaje ao longo de seu axônio e para que o sistema se reacomode a fim de disparar novamente. Por outro lado, um transistor das máquinas e telas cibernéticas comum como o que está presente em seu computador pessoal pode ser ligado e desligado em um bilionésimo de segundo (isto é, um milhão de vezes mais rápido do que os neurônios), e os modelos experimentais podem ser ligados e desligados mil vezes mais rápido do que isso.
Essa questão de milissegundos e bilionésimos de segundo pode não o impressionar muito e pode ser algo meramente trivial. Imagine o seguinte para entender a diferença de uma ação ser um milhão de vezes mais rápida do que outra. Pense que você realizaria uma dada tarefa em um dia, e uma outra pessoa precisasse de um milhão de vezes mais dias para realizá-la. Você se tivesse começado a tarefa há 24 horas estaria terminando exatamente agora. Para que a pessoa mais lenta estivesse terminando a tarefa no mesmo tempo teria de ter começado a tarefa por volta de 780 a.C. Essa é a diferença de velocidade entre um transistor comum e um neurônio.

Voltemos aos jovens jogadores de telas. Os videogames se tornaram tão populares que estão se tornando um esporte de espectadores em algumas partes do mundo. Atletas cibernéticos competem diante de multidões de cem mil ou mais na Coréia do Sul e em outros lugares em torneios de videogame.
Em estudos na Nihon University de Tóquio, Professor Akio Mori encontrou evidências de que os videogames parecem suprimir a atividade do lobo frontal. Seu grupo mostrou que os adolescentes que passam mais tempo a jogando videogames, menos tempo utilizam áreas-chave das partes dianteiras de seus cérebros. Temos então uma dinâmica automática que essencialmente desliga os lobos frontais, mesmo quando as crianças não estão jogando videogames.
Essa descoberta tem uma implicação vital no processo de aprendizagem e de vida da inteligência humana. Tudo passa a ser tempo real e todo tipo de interação (humana e no ecossistema em geral) se converte – para esses usuários autômatos - em disputas e competições. 
O professor Ryuta Kawashima e seus colegas na Universidade Tohoku, no Japão, descobriram que quando as crianças jogam videogames, seus cérebros não usam circuitos do lobo frontal, mas sim usam uma região do cérebro que controla a visão limitada e movimento. Isto está em nítido contraste com o que eles encontraram, quando as crianças realizaram simples exercícios de matemática mundanos. Quando os voluntários do estudo fizeram cálculos de adição com um dígito, os seus cérebros recrutaram os neurônios de uma área do cérebro muito mais ampla, envolvendo os lobos frontais, regiões que controlam o impulso de aprendizagem de controle, memória, emoção e até mesmo controle dos impulsos.
Nativos digitais constituem o principal mercado para videogames: mais de 90 por cento de todas as crianças e adolescentes do mundo  jogam estes jogos. Segundo estimativas recentes o estereótipo de um ciber-geek de 15 anos jogando por horas em seu quarto persistir, a média de idade dos jogadores subiu para 30 anos. Os jogadores mais jovens, no entanto, são aqueles cujos cérebros são mais sensíveis ao jogo extenso e, em média, essas crianças e adolescentes estão jogando meia hora ou mais a cada dia.
Pesquisas anteriores já haviam mostrado que extensos videogames tornam as crianças mais agressivas e as insensibilizam frente a atos de violência que veem em outros lugares. No entanto, investigações recentes sugerem que a intensidade gráfica e de imagens violentas de um jogo e não só a quantidade de conteúdo violento, podem ter ainda um efeito maior sobre o funcionamento do cérebro e o comportamento agressivo.
Em minhas pesquisas com pessoas com lesões neuronais severas utilizo muito o computador e telas, mas sempre indicando limites diários de uso. O potencial das tecnologias digitais para reabilitação corporal e mental é imensa. 
A indústria dos videogames – como a mídia em geral- ainda de modo muito lento estão começando a reverter seus dispositivos de estímulos a violência tentam colocar menos ênfase na violência e destruição e se concentram mais em metas e estratégias complexas. Aprendemos por espelhamentos e estes ambientes virtuais intrincados também geram um impacto significativo sobre o cérebro de um jovem na região lobo-frontal que requer um maior desenvolvimento durante a adolescência para que o pensamento abstrato e habilidades de planejamento se formem.

IMIGRANTES DIGITAIS

Enquanto Nativos Digitais permanecem conectados no ciberespaço e em vídeo games, os Imigrantes Digitais gastam um tempo consideravelmente menor expostos a este tipo de nova tecnologia nova. Eles cresceram em uma época menos frenética, e a revolução digital atual ocorreu após seus anos de formação. Muitas crianças nascidas durante uma explosão populacional lembram que tinham apenas uma televisão em casa, e talvez nem mesmo uma televisão colorida. Algumas dessas crianças acham fácil de adaptar a nova tecnologia, eles conseguem fazer compras online, comunicar-se por e-mail e usar telefones celulares, mas todas essas coisas eles aprenderam com os adultos, depois que seu cérebro estava mais formado.
Embora estes imigrantes estejam se ajustando a era digital, a sua abordagem difere muito da dos nativos digitais. O típico cérebro de um Imigrante foi treinado de maneiras completamente diferentes de socialização e de aprendizagem e realizam uma tarefa de cada vez. Imigrantes aprendem mais metodicamente e tendem a executar tarefas mais precisamente. Eles estão sendo forçados a prender uma nova linguagem digital – um desafio diferente do que os imigrantes que chegam de outros países e não falam a língua nativa enfrentam. Aprender qualquer língua na idade adulta requer a utilização de partes diferentes do cérebro do que aquelas que são utilizadas para aprender uma língua logo cedo.
Apesar de lentos somos portadores de uma inteligência lenta, mas muito complexa. Sabemos que o cérebro pode trabalhar muito rápido em algumas tarefas. Aqui está uma demonstração: levante sua cabeça e olhe ao redor, depois a incline. Ao fazer isso, a imagem visual que você tem do mundo permanece vertical - ela não se inclina como sua cabeça.
Esta operação simples é tão "automática" que é fácil perder de vista o fato de que ela constitui um desafio computacional enorme - apenas muito recentemente as máquinas mais modernas têm sido capazes de executá-la em tempo real. Isso porque a maneira tradicional de um computador analisar uma imagem é bem diferente da maneira como o cérebro humano faz.
O neurônio pode ser visto como uma chave interruptora que pode como um transistor está ligado ou desligado. Entretanto, essa analogia não resiste a um exame mais rigoroso. Um aspecto mais importante da natureza química do cérebro é que ele está ligado ao segundo principal modo de comunicação do corpo - o sistema endócrino. O cérebro, na verdade, está em um banho sempre em mudança de substâncias químicas, aquelas criadas no interior do próprio cérebro e as produzidas em outras partes do corpo.
Então imagine meus caros o que faz uma intensa atividade de interação em telas eletrônicas. Somos lentos e incapazes de tomar decisões profundas além da rápida dinâmica entre clicar e não clicar. Isso é muito pouco para uma inteligência capacidade em produzir hermenêuticas de profundidade.