O SUPLÍCIO DE DAMIENS
GILSON LIMA.
"O que em mim sente está pensando" (Fernando pessoa)
Dr. Pesquisador - CNPQ - Porto Alegre.E-mail: gilima@gmail.com
BLOG http://glolima.blogspot.com/
Msn: glolima
Orkut: Gilson Lima
Skype: gilsonlima_poa
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Damiens fora condenado, a 2 de março de
1757. Michel Foucault nos descreve
em seu livro Vigiar e Punir (Editora Vozes), o suplício de
que Damiens fora submetido.
Dizia a sentença, o réu Damiens devia:
"... pedir perdão publicamente diante da porta
principal da Igreja de paris, seria levado nu, de camisola, carregando uma
tocha de cera acesa, atenazado nos mamilos, braços, coxas e nas barrigas das
pernas, na sua mão direita segurará a faca com que cometeu o parricídio,
queimada com fogo de enxofre. Será aplicado chumbo derretido, óleo fervente,
piche em fogo, cera de enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo
será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos
ao fogo, reduzido as cinzas, e suas cinzas lançada ao vento.
Esta é a sentença.
Vejamos agora segundo Foucault, o relato da
aplicação da execução das sentença. É importante destacar que quase sempre o
planejamento difere da execução. Planejar e executar não é a mesma coisa.
Vejamos o relato de feito pelo comissário de polícia Bouton sobre a execução da
sentença:
"Acendeu-se o enxofre, mas o fogo era
tão fraco que a pele das costas da mão de Damiens mal e mal sofreu. Depois, o
executor, de mangas arregaçadas acima dos cotovelos, tomou umas tenazes de aço,
medindo cerca de um pé e meio de comprimento, atenazou-lhe primeiro a barriga
da perna direita, depois a coxa, foi passando às duas partes da barriga do
braço direito; em seguida os mamilos. Este executor, ainda que forte e robusto,
teve grande dificuldade em arrancar os pedaços de carne que tirava em suas
tenazes duas ou três vezes do mesmo lado ao torcer, e o que ele arrancava
formava em cada parte uma chaga do tamanho de um escudo de seis libras.
Depois destes suplícios, Damiens, que gritava
muito sem contudo blasfemar, levantava a cabeça e se olhava; o mesmo carrasco
tirou uma colher de ferro do calderão daquela droga fervente e derramou-a
fartamente sobre cada ferida.
Em seguida com cordas menores se ataram as
cordas destinadas a atrelar os cavalos, sendo estes atrelados a seguir a cada
membro ao longo das coxas, das pernas e dos braços.
Vez
que outra apresentavam um crucifixo para que o beijasse e que pudesse pedir
perdão ao Senhor.
Continuemos com o relato de
Bouton:
"Os cavalos deram uma
arrancada, puxando cada qual um membro em linha reta, cada cavalo era segurado
por um carrasco. Um quarto de hora mais tarde na mesma cerimônia pública - 15
minutos depois de muitas puxadas - e enfim, após várias tentativas, foi
necessário fazer os cavalos puxarem da seguinte forma: os do braço direito em
direção à cabeça, os das coxas voltando-se para o lado dos braços nas juntas.
Estes arrancos foram repetidos várias vezes, sem resultado. Ele levantava a
cabeça e se olhava.
Foi
necessário colocar dois cavalos, diante dos atrelados às coxas, totalizando
seis cavalos. (esquecendo cada vez mais o que determinava a sentença). Mas tudo isso sem resultado algum.
...Depois
de duas ou três tentativas - o carrasco Samson e o que lhe havia atenazado – tirou
do bolso uma faca e foi cortando as coxas na junção com o tronco. Os quatro
cavalos, colocando toda a força, levaram então as duas coxas de arrasto, isto
é: a do lado direito por primeiro, e depois a outra. A seguir foi feito o mesmo
com os braços, cortando nas axilas as partes. Diferente do que dizia a sentença
foi preciso cortar tudo das carnes até quase os ossos. Os cavalos, então puxaram
com toda força, arrebataram-lhe o braço direito primeiro e depois o outro.
...Um
dos carrascos chegou mesmo a dizer pouco depois que assim que eles levantaram o
tronco para lançar na fogueira, que Damiens ainda estava vivo.
Os quatro membros, uma vez
soltos das cordas dos cavalos, foram também lançados na fogueira preparada no
local,... depois o tronco e o resto foram cobertos de achas e gravetos de
lenha, e se pôs fogo à palha ajuntada à essa lenha.
...Em cumprimento da sentença, tudo foi
reduzido a cinza. O último pedaço encontrado nas brasas só acabou de se
consumir às dez e meia da noite. Os pedaços de carne e o tronco permaneceram
cerca de quatro horas ardendo.
Os
oficiais, entre os quais encontrava eu e meu filho, com alguns arqueiros
formados em destacamento, permanecemos no local até mais ou menos onze
horas".
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