1 de dezembro, 2007 - 11h01 GMT (09h01 Brasília) Carolina Glycerio De
São Paulo.
Um só neurônio pode influenciar comportamento, diz estudo O estímulo de
apenas um neurônio pode desencadear reações nervosas e afetar o comportamento,
apontam estudos feitos em ratos e publicados na revista científica Nature.
A conclusão contraria a noção de
que muitos neurônios, um número na casa dos milhares, são necessários para
detonar uma resposta em funções cerebrais como o aprendizado e a memória.
"Já se suspeitava, mas não tínhamos a comprovação, de que um único
neurônio pode permitir o desempenho de funções cerebrais", afirma o
neurocientista Clóvis Orlando, professor da Universidade Federal Fluminense.
Segundo o cientista, que pesquisa células tumorais, os resultados abrem
caminho para uma visão diferente do cérebro que os cientistas que já vêm
desenvolvendo, que passa pelo fim dessa noção de que o número de neurônios é
limitado. Orlando destaca, no entanto, que isoladamente um neurônio não
desempenha função alguma. Ele precisa se juntar com a glia, célula de
sustentação cerebral que fornece oxigênio e nutrientes, para daí receber o
estímulo e desencadear a sinapse. "O que o estudo sugere é que a
comunicação neurônio-glia pode, através da formação de sinapses, determinar a
fisiologia da aprendizado, da memória." Bigodes O primeiro estudo citado
na Nature consistiu em estimular neurônios na parte do cérebro dos ratos ligada
à sensibilidade dos bigodes - que os ajudam a se orientar em ambientes de visão
limitada. Essa região é composta de cerca de dois milhões de neurônios e cada
bigode transmite sinais para um grupo de células. Segundo os pesquisadores,
liderados pelo neurobiólogo Karel Svoboda, do Instituto Médico Howard Hughes,
em Nova York, a observação dos animais mostrou que o estímulo de poucos
neurônios é suficiente para influenciar fatores que serão determinantes na
fisiologia do aprendizado. Uma outra equipe de pesquisadores, liderada por
Michael Brecht, do Centro Médico Erasmus, na Holanda, e Arthur Houweling, da
Universidade de Humboldt, de Berlim, tentou isolar o papel individual dos
neurônios com experimentos que analisaram a influência de cada um deles na
capacidade tátil dos animais. As duas equipes utilizaram técnicas que lhes
permitiram estimular feixes específicos de neurônios. Svoboda e seus colegas
criaram ratos transgênicos que respondiam ao estímulo da luz. Recompensando os
animais com água, os pesquisadores conseguiram respostas que envolviam apenas
60 neurônios. O outro grupo instalou eletrodos projetados para ativar neurônios
individuais dentro do córtex cerebral dos ratos. Eles então treinaram os ratos
a "apagar" a luz quando sentissem o estímulo.
Em média, os animais responderam
ao estímulo de um único neurônio em 5% do tempo. Mas no caso de alguns
neurônios específicos, a resposta ocorria em 50% do tempo. Já Svoboda e Brecht
dizem que seus estudos não encerram o processo de conexões neuronais. Segundo
Svoboda, os experimentos mostram que animais podem coletar dados muito
espaçados, mas não comprovam que essa coleta é espaçada o tempo todo. Segundo
os dois pesquisadores, para avançar nas conclusões, seria preciso usar técnicas
muito sensíveis de monitoramento da atividade neural. "Isso ainda não foi
feito de forma satisfatória. Há questões técnicas a ser superadas, mas muita
gente está trabalhando nisso."
Meu
comentário: Como sociólogo não acredito no individualismo nem no comportamento
macro visível, imagine molecular. Essa notícia é contra todas as novidades que
estão sendo descobertas. A noção da unidade neuronal do sistema nervoso (como
processo discreto, dando mais importância ao neurônio que o assembler - a rede
ou redes pequenas, médias, longas até as mais complexas) é o que se pensava
Cajal com sua descoberta no final do Século XIX.
Já vi simulações complexas com "bigodes" de camundongos em
Natal - Rio Grande do Norte no Instituto de Neurociências do Nicolellis quando
estive lá recentemente em novembro de 2008). É algo espantoso em termos de
redes e complexidades de conexões. Imagine um rato fugindo de um gato e
calculando sua fuga junto o um distante buraco da parede (tudo isso é feito em
milissegundos pelos bigodes. Tire apenas um deles que o rato vai se estoporar
pela parede e nem preciso de verba do CNPQ para isso.
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