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Palavras iniciais
Nosso microbioma é simbiogênico. Nossa espécie deixou de ser apenas humana e se
tornou simbiótica, produto de uma aliança de longo agora integrada em cooperação
com uma rede simbiótica, uma gama imensa de micro organismos benéfica a nossa
complexidade em evolução. Em nosso corpo, de cada 11 células, apenas uma é
humana. A maioria das células humanas (internas ao nosso corpo vital humano),
não é realmente humana.
As células bacterianas superam as humanas numa relação
de 10 para 1 e não ameaçam nossa saúde e são de vital importância para nossos
processos fisiológicos básicos e com a conquista da morte pelo envelhecimento,
nossas parceiras não humanas assumem processos cada vez mais complexos. Em 1859,
Charles Darwin publicou uma perigosa ideia numa célebre obra A origem das
Espécies que, depois de resistências acadêmicas, acabou se constituindo num
paradigma da biologia moderna. Darwin baseou sua teoria em duas ideias
fundamentais: variações casuais, que foi posteriormente denominada de mutação
aleatória, e a seleção natural. No entanto, ainda segundo Dennett, mais de 120
milhões de norte-americanos acreditam que Adão foi criado por Deus há dez mil
anos, a partir do barro, e que Eva foi feita com a costela do seu companheiro.
São os que acreditam no criacionismo e no design inteligente (DENNETT, 1986).
Darwin foi decisivo para uma ruptura com a noção criacionista do humano por um
design inteligente – sobrenatural. Para Dennett, é por meio da evolução que
encontramos o cerne da descoberta mais perturbadora de Darwin. A ideia de que
não é necessário algo de grandioso, especial e inteligente para a criação de uma
coisa menor. Dennett, chama de teoria da ordem descendente da criação. Ninguém
jamais verá uma lança fazendo um fabricador de lanças. Tampouco verá uma
ferradura criando um ferreiro. Nem um vaso de cerâmica gerando um ceramista. As
coisas ocorrem sempre na ordem inversa, e isto é tão óbvio que simplesmente
parece ser uma lei universal (DENNETT, 1998).
Com o Homo habilis, o “faz-tudo”
que começou a fabricar instrumentos de pedra cerca de dois milhões de anos
atrás, também começou a se erguer uma sensação de eles serem mais perfeitos do
que os seus artefatos. Darwin refuta completamente isso com a sua teoria da
seleção natural. Ele demonstra que não é assim que as coisas aconteceram. Isso
desafia a ideia popular de que a vida possui um sentido. A ideia de um criador
que é mais perfeito do que as coisas que cria é uma ideia profundamente
intuitiva.
É exatamente a esta ideia que os defensores do design inteligente se
referem quando perguntam: “Você alguma vez já viu uma construção sem
construtores, ou uma pintura sem um pintor?”. Esse raciocínio é algo que captura
esta ideia profundamente intuitiva de que jamais se obtém um desenho
gratuitamente (DENNETT, 1998).
Conversando com Dennett, filósofo da mente e
entusiasta da evolução, afirmou que daria a Darwin a medalha de ouro pela melhor
ideia que alguém já teve. Para esse filósofo da mente, essa ideia brilhante
unifica o mundo dos significados, dos objetivos, das metas e da liberdade com o
mundo da ciência, com o mundo das ciências físicas. Quero dizer, nós falamos
sobre a grande lacuna entre a ciência social e a ciência natural. O que preenche
esta lacuna? Darwin, ao nos mostrar como objetivo, desenho e sentido podem
surgir da falta de sentido algum, a partir da simples matéria bruta.
O
desdobramento evolutivo da vida ao longo de bilhões de anos constitui uma
história empolgante acionada pela criatividade inerente a todos os sistemas
vivos. Expressa troca entre recursos e natureza ao longo de caminhos distintos
de mutações, intercâmbios de genes e simbioses aguçadas pela seleção muito mais
natural do que fisicalista. Reconhecemos com Georges Comte de Buffon que todos
somos parte da grande trama comum da vida existente neste planeta, mas ainda
estamos à procura do salto singular do homem-macaco.
Darwin nos legou duas
ideias “perigosas” que até hoje foram pouco consideradas pelo atual reducionismo
científico, mesmo com elevada produtividade de mais de milhões de cientistas da
vida e, sobretudo, da vida humana. Um dos maiores desafios da formação escolar e
acadêmica é a de reencontrar numa teia nova e complexa às ciências humanas e o
saber das humanidades com as ciências da vida.
A alienação disciplinar da
ciência moderna nos afasta das compreensões das questões complexas básicas, como
é o caso da evolução e suas implicações sobre nossas visões sobre o humano e o
humanismo. Essa falta de borramento entre as fronteiras disciplinares tem um
efeito perverso de estagnação e precarização reflexiva entre todos os saberes
humanos, ou seja, a ideia de que devemos proteger as ciências sociais e a
humanidade do pensamento evolucionário é uma receita para o desastre.
A noção de
borrosidade (entre fronteiras, bordas), surgiu de um problema matemático na
teoria de conjuntos fuzzy proposto pelo lógico polonês Jan Lukasiewicz .
Trata-se de uma abordagem crítica das noções de limite e de precisão, essenciais
à teoria dos conjuntos que funda a analítica formal da ciência moderna (ZADEH,
1982).
Uma boa metáfora para o mundo do conhecimento complexo da vida e uma
abordagem crítica das noções de limite e de precisão, essenciais à teoria dos
conjuntos que funda a sua analítica formal. Um conjunto de realidade BORRADA
evoca novas abordagens paradigmáticas. Um conjunto de realidade borrada evoca
novas abordagens paradigmáticas.
O "borramento" é uma propriedade particular dos
sistemas complexos no que se refere à natureza arbitrária dos limites
infrassistêmicos impostos e à abertura das relações suprassistêmicas dos
contextos e respectivos observadores e experimentadores. A borragem disciplinar
das ciências da vida é mais indeterminada.
Certa vez Darwin resumiu a seleção
natural em poucas e precisas palavras: “multiplicar, variar, que o mais forte
sobreviva, que o mais fraco morra” (WRIGHT, 1996: 07).
Na abordagem da
simbiogênese , decorrente da evolução proposta por Darwin muito focada no
conflito e na competição “produtiva”, não existe um conjunto aqui sem o conjunto
ali. Não existe natureza separada da cultura. Não existe virtual que não seja
real.
Enfim, não existe possibilidade de enfrentar de modo complexo e aberto os
desafios da elucidação da vida sem o contágio e ligação dos saberes desligados.
Esse contágio inicia-se pelo borramento entre as sólidas fronteiras
disciplinares.
Houve uma época, até muito recentemente, que a ciência acreditava
que a vida era uma ilha fisiológica de funções internas dos humanos,
verdadeiramente humanos. Isso começou a mudar no início dos anos 60, quando a
falecida norte-americana Lynn Margulis (1938 – 2011) – infelizmente mais
conhecida por ser casada com Carl Sagan (famoso divulgador da ciência).
A
descoberta revolucionária de Margulis dá um nó na teoria da evolução. Do
conflito e da competição a mola mestra da evolução de longo prazo das espécies
se deslocam para a cooperação (MARGULIS, 2002; MARGULIS, Lynn; SAGAN, 2002a;
MARGULIS, Lynn; SAGAN, 2002b).
Margulis demonstrou correta a teoria da
endossimbiose em experimentos controlados e consolidados onde demonstrou que as
mitocôndrias como entidade separadas formaram-se em simbiose cooperativa de
longo prazo com as próprias células eucarióticas.
Essa descoberta é tão
revolucionária que até hoje quase toda a ciência médica e grande parte das
práticas clínicas complexas e da grande parcela da indústria farmacêutica não
entenderam ainda seu grande significado.
Um dos problemas é romper com a visão
equivocada que os micro-organismos são nossos inimigos mortais. Se fossem – pelo
menos a maioria deles – nós não existiríamos.
Qual a grande implicação dessa
descoberta? Nosso genoma “humano” – cada vez mais barato de ser escaneado e
decifrado individualmente – não passa apenas de uma parte importante e
minoritária do genoma de nossa espécie duradoura. Apenas no nosso sistema
digestivo a relação é de 1/150.
Para uma ideia da significância dessa rede, a
totalidade do genoma humano que encontra-se entre 20 a 25 mil genes efetivamente
é muito insignificante se o vermos separadamente e isoladamente apenas.
Descobrimos recentemente que somos parte de uma rede complexa de vida, uma rede
viva entre o humano e o não humano.
A falta de saúde em nosso organismo, de
acordo com o atual estágio da pesquisa científica, é apenas as correlações entre
taxas mais baixas de infecções microbianas e mais altas de doenças imunes em
humanos.
Sabíamos até agora apenas isso: correlações.
Agora sabemos que é muito
mais do que corelações. Nossa espécie para ser duradoura junto com o ambient
onde acontecemos é plural em vida e cooperação. Sozinhos somos ainda mais
frágeis do que somos.
Três implicações significativas das ideias perigosas da evolução
Uma das mais significativas implicações para uma reflexão complexa e borrada
entre disciplinas é a de realizarmos a quebra do dogma moderno e iluminista da
noção central de Homo Universalis e sua derivação normativa nos estatutos dos
mesmos direitos.
Trata-se de uma matriz humana – narcisista, onde tendemos a
pensar que sozinhos dispomos de todos os recursos necessários para manter nossa
saúde. As implicações para a saúde e a vida é imensa. Por exemplo, quando
pensamos em micro-organismos que vivem em nosso corpo (e no mundo em geral)
pensamos em entidades patogênicas. Os seres malignos (a nós).
Assim, descobrimos
que não vivemos numa ilha fisiológica. Nosso microbioma é simbiogênico. Nossa
espécie deixou de ser apenas humana e se tornou simbiótica, produto de uma
aliança de longo agora integrada em cooperação com uma rede simbiótica, uma gama
imensa de micro organismos benéficos a nossa complexidade em evolução.
Em nosso
corpo, de cada 11 células, apenas uma é humana. A maioria das células humanas
(internas ao nosso corpo vital humano), não é realmente humana.
As células
bacterianas superam as humanas numa relação de 10 para 1 e não ameaçam nossa
saúde e são de vital importância para nossos processos fisiológicos básicos e
cada vez mais complexos. A evolução nos mostra que estamos corretos com a
perseguição de nossa hipótese simbiogênica, ou seja, nos seres humanos,
complexos acontecemos no mundo em redes de cooperação de longo prazo e além de
nós mesmos e juntos no ambiente em que acontecemos no mundo.
Não devemos
preocupar conosco apenas quando falamos de saúde e doença. Além do ambiente e
hábitos onde acontecemos, o nosso próprio corpo tem outros seres que como nós
acontecem junto quando acontecemos no mundo. Nós, humanos, somos parte de um
microbioma (híbrico, simbiótico) – mesmo não nascendo com ele. Mesmo que em
nossa infância ele não esteja nem sequer formado.
Começamos a compor essa rede
nos primeiros segundos após o nascimento (amamentação, contatos com familiares,
ambiente social geral...). Nos últimos dez anos, estamos desvelando a complexa
teia microfísica de nosso ecossistema microbiótico. Por exemplo, algumas das
bactérias benignas do nosso organismos contêm genes que codificam compostos
benéficos que o corpo não consegue produzir sozinho.
Assim, mudanças no bioma
microbiano intestinal contribui significativamente para o aumento das taxas de
doenças e do nosso equilíbrio biótico saudável. Sabemos, hoje que muitas doenças
crônicas ainda existentes são decorrências de uma bioenergia nutricional que
modelou nossos corpos desde o Paleolítico. nas sociedades modernas – entre elas
obesidade, hipertensão, doenças coronarianas e diabetes – seriam o resultado de
uma incompatibilidade entre padrões dietéticos modernos e o tipo de dieta que
nossa espécie desenvolveu para se alimentar como caçadores-coletores
pré-históricos.
Em síntese, a evolução nos obriga a enfrentar algumas certezas
“milenares” e a arrogância humanista tomada por uma visão deturpada do
micromundo. Sabemos que as Bacteróides fragilis vivem em 80% das pessoas no
planeta e ajudam a manter o sistema imune em equilíbrio.
Desde o vexame que os
racionalistas a-simbióticos tiveram com a publicação aberta da ciência do censo
dos genes microbianos em 2010, verificamos que apenas do sistema digestivo de
humanos existem 3,3 milhões de espécies – com assinatura de gene próprio cada
uma catalogada.
Todos nós humanos, compartilhamos um núcleo complementar básico
de genes bacterianos úteis, que podem provir de diferentes espécies e, pasmem,
significam hoje 99,9% do DNA. O extraordinário é que que os cientistas agora tem
que lidar com algo que significa 150 vezes os 20 a 25 mil genes catalogados do
genoma humano. Isso significa muito o quanto é imensa a nossa insignificância
solitária.
Descobrimos também a ontogênese no ecossistema onde a vida acontece é
vital para a espécie humana e suas singularidades, nem mesmo gêmeos idênticos
compartilham a mesma constituição microbiana.
Nosso sistema imune militar, de
combate a todo tipo de visitante a nossa rede, evoluiu simbioticamente em busca
de cooperação. Nossa rede de células humanas tornou-se minoritárias. Várias
funções que não podem ser exercidas pela modesta rede de células humanas
receberam novas cooperações.
Uma das maiores conquistas foi a da morte pelo
envelhecimento. Até a pouco, uma experiência raríssima para poucos membros de
cabelos brancos da espécime “humana”. A espécie pós-humana, cuja rede biótica é
amplamente e majoritariamente formada por células não humanas, mesmo num corpo
humano. Isso é recente na evolução. Uma das maiores conquistas foi a da morte
pelo envelhecimento. Poucas décadas atrás alguém com 40 anos não se parece em
nada com um simbiótico com 40 anos.
Muitas bactérias assumem atividades que
nossa limitada rede de células humanas jamais conseguiria dar conta sozinha.
Também essa revolução recente aconteceu primeiro lá embaixo, a nível celular.
Nosso sistema imune deixou de ser um militar que atirava em todos os estranhos
que acessavam a rede biótica e passou a interagir numa perspectiva maior de
cooperação de longo agora. Mas a consciência inata, biótica ainda não chegou na
consciência encefálica da ampla maioria dos simbióticos, que ainda são
cerebrais, cognitivos e predadores inteligentes.
Claro que a descobertas da
gestão e tratamento potável das águas ajudaram, a massificação de esgotos, o
tratamento adequado do leite para crianças pós-amamentação com a pasteurização
adequada, a anestesia. A lista é grande de tantas outras descobertas que
realizamos como: o coquetel Aids, a angioplastia, medicamentos contra malária,
RCP (reanimação cardiopulmonar), insulina, terapia de reidratação oral,
marca=passos, radiologia, refrigeração, cintos de segurança nos carros. Foram
fundamentais a descoberta do processo antibiótico, das agulhas bifurcadas,
cloração, pasteurização e fundamentalmente, o uso de sanitários/esgotos e até o
processo controverso das vacinas.
Alongamos a existência como nunca antes os
humanos tinham pensado, replicado em níveis nunca alçados no nossa história do
planeta de replicação de nossa espécie. Mas nada se compara com a recente
revolução micro celular que a inteligência inata realizou nos últimos anos,
alterando a dinâmica da competição militarizada do nosso sistema imune e
alargando com uma nova dinâmica de cooperação de longo agora o acesso a células
não humanas para dentro de nossa rede biótica. As alterações naturais do
processo de envelhecimento não afetam com a mesma intensidade todos os órgãos,
nem ao mesmo tempo. São vários fatores que interferem no processo, retardando ou
acelerando a senescência.
Entre os aspectos da involução senil temos: redução da
capacidade funcional, perda qualitativa e quantitativa de elementos celulares,
resultando em tecidos moles hipotofiados, desorganização do tecido conjuntivo,
redução da água corporal, levando a desidratação dos tecidos em geral e redução
do consumo de oxigênio. As fibras elásticas se rompem, as de colágeno se
desorganizam, ocorrem desordens do núcleo das células e em outros elementos
celulares.
A produção de proteínas, e de outros elementos importantes são
gradualmente paralisadas e as funções viscerais se tornam menos eficientes. As
glândulas endócrinas deixam de funcionar de forma harmoniosa, ocorrem
modificações nas paredes das artérias e veias, alterando a circulação sanguínea.
Normalmente se tem a percepção da chegada do envelhecimento a partir de mudanças
externas, relacionadas com a aparência. São cabelos brancos, rugas nos cantos
dos olhos e testa e pequenos sulcos ao redor da boca. Mas as alterações não
ocorrem somente na aparência, também nos órgãos internos ocorrem mudanças. Á
medida em que o tempo passa, o ser humano torna-se mais suscetível a doenças e o
organismo fica menos resistente ás condições ambientais.
É comum no andar do
processo de envelhecimento, ocorrer a diminuição da marcha, ou seja, alterações
no equilíbrio e uma tendência em que o caminhar fique mais lento parte devido ao
estado de pressão sofridos pelos discos da coluna. O sistema músculo esquelético
também é afetado pela perda da massa muscular e pela desmineralização na
estrutura óssea. Essas alterações podem comprometer a postura e o equilíbrio. Os
idosos perdem estatura, devido também ao retraimento das cartilagens vertebrais,
e parcial capacidade visual.
Felizmente estas mudanças são gradativas,
normalmente não acontecem de uma só vez. A partir dos quinze anos começamos a
perda neuronal encefálica e com trinta anos de idade, o cérebro começa a perder
peso, no início de forma lenta, e depois cada vez mais rapidamente. Aos noventa
anos o cérebro pode ter perdido até 10% de seu peso. Juntamente com a perda da
substância cerebral, pode ocorrer um retardamento gradativo das respostas,
principalmente as de reflexo, dificultando em muitas vezes as tarefas diárias.
Apesar de tudo isso, podemos recentemente observar que um simbiótico de 50 anos
em nada parece com um humano de 50 anos de poucas décadas atrás. Doenças do
envelhecimento apenas estão começando a serem conhecidas de modo menos
genéricas. Antes tudo era genericamente classificável. Com a transmutação
simbiótica enfrentar o envelhecimento apenas se preocupando com as células
humanas pela medicina humanista, tem tornado o enfrentamento da morte pelo
envelhecimento uma produção de idosos páreas semivivos a mercê de muitos
interesses de grandes conglomerados químicos não simbióticos. A visão da
evolução simbiogênica da vida tem nos levado também a revisar as reputações de
muitos micro organismos.
Por exemplo, a Helicobacter pylori. Recentemente
descobriu-se que se trata, na verdade, de um microrganismo comensal (benigno).
Sua ausência pode desregular a acidez do estômago, até facilitar a obesidade
(atua na grelina- hormônio da fome). Muitas bactérias espirais presentes no
ambiente ácido do estômago são conhecidas, pelo menos, sabemos isso desde 1875,
mas até pouco tempo ela foi considerada apenas um patógeno (provoca doenças).
Os
americanos – como sempre – apontaram suas armas e ela foi combatida com
antibióticos. Hoje, menos de 6% de jovens americanos apresentam testes positivos
de| Helicobacter pylori. A indústria fármaco está colonizada por princípios não
simbióticos. A indústria de alimentos também. Ao contrário, nosso conhecimento
sobre a vida é mais sobre a doença é mais antibiótico, do que simbiótico.
Quando
pensamos em investir em saúde, políticos e população em geral pensam em médicos
e hospitais. Nos hospitais onde reinam as doenças e os micro-organismos mais
perigosos a teia da vida humana em cooperação.
É lá que devemos evitar e se
deslocar para lá apenas para situações complexas e críticas. O saber da vida
deve ser socializado e distribuído entre farmacêuticos, agentes de saúde,
familiares, mídia, produtos domésticos, a indústria da saúde, etc.
Não devemos
reduzir a ciência da vida a disciplinas médicas ou de qualquer especialidade
perital segmentada e, deixar a sociedade fluir o saber e o conhecimento sobre a
vida, a saúde. Os médicos devem se deslocar para um conhecimento de nível mais
complexo. Quase tudo – em matéria de simbiótica (saúde da vida) pode ser
resolvido nessa frequências menos complexas e distribuindo conhecimentos antigos
e represados.
A segunda e significativa implicação da noção de evolução que
Darwin nos legou foi a de que não somos humanos, estávamos humanos, éramos
provisoriamente humanos. Toda espécie biológica é derivação do tempo em troca de
recursos com a natureza. Os humanos chegaram até aqui se envolvendo em uma
complexa simbiose de significativas trocas entre a natureza e recursos. Uma
outra significativa implicação desse novo diálogo complexo é a de, depois de
Darwin, a noção histórica de tempo não é mais monopólio da cultura dos humanos.
O tempo, agora, faz parte da natureza e da bionatureza.
Darwin, estranhamente
para muitos cientistas reducionistas, demonstrou que a natureza biológica em si
tem história, integrada ao ecossistema onde essa vida acontece. A noção de tempo
não é mais monopólio da cultura humanista. A vida tem história e se produz na
história. Os reducionistas modernos, com suas peritagens exatas e congeladas,
pressupõem que a vida natural não é uma geometria sedentária. Ela se movimenta,
recria-se, auto organiza sempre quando acontece junto no mundo natural. A
dicotomia, natureza e cultura, vida social e vida natural torna-se uma visão
simplificadora e reducionista que a modernidade nos legou. A natureza tem
temporalidade.
A própria natureza e não somente a cultura tem tempo, história.
Distinções artificiais entre matéria e vida perdem sentido. O mundo não é dado
como organizado (não existe uma ordem dada). É uma possibilidade. Leis e devir.
Percepção não é uma fotografia positiva da realidade: diagnóstico. Relatividade.
Princípio da incerteza. Matéria se expande (tempo mesmo na matéria). Matéria se
auto-organiza. O universo evolui e o simplificador tempo flecha seja como uma
flecha ascendente (evolução) e ou descendente: entropia (LIMA, 2007).
A
implicação metodológica para a ciência dessa complexidade da vida acontecendo
“online” num mundo em história permanente é imensa. Por exemplo, temos que dar
um adeus tardio à pretensão simplificadora de traçados racionais em busca de
exatidão congelada no tempo. Há um tempo não racionalizável nos quadrantes dessa
geometria.
Tentativas de mensurações reducionistas de uma matemática universal,
dada como acesso ao universo de uma ordem dada e objetiva (sem valoração
subjetiva, sem intencionalidade,...) diante de uma realidade geométrica dotada
de uma ordem dada a ser medida se esfumam diante de uma natureza que fica ali,
parada, sem tempo; a nosso dispor e pronta para ser medica, mensurada ou
descrita em espelhada exatidão.
O universo e o mundo natural não sendo dados
mais como organizados, capazes de serem capturados por representações
mecanicistas e construções reducionistas da realidade em porções cada vez
menores ou maiores, divididas em incontáveis parcelamentos e funções para
reduzir a matéria a poucos atributos, não ajudam a entender a complexidade do
real. Outra significativa implicação da ideia de evolução é a da ruptura de que
nosso corpo humano não é perfeito.
O culto naturalista. Da natureza em ordem e
perfeita. Assim, como produtos históricos de interação entre natureza e recursos
disponibilizados onde acontecemos, também não fomos projetados, a priori, para
funcionar durante muito tempo e agora estamos obrigando nosso corpo a continuar
em atividade muito depois de expirada a sua data de validade. Esse programa é
uterino. Está no painel de controle do DNA. Poucas fábricas de células troncos
são autorizadas a produzir até a morte novas células tais como eram fabricadas
no programa uterino. Enquanto nossa modesta consciência sinpática não coopera
com a inteligência inata, ao contrário, paralisa e a controla teremos que, nessa
transição, redesenhar o design humano da conquista longeva.
O corpo humano tem
grande beleza artística, mas, do ponto de vista da engenharia, é uma rede
complexa de ossos, músculos, tendões, válvulas e articulações que tem uma
analogia direta com as polias, bombas, alavancas e dobradiças das máquinas,...
(todas falíveis e datadas de operação). Por exemplo, uma das mais complicadas
façanhas da evolução é o nossa conquista ontogenética de ficarmos sobre os dois
pés. Nos tornamos imperiais no Planeta. Somos uma espécie única com tamanha
complexidade e adaptabilidade fisiológica. Até hoje, um dos momentos mais
significativos da aprendizagem de uma criança humana é quando ela, deixa de
engatinhar e entre tentativas e erros aprende a ficar sobre os dois pés:
torna-se um bípede.
No entanto, ser bípede, mesmo para os modernos humanos
(cerca de 200.000 anos atrás), não é da nossa natureza filogenética. É uma
conquista ontogenética da nossa adaptação à natureza onde acontecemos, mas é
também um problema. Os humanos ficaram de pé e adaptaram a postura bípede ereta
num projeto corporal complexo e somos os únicos entre os mamíferos (mesmo entre
os primatas).
Não há dúvida de que, ao ficarmos de pé sobre as patas traseiras,
promovemos o uso de novos instrumentos, aumentando significativamente a nossa
inteligência. Porém, os complexos processos fisiológicos da caminhada bípede
geram também uma série de problemas. Por exemplo, o andar humano.
Embora a
gravidade ajude, uma rede intrincada de tendões nos ajuda a conectar os órgãos à
coluna vertebral, impedindo-os de cair e de imprensar uns aos outros. Nossa
coluna vertebral teve que sofrer algumas adaptações: as vértebras inferiores
ficaram maiores para suportar a maior pressão vertical, e nossa coluna curvou-se
um pouco para nos impedir de cair para a frente.
No decorrer de um único dia, os
discos da parte inferior das costas são submetidos a pressões equivalentes a
várias toneladas por centímetro quadrado. Ao longo da vida, toda essa pressão
cobra o seu tributo. Muitas das enfermidades debilitantes e até fatais do
envelhecimento decorrem em parte de nossa locomoção bípede e da postura ereta.
Cada passo que damos coloca uma pressão extraordinária em nossos pés,
tornozelos, joelhos e costas – as estruturas que sustentam o peso de todo o
corpo acima delas. No decorrer de um único dia, os discos da parte inferior das
costas são submetidos a pressões equivalentes a várias toneladas por centímetro
quadrado. Ao longo da vida, toda essa pressão cobra o seu tributo, assim como o
uso repetitivo de nossas articulações e o esforço constante que a gravidade
impõe a nossos tecidos.
Quando jovens, nem sentimos suas imperfeições e, com o
tempo, desgastamo-nos e de alguma outra forma os problemas de saúde se tornam
mais comuns. A questão é como não ter tantos defeitos que nos deixarão ou nos
deixam relativamente incapazes em nossos últimos anos. Nossa espécie está
envelhecendo a passos rápidos e colocando novos desafios conquistados pelo
conhecimento da própria teia da vida. Com a conquista do envelhecimento, as
doenças não podem ser evitadas apenas com pequenas orientações de comportamento,
mas precisamos, então, de um novo design de cooperação corporal.
Nossos corpos
não foram projetados para durarem muito mais do que algumas poucas décadas. A
vida é um sistema aberto e que acontece num ambiente adequado a receber e manter
a vida, mas um rearranjo simples pode resolver problemas, mas criar outros. Na
verdade, muitos fornecedores de juventude em receitas gostariam de nos fazer
acreditar que os problemas médicos associados ao envelhecimento são culpa nossa,
decorrentes principalmente de nosso modo de vida decadente. É claro que qualquer
pessoa pode diminuir a duração de sua vida por comportamentos sedentários, má
alimentação, fumo,..., mas isso por si não é suficiente. Nenhuma intervenção
simples compensaria as inúmeras imperfeições espalhadas por toda a nossa
anatomia.
As ciências da vida, ao alterarem suas concepções não simbióticas da
natureza vital, vão conquistar rapidamente avanços incríveis que vão compensar
muitos dos defeitos de concepção contidos em todos nós.
Pensemos no olho e no
ouvido. A versão humana da visão é uma maravilha evolutiva. Com a idade, nossa
visão diminui à medida que o líquido protetor da córnea vai perdendo a
transparência, os músculos que controlam a abertura da íris e a focalização das
lentes atrofiam-se, a lente engrossa e amarela, reduz nossa precisão visual e a
percepção das cores. Algumas modificações anatômicas podem ajudar muito, e
podemos manter com alterações tecnológicas a preservação da audição dos idosos.
Podemos também criar sistemas mais precisos de visão e de audição que dos
humanos médios. Se os seres humanos tivessem sido feitos para durar mais,
seríamos diferentes. Para vivermos mais tempo, estamos cofabricando um corpo
simbiótico distinto dos que a natureza nos desenhou com seus discos abaulados,
ossos frágeis, quadris fraturados, ligamentos rompidos, veias varicosas,
catarata, perda da audição, hérnias e hemorroidas: a lista das mazelas corporais
que nos afligem à medida que envelhecemos é longa e muito familiar.
Estamos nos
dirigindo para a emergência de uma nova espécie simbiótica altamente duradoura
com partículas minúsculas dedicadas totalmente aos bilhões de esforços jeitosos
e cooperativos necessários para nos manter intactos e que nos farão experimentar
um estranhamento sobre o que conhecemos como existência ou sobre o que é o real
movido pela nossa atual singularidade humana.
Se informação não é conhecimento,
e se conhecimento não é sinônimo de sabedoria, não é preciso lembrar que essas
conquistas geram riscos, desafios éticos e sociais imensos que julgamos não
estarmos, ainda, à altura de enfrentá-los.
Temos, cada vez mais uma compreensão
da importância da simbiogênese, não apenas a demonstrada nas nossas interações
com os micro organismos (Margulis,xxx), mas um borramento amplo de fronteiras
entre o mundo físico, social e biológico, que, há décadas, Michel Foucault
demonstrou com a emergência do biopoder, da transubstancialização do poder-corpo
para o poder-vida.
Nossa hipótese da simbiogênêse social é que estamos – como
espécie - borrando uma passagem evolutiva da era simbiótica e não parabiótica.
No lugar de transformar o mundo nós vamos agora mudar o próprio ser em evolução.
Como disse antes: não somos humanos, estamos ainda apenas de consciência
sináptica dos humanos predadores, mas o futuro duradouro é do simbiótico e
estamos a caminhos acelerados nessa direção. Caminhamos aceleradamente, com a
manipulação molecular, para uma interação magnética de comunicação celular pré e
pós ulterina e vemos a passos largos, a saída da era neolítica, em que logramos
a tarefa de dominar nosso ambiente, para uma nova era da programação simbiótica.
As nossas próximas tarefas serão o domínio de nosso próprio corpo e dos
organismos vivos em geral. Não se faz programação simbiótica sem interfaces
simbióticas. Interfaces em cooperação com a vida numa longo agora.
A linguagem
da vida planetária é magnética e não radioativa, elétrica de condução
inorgânica. Isso já está demonstrado até por mecanismos elétricos e não
magnéticos que é a base da interface simbióticas e que não dominamos ainda.
Por
exemplo, o marca-passo tem sido utilizado com sucesso na medicina desde 1958.
Hoje, a taxa anual é da ordem de 400.000 implantes. O marca-passo tem sido
utilizado com sucesso na medicina desde 1958.
Hoje, a taxa anual é da ordem de
400.000 implantes (KEMPF, 1998). Outros dispositivos, já foram demonstrados em
diferentes experimentos e estão sendo também implantados no corpo humano ao
largo dos últimos anos. Por exemplo, eletrodos para fazer conexão elétrica à
espinha dorsal, de modo a estimular órgãos paralisados (utilizado em Larry
Flynt, o famoso editor da revista pornográfica Hustler, para recuperar sua
virilidade, após uma tentativa de assassinato que o deixou paraplégico) e o
incrível implante de olhos artificiais (na verdade, câmeras CCD ligadas a
processadores de imagens) para os cegos, projeto desenvolvido pelos
oftalmologistas norte-americanos John Wyatt e Joseph Rizzo. (LIMA, 2005).
Porém,
ainda são dispositivos de base bioeletrônicos, próbióticos, mas ainda não
magnéticos e muito menos de bases em interfaces simbióticas. Vamos precisar de
um novo corpo molar também simbiótico.
Nessa nova era de uma evolução borrada
entre os recursos orgânicos e os inorgânicos em cooperação com a vida estaremos
transferindo para as criaturas vivas e para as máquinas ou para matérias
inorgânicas parte das suas propriedades singulares, um borramento de uma nova
ecologia simbiótica. A vida inteligente está constituindo uma potente beta
natureza (seca, inorgânica) e gerando um novo recurso simbiótico com a alfa
natureza (úmida e orgânica).
São exatamente os recursos da ciência e da
tecnologia modelados por uma sociedade do conhecimento que estão nos impelindo
para entrar numa nova era da evolução. Estamos iniciando a embarcação de uma
nova era de interfaces simbióticas. (LIMA, 2005).
Nossa indicação final é que
não vivemos apenas uma nova convergência neurodigital, de amplificação cognitiva
ou uma nova emergência do pós-humano, ou pós-evolutiva, ao contrário, estamos
deixando para trás o humano demasiadamente humano e emergindo novos seres
simbióticos modelados por uma aceleração envolta de uma evolução simbiótica, uma
evolução geradora de seres bióticos mais duradouros numa nova ecologia
simbiótica, mais recursiva, ou seja, com novos e potentes recursos e sentidos
parabióticos.
Nos últimos anos, artistas como Stelarc se dedicaram à discussão
cultural e política da possibilidade de ultrapassar o humano através de radicais
intervenções cirúrgicas, de interfaces entre a carne e a eletrônica, ou ainda de
próteses robóticas para complementar ou expandir as potencialidades do corpo
biológico.
Mais que apenas antecipar profundas mudanças em nossa percepção, em
nossa concepção de mundo e na reorganização de nossos sistemas sociopolíticos,
esses pioneiros anteciparam transformações fundamentais em nossa própria
espécie. Essas transformações poderão inclusive alterar nossa herança genética e
reorientar o processo darwiniano de evolução.
Por fim: a ideia da Simbiogênese aplicada à reabilitação
Meus projetos de pesquisa acadêmicos ou industriais que coordenei com equipes
interdisciplinares operados sempre em simbiose com as redes sociais são
experimentais e demonstrativos e integram também o esforço de sistematização da
Teoria Biossocial da Simbiogênese com as tecnologias assistivas e de assistência
à vida.
Na nossa abordagem, priorizamos basicamente três grandes famílias de
relações simbióticas entre a vida humana e as máquinas, ou seja, symbios (que
acontece junto) e da amplificação dos recursos com interfaces diversas entre
corpo, máquinas e softwares e o ambiente onde a vida acontece. São elas: a
chamada muscular-motora, a sensória e a cognitiva.
E que a interação simbótica
dos dysplays podem e modelam a plasticidade das redes encefálicas. Imaginem: uma
tela de dysplay modelando o seu cérebro interiormente e alterando caminhos para
realizar processos e atividades lesadas seja pela formação, seja por aquisição.
Quando propus isso em minha tese de doutorado (2004) , os cientistas do cérebro
vinham como uma piada. Pouco se sabia de neurogênese (reduzida – na época ao
hipocampo, responsável pelas lembranças e reconstruções factuais da memória e
acontecimentos). A plasticidade da rede encefálica não era considerada.
Nem em
processos de reabilitação. Agora imaginem poder modelar as redes encefálicas e
reabilitar sinais e passagens de oxigênio com o simples só de micro ritmos
corporais, faces, braços e pernas com o uso de displays como o de computadores e
celulares. Depois 11 anos em demonstrações isso pode ser verificado. As telas e
os displays e seus velozes sinais em velocidades de um bilionésimo de segunda
interferem, borram com nossos sinais bio-elétricos-químicos que são muito, mais
muito mais lentos.
Hoje meus processos e protocolos de reabilitam estão sendo
usados em muitas partes do mundo e por muitos pacientes realizando reabilitações
neurais, micro motoras, cura da sialorreia e retorno de sinais corporais que
estavam desligados. Em 2008, o Google financiou discussões e experimentos que
converteram num importante e pouco conhecido seminário para verificar como o
cérebro humano se comporta quando um usuário usa os aplicativos do Google.
As
teses de remodelagem do cérebro foram aceitas e uma boa parte da discussão
neuronal e dos resultados de experimentos e dados foram sistematizados num
manuscrito chamado Ibrain: surving The tecnhological alteration of the modern
mind por Gary Small e Gigi Vorgan (2009).
Para saber um pouco dos resultados
dessas descobertas em português podem buscar em meu blog na internet
Depois de várias pesquisas e resultados surpreendentes de remodelagem das redes
neuris por pilotagens de telas com a cabeça, olhos, bocas,... na reconfiguração
da rede orgânica encefálica viva e de resultados surpreendes de reabilitação de
pacientes com lesões neurais severas criei um quadro básico para entendermos o
processo simbiogênico (cérebro-corpo-máquinas-ambiente) para identificar as
implicações orgânicas do processo quanto à escala do acoplamento. Uma primeira
escala – MOLAR: Macro acoplamento simples com interfaciamento de melhoramento
apenas clínico e reeducacional. O acoplamento molar não envolve intervenção
cirúrgica e não envolve programação microeletrônica (lasca de silício ou outro
dispositivo micro informacional como o infogene).
A segunda escala – MICRO:
Envolve acoplamentos com interface de programação microeletrônica (disparadores,
lascas de silício com chips miniaturizados...), ou seja, envolve acoplamento da
escala micro (não visível) e macrofísica (visível) numa simbiose simultânea.
A
terceira escala – MOLECULAR: É a escala do borramento da fronteira molecular,
abaixo do universo da microrrealidade. Entramos nas escalas de máquinas e
dispositivos nanométricos com interfacionamentos biomoleculares. Aqui
encontramos o borramento da fronteira da realidade seca inorgânica com a
realidade úmida – inorgânica.
As combinações entre os universos
nano-micro-molar-societal envolvem complexos sistemas de referências e
abordagens inter e transdiciplinares. Nos últimos dez anos, diversos cientistas
consolidaram de vez a certeza que nosso corpo humano não é uma ilha de
autossuficiência – por demonstrações – sabemos agora de vez que somos uma rede
social também no mundo orgânico e fisiológico. Enfim: descobrimos
definitivamente que não somos mais humanos! Darwin nos mudou para sempre quando
descobriu que os humanos não são humanos em si, mas apenas nos tornamos humanos.
A biologia, tal como a cultura, tem história. Estamos humanos e não somos
humanos. Evoluímos tanto nessas últimas décadas que médicos e clínicos que se
formaram antes dessa descoberta podem estar praticando procedimentos invasivos
muito mais ofensivos às nossas redes de cooperação do que do conflito das
doenças.
Essas práticas - mesmo produtivas nas suas consequêcias impositivas
destroem micro organismos benéficos, tecidos benéficos e – na maiorua das vezes
desnecessariamente -, colocam em risco nossa simbiose de longo prazo diariamente
em situações críticas à vida. Seus focos são direcionados para cuidar mais da
doença e de processos antibióticos do que próbióticos.
Claro que usar
antibióticos poderosos – arrasar toda massa biótica estranha e matar todos os
micro-organismos indiscriminadamente é o caminho mais fácil. Salvamos a vida,
mas o custo é alto na posterior reabilitação.
Ganhamos tempo na crise, mas
matamos muito da vida em longo prazo. Precisaremos de um novo modo de viver,
organizar, financiar e distribuir conhecimentos e recursos dignamente. De modo
muito mais evoluído que fizeram as velhas elites modernas até aqui. Precisamos
ir além, de todas as suas conquistas. Não voltar para traz com escravidões
disfarçadas de “desenvolvimentos” sustentáveis ou não e que lotam nossos portos
com seus contêineres.
Precisamos de uma civilização simbiogênica, que vive num
planeta simbiótico e, talvez, para isso, de novas elites e civilizações
socialmente mais evoluídas. Cada vez mais entendemos a importância para a
evolução simbiogênica das máquinas com as regiões cerebrais dos humanos, cada
vez menos só humanos.
Aprendemos quanto estamos equivocados e na direção certa
do nosso complexo processo do conhecimento e aprendizagem. Hoje, temos urgência
em entender profundamente a significância dessas modificações diante do gap
geracional e da atual desconexão dos sistemas educacionais que herdamos.
Que
venham novas abordagense novas práticas hibridas e que a simbiogênese de
Margulis possa ser efetivamente entendida por todos humanos: que não somos mais
humanos como pensávamos que éramos.
Somos simbióticos, ainda com consciência
sináptica dos predadores inteligentes em transição para uma efetiva civilização
simbiótica.
Referências
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2007.
DENNETT, Daniel. Darwin's Dangerous Idea: Evolution and the Meanings of
Life (Simon & Schuster; reprint edition 1996) (ISBN 0-684-82471-X)
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Philosophical Essays on Mind and Psychology (MIT Press 1981) (ISBN
0-262-54037-1)
KEMPF, Hervé. La Révolution Biolithique: Humains Artificiels et
Machines Animées. Paris: Albin Michel, 1998.
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teoria da sociedade simbiogênica contada em prosas. Porto Alegre: Escritos,
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LIMA, Gilson. Sociology in Complexity. Sociologias – V 1. PPGS/UFRGS, 2007
LUKASIEWICZ, Jan. Aristotle's Syllogistic from the Standpoint of Modern Formal
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Microcosmo. São Paulo: Cultrix, 2002.
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MARGULIS, Lynn; SAGAN, Dorion.
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SMALL, Gary; VORGAN,
Gigi. The tecnhologicgary; al alteration of the modern mind por Gary Small e
Gigi Vorgan. Nova York: HerperCollins Publischers, 2009.
STELARC. “Das
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existência remota”. Em D. Domingues (org.), A arte no século XXI: a humanização
das tecnologias. São Paulo: Ed. Unesp, 1997.
WRIGTH, Robert. O Animal Moral:
porque somos como somos: a nova ciência da psicologia evolutiva. Rio de Janeiro:
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ZADEH, A. Fuzzy Sets. Information and Control, 8:338 – 353, 1965.
Referências bibliográficas eletrônicas
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(19 de junho de 1946, Limassol, Chipre) é um artista performático cujas obras
concentram-se fortemente no futurismo e na extensão das capacidades do corpo
humano. http://stelarc.org/_.swf (última visita 14/08/2015).
LIMA, Gilson.
Encontro com Daniel Dennet. Reinventando o universo do humano com a ciência em
ação.
http://glolima.blogspot.com.br/2010/11/encontro-com-daniel-dennet-reinventando_28.html
(última visita 14/08/2015).
LIMA, Gilson. Vídeo que mostra coordenei um
experimento onde batemos o record de 512 passos sequenciais com um paciente
tetraplégico num exoesqueleto não robótico. Mapeamos também o consumo de
oxigênio-energia no trajeto.
http://glolima.blogspot.com.br/2011/07/exoesqueleto-para-alem-da-cadeira-de.html
(última visita 14/08/2015).
LIMA, Gilson. Tese de Doutorado: A Reconstrução da
Realidade com a Informação Digital: a emergência da dupla competência
sociológica. (UFRGS, 2004).
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4226/000453996.pdf?sequence=1
(última visita 14/08/2015).
LIMA, Gilson. Seu Cérebro no Google. A nossa
hipótese de pesquisas com usos de computadores e outras atividades online é que
esses usos – cada vez mais intensos - causam alterações rápidas e mensuráveis
para um circuito neural do cérebro, particularmente, em pessoas sem prévia
experiência com computador.
http://glolima.blogspot.com.br/2012/12/seu-cerebro-no-google.html (última visita
14/08/2015).
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