Gilson Lima[1]
O chão escorreg
Foi Thomas Kuhn que populariz
Assim, por paradigma entendemos um modelo padrão de concepção de mundo
compartilhado por uma determinada comunidade científica. Newton, por exemplo,
consolid
No paradigma cartesiano-newtoniano, existem conceitos fundamentais como por exemplo:
Quanto ao paradigma da complexidade, tudo parece ter começado efetivamente em 1911 com um russo Bel
Para o paradigma da complexidade
O paradigma da complexidade traz conceitos que permitem explicar a gravitação quântica e a relatividade integrada na historicidade. Usa-se de demonstrações de modelos matemáticos não lineares e das interações nucleares fortes e fracas. Inseparabilidade do sujeito objeto, da ideia da matéria integrada à consciência organizada.
Atratores => forças de atração, relações de atração ascendente = organização óAuto-organização: estruturação sem estrutura ó forças de repulsão (dissipação) => entropia => descendente. Também encontramos a própria historicidade no interior do paradigma, historicidade essa que é rejeitada pelo paradigma cartesiano-newtoniano, por exemplo, no compartilhamento de que a própria matéria se expande e se contrai.
Assim, na concepção de um paradigma afirmam-se conceitos fundamentais e
categorias compartilhadas pela comunidade científica em questão. Um paradigma
inclui e exclui categorias e processos que efetivam uma concepção de mundo onde
as suas categorias chaves geram deduções e induções teóricas. Nessa
perspectiva, o referencial teórico está implicado em um paradigma seja de modo
consciente
As mudanças de paradigmas na história são também dizem respeito ao
exercício de poder. A transição de um paradigma para
Precisamente porque em períodos de transição paradigmática vivemos mais
intensamente um estado de turbulência, onde as vibrações do novo paradigma
repercutem-se desigualmente nas várias regiões do paradigma dominante e vigente
e por isso os sinais do futuro são ambíguos.
Nas fases de transição e de revolução científica, encontramos muita
insegurança onde a nossa reflexão epistemológica torna-se muito mais avançada e
sofisticada do que a nossa prática científica. Hoje, nenhum de nós pode neste
momento visualizar projetos concretos de investigação que correspondam
inteiramente ao paradigma emergente. É por isso que precisamente nos
encontramos numa fase de transição paradigmática.
Duvidamos suficientemente do passado para imaginarmos o futuro, mas
vivemos demasiadamente o presente para podermos realizar nele o futuro. Estamos
divididos, fragmentados entre o velho e o novo. Sabemo-nos a caminho do novo,
mas não exatamente onde nós estamos na jornada. A condição epistemológica da
ciência repercute-se na condição existencial dos cientistas. Afinal, se
todo o conhecimento é autoconhecimento, também todo o desconhecimento é
autodesconhecimento. (SANTOS, Boaventura de S
Vivemos uma crise de percepção do velho itinerário cartesiano-newtoniano
da mente. Percebe-se uma crise atual da
ciência. As facetas desta crise podem ser descritas resumidamente como uma
crise de percepção do mundo.
O paradigma cartesiano emerge com o heliocentrismo. Unifica as leis numa
única totalidade, sobretudo pela gravitação universal de Newton. Unifica a
percepção celeste e terrestre e geram uma nova percepção do mundo. Pra Descartes o mundo é estável, tem uma ordem implícita, as causas e os efeitos são produtos
de uma mesma ordem, porém, não tem no seu paradigma uma noção de tempo.
Os evolucionistas potencializam a
flecha ascendente, mas ela só vale para os seres vivos, para os sistemas vivos
e não físicos. Mais adiante, um cientista austríaco propõe a entropia, na
explicação científica. É a flecha descendente. Entropia é a desordem, o caos, a
desorganização que pode chegar até ao motor da destruição geral (fim do
universo). A complexidade lida com as duas flechas ascendente e a descendente.
Mais complexidade. Um vir a ser e não um ser estável, que na relação entre vir
a ser e deixar de vir possibilita um possível vir a ser como possibilidade de
vitória sobre a entropia. Evolução é mais complexa é a luta da evolução contra
a involução. Aqui temos a noção de tempo, que é simultaneamente relativo. No
universo cartesiano não tem tempo.
Então, a matéria se expande (vir a ser) tempo da matéria, mesmo momento
ela se desagrega (tempo de desagregação) e ao mesmo momento evolui a
consciência civilizadora cultural e social (tempo) é o tempo que organiza e media esta
complexidade orgânica e inorgânica.
A matéria se auto organiza. É uma nova percepção. Sistemas se
auto organizam no tempo. No paradigma moderno a organização está banida da
ciência. A partir dos anos 50 que os cientistas começam a falar da
auto-organização, inclusive do mundo físico.
A percepção sombiótica não é uma fotografia da realidade (positiva). A Percepção é a
excitação interativa de nosso mundo interno e externo, de meu espírito eletromagnético integrado na
imersão do fosforescente mundo vivo. Percepção é então a
captação dos centros de ação do modo pelo qual o universo evolui.
O universo está em movimento
ativo (a matéria se expande) a matéria tem tempo.
Segundo aspecto da crise do paradigma cartesiano então é a redução da explicação racional. A vida não permite ser capturada em um diagnóstico fotográfico da realidade.
A explicação deve buscar a
gênese (abordagem muito presente em Nietzsche: metodologia genealógica e também incorporada por F
Não se trata apenas de uma evolução baseada na flecha ascendente. Não pode ser necessariamente mal nem deterministicamente bom. Por isso não devemos ter diagnósticos fotográficos estáticos, mas compreensões interdisciplinares e interações mais complexas entre subjetivar e objetivar. Como a matéria se torna consciência integrada a inteligência inata (auto-organização) ela se mescla em cooperação de dois movimentos contraditórios e intrínsecos: uma flecha ascendente (vir a ser evolução) e uma flecha descendente (desagregadora, não vir e ser). Desta tensão nasce a sustentabilidade cuja auto organização. É uma nova compreensão da organização da matéria incorporando, inclusive, a entropia complexa, a flecha descendente sobre a ascendente que pode até levar a morte de uma estruturação complexa, da vida.
No universo, estruturação complexa está em expansão, evolução e dissipação e o mesmo deve ser integrado à evolução humana e a cultura civilizadora. Para isso se faz necessário ter a compreensão da gêneseno devir que se auto organiza e não se submeter ao velho determinismo da casualidade e do destino finalista:
X => Y (x determina y).
Um terceiro aspecto da crise do paradigma moderno é o questionamento do princípio da separabilidade proposto na regra cartesiana. A matéria expande, não linearmente, mas de modo caótico integrado a múltiplas realidades simultâneas ordem e desordem. O que é ordem numa dimensão singular é desordem noutra. O pior é que se negam e estão cada uma em sua singularidade corretas. O pior ainda é que as multidimensionalodades das realidades singulares ocorrem simultaneamente.
Para o paradigma cartesiano tanto do positivismo e até mesmo do racionalismo de Bachelard, de Einstein, de Heisenberg e Niels Bohr a ordem no universo, na natureza era dada. Estava lá para ser conhecida matematicamente.
Agora estamos descobrindo que os sábios antigos do oriente, bem antes da hegemonia do paradigma cartesiano, estavam muito mais próximos da complexidade do mundo, pois já tinham a visão de que a natureza é caótica, de quer o universo brotava da desordem que borram frobteiras dimensionais e que o Universo e a matéria se auto organiza.
A não separabilidade com a visão do esfacelamento do big bang se
intensific
No entanto, a complexidade afirma que junto com a divisão e o esfacelamento da grande explosão tivemos, sobretudo, a auto-organização produtiva da matéria gerando estrelas, planetas, constelações e onde ondas se integraram gerando energia como a energia solar (estrelar) tão importante para os sistemas vivos na terra que enfrentaram a radiação. A relação matéria e energia tem uma dispersão e auto-organização e tornam-se assim holística.
O holismo simbiótico no paradigma da complexidade integra natureza, não existe meeio ambiente. Não tem ambiente pela metade, nem para destruí-lo, nem para sustentá-lo. A vida está imersa nele. Num Planeta vivo. A vida não pode mais ser vista de modo separada, objetiva (inseparabilidade: tecnologia, vida, cultura e natureza) e como um sistema auto organizativo com entropia – dispersão, mas impossível de separarmos e isolarmos como pretendia o cartesianismo. Não há variáveis isoladas na complexidade.
Como ilustra Wigner em seu exemplo: “ate a medição da curvatura do espaço causada por uma partícula não pode ser levada a cabo sem criar novos campos que são bilhões de vezes maiores que o campo sob investigação”.[2]
Assim, também a própria consciência lenta, racional é matéria transformada onde a noção de totalidade é menor que a soma das partes, pois não se reduz em saber e em conhecer e analisar a matéria e o objeto visual apenas, mas em complexidade de auto organização e auto compreensão da inata, de uma inteligência imersa na vibração magnética. Não reduzida a lógica, maquinica, conputável linearmente.
Assim também como nos diz, Penroese a mente não física, deve ser inseparável da mente física para entendermos a consciência e a complexidade. Eu diria a mente não física deve ser inseparável da mente fisica e energia da vida, simbiótica.
Nenhuma variável é separada da
Não podemos reduzirmos variáveis isoladas de linhas e colunas geométricas. O pensamento é um sistema complexo de vir a ser não separado da auto organização da matéria e da energia mental viva produzida por seus processos corporais ondulatórios subjacentes.
Pensar é exercitar trocas de cooperação em auto organização produtiva do pensamento e também integrado no mundo e na natureza quando acontecemos no mundo.
As ondas captadas pela matéria cerebral centralizada permitem interpretar e auto organizar uma pequena parte ée muito lenta da realidade pela consciência também muitos mais lenta ainda. Isto implica que o vir a ser da auto organização da vida ibteligente não é separado da matéria cerebral e dos campos magnéticos fractais operando simultaneamente em todo corpo.
Diferente da distinção cartesiana mente e matéria nem mesmo a linguagem não inata pode ser separada das partículas e corpúsculos de ondas e biofótons geradores de consciência cerebral. Ele é apenas uma camada lenta até mesmo do processo mental.
O cérebro é matéria formada por ondas que pela complexidade auto organizada dessa mesma matéria e magnetismo torna-se consciência de raciocínios de um fluxo material muito lento. O cérebro mental deriva da matéria vibracional que se auto organiza também em consciência. É uma gênese complexa do processo organizacional, mas um órgão central tem suas limitacoes frente a inteligência inata fractal.
Hoje falamos em biofótons dentro da nossa circulação sanguínea (matéria organizada), dentro do núcleo do DNA em centenas de trilhões deles simultaneamente operando em nosso corpo entre processos simultâneos cooperados em localizados e não localizados fractalmente operados.
O pensamento implica na produção intensa de biofótons cuja auto produção é intensificada e acelerada com consumo maior de fótons que vibram. É matéria auto organizada que se interliga a proteínas que conduzem os impulsos magnéticos que encontramos também nos neurônios. Esse processo gera micro voltagens.
Intervenção externa => REPOUSO => Ação <= intervenção interna => Ação
A eletricidade orgânica é lenta e é apenas o veículo e um veículo antibiótico, radioativo envolve (rep
Mas para o cérebro cartesiano a matéria inexiste. É tomado por um poder entrópico, ele é dual: corpo separado da mente. Assim, a micro voltagem do pensamento não é resultado da matéria. Nem consome energia.
Um outro aspecto da crise é a crise do sujeito e da posição do sujeito na observação e explicação do mundo. A explicação sistêmica da matéria em termos de atrator (atração) + entropia (dispersão). A energia é continuada e requer trocas nucleadas até a criação de sistemas complexos (auto organização produtiva).
Isto só é possível se não mantermos o sujeito fora do objeto. O vir a ser do objeto é também do sujeito integrado emitindo suas micro ondas vivracionais. O sujeito não é uma fabricação subjetiva, por exemplo, nas sociedades contemporâneas de hoje ou insistem em impor exógena um mercado como um sujeito e como uma variável independente proveniente do mundo físico sobre o a vida social ou um Estado como um não mercado sem ação social implícita de interações de sujeitos e custos.
O próprio Werner Heisenberg, demonstrou com seu significativo
Princípio
da Incerteza que comentaremos a seguir. Com esse princípio,
portanto, assumimos a existência da interferência estruturante do sujeito no
objeto observado e possui implicações de vulto. Há muita coisa a discutir no
tocante à evolução da ciência. Salientemos, apenas, que ela, frente à
mensuração deix
Isso se pode confirmar considerando alguns exemplos interessantes, que apresentamos logo a seguir:
1) O princípio da incerteza.
Como já comentamos rapidamente acima, Werner Heisenberg é nos apresenta um dos
mais significativos pela ilustração do Princípio
da Incerteza: não se podem reduzir simultaneamente os erros da medição da
velocidade e da posição das partículas; o que for feito para reduzir o erro de
uma das medições aumenta o erro da
Este princípio e, portanto, a demonstração da interferência estrutural
do sujeito no objeto observado, tem implicações de vulto. Por um lado, sendo
estruturalmente limitado o
2) O observador interfere na
realidade em observação. Niels Bohr indic
Assim, Heisenberg e Bohr demonstram que não é possível observar
3) O dilema da incompletude formal. A demonstração e indagações da incompletude formal pelo teorema de Gödel (1906-78)[3] enquadram-se entre as mais notáveis realizações da história da cultura, com repercussões em todas as manifestações do saber e mudando os próprios paradigmas da lógica, da matemática, da teoria da informação e do pensamento científico em geral.
Com a incompletude formal, o
próprio
É isso o que sucede com as investigações de Gödel e seu teorema da incompletude demonstrando a impossibilidade de: em certas circunstâncias, encontrar dentro de um dado sistema formal a prova da sua consistência vieram mostrar que, mesmo seguindo à risca as regras da lógica matemática, é possível formular proposições indecidíveis, proposições que se não podem demonstrar nem refutar, sendo que uma dessas proposições é precisamente a que postula o caráter não-contraditório do sistema[4].
A matematica cica problemas que não podem nem sequer ser resolvidos matematicamente. Imagine então os problemas snalógicos, não racionais.
Se as leis modernas da natureza
fundamentam o seu
A própria
filosofia da matemática tem vindo a problematizar criativamente estes temas e
reconhece hoje que o
4) A crise da estrutura simétrica e estática e a constatação da natureza
dissipativa das estruturas. As descobertas e investigações do bioquímico
Ilya P
Esta transformação irreversível e termodinâmica é o resultado da interação de processos microscópicos segundo uma lógica de auto-organização numa situação de não-equilíbrio. Não existe equilíbrio na complexidade, não existe estrutura em si, encontramos uma estruturação sem estrutura. A complexidade descarta tanto o acaso determinístico como o determinismo da objetividade, classificando as mutações como processos aleatórios estocásticos (não-predizíveis, indeterminísticos, criativos e novos). Nestes termos, os processos envolvidos nos sistemas vivos não resultam de uma casualidade cega, mas de uma causalidade criativa que permite aos sistemas vivos se autocriarem e se automultiplicarem.
A matéria já não é vista como algo estático
— moléculas inertes governadas por puxões e empurrões, a matéria é vista
como alguma coisa ativa e viva. A situação de
bifurcação,
A importância desta teoria
está na nova concepção da matéria e da natureza que propõe, uma concepção
dificilmente comparável com a que herdamos da física clássica. Como nos diz
Boaventura de S
Por causa de seus estudos em
bioquímica, o russo Ilya P
E o próprio P
Muitos críticos de P
Seus estudos estabeleceram vínculos essenciais entre a Física, a Química e
a Biologia, a sociologia, superando a dicotomia clássica entre vida e não-vida.
Nesse sentido, a Teoria da Estruturação, do
sociólogo inglês, Anthony Giddens, tem uma grande dívida com P
P
Concluindo, vemos então o entendimento de que os sistemas vivos caminham em direção contrária à entropia, tendo-se auto ordenado a partir da matéria inorgânica e de um estado caótico um estado de ordem não-linear, bem como preservam seu estado ordenado a despeito da entropia.
O argumento favorável à entropia diz que esta se aplica unicamente a
sistemas fechados, e os sistemas vivos são sistemas abertos, pois continuamente
trocam energia com o ambiente externo. Alguém poderia contra-argumentar em
favor da entropia, imaginando-se um exemplo de sistema fechado perfeito como
uma esfera hermeticamente fechada e intocável por vibrações, som, luz, campos
magnéticos, raios X,
A teoria das estruturas dissipativas demonstr
Toda a biosfera, aparentemente constituída de sistemas vivos
individualizados, funciona como um único sistema vivo, simultaneamente aberto e
fechado, conforme demonstr
Todos os sistemas do universo são unidades coletivas, níveis de organização
dentro de níveis de organização ad
infinitum. Assim, efetivamente, não existem sistemas exclusivamente abertos
Nós acrescentaríamos: um vir-a-ser continuo,
cuja estabilidade e perpetuidade são garantidas pelo próprio vir-a-ser, que o renova cíclica e
continuamente. Poder-se-ia comparar a ideia de Biocosmos como uma cascata: é a
contínua renovação de suas águas que lhe confere configuração, identidade e
existência. Como se vê, não existem fundamentos científicos para se encaixar
num quadro desses o conceito clássico da entropia irreversível, uma vez que sua
validade depende unicamente da existência de sistemas exclusivamente fechados.
De tudo isso, podemos deduzir que a entropia é um conceito inaplicável em nosso
universo. Hipoteticamente admissível e aplicável em algum
5) A relatividade de Einstein.
Albert Einstein, sustentou a convicção dele de que o Universo pode ser descrito
com a unificação de uma equação. Einstein descobriu a relatividade do tempo e a
relação entre matemática e energia eram ambas questões, para ele, o tema
primordial da física contemporânea e ele se dedic
Tal como n
Ao contrário da ciência aristotélica, a ciência moderna desconfia
sistematicamente das evidências da nossa experiência imediata. Tais evidências,
que estão na base do conhecimento vulgar, são ilusórias. Como bem salienta
Einstein no prefácio ao Diálogo sobre os
Grandes Sistemas do Mundo, Galileu esforça-se denodadamente por demonstrar
que a hipótese dos movimentos de rotação e de translação da Terra não é
refutada pelo fato de não observarmos quaisquer efeitos mecânicos desses
movimentos,
Por
Einstein, como um bom racionalista, ao contrário do que propôs Bacon,
não consider
Para Galileu, o livro da natureza está inscrito em caracteres geométricos:
"Se o termo 'entendimento', tomado na acepção de “intensivo”, significa a
compreensão intensiva, isto é, perfeita, de uma dada proposição, direi então
que o entendimento humano compreende algumas proposições tão perfeitamente e
alcança uma certeza tão absoluta quanto a própria natureza. Tal é o caso, por
exemplo, das proposições das ciências matemáticas puras, a saber, a geometria e
a aritmética; o intelecto divino conhece um número infinitamente maior, dado
que as conhece todas, mas, se o intelecto humano conhece p
Einstein não pensava de modo tão diferente. A admiração de Einstein por Galileu está bem patente no prefácio já citado em que ele escreveu para o Diálogo de Galileu. O modo radical como Einstein “vê” a natureza matemática da estrutura da matéria explica em parte a sua longa batalha sobre a interpretação da mecânica quântica (especialmente contra a interpretação de Copenhague).
Entretanto, o próprio Einstein constituiu uma grande fissura no paradigma da ciência moderna, uma fissura, aliás, mais importante do que o que Einstein teve grande dificuldade de admitir. Um dos pensamentos mais profundos de Einstein é o da relatividade da simultaneidade.
Einstein distingue entre a simultaneidade de acontecimentos presentes no mesmo lugar e a simultaneidade de acontecimentos distantes, em particular de acontecimentos separados por distâncias astronômicas. Em relação a estes últimos, o problema lógico a resolver é o seguinte: como é que o observador estabelece a ordem temporal de acontecimentos no espaço? Certamente por medições da velocidade da luz, partindo do pressuposto, que é fundamental na teoria de Einstein, de que não há na natureza velocidade superior à da luz.
No entanto, ao medir a velocidade numa direção única (de A a B), Einstein defronta-se com um círculo vicioso: a fim de determinar a simultaneidade dos acontecimentos distantes é necessário conhecer a velocidade; mas, para medir a velocidade, é necessário conhecer a simultaneidade dos acontecimentos. Com um golpe de gênio, Einstein rompe com este círculo, demonstrando que a simultaneidade de acontecimentos distantes não pode ser verificada, pode tão-só ser definida. É, portanto, arbitrária e daí que quando fazemos medições não possa haver contradições nos resultados uma vez que estes nos devolverão a simultaneidade que nós introduzimos por definição no sistema de medição.[11]
Esta teoria veio
revolucionar as nossas concepções de espaço e de tempo. Não havendo
simultaneidade universal, o tempo e o espaço absolutos de Newton deixam de
existir. Dois acontecimentos simultâneos num sistema de referência não são
simultâneos n
O caráter local das medições e, portanto, do
Todas elas têm uma vocação não dualista e algumas são especificamente orientadas para superar as incompatibilidades entre a mecânica quântica e a teoria da relatividade de Einstein. E como se nos tivéssemos lançado na aventura de conhecer os objetos mais distantes e diferentes de nós próprios, para, uma vez aí chegados, nos descobrirmos refletidos como num espelho. já no princípio da década de sessenta, e extrapolando a partir da mecânica quântica.
Eugene Wigner considerava que o inanimado não era uma qualidade diferente mas apenas um caso limite, que a distinção corpo/alma deixara de ter sentido e que a física e a psicologia acabariam por se fundir numa única ciência. [14] Hoje é possível ir muito além da mecânica quântica. Enquanto esta introduziu a consciência no ato do conhecimento, nós temos hoje de a introduzir no próprio objeto do conhecimento.
6) A teoria do Caos. A luz emerge através de chuvas de
partículas elementares como uma cascata que jorra em cima das borboletas geradoras
de caos. Assim, nasce a Teoria do Caos, principalmente, pelo esforço de um
matemático, Benoit Mandelbrot nascido na Polônia, em Varsóvia 1924. Mandelbrot
descobriu em suas pesquisas e observações, uma família de padrões que se torn
Existem também, fractais chamados de
não-lineares, nos quais a relação entre as partes e o todo pode mudar
dinamicamente. É o caso do conhecido conjunto
de Mandelbrot, que fic
Trata-se de
ligações insuspeitadas entre famílias inteiras de sistemas caóticos, isto
implic
Enfim, fractais são objetos cujas partes, ao ser ampliadas, reproduzem a do todo - é a chamada simetria de escala. A descrição desses objetos é feita por uma moderna teoria matemática conhecida como geometria fractal, que se opõe à tradicional geometria euclidiana, com seus objetos básicos, como linhas, curvas e retas. Objetos fractais têm aparências mais recortadas, irregulares, como as folhas de uma samambaia.
A palavra fractal foi criada pelo já citado matemático Mandelbrot .
Fractal deriva do verbo em latim frangere, traduzido como "quebrar,
fracionar", e do adjetivo fractus, "fragmentado". Formas
fractais também podem ser encontradas na natureza, embora não tenham uma
simetria de escala perfeita. São formas como as irregularidades da costa
marítima de um país
Segundo o velho Euclides, matemático grego que viveu dois milênios atrás,
existem figuras que não têm dimensão,
Os contornos das montanhas, a superfície dos pulmões humanos, a trajetória das gotículas de água quando penetram na terra - existe uma infinidade de fenômenos na natureza que não podem ser descritos por essa geometria toda certinha. É preciso apelar para complicados cálculos que resultam nas chamadas dimensões fracionárias — como a dimensão 0,5, por exemplo, típica de um objeto que é mais do que um simples ponto com dimensão zero, porém menos do que uma linha com dimensão 1. Só a chamada geometria dos fractais consegue descrevê-lo.
Os fractais não poderiam ter sido revelados de modo minucioso se não
fosse os computadores, mas na evolução dos computadores, os analógicos
representavam um beco sem saída. Computadores digitais, construídos a partir de
circuitos que podiam ser ligados
Existia um computador analógico pesada e empoeirado de Santa Cruz nos Estados Unidos, com um painel de madeira na fachada, como aqueles usados antigamente em mesas telefônicas. Programar um computador analógico era questão de conectar e desconectar fios. Ao conceber diversas combinações de circuitos, um programador simula sistemas de equações de modo a fazê-los adaptar-se perfeitamente a problemas de engenharia.
Um belo dia, um amigo astrofísico, William Burke, entreg
A tela de Shaw proporcionava uma maneira de criar diagramas abstratos de
comportamento dinâmico de longo prazo de qualquer sistema físico — uma bolinha
de gude imóvel no fundo de um buraco, um relógio de pêndulo balançando
monotonamente
Ao mesmo tempo, o estranho atrator revelava padrões inesperados. Era
sinônimo de desordem e imprevisibilidade mas, ainda assim, significava um novo
tipo de ordem no tumulto. Dois cientistas franceses, David Roelle e Floris
Takens, mais tarde dariam a esses padrões seu nome provocativo: estranhos
atratores. Shaw conhecia a nova linguagem da geometria fractal. No entanto,
muito tempo havia passado antes que ele, assim como
Assim, ele pass
A não-linearidade exigia cálculos mais difíceis. Era a mosca na sopa
previsível da Mecânica clássica. P
Shaw e seus colaboradores que foram se aproximando de suas observações precisavam fazer perguntas que pudessem ser respondidas e que valessem a pena ser respondida tentando isolar as qualidades especiais que tornavam dos estranhos atratores tão encantadores. A imprevisibilidade era uma delas — mas onde encontrar os calibres para medir tal qualidade
Para isso, Shaw acab
Na torneira pingando, tudo que existe é a solitária linha de dados. E
não é nem uma variação contínua de velocidade
Um físico que tentasse construir um modelo completo do problema da gota, formulando um conjunto de equações para depois tentar resolvê-las, acabaria numa encruzilhada sem fim. Uma alternativa seria esquecer a Física e observar apenas os dados, como se estivessem saindo de uma caixa-preta. Dada uma lista de números representando intervalos entre as gotas, será que um especialista em dinâmica caótica encontraria algo útil para dizer?
Na verdade, como foi comprovado mais tarde, podem-se conceber métodos para organizar esses dados dentro da Física e esses métodos se mostraram decisivos no que diz respeito à aplicação do caos a problemas do mundo real. Shaw, criou uma espécie de caricatura de um modelo físico completo. Ele fez um resumo rudimentar da Física das gotas, imaginando um peso que pendesse de uma mola. O peso aumenta constantemente. A mola estica e o peso desce cada vez mais. A certa altura, uma porção do peso se rompe. A quantidade que se desprendesse, Shaw supôs arbitrariamente, dependeria apenas da velocidade da queda do peso descendente quando atingisse o ponto de ruptura.
Então, naturalmente, o peso restante voltaria para a posição anterior,
como fazem as molas, com oscilações que estudantes aprendem a delinear usando
equações normais. A característica interessante do modelo - a única
característica interessante - era a torção não-linear que possibilita o
comportamento caótico. O tempo preciso de uma gota dependia do ritmo do fluxo,
é claro, mas dependia também de como a elasticidade desse saco de tensão
superficial interagia com o peso que aumentava constantemente. Se uma gota
iniciasse sua vida já em queda, ela se romperia mais cedo. Se acaso se formasse
quando sua superfície inferior estivesse subindo, poderia encher-se com um p
Enquanto isso, Shaw fazia suas equações e operava o computador analógico, produzindo uma torrente de dados imaginários, muito parecidos às gotas da torneira real. Mas, para ir além, Shaw necessitava de um modo de colher dados puros de qualquer experiência e trabalhar com equações e estranhos atratores que pudessem revelar padrões ocultos.
Com um sistema mais complicado, uma variável poderia ser graficamente
relacionada à
Se entre a gota número um e a gota número dois decorressem 150 milésimos
de segundo, e depois 150 milésimos de segundo decorressem entre a gota número dois
e a gota número três, ele marcava um ponto na posição 150-150. Era tudo que
havia a fazer. Se o gotejamento fosse regular, o gráfico seria apropriadamente
inerte. Cada ponto cairia no mesmo lugar. O gráfico seria um simples ponto. Ou
quase - na verdade, a primeira diferença entre a torneira pingando no
computador e a torneira real era que esta estava sujeita a distúrbios,
À medida que o fluxo aumentasse, o sistema passaria por uma mudança
repentina nas suas características. Então as gotas cairiam em pares repetidos. Um
intervalo poderia ser de 150 milésimos de segundo e o próximo, de 80. Assim, o gráfico
mostraria duas manchas indistintas, uma centrada em 150-80 e
O caos já ostentava a fama de ser mencionado a meia voz, mas p
Quanto mais se aproximava do mundo real da ciência, mais perto da
separação se encontrava. Assim, muitos cientistas passaram a procurar estranhos
atratores em bandeiras tremulantes e em velocímetros defeituosos, os cientistas
fizeram questão de detectar os sintomas do caos em toda a Física atual.
Peculiaridades
Hoje especialistas em finanças usam as técnicas desenvolvidas pelo grupo de Santa Cruz para analisar décadas de cotações diárias de bolsas de valores,buscando padrões que acreditam existir ali. Muitos fisiólogos acreditam agora que o caos proporciona um modo de prever - e talvez de tratar - ritmos irregulares no processo que governa a vida, desde a respiração até os batimentos cardíacos e até a função do cérebro. Em universidades do mundo todos, médicos comparam eletrocardiogramas humanos com dados de um modelo de computador de contrações cardíacas caóticas, numa tentativa de prever com bastante antecedência quando o órgão sofrerá um espasmo fatal.
Ecologistas usam a Matemática do caos para descobrir como, na ausência
de mudanças ambientais fortuitas, populações de espécies podem crescer
Mas o caos é também uma série de atitudes em relação à complexidade —
uma nova maneira de ver. Sente-se que estamos revertendo uma tendência
científica de analisar sistemas em termos de suas partes constituintes —
quarks, cromossomos
Não são p
Uma das positividades é a ideia de não-linearidade, a ideia de que nos sistemas complexos as funções não são lineares e, por isso, ao contrário do que ocorre nas funções lineares, uma pequena causa social pode produzir um grande efeito. Ora, como os indivíduos e as sociedades não podem produzir conseqüências senão através de causas e como estas, segundo as teorias do caos, não ocorrem na mesma escala dos seus efeitos, não é possível partir do pressuposto de que o controle das causas acarreta consigo o controle das conseqüências. Pelo contrário, a falta de controle sobre as conseqüências significa que as ações empreendidas como causas têm, não apenas as conseqüências intencionais (lineares) da ação, mas uma multiplicidade imprevisível (potencialmente infinita) de conseqüências. O controle das causas, sendo absoluto, é absolutamente precário. [17]
As teorias do caos contribuem, assim, para elucidar
o modo como a ciência moderna, transformada em recurso tecnológico de sistemas
sociais cada vez mais complexos, lev
A última grande tentativa de produzir uma teoria
crítica moderna c
O grande mérito de F
Depois de dois séculos de utopismo automático da ciência e da tecnologia, o princípio da prudência faz-nos uma dupla exigência. Por um lado, exige que, perante os limites da nossa capacidade de previsão, em comparação com o poder e a complexidade da práxis tecnológica, privilegiemos perscrutar as conseqüências negativas desta em detrimento das suas conseqüências positivas. Não deve ver-se nisto uma atitude pessimista e muito menos uma atitude reacionária. Uma das virtualidades do utopismo tecnológico é que, hoje, sabemos melhor aquilo que não queremos do que aquilo que queremos. Se a nossa capacidade de previsão é menos limitada a respeito das conseqüências negativas do que a respeito das conseqüências positivas, é de bom senso concentrarmos o conhecimento emancipatório nas conseqüências negativas. Isto implica assumir perante ela - e esta é a segunda exigência - uma certa “hermenêutica de suspeição”, como Ricoeur lhe chamaria as conseqüências negativas duvidosas, mas possíveis, devem ser tidas como certas.[20]
Segundo Boaventura de S
7) A teoria geral da recursão da computação abstrata (maquinas cognitivas). A teoria da recursão pode ser encarada de modo geral como a teoria
abstrata das máquinas computacionais (máquinas de Turing operada por
algoritmos), sendo os computadores com os quais estamos acostumados, os
produtos físicos que mais exemplificam a ideia de máquinas teóricas cognitiva
traduzidas em artefatos cognitivos operatórios. Um outro exemplo menos
conhecido é o dos autônomos finitos de Markov. Assim, da teoria geral e
abstrata da recursão podemos derivar vários resultados sobre os computadores
comuns e os artefatos robóticos
A teoria da recursão se refere a certas estruturas algébricas, mas hoje
foi estendida para abranger os sistemas lógicos e simbólicos complexos (especo
informacional) pelo processo de sintetização digital da realidade. Acreditamos
que com a emergência das maquinas computáveis cognitivas, surgem também quatro
grandes camadas imateriais de amplificação da realidade abstrata. É preciso
primeiramente afirmar de que a informação digital computada incorpora-se a uma
gama de múltiplos saberes envolvidos em simbiose e vinculados a suportes
infra estruturais sofisticados de
Hoje defendo uma quinta informática que evoluiu em simbiose ainda mais colaborativa com a vida: as interfaces simbióticas.
A representação e o tratamento da informação em simbiose com as máquinas
cognitivas, incluem e nos conduz hoje a uma imagem unificada em nódulos
informacionais complexos da cognição, inclusive por conexões não-clássicas, e
estabelece novos vínculos entre teoria da informação, matemática e análise
simbólica. Assim, exemplificando, em certas questões mesmo de matemática
qualificada e construtiva, deve-se recorrer a uma lógica divergente da
clássica,
8) Por fim, O eletromagnetismo do
quantum. Richard Feynman entre diagramas de partículas virtuais que se
levantam como notas de música da realidade, ger
Feynman, no entanto, fez mais do que isso. Recri
A teoria quântica ganh
Em dezembro de 1959, quando Feynman preferiu as visionárias palavras na
palestra "Há muito lugar no fundo" para seus colegas da Sociedade
Americana de Física, os computadores ainda eram geringonças que ocupavam metade
das salas em que eram colocados. Feynman falava em mexer átomos num tempo em
que ninguém sequer tinha visto um deles. Trinta anos depois, o sonho do físico
ganh
Richard Feynman (1918-1988), sugeriu, em 1981, criar supercomputadores que usariam os 36 estados quânticos do elétron como linguagem no lugar do tradicional idioma binário da Informática.
Assim, ainda no início dos anos 80, os cientistas começaram a alertar que a evolução dos computadores, da maneira como são construídos hoje, estava com os dias contados. O motivo era, e ainda é, a incrível transformação dos circuitos eletrônicos, que nos últimos trinta anos ficaram 3 milhões de vezes mais rápidos, enquanto os seus componentes básicos, que são os transistores, encolhiam na mesma proporção. Os primeiros transistores da década de 60 não eram menores que um grão de feijão, e os atuais já estão cem vezes menores que o diâmetro de um fio de cabelo.
Só que eles não podem diminuir muito mais. A miniaturização deve dar
mais um salto de cem vezes, nos próximos dez
Por isso, o novo modelo de processar informações está sendo chamado de computador "quântico", em referência à Mecânica Quântica, o ramo da Física que governa o comportamento dos átomos. Por enquanto, é quase tudo teoria. Ninguém sabe direito que estrutura a nova máquina vai ter. Mas os especialistas garantem que, se ela um dia chegar a operar. É que em vez de executar um cálculo por vez, como os computadores atuais, ela vai raciocinar em bloco, compondo verdadeiras sinfonias inteligentes. O que vai acontecer com os circuitos eletrônicos quando suas peças, de tanto diminuir de tamanho, virarem uma autêntica poeira de átomos? A ideia é produzir uma máquina superior, estupidamente mais rápida que as atuais.
O que aconteceria se pudéssemos mover átomos? É o que se perguntava
Feynman. Hoje os cientistas que os manipulam respondem: podemos construir
supercomputadores que caibam no bolso, gravar bibliotecas inteiras em
superfícies de centímetros quadrados, colocar micro sondas para fazer testes
sangüíneos dentro do corpo humano. Tudo isso ainda é suposição, previsão,
talvez sonho, no entanto, como Léon Lederman, laureado de Nobel e Diretor
Emeritus de Fermilab, gosta de mostrar, mais
que 25 por cento do total produto nacional da superpotência norte americana é
dependente em tecnologia de um modo
Por fim, cabe destacar que Feymnam foi um dos participantes importantes
do Projeto Manhattan do lado de Robert Oppenheimer, que chefi
PALAVRAS FINAIS
Estes são alguns exemplos paradoxais de nosso tempo. Finda a idade industrial da humanidade mas fica sua herança, suas teorias, seus fantasmas, suas cidades poluídas e decadentes, subproduto do combustível fóssil, fica também suas instituições e a mega herança da desigualdade social e da degradação do ecossistema ao mesmo tempo em que entra em estágio de putrefação o velho moderno modo de conhecer e produzir conhecimento.
Em síntese, os últimos desenvolvimentos na física e na biologia, alguns acima mencionados sinteticamente, parecem apontar na direção da unificação do saber e do conhecimento diante da complexidade, entendendo cada vez mais que todas as ciências são sociais. E que a dualidade simétrica, vida x corpo, matéria x espírito, são desprovidas de complexidade.
Assim, os avanços recentes da física e da biologia
põem em causa a distinção entre o orgânico e
o inorgânico, entre seres vivos e matéria inerte e mesmo entre o humano e o
não humano. As características da auto-organização, do metabolismo e da
auto-reprodução, antes consideradas específicas dos seres vivos, são hoje
atribuídas aos sistemas pré-celulares de moléculas. E, quer num quer n
Todas as recentes teorias científicas mencionadas
introduzem na matéria os conceitos de historicidade, de liberdade, de
autodeterminação e até de consciência que antes o homem e a mulher tinham
reservado para si. Isso implica uma nova
e ainda mais radical conclusão se o saber e a matéria estão intimamente ligados
na complexidade, então, as ciências naturais e as sociais estão também
interligadas, assim ,não existe a possibilidade de uma ciência não social e
como nos lembra Boaventura de S
Enfim existem paradigmas maiores e paradigmas menores. O paradigma
cartesiano vigor
No método 3, Edgar Morin nos fala em crise dos fundamentos seguros do
pensamento e da ciência, frente à construção de sistemas firmados - por estes
próprios fundamentos de base - que impedem a desconstrução generalizada
realizada pelos questionamentos relativizadores sobre todo o conhecimento.
Nesta nova e complexa percepção da estruturação sem estrutura, no lugar dos
fundamentos agora perdidos o próprio Einstein nos diz: retiraram nosso chão
sólido e visível sobre o qual pisamos, a matéria se integr
Até 1617, o paradigma astrológico
(aristotélico tomista) concebia um universo celeste perfeito. O paradigma
cartesiano - começando por Copérnico sistematizado por Descartes e modelado
teórica e matematicamente por Newton, sobretudo, pela confirmação da lei da
gravitação universal - propunha uma ruptura radical, a unificação do mundo
físico terrestre com o mundo cósmico/celeste. Isto implic
O paradigma cartesiano é uma ruptura muito radical com o paradigma astrológico. O mundo passa a vir a ser – flecha ascendente integrando matéria e energia (eletromagnetismo) buscando uma totalidade sistêmica sistêmica – ainda que mecânica e não complexa. O cérebro (mente) é separado do corpo e o sujeito é separado do objeto.
O paradigma da complexidade implica na indissociação do sujeito do objeto, da mente e da matéria, e de uma dimensão sistêmica que integre a flecha descendente com a ascendente. Não se trata de buscar o equilíbrio, nas estruturas dissipativas. O equilíbrio não existe na complexidade, seria a tensão absoluta entre o vir a ser e o não vir a ser. A auto organização é uma preponderância do vir a ser sobre a dissipação. A preponderância absoluta da dissipação é a morte de um sistema, sua destruição total.
Com o paradigma da complexidade podemos reinterpretar os clássicos das
ciências sociais e
A crise dos paradigmas gera também uma crise de poder. Francis Bacon já tinha nos alertado de que a senda que conduz o homem ao poder e a que
o conduz à ciência estão muito próximas, sendo quase a mesma. Geordano Bruno que o diga, foi uma vítima do poder da inquisição e
queimado vivo, entre
A ciência cartesiana é fonte de muito poder. A balística serviu a produção de projéteis, a criação dos computadores e a volumosos recursos de financiamento. Na ciência cartesiana, tecnologia e ciência se tornaram inseparável produzindo grandes descobertas e imensos recursos de financiamento de pesquisas.
As nações modernas, França, Espanha, Bélgica e Inglaterra para se
independizarem do poder Papal, imprimiram enormes volumes de dinheiros aos
cientistas e novos aventureiros do conhecimento moderno. Na Inglaterra temos o
exemplo bem visível da Real society que financi
A laiticidade e recusa do sagrado, separação dos poderes são princípios que marcaram profundamente o pensamento ocidental e não apenas a Revolução Francesa, bem como a figura do mecenas que financiavam intelectuais. Como afirmamos antes, no Brasil, este processo é bem diferente. O paradigma cartesiano emerge sobre a influência positivista e a ciência nasce extremamente dependente do Estado.
Em que sentido o paradigma complexo compõem um novo tipo de poder
O paradigma complexo impõe a integração do caos na organização e uma estrutura dissipativa descentralizada aberta à auto-organização produtiva. Também integra o sujeito ao objeto, o sujeito não está fora do mundo é reverberativo.
Independentemente de nós, o Universo se auto organizou antes de nós mesmo emergirmos como sistema vivo complexo. É necessária organização descentralizada e capaz de enfrentar a expressão mais radical da crise gerada pela pulsão arrasadora da dissipação, o que Edgar Morin chama de “motor selvagem”.
Segundo também Edgar Morin, no seu livro O Método tomo 1, vivemos numa desordem organizada, inclui no entanto a organização no próprio paradigma da ciência. Caminhamos em cima da turbulência da dissipação energética, da improbabilidade, da incerteza.[23]
Não podemos entender a alma sem a sua substância material e nem o corpo como substância própria separada da auto organização da matéria, pensamos ligados ao corpo e a consciência é também matéria complexa organizada.
O mesmo não podemos entender na complexidade a ideia do sujeito determinando e separado da ideia de objeto.
A complexidade não é um problema novo. O pensamento
humano sempre enfrent
A rigidez da lógica clássica pelo diálogo capaz de conceber noções ao mesmo tempo complementares e antagonistas, e completara o conhecimento da integração das partes em um rodo, pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes.
Ligará a explicação à compreensão, em todos os
fenômenos humanos. Vamos repetir aqui a diferença entre explicação e
compreensão. Explicar é considerar o objeto de conhecimento apenas como um
objeto e aplicar-lhe todos os meios objetivos de elucidação. De modo que há um
conhecimento explicativo que é objetivo, isto é, que considera os objetos dos
quais é preciso determinar as formas, as qualidades, as quantidades, e cujo
comportamento conhecemos pela causalidade mecânica e determinista. A
explicação, claro, é necessária à compreensão intelectual
Há um conhecimento que é compreensível e está
fundada sobre a comunicação e a empatia — simpatia, mesmo — intersubjetivas.
Assim, compreendo as lágrimas, o sorriso, o riso, o medo, a cólera, ao ver o ego alter como alter ego, por minha capacidade de experimentar os mesmos
sentimentos que ele. A partir daí, compreender comporta um processo de
identificação e de projeção de sujeito a sujeito. Vê-se uma criança em prantos,
v
O paradigma da moderna ciência em crise insere na ideia de mensuração e,
assim, na curiosa história da lógica. Vindo desde a criação da indução por
Aristóteles (384-322 a.C.), permaneceu praticamente imutável durante dois
milênios. Pensadores como Galileu Bacon, Mill e depois Kant (1724-1804) achavam
do ponto de vista essencial, em lógica, depois do grande filósofo grego muito p
O estudo da lógica e da metodologia restringia-se ao da inferência válida (algumas vezes incluindo também a inferência dita indutiva, não válida, porém possuindo certo caráter verossímil), de um prisma formal. Na inferência válida, de premissas verdadeiras chega-se, sempre, a conclusões verdadeiras. As regras da lógica, devidamente utilizadas, assegurariam isso. Portanto, vimos que a mensuração lógica está amarrada e se sustenta também com um pensamento lógico devotado ao raciocínio formalmente redutor.
Por exemplo, Newton, produziu sua síntese
mecanicista extraordinária acreditando que devemos buscar as proposições
inferidas por indução geral a partir dos fenômenos, e não por meio de
especulações hipotéticas. É enfático seu pronunciamento a esse respeito: ”Non fingo hypotheses”, isto é eu não
invento nenhuma dessas causas, que, sem dúvida, podem dar conta dos fenômenos,
mas que somente são verossímeis. Newton não admite
Para Newton, a argumentação indutiva não é uma demonstração
de conclusões gerais e está sujeita a exceções reveladas pelos fenômenos
constatados, pois tudo que não é deduzido dos fenômenos deve ser chamado uma
hipótese; e a hipótese, quer metafísicas ou físicas, quer de qualidades ocultas
Assim em vez de presumir hipóteses sem nenhuma comprovação experimental, é preciso consultar a própria natureza, realizar experimentos bem planejados e a partir daí investigar as causas que engendram os efeitos. A indução é, então, o melhor caminho de argumentação que a natureza das coisas admite, e pode ser considerada tanto mais forte quanto mais geral ela for comprovada.
De um modo geral os pensadores sociais não questionavam profundamente
essas premissas, divergiam sobre seu emprego mais analítico e dedutivo, mais
dialético
É claro que os fundacionistas da sociologia não compartilharam das
grandes mudanças científicas que vieram a ocorrer sobre esta tradição milenar.
Pois somente a partir da segunda metade do século 19 e durante todo o século 20
que isso veio ocorrer e os clássicos da sociologia não puderam
Hoje a mensuração lógica simétrica deix
A mensuração clássica é praticamente e estritamente lógica pura. O sociólogo pesquisador contemporâneo deve saber tratar de sistemas lógicos diversificados, de inúmeras e contraditórias conformidades de relevância intrínseca e de significados tocantes às aplicações sociais múltiplas em fundamentos condizentes com as teorias da informação.
Além disso, a pesquisa aplicada, não pode se voltar apenas para aplicações dos sistemas e métodos lógicos em
todas as áreas do conhecimento. É certo que existe determinada semelhança entre
algoritmos e problematizações sociais e entre informações em associações
analógicas e lógicas. Até mesmo em geometria não existe mais quem defenda uma
geometria pura, pois se estudam diversas estruturas geométricas: euclidiana,
riemaniana, finita etc. e na geometria aplicada volta-se para as estruturas com
ênfase em aplicações mais
Vivemos num tempo atônito que ao debruçar-se sobre
ele próprio descobrimos que os nossos pés são um cruzamento de sombras, sombras
que vêm do passado que ora pensamos já não sermos, ora pensamos não termos
ainda deixados de ser, sombras que vêm do futuro que ora pensamos já sermos,
ora pensamos nunca virmos a ser. Quando, ao procurarmos analisar a situação
presente das ciências no seu conjunto, olhamos para o passado, a primeira
imagem é talvez a de que os progressos científicos dos últimos trinta anos são
de tal ordem dramáticos que os séculos que nos precederam ‑ desde o século XVI,
onde todos nós, cientistas modernos, nascemos, até ao próprio século XIX ‑ não
são mais que uma pré‑história longínqua. Mas se fecharmos os olhos e os
voltarmos a abrir, verificamos com surpresa que os grandes cientistas que
estabeleceram e mapearam o campo teórico em que ainda hoje nos movemos viveram
No entanto, contraditoriamente, a ciência transfigur
Um dos maiores desafios da complexidade é romper com o saber disciplinar e violentar as fronteiras dicotômicas que separam as ciências naturais/ciências sociais. O novo paradigma da complexidade implica em emanciparmos dessa falsa dicotomia.
As próprias ciências sociais constituíram-se no
século XIX segundo os modelos de racionalidade das ciências naturais clássicas
e, assim, a égide das ciências sociais, afirmada sem mais, pode revelar-se
ilusória, contudo, que a constituição das ciências sociais teve lugar segundo
duas vertentes: uma mais diretamente vinculada à epistemologia e à metodologia
positivistas das ciências naturais, e
Para apreciar o pleno significado do movimento antifundacional nas
ciências sociais, é de suma importância às contribuições presentes nas obras de
F
É de amplo conhecimento nas ciências sociais, seguindo a concepção
também positivista do conhecimento científico, tom
Em resumo, à medida que as ciências naturais se aproximam das ciências sociais, estas se aproximam das humanidades. A revalorização dos estudos humanísticos acompanha a revalorização da racionalidade estético-expressiva das artes e da literatura que, juntamente com o princípio da comunidade, é uma representação inacabada da modernidade simples A superação da dicotomia ciências naturais/ciências sociais tende assim a revalorizar os “estudos humanísticos”. Mas esta revalorização não ocorrerá sem que as humanidades sejam, elas também, profundamente transformadas. O que há nelas de futuro é terem resistido à separação entre sujeito e objeto e entre natureza e cultura, e terem preferido a compreensão do mundo à manipulação do mundo. [29]
Além disso, quer resistam, quer sucumbam ao modelo cientista, os estudos humanísticos decidiram, de modo geral, ignorar as relações e os processos sociais responsáveis pela auto-atribuição da qualidade de autor, pelos critérios de inclusão na comunidade interpretativa, pela repartição do poder retórico entre diferentes argumentos, em suma, pela distribuição social das boas razões.
Há que recuperar esse núcleo genuíno e pô-lo ao
serviço de uma reflexão global sobre o mundo. O texto, sobre que sempre se
debruç
Esse processo está presente hoje em quase todos os campos do saber: em filosofia, em filosofia da ciência, em lingüística, em matemática (por exemplo, utilização de teoria de modelos em álgebra), em química, em biologia, em direito, em psicologia etc.
Todavia o que mais nos surpreende são as aplicações tecnológicas da
teoria da informação digital frente à mensuração científica da realidade.
Aplicações, exemplificando, a matemática das
Assim a história da clássica geração moderna da ciência evidencia e
comprova, pelo menos em linhas esquemáticas, os limites na mensuração do
raciocínio correto e lógico de natureza das próprias noções lógicas, das
conexões entre ela e a matemática, caráter eterno
O notável lógico e filósofo inglês A.N. Whitehead (1861-1947) afirmava que a mensuração reflexiva contemporânea estava para o pensamento tradicional assim como a matemática do século passado estava para a aritmética das tribos primitivas. Essa afirmação de Whitehead se mostra, em nossa época, como inteiramente justificável. Porém podemos verificar também que a mensuração lógica foi incorporada sem modificações críticas e operantes de relevância pelos fundacionistas da sociologia e da ciencia moderna na construção do próprio saber e que eles estão para o Século XXI tão próximos quando estão afastados da mutação científica que os procederam.
Para tomarmos consciência da profundidade da crise em que a ciência
social se encontra, faz-se necessário integrar sua crise específica com a crise
geral que fund
Estamos cada vez mais imersos na emergência de uma nova civilização complexa, a civilização simbiótica. Se os seres humanos tivessem sido feitos para durar mais, seríamos diferentes. A ciência da vida juntamente com a evolução simbiótica natural cooperativa de nossos corpos com bactérias benignas (quase a totalidade deles no planeta são) e com os vírus que muitos já compõem nosso DNA (25% é retrovírus incorporado), nos deram nas últimas décadas a espécie simbiótica e a conquista da morte pelo envelhecimento.
Agora para vivermos mais tempo e melhor, a simbiogênese social está permitindo co-fabricar um corpo simbiótico distinto dos que a natureza nos desenhou, com seus discos abaulados, ossos frágeis, quadris fraturados, ligamentos rompidos, veias varicosas, catarata, perda da audição, hérnias e hemorroidas: a lista das mazelas corporais que nos afligem à medida que envelhecemos é longa e muito familiar.
Estamos nos dirigindo para a emergência de uma nova espécie simbiótica altamente duradoura, com partículas minúsculas dedicadas totalmente aos bilhões de esforços jeitosos e cooperativos necessários para nos manter intactos e que nos farão experimentar um estranhamento sobre o que conhecemos como existência ou sobre o que é o real movido pela nossa atual singularidade humana.
Se informação não é conhecimento, e se conhecimento não é sinônimo de sabedoria, não é preciso lembrar que essas conquistas geram riscos, desafios éticos e sociais imensos que julgamos não estarmos, ainda, à altura de enfrentá-los.
Temos, cada vez mais, uma compreensão da importância da simbiogênese, não apenas a demonstrada nas nossas interações com os micro-organismos, mas um borramento amplo de fronteiras entre o mundo físico, social e biológico; uma transubstancialização do poder-corpo para o poder-vida.
Com o borramento e amplificação da simbiogênese microfísica com o universo macrofísico de nosso tecido social, construímos nossa hipótese da simbiogênêse social. Acreditamos que estamos – como espécie – borrando uma passagem evolutiva da era simbiótica e não parabiótica. No lugar de transformar o mundo, nós vamos agora mudar o próprio ser em evolução.
Assim, não somos humanos, estamos ainda apenas humanos, mas o futuro duradouro é do simbiótico, e estamos a passos acelerados nessa direção. Caminhamos aceleradamente, com a manipulação molecular, para a saída da era neolítica, em que logramos a tarefa de dominar nosso ambiente, para uma nova era da programação simbiótica. As nossas próximas tarefas serão o domínio de nosso próprio corpo e dos organismos vivos em geral.
Nessa nova era de uma evolução borrada entre os recursos orgânicos e os inorgânicos, em cooperação com a vida, estaremos transferindo para as criaturas vivas e para as máquinas ou para matérias inorgânicas parte das suas propriedades singulares, um borramento de uma nova ecologia simbiótica. Isso já está sendo demonstrado. Por exemplo, o marca-passo tem sido utilizado com sucesso na medicina desde 1958. [31]
Outros dispositivos já foram demonstrados em diferentes experimentos e estão sendo também implantados no corpo humano ao longo dos últimos anos. Por exemplo, eletrodos para fazer conexão elétrica à espinha dorsal, de modo a estimular órgãos paralisados (utilizado em Larry Flynt, o famoso editor da revista pornográfica Hustler, para recuperar sua virilidade, após uma tentativa de assassinato que o deixou paraplégico) e o incrível implante de olhos artificiais (na verdade, câmeras CCD ligadas a processadores de imagens) para os cegos, o projeto desenvolvido pelos oftalmologistas norte-americanos John Wyatt e Joseph Rizzo.
A vida tecnologicamente inteligente está constituindo uma potente beta natureza (seca, inorgânica) e gerando um novo recurso simbiótico com a alfa natureza (úmida e orgânica). São exatamente os recursos da ciência e da tecnologia modelados por uma sociedade do conhecimento que estão nos impelindo para entrar numa nova era da evolução. Estamos iniciando a embarcação de uma nova era simbiótica. [32]
Minha indicação final é que não vivemos apenas uma nova convergência neurodigital ou uma nova emergência do pós-humano, transhumano ou pós-evolutiva, ao contrário, estamos deixando para trás o humano demasiadamente humano e emergindo novos seres simbióticos modelados por uma aceleração envolta de uma evolução simbiótica, uma evolução geradora de seres bióticos mais duradouros, numa nova ecologia simbiótica, mais recursiva, ou seja, com novos e potentes recursos e sentidos para e pro bióticos.
Nos últimos anos, artistas como Stelarc [33] se dedicaram à discussão cultural e política da possibilidade de ultrapassar o humano, através de radicais intervenções cirúrgicas, de interfaces entre a carne e a eletrônica, ou, ainda, de próteses robóticas, para complementar ou expandir as potencialidades do corpo biológico. Mais do que apenas antecipar profundas mudanças em nossa percepção, em nossa concepção de mundo e na reorganização de nossos sistemas sociopolíticos, esses pioneiros anteciparam transformações fundamentais em nossa própria espécie. Essas transformações poderão, inclusive, alterar nosso código genético e reorientar o processo darwiniano de evolução.
No entanto, a simbiogênese enfrenta a visão reducionista da tecnologia inorgânica, em que a evolução é tecnocientífica, é assimbiótica, e, por consequência, o futuro pertence a entidades assimbióticas, sem vida, “andrógenos” ou a seres deuses, como postula outro israelense, Yuval Noal Harari. [34]
Para entender essa atrofia que paralisou a evolução científica, em detrimento da hiperevolução tecnológica nos últimos cinquenta anos, é preciso começar na gênese desse entroncamento e desvio de rota.
Isso permitirá, também, ao leitor entender porque minha tão marginal proposição social da simbiogênese ficou no âmbito de toda minha carreira científica de tornar pública a construção desse caminho frente às denúncias de atrofia das opções acadêmicas, científicas, no universo do poder-saber. Entenderão o quão marginal fiquei diante da capacidade de diálogo com a tecnociência que dominou completamente, principalmente, a partir dos anos 1980, e hegemonizando totalmente o conhecimento científico, a partir dos anos 1990, uma síntese de ciências cognitivas e suas sub-colônias disciplinares.
Tenho uma metáfora para explicar esse fenômeno da invasão da literatura técnico-científica e técnico-empresarial no universo das academias, universidades e no solo fértil da produção científica.
As titãs “ciências cognitivas” são como uma figueira (que aliás são árvores centenárias maravilhosas e muito poderosas, e sou grande admirador). As figueiras – geralmente com sementes trazidas por pássaros – germinam em uma árvore hospedeira e, bem aos poucos, vão se comportando como estranguladoras. Crescem se enroscando no caule da hospedeira, competindo com ela, sugando seus insumos e sua água; quando alcançam o solo, se enraízam, engrossam suas raízes, mostram toda sua força e, por cintamento, vão apertando, apertando, até sufocar e matar suas hospedeiras, dando vazão a seus domínios imperiais e centenários.
Da mesma forma, as ciências cognitivas, (que são muito mais técnico-ciências), facilitadas pelo imenso poder da computabilidade das máquinas cognitivas, foram enroscando e sufocando as ciências de base em todo o universo da produção acadêmica e “científica”, tornando quase a totalidade da ciência e das universidades uma agência da cognição.
Uma hegemonia que chega a ser assustadora. De todos os recursos disponibilizados para a pesquisa científica, em torno de 93% da verba é afunilada para as técnico-ciências cognitivas e suas sub-colônias disciplinares.
Por fim, mas não por final, a civilização simbiótica envolve sociedades que são holísticas; envolve sociedades que também dão respostas pró-bióticas; envolve sociedades que também transbordam em constantes fenômenos emergentes; envolve sociedades que são ecológicas, mas produtivas; envolve sociedades que também são tomadas pela consciência de energias espirituais, não dogmáticas e não reduzidas na matéria; e a civilização simbiótica envolve sociedades que também dialogam profunda e abertamente com a ciência.
Na esperança da cooperação humana: que venha a consciência
simbiótica.
[1] Cientista aposentado depois de décadas
de atuação independente sobre múltiplos campos da vida e da tecnologia na
complexidade. Criou a teoria não natural da simbiogênese cooperativa na
evolução cérebro, máquinas, corpos e sociedade. Foi por vários anos pesquisador
acadêmico e industrial coordenando bancadas de pesquisas de ciência de ponta,
tecnologia e protocolos de neurorreabilitação em diferentes cidades e diferentes
países principalmente, europeus.
Tem formação original humanística e foi voltando seus
estudos e pesquisas desde o início dos anos 90 para a abordagem da complexidade
nas metodologias informacionais, depois na nanotecnologia e nos últimos 15 anos
de carreira focou na neuroaprendizagem e reabilitação envolvendo a simbiogênese
e interfaces colaborativas entre cérebro, corpos e displays.
Inventor de várias tecnologias, softwares e protocolos
clínicos.
Escritor. Muitas de suas atividades e textos estão
disponíveis no blog: http://glolima.blogspot.com/
Atualmente retomou sua atividade como músico compositor,
cantor que atuava na adolescência produzindo atualmente suas canções e
coordenando a Banda Seu Kowalsky e os
Nômades de Pedra. Suas músicas e shows vídeos podem ser acessadas no canal
do youtube. https://www.youtube.com/c/seukowalskyeosnomadesdepedra
[2] WIGNER,
[3] Cf.
SANTOS, Boaventura de S
[4] O
impacto dos teoremas de Gõdel na filosofia da ciência tem sido diversamente
avaliado. Ver, por exemplo, LADRIÈRE, Jean. Lês
limites de la formalisation, in Piaget (org). Paris: Gallmard, 1967: 312 e
55; JONES, Roger. Physics as Metaphor. Nova
[5] SANTOS,
2000: 70.
[6] SANTOS,
2000: 70-71.
[7] WEBER,
Renée. Cientistas e Sábios. São
Paulo: Cultrix, 1988 224.
[8] EINSTEIN, Albert.
”Preface of Galileo”, in Easlea, Brian. Londres: Liberation and the Aims of Science. Londres: Chatto &
Windus: 1973: XIX.
[9] Idem.
[10] GALILEI,
Galileu. Diálogo dos Grandes sistemas
(primeira jornada). Lisboa: Publicações
Gradiva, 1979: 110.
[11] REICHENBACH, Hans. From Copernicus to Einstein. Nova
[12] WIGNER,
[13] Idem.
[14] Idem:
271.
[15] Cf.
SANTOS, 2000:69.
[16] Cf.
SANTOS, 2000:26.
[17] Cf.
SANTOS, 2000:79-80.
[18] Cf.
SANTOS, 2000:103-104.
[19] Cf.
SANTOS, 2000:26-27.
[20] RICOEUR,
Paul. Le Conflit des interprétations. Paris:
Seuil, 1969: 148-153.
[21] Cf.
SANTOS, 2000: 81.
[22] SANTOS,
2000: 89.
[23] MORIN, Edgar. . O método 1: a
natureza da natureza. Portugal :
Publicações Europa-América, LDA, 1987.
[24] ANDERY, Maria Amália et al. Para Compreender a Ciência. Rio de
Janeiro: Espaço e Tempo; São Paulo: Educ: 1988: 245.
[25] ANDERY, Maria Amália et al. Para
Compreender a Ciência. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo; São Paulo: Educ:
1988: 245-246.
[26] SANTOS,
2000: 92.
[27] Idem.
[28] KEKEMAN, SJ. Hermêutica e sociologia do conhecimento. Lisboa : Edições 70, 1986:235-236.
[29] Idem
[30] SANTOS,
2000: 89-94.
[31] Para
saber mais veja: KEMPF,
Hervé. La Révolution Biolithique:
Humains Artificiels et Machines Animées. Paris: Albin Michel, 1998.
[32] Para
saber mais veja: LIMA, Gilson. Nômades
de pedra: teoria da sociedade simbiogênica contada em prosas. Porto Alegre:
Escritos, 2005.
[33] http://stelarc.org/projects.php (última visita em: 28 de julho de 2020).
[34] Para
saber mais veja: HARARI, Yuval Noah. Homo
Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.