Diálogo da simbiogênese (Gilson Lima) com Suzana Herculano-Houzel
A mente, os
estados de mentitude estão envolvidos numa simbiose complexa com nosso
encéfalo[1].
Nosso
encéfalo é uma estrutura física complexa. É uma realidade biofísica que é
orgânica, molhada, úmida, não é uma realidade seca e morta. Quando está vivo e
em plena atividade (vitalidade) nosso encéfalo é também envolvido por uma
sofisticada rede elétrica de circuitos e de comunicação informacional e de
pensamentos que fluem numa velocidade impensável para nossos medidores atuais, apesar
de operar em baixa frequência medida em hertz, mas é também uma rede de
comunicação química e, o mais interessante não é um órgão estático.
Assim como no
Universo, muito do ingrediente básico da vitalidade de nosso encéfalo é a
energia, uma energia em constante movimento, gerando atividade elétrica. No
entanto, mesmo sendo a velocidade do pensamento atualmente imensurável, como disse: nosso
encéfalo produz um sinal eletromagnético razoavelmente de baixa frequência
medida em hertz num eletroencefalograma.
O mais forte dos sinais
eletromagnéticos do corpo humano é gerado pelo coração. A intensidade do sinal
do coração é 40 a 60 vezes mais intensa do que a do cérebro. O entanto a
simbiose energética em nossos estados de mentitude é bem complexa. Emoções
negativas como medo, frustração, raiva ou tensão diminuem intensamente a
coerências das ondas eletromagnéticas do coração. Isso faz com que o sistema
mente-corpo perca energia. Emoções positivas como amor, cuidado, compaixão e
estima, ao contrário, aumentam a sequência dessas ondas. O equilíbrio e o
desequilíbrio entre apenas esses dois subsistemas (encéfalo e coração) é
extremamente significante também para a geração das memórias de longo prazo.
Nosso
encéfalo nasce, cresce, desenvolve. Mesmo quando fisicamente passa de crescer,
não para de complexificar-se.[2]
Viver em estado permanente de embrião é termos sempre presente a deformação no
próprio embrião. Isso nos torna, ao mesmo tempo, fragilizados e potentes na escuta
do sensível diante dos atravessamentos do mundo. Os adultos são supostamente
pessoas acabadas, fechadas, construídas. Os adultos são tentados pelos jovens
com as suas imperfeições, com as suas irresponsabilidades e com as suas
capacidades de se aventurarem frente ao novo – até mesmo ao leviano.[3]
É na
metamorfose da forma – que tenciona mudar a própria forma – que encontramos o
segredo da escuta do sensível. Ao estarmos colados à nossa própria forma, o
mundo reduz-se e submetemos nosso viver a uma constante escassez de mundo.
Como o Cérebro aprende? Neurônios Espelhos?....
Reprodução (espelhamento) x Criação (insigth –
criatividade aplicada).
Estabelecendo conexões entre o plano da realidade micro
e macro.
Aqui sugiro
uma leitura do artigo sobre neurônios espelhos (como o cérebro aprende) e uma
leitura para problematizar os processos de criação de duas prosas de meu livro:
1) Por que o novo é novo (pagina 331-336) e, principalmente, o texto
Racionalização x Insigth (pgs. 303-324).
Como
nos diz, Penroese abordagem da mente indissociável e inseparável da sua
dimensão física é fundamental para entendermos a consciência e a complexidade.
Nenhuma variável é separada da outra. Nossos cérebros não são computadores.
Nossos biofótons se encontram em esboroamento de sistemas e não se reduzem a
variáveis isoladas. O pensamento é um sistema complexo não separado da
auto-organização da matéria, ou seja, a imaginação pensante não se reduz à
energia mental elétrica e mecânica produzida por seus processos de ligações e religações
ondulatórias subjacentes. Pensar é exercitar trocas e lutas em auto-organização
produtiva do pensamento também integrado no mundo e na natureza.
As
ondas captadas e radiadas pela matéria cerebral permitem interpretar e
auto-organizar a realidade pela consciência, isto implica que o vir a ser da
auto-organização não é separado da matéria cerebral. A linguagem não pode ser
separada das partículas e corpúsculos de ondas e biofótons geradores de
consciência. O cérebro é matéria formada por ondas que pela complexidade
auto-organizada dessa mesma matéria e espírito torna-se consciência. O cérebro
permite a matéria se auto organizar em consciência é uma gênese complexa do
processo organizacional (sociologia, ecologia, física,...).
Todavia, é
necessário estarmos atentos ao que nos lembra Baudrillard que o novo também
assume máscaras para se camuflar, de que vivemos num mundo onde cada vez mais
existe informação disponível e cada vez menos sentido[4].
Por que então uma forma se esconde? Camufla-se? O que a forma aprisiona? Aqui
se encontra um dos maiores desafios da imaginação criativa: liberar a vida e
não deixá-la ser novamente aprisionada, ensurdecida e cega – onde ela se
encontra escravizada; devolver a criação estética da existência e não apenas
enclausurar aprisionar a arte de viver em locais que expressam muito bem o que
nos lembrou o falecido músico e poeta Cazuza: “num museu de grandes novidades”.
Clausuras que querem nos retiram do espaço público efetivo e nos impõe a
convivermos em novas ou em velhas instituições de prisões, como shopping
centers, condomínios fechados, guetos e novas tribalizações plastificadas onde
multidões enchem “templos” de consumo em ajuntamentos protegidos dos reais e
efetivos ruídos e choros de um mundo industrial que ao mesmo tempo em que se
decompõe e precariza seu tecido social permite que de sua crise de realização
complexa não emerja o novo e que apenas nos impele a aderir e emoldurar o
“novo” em novos petrificadas
subjetividades que são muito artificialmente fabricadas.[5]
Enfim, para
preservar um estado de inacabamento embrionário, temos que romper a segurança
das fortalezas que nos aprisionam e reencontrarmos a significância da fraqueza
reveladora da força criadora. É preciso enfrentar, para isso um tipo específico
de gorda saúde cognitivista, conteudista, auto-suficiente, pronta, construída
que é uma doença que nos deixa cegos e surdos, ou seja, nos torna em seres
escassos dos ruídos do mundo.[6]
Se conseguires estabelecer pontes entre as duas
questões (aprendizagem –espelhamento e produção do conhecimento novo) seria
interessante. Caso encontre dificuldades, concentre no processo do espelhamento
e faça conexões com o livro do Cérebro em transformação.
[1] Importante: Falar em encéfalo em
vez de cérebro aqui é proposital, pois por um problema de tradução para o
português o encéfalo foi reduzido ao cérebro, deixando de lado assim quase um
terço do encéfalo que é composto também pelo cerebelo.
[2] Alguns neurocientistas defendem e
tentam demonstrar também o fenômeno da neurogênese. Trata-se da possibilidade
de mesmo quando adulto o encéfalo criar até mesmo novas células neuronais. Já
sabemos que os caminhos e os trajetos de conectividade especialista que
envolvem as intrincadas conexões neuronais podem ser alteradas, mas trata-se,
nesse caso, de uma idéia onde neurônios que padecem, possam ser também substituídos
pr novos, o que dotaria o encéfalo de ainda mais complexidade e os estados de
mentitude de um elevado e permanente estado embrionário.
[3] LIMA,Nômades de Pedra, 2005, 329.
[4] BAUDRILARD, Jean. Simulacro e Simulação. Lisboa: Relógio
d’ Água. 1991, p. 104.
[6] PALBEART, Peter Pál. A Vertigem por
um fio: políticas da subjetividade contemporânea. São Paulo: Iluminuras, 2000,
p. 63-65.