Gilson Lima
A Civilização moderna foi resetada.
O VÍRUS ACELEROU e O FUTURO NOS ESPERA EM 2022.
ESSE texto aqui ainda se encontra em revisão ortográfica formal - não de conteúdo.
O VÍRUS MUDOU A ECONOMIA, resetou. Adeus aos sistemas de algoritmos inquebrantáveis dos velhos nerds, dos robôs musicais de péssimo gosto e da programação de papagaios de repetição de procedimentos pautados por listagens de tela sem vida dos tele atendentes.
O surto pandêmico é vertiginoso de transformações e não apenas abala nossa percepção do tempo, mas também obscurece as referências do espaço. Precisamos decifrá-lo com a profundidade que ele merece.
Heidegger escreveu que os conhecimentos tecnológicos e científicos implicavam uma técnica de se fazer explícito o que seria implícito, interno, escondido, e que caberia à ciência e à filosofia trazer para fora o que estivesse encoberto, descobrindo - no sentido de trazer à luz os processos ocultos da natureza dessa esfinge - sua força e sua fraqueza. Essa não seria uma tarefa primordial para o pensamento complexo?
A situação parece crítica, mas quiçá segure firme na trava da vagoneta dessa montanha russa e tente se concentrar. Afinal, uma das vantagens de se estar suspenso no loop é que o sangue desce à cabeça, o que é ótimo para se pensar. Imagine que você é o Homem (ou a Mulher) Morcego, repousando e restaurando as energias, pendurado no teto da caverna, pronto para lutar contra as injustiças em meio às trevas da noite. Ou que “encontrou a luz” em uma sessão de ioga, meditando de ponta-cabeça.
Quem ainda fala em retomada da ECONOMIA não entendeu o que aconteceu. Ressetamos o mundo, agora não temos como retomá-lo. Na simbiogênese chamo isso de um salto quântico. Estou falando sobre isso há décadas para meus alunos. Que venham os simbióticos. Os simbióticos não serão programadores que querem adaptar a interface do cérebro aos seus sistemas lógicos inflexíveis, hierárquicos e com algoritmos gravados como se fossem uma pata de elefante que atolou em um drive.
O setor mais importante das empresas será o que era chamado de Recursos Humanos, que será, na verdade, o da reciclagem humana (esses processos tão desprezados pela tecnologia nerd). Serão os agentes principais por permitirem a dinâmica da velocidade analógica na tecnologia até ontem dominada pela dinâmica da computabilidade cognitivista.
Ser veloz logicamente é fácil, mas ser capaz - rápido e preciso analogicamente - de mudar, desprogramar e reprogramar o algorítimo em tempo real no próprio fluxo de navegação, isso é ser um simbiótico.
O que chamam de inteligência artificial é um retrocesso. É voltar para o fordismo acelerado nas telas. Os nerds da inteligência artificial são assimbióticos, primários. Eles são capazes de acelerar o velho mundo e deixar todos estressados como se fôssemos uma carroça correndo com cavalo atrás de um carro de fórmula 1.
Isso não é inteligência. Inteligência é sempre simbiótica. Saber fazer sistemas eficazes analogicamente. Viver para um simbiótico é improvisar. Sempre a favor da vida e não da velocidade do silício. Quando na vida consolidamos um aprendizado é porque mudamos naquela hora e em tempo real. Aprendemos quando mudamos e não quando nos automatizamos. Criamos quando alteramos o que fazia antes e não o repetimos. Melhorar o que está parado exige disciplina, mas não é nada tão complicado assim. Podemos melhorar o que fazemos. Quando mudo o que sabia antes eu crio em mim o novo. Não mudo quando consulto um algoritmo gravado morto num fluxo estático. Assim funciona a cabeça da logicidade do velho nerd programando. Os simbióticos não programam assim.
Seus
sistemas buscam fluxos ágeis de interfaces analógicas, com alta capacidade de
resiliência, flexibilidade, criatividade, onde cada novo tráfego é singular na
sua navegabilidade específica, no seu próprio fluxo. Como é difícil para um
velho nerd entender isso.
Não se trata aqui do velho dualismo ação individual x ação coletiva, mas uma modelagem complexa. Um pensar relacional. Síntese => retrodução《=》síntese (eventos e evidências como entidades processuais relacionais). Veremos isso mais adiante. Mais abaixo trataremos mais especificamente do princípio da retrodução.
O que importa aqui é que viemos de uma sociedade fordista que está sendo desmantelada.
O genial Henry Ford - apesar de massificar o motor de combustão - foi um dos últimos industriais a
pensar em um modelo de sociedade além dos muros de suas próprias fábricas.
Quando a Ford, em 1908, conseguiu criar um automóvel
para um consumo ampliado, o Ford T, ele foi produzido em uma velocidade espantosa pela
incipiente linha racional de trabalho rolante idealizada por ele.
“Você pode
escolher qualquer cor do Ford T, contanto que seja preta”. HENRY
FORD.
PRINCÍPIO BÁSICO DA LINHA DE PRODUÇÃO DO
SISTEMA FORDISTA: "Portare l'utente al sistema di lavoro" (Moldar o
usuário para o sistema de trabalho).
Há poucas décadas atrás, nas manifestações estudantis, viam-se 100.000 jovens todos vestidos iguais, com as mesmas calças jeans, gritando as mesmas palavras de ordem: “Povo unido jamais será vencido".
Era a realização da máxima fordista, da padronizante
sociedade industrial. O fordismo é praticamente um paradigma da sociedade
industrial moderna. Aliás, o horário comercial padrão; os deslocamentos de picos
nas grandes cidades; as grandes cidades que têm um terço do seu espaço dedicado
ao automóvel; a civilização que desloca bilhões de indivíduos cuspindo fogo e
envenenando com seus motores de combustão o ar para a vida no planeta em febre: Isso, meus
caros, foi o fordismo!
A micro informática – diferente dos velhos sistemas centralizados nos processamentos de especialistas – produziu o usuário amador e inverteu de algum modo as inferências fordistas. Ela fez aqueles mesmos 100.000 jovens vestidos iguais se aglutinarem, só que agora se vestem de formas diferentes, diversificados e com diferentes tribos que se fragmentam e gritam múltiplas e heterogêneas palavras de ordem ao som de variados gêneros musicais nas manifestações de rede.
Deu-se início ao processo de singularização. Uma caminhada a passos largos na direção de um consumo mais personalizado, que exige da produção uma criatividade contínua.
No entanto, os sistemas de informática e de gestão do mundo do trabalho continuam velhos, fordistas pendurados na eletrônica da automação sistemista e cognitivista.
Os
seres humanos se complexificaram, mas de um modo a construir uma sociedade de
indivíduos inaptos para resolverem os problemas coletivos complexos que eles
mesmos criam. Diferentemente das formigas, que, como fordistas, se comportam como
geniais agentes coletivos e profundas idiotas individuais, os humanos
informatizados estão se transformando em geniais agentes individualizados e
cada vez mais um profundo imbecil coletivo.
A
interface simbiótica mudará isso. Uma modelagem simbiótica rompe com esse dualismo. É como no
Jazz em que cada aprofundamento de agenciamento singular e improvisado do
artista com seu instrumento particular gera ao mesmo tempo mais individuação e
mais cooperação coletiva e vice-versa. Quanto mais agimos coletivamente, mais
possibilitamos a complexificação da singularidade, e quanto mais singularidade, maior é a cooperação da ação coletiva. Essa é a base da interface simbiogênica.
Assim
que a vida evoluiu. Assim que as células co-operam.
O
Covid-19 está provocando muitas mudanças na sociedade. Nunca se parou o planeta
como dessa vez. Reativá-lo no pós-pandemia será uma experiência única, pela
qual nunca passamos.
Como
será a economia que está sendo resetada?
1. Adeus à dependência das cadeias globais de suprimento e a
excessiva dependência da China. Isso provocará mudança na bússola do fornecimento e programação múltipla
de parceria de fornecimentos com ênfases regionalizadas e de produção local. A maneira como as cadeias de suprimentos globais
operam criou esta vulnerabilidade insólita. As empresas ficaram vulneráveis.
Dilema.
Mas,
para produzir localmente, as fábricas aqui vão precisar ser rápidas no giro do
reset, para responder ao novo ritmo da cadeia de produção chinesa, e isso deve
levar a um aumento do uso da tecnologia, criatividade e automação no país.
A literatura empresarial chama de indústria 4.0, mas, falando de modo mais complexo, as empresas terão que desmaterializar seus sistemas duros, vaporizá-los em fluxos simbióticos inteligentes, sistemas com interfaces mais resilientes, com capacidade de recuperar após um revés ou de superar situações de crise, adversidade ou infortúnio, mais flexíveis e ao mesmo tempo menos fragmentados.
Esses departamentos mecanicistas serão decapitados funcionalmente. Tudo será muito menos hierárquico, muito mais ágil, muito mais adaptável e elástico, vaporizado.
Falo aqui de uma sociedade simbiótica, de uma organização simbiótica que é muito mais complexa, quântica, multidensional, multidinâmica. Fazer um fluxo de vapor se tornar laminar numa torneira exige uma grande complexidade de detalhes. Agora, imagine esse fluxo recebendo micro furo. Isso gera uma dispersão que muda completamente o tráfego. Quando Zygmunt Bauman descreveu a sociedade líquida, eu disse que ele estava incorreto, e quase ninguém me ouviu. Eu demonstrei que o que estava vindo era mais radical, a era a energência simbiótica, uma evaporação da modernidade. Está publicado. (LIMA, Gilson: O Dilema de vivermos numa época que agoniza. UFRGS, 1999).
Isso é a emergência do novo: a interface simbiótica. Vejam o que escrevi na época:
A EVAPORAÇÃO DA MODERNIDADE
Salvador Dali: Criança
..."Imaginemos marinheiros que, em alto mar, estejam
modificando sua embarcação rudimentar, de forma w não podem colocar a embarcação no
seco para reconstruí-la desde o princípio. Durante seu trabalho permanecem no
velho barco e lutam contra violentas tormentas e ondas tempestuosas... (Otto
Neurath, Anti-Spengler)
Esse é o nosso novo destino. Com minhas próprias palavras, na época, 21
anos atrás:
... O desmanche, o sentimento de evaporação de nossas crenças em
nossa sociedade moderna, é cada vez mais visível. A crise em que nos encontramos
não é, como pensam alguns, uma crise interna da sociedade industrial, ou uma
crise de regime, em que alguns são a favor dele e outros são contra, em que
alguns são de direita e outros de esquerda. A crise que vivemos é maior do que
a implantação de diferentes regimes modernos. Trata-se de uma crise
civilizatória nunca antes enfrentada pela humanidade. Nossa principal crença: a
razão moderna, nossa armadura societal durante muito tempo, está se
desmanchando em algoritmos gravados, implantados em máquinas lógicas; está se
evaporando, se diluindo pelos ralos invisíveis de uma sociedade ao mesmo tempo
planetária, que se move por invisíveis ondas moleculares. Depois da explosão da
primeira bomba atômica e dos efeitos de sua capacidade destrutiva, inauguramos
um novo tempo, o tempo da desmaterialização. Vejamos rapidamente a expressão
societal dessa desmaterialização em quatro importantes processos distintos: da
vida, da economia, da informação e, por último, da política.
1. A
desmaterialização da vida humana
2. A
desmaterialização da economia
3. A
desmaterialização da informação e do ensino a economia
4. A
desmaterialização do poder e da política
Poucos entenderam.
Isso é algo que precisa estar na
mente dos construtores dos velhos algoritmos. O nerd é, nesse sentido, um conservador. Ele é rápido em produzir a lógica, mas, quando o processo é
analógico e complexo, ele não sai do chão.
Falava-se muito em transformação digital, mas, na prática, pouco se fazia de concreto. Porque o importante é a cultura da nova interface. Os chamados sistemas da terceira informática mantiveram algoritmos inflexíveis, com desconsideração sobre a agilidade do usuário.
A grande revolução será na vitalização dos sistemas, que serão muito mais que humanos, serão simbióticos. Os humanos são modernos demais para serem simbióticos.
Mesmo a automação deverá se moldar mais pela flexibilização, menos gravames e mais fluxos de nós mutantes em
redes. Os algoritmos serão compostos como uma dança e não como linhas e colunas
estáticas de organogramas geômetras rígidos.
Os velhos nerds terão muitas dificuldades para sobreviver no mundo, quando mudar um programa for a regra sempre que ele estiver sendo operado - um sistema que esteja pronto para esquecer, assim como o cérebro humano. Será uma mudança de arquitetura mental dos nerds.
Como
programar um programa cuja regra é estar sempre se desprogramando e reprogramando a si mesmo em tempo real
Um
princípio de produzir inferência para a programação simbiótica é baseado na
traição do cérebro lógico acostumado a pensar racionalmente, seja por indução, seja por dedução. É o princípio da ABDUÇÃO: uma técnica de apoio a adivinhação ainda não
verificável, mas com alta gama de fundamento de possibilidade. Temos a máxima de
Alfred
North: “Qual será o absurdo de agora que será a verdade de amanhã”.
Abduções se
apresentam diante de situações inusitadas, a mente só pode concluir oferecendo
hipóteses gerais. Uma abdução é um método de formar uma predição geral sem
nenhuma certeza positiva que ela se verificará. O melhor meio de operar a
ABDUÇÃO é pensar para trás, é o que chamo de RETRODUÇÃO.
O nosso
cérebro é bombardeado em cada segundo com inúmeros estímulos PARA pensar para a
frente. Principalmente os seres mais escolarizados, racionais. O que já sabemos é que, no nosso dia a dia, o nosso cérebro sempre calcula, continuamente, o que irá
vir a seguir-se (predição) e, como é o caso na maioria das vezes, acontece o
que foi previsto (o que é quase sempre o caso). Assim, o sucedido é registrado
como pouco importante e não continua a ser processado. É o PENSAR SEMPRE PARA A
FRENTE. Executar a passagem do pensamento através de um conceito específico,
sem mudança de informação e às vezes apenas com acréscimo descendente ou de
passagem reversa, ascendente. A base é a verificabilidade do que foi assim e
assim deverá ser.
Nós temos o
conhecimento implícito correspondente no cérebro (fica disponível para ser
utilizado). O cérebro não pode, sozinho, ocupar-se de todos os processos de
filtragem, ou seja, através do processamento de informação, que funciona «de
baixo para cima» (bottom-up-processes), não consegue reagir adequadamente a
estes estímulos. Também precisa gerir processos «de cima para baixo» (top-down
processes), para estruturar a afluência do material, para selecionar e
processar apenas o mais importante.
Então, pensar
por Abdução ou Retrodução, no fim das contas, não é senão conjectura, e, para
contribuir com o incremento de abduções, devemos assumir que a nossa mente quer
e deseja inferir e imaginar teorias corretas com hipóteses admissíveis, isso é
fundamental para nos dotar de capacidade de realizar abduções. Esse processo
chamo de RUMINAÇÃO.
Observamos isso também com uma criança aprendendo a ficar de pé. É divertido. Ela vai se segurando na mesa e cai. Depois faz a mesma coisa e cai novamente. Vai depois de novo e noutro dia de novo, segura errado na mesa, calcula mal e novamente cai de modo quase igual como caiu ontem.
A criança vai
aprendendo, fazendo e errando, errando muito. Aprender algo complexo implica
estar disposto a errar bastante e aprender com os erros. Nas escolas nos
ensinaram a acertar, não a aprender errando, que é o modo como aprendemos as
coisas mais difíceis.
Enquanto a
indução e a dedução são inferências utilizadas para explorar ou demonstrar
hipóteses provisórias, visando obter a compreensão "exata" do assunto, as
inferências abdutivas tratam-se mais diretamente da descoberta de conhecimento
novo.
Apesar de
nossa hábil habilidade abdutiva e analógica, nosso cérebro moderno, racional, escolarizado pelo treino da inferência racional indutiva e dedutiva, está
continuamente ocupado a fazer predições para nos orientar de forma antecipada para a frente. É o princípio da PREDIÇÃO que nosso cérebro faz com muita
velocidade e habilidade.
Imagine que você vá pegar um objeto. Algo bem simples. Uma xícara de café, por exemplo.
Quando eu pego em uma alça de uma xícara de café, o meu cérebro já antecipou a percepção do contato, talvez até o aroma do café e, possivelmente, o seu gosto. Quando tudo acontece como previsto, beber um gole de café e pousar a mão na alça do café, antes da execução, toda a sequência de comportamentos já foi prevista antes. Qual a força, que pressão terei para dar sustentabilidade à xícara na mão etc.
Embora você possa conscientemente decidir pegar um objeto, sua mão assume a postura apropriada para isso sem que sua consciência tenha ordenado.
A caneca é dividida em duas representações distintas, uma tem apenas forma e outra tem apenas cor. A representação de cor terá apenas um padrão indistinto, enquanto a representação de forma possui apenas sombras em cinza.
Essas representações procuram reproduzir o tipo de análise que ocorre em duas
regiões diferentes do cérebro durante a análise da caneca. Na verdade, a caneca
não existe em nosso cérebro do modo como a percebemos.
Ela tem um formato e uma cor. No entanto, não tem consciência de cada um desses atributos separadamente, como mostrado na figura acima.
Em vez disso, você percebe a caneca como um objeto único. Você pode assim se surpreender ao saber que seu cérebro produz essa percepção unificada após analisar separadamente a cor e a forma, cada uma em uma localização diferente. Consequentemente, é possível que um dano cerebral permita que uma pessoa veja a cor de um objeto, mas não tenha ideia de que objeto é, porque sua forma é indecifrável. Por outro lado, uma pessoa com outro dano cerebral pode ver claramente a forma de um objeto, mas não ter ideia de sua cor. O cérebro disseca o objeto, analisando suas várias partes separadamente e, em seguida, produzindo uma espécie de sensação unificada do todo.
No entanto, não há um "retrato" do objeto todo em nenhuma parte do cérebro. Sendo assim, como é que percebemos um único objeto se temos apenas visões múltiplas dele com que trabalhar? O cérebro imagina. Pensamos por predições de imagens.
A
inferência abdutiva implica em programar cada algoritmo extraindo a carga simbólica
de PREDIÇÃO dele antes de consolidarmos a sua gravação definitiva. Antes de
gravarmos devemos pensar também nas possibilidades de sua desprogramação
implícita. Como seria se fosse diferente? Como isso operaria de cabeça para
baixo? De trás para frente? Isso implica em ruminarmos inferências
retrodutivas.
A
habilidade de treinar a retrodução é que vai nos tornar aptos para o que a logicidade chama de adivinhar. A habilidade de predizer o que não acontece
quando se está acontecendo ou como aconteceria se acontecesse diferente ou ao
contrário. Isso é modelar uma interface simbiótica.
Quer
aprender a fazer isso? Observe a você mesmo fazendo isso o tempo todo. Adivinhar
é uma possibilidade, mas não é necessariamente só sorte. Podemos treinar essa
habilidade e nosso cérebro faz isso o tempo todo.
Quando lemos um texto, nosso cérebro não lê letra por letra, não lê palavras, não lê sentenças. Isso ele passa longe. O que ele faz é adivinhar o sentido do que está por vir naqueles movimentos de sinais e fótons.
Nosso cérebro armazena muito bem nexos regulares que estão atrás das letras, dos acasos. Por isso, para
fazer uma correção detalhada de um texto, precisamos voltar para trás e talvez ler palavra
por palavra e, mesmo assim, nós passamos por cima de erros se tivermos motivados apenas a
fazer uma leitura de fluxos prescritivos.
Muitos
executivos com os quais converso demonstram claramente que sabiam que, ao longo
dos anos, suas empresas acabariam se acomodando. Agora eles têm certeza que se
mantiverem aferrados a esse ritmo de mudanças graduais, suas organizações se
tornarão irrelevantes em pouco tempo.
Entendem
que é preciso mudar os sistemas, e isso implica na própria sobrevivência do
negócio do varejo, por exemplo. O que está em jogo, mesmo para empresas
poderosas como a Renner, C&A, Zara, Magazine Luiza, Colombo e tantas outras...
A revolução simbiótica implicará em mudanças evolucionárias significativas e não apenas adequações ou retomadas melhoradas de velhas práticas.
Na prática, não
foram os CEOs que começaram essa revolução de transformação, mas o próprio
vírus.
Queremos
resgatar a abdução valorizando a imaginação criativa, a produção de insights,
indicando procedimentos para sua legitimidade enquanto modalidade de
pensamento válido para a gestão.
A razão
moderna, em geral, não deu a devida atenção à criatividade, mesmo quando dela
dependeu para suas conquistas. Destacava seus originais pensadores e inventores
como pessoas dotadas de uma áurea de extraordinariedade ou até mesmo de loucura.
Assim, a criatividade era uma expressão reservada a algumas poucas mentes
diferenciadas, e não se tratava de procedimentos que poderiam ser generalizados,
aplicados e aprendidos para a produção do conhecimento complexo. VAMOS
ENFRENTAR ISSO: Comecem a inferir abduções!
2. O crescimento do on-line para todas as nossas atividades vai incentivar o que tem equivocadamente sido chamado de “contactless economy” (economia sem contato).
O que os simbióticos mais farão, ao contrário, é produzir interfases simbióticas atentas às singularidades do contato sempre e em tempo real. Para os simbióticos, não existe um virtual que não seja real. Não existe uma inteligência que possa ser artificial (assimbiótica). Sem vida não há inteligência. Não existe também um meio ambiente. O ambiente é inteiro e os simbióticos estão lá, dentro dele. Para isso tenho um conceito bem preciso: o Symbios (fazendo a cooperação agora e juntos sempre).
Quando o symbios acontece, a cooperação encapsula e evolui. Nos tornamos melhores, e o mundo em que acontecemos melhora junto em simbiose. É a base da simbiótica, da simbiogênese.
Se
olharmos para 2003 veremos que a epidemia SARS-COV-1 alavancou o comércio
eletrônico na China, transformando o país e criando potências comerciais como
Alibaba e outras empresas.
O artigo “The SARS epidemic threatened Alibaba’s survival in 2003—here’s how it made it through to become a $470 billion company” mostra como isso aconteceu.
Permitir
que o que cada um quer esteja ali e seja bem orientado, permitir dúvidas
tiradas não por listas parametrizadas, mas por processos analógicos e de
improvisação atentos à singularidade daquele apedido e do agente em questão.
Desde a exposição dos produtos. Especificações. Demonstrações. Domínio de
especificações técnicas e de interfaces de atendimentos abertas. Isso é que se
exigirá das interfaces simbióticas.
Os
transportes serão monitorados em tempo real. Saberemos onde estão e o que no
momento que quisermos saber. O fluxo logístico será aberto. Será flexível em
trajetos, com entregas monitoradas – podendo seu comprador acompanhar passo a
passo os movimentos por onde anda seu pedido. Podendo até mesmo alterá-lo,
tudo em tempo real. Uma logística que a serialização fordista jamais
entenderia. Isso permitirá flexibilidades para soluções logísticas de prazos
imediatos e soluções de problemas. Nada de feriados e programações quinzenais
de entrega. No comércio, a parceria da logística será tão ou mais importante do
que a do fornecimento do produto.
Hoje, está se tornando possível imaginar um mundo de negócios – do chão de fábrica ao consumidor – com agenciamento da individuação. Fábricas inteiras programadas para cooperar com as singularidades. O contato físico será minimizado ao extremo nas regiões e atividades repetitivas, que desgastam o corpo e a mente e são inadequadas ao improviso complexo da vida quando ela acontece. Já existiam empresas que trabalhavam 100% remoto sem apoio físico de atividades musculares e cognitivas de baixa complexidade. Mas elas deixarão de ser vistas como curiosidades excêntricas.
Com
a quarentena, verificou-se que muitos hábitos adotados eram desnecessários e
poderíamos fazer tudo on-line. Nos acostumamos com o delivery de alimentação,
com as compras on-line, com as transações financeiras via apps, com
telemedicina, aulas on-line, fazemos videoconferências e trabalhamos em casa.
Muitas empresas deixarão de ter um escritório central. Em vez disso, elas
contratarão funcionários de vários locais e pedirão que trabalhem em casa ou em
espaços de trabalho compartilhados perto de onde moram.
Isso
exigirá que elas forneçam conexões mais rápidas com a internet para seus
colaboradores, equipamentos, ajuda de custo para contas e despesas domiciliares
que envolvam o labor da empresa, fornecimento de aplicativos e suportes rápidos
em tempo real, com vídeo chamada e visitas a domicílio. Com a presença de softwares de colaboração e monitoramento em tempo real. Isso permitirá
que algumas empresas eliminem grande parte dos seus processos em seus próprios escritórios
e transferirá seus custos para o apoio ao colaborador simbiótico.
Os
trabalhadores terão que aprender a manter o foco ao trabalhar em casa, e as
empresar a permitir que os trabalhadores tenham jornadas mais flexíveis para que
vivam suas atividades do labor que não sejam da empresa.
Uma
nova cultura para a interação off-line e on-line será necessária. A regra sempre
é symbios (fazer a cooperação sempre juntos e agora quando ela
acontece).
Nem todos os fluxos podem ser consolidados em interação on-line, mas o symbios está ali presente rompendo a dualidade. Os sistemas devem permitir a integração dos processos on-line e off-line para facilitar a cooperação entre os fluxos e sua consolidação. Ter que sair do sistema on-line para produzir uma atividade off-line necessária no momento não pode ser uma descontinuidade forçada, deve ser cooperada.
Uma
das coisas a deixar para trás é o papel da comunicação empresarial fazer tudo por
e-mail. Além de ser uma ferramenta off-line, ela se descontextualiza nos fluxos, quase sempre envolve um conflito entre armazenar e consolidar processos de
consolidação e sua recuperação totalmente descontextualizada.
Os
e-mails serão apenas para processos mais duradouros e lembrarão os velhos
correios com entrega de cartas que precisavam ser postadas e depois seriam
transportadas por outros e entregues por outros em seu destino. Hoje, a
maioria dos trabalhadores de escritório vivem o dilema de como lidar com a
sobrecarga "virtual" dos e-mails. Pessoas estão adoecendo por causa disso.
Executivos reclamam que tem 7.000 e-mails em sua
caixa de entrada. Para alguns, isso pode não parecer até muito pouco. Como se
pode responder com qualidade a 250 e-mails por dia? Você passa mais tempo
escolhendo o que será relevante responder do que respondendo. Não
é apenas algo ineficiente, mas também prejudicial à saúde. Não existe salvação
para isso além de desconsiderar o papel que o e-mail exerce nas gestão dos
escritórios e empresas. A produtividade não será medida nem quantitativamente e
muito menos por e-mail. Passou o tempo de sua relevância. Os drives de longo
prazo off-line deverão ter um tipo de
gerenciamento próprio e totalmente alterado de significância para a gestão do
curto agora.
O
longo agora é muito importante para ser enquadrado na modelagem de e-mail. Ele
precisa ser tratado como uma joia rara. O futuro e a longevidade são uma instância própria para a organização
e os atos do nosso dia a dia. Sermos consumidos no curto agora transforma nosso
futuro em um nada além de hoje.
E-mail
é uma maneira de enviar dados e não manter contatos. E ponto.
Ter como meta a caixa de entrada zerada de seu e-mail
pode ser a coisa mais estúpida que um gestor pode estar fazendo agora.
Programas cooperativos devem resolver 90% dos problemas se eles forem
simbióticos e não meramente tarefeiros. Além de manipularem suas agendas e
tarefas, os suportes de apoio simbióticos auxiliam na integração entre o curto
agora e o longo agora.
A evolução simbiótica depende sempre do longo agora.
O curto agora é como centelha, pode arder, mas sequer saberemos o que nos queimou no
dia seguinte. São como notícias de jornal, são importantes no momento, mas
depois vão para o lixo do longo agora.
Não prestar atenção nisso é deixar os e-mails
decidirem para onde caminha a evolução da empresa, e isso é um desastre. Se
estamos dependendo dos e-mails para isso é porque já tem algo muito errado
acontecendo agora.
Mas
isso não significa que o contato humano será eliminado. Somos seres sociáveis
por natureza.
Um
exemplo está aqui neste artigo: “The firm with 900 staff and no office”.
Muitas
pessoas voltarão a entrar novamente nas lojas e supermercados. Os encontros
presenciais continuarão a existir. Pacientes com necessidades complexas ainda
irão pessoalmente consultar seus médicos, muitos tipos de trabalhos não são
automatizáveis. No entanto, as tendências provavelmente são irreversíveis.
A partir de agora teremos mais opções. Não será obrigatório estar no escritório sempre, as empresas serão híbridas, com tarefas operacionais de execução que poderão ser perfeitamente executadas remotamente.
As demandas por criatividade, inovação e colaboração continuarão a ser presenciais.
Referência:
Artigo “The impact of the ‘open’ workspace on human collaboration”
(O impacto do espaço de trabalho 'aberto' na colaboração humana).
3.
As regulações provavelmente serão revistas. A
crise provocou a necessidade de mudanças em muitos aspectos regulatórios, como
aqui no Brasil com o uso da telemedicina. O PL 696/2020 é um exemplo mais
efetivo disso.
A
telemedicina é o exercício da medicina mediado por tecnologias para
assistência, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde.
Enfim, suas limitações exigirão atividades presenciais, mas o grosso dos
processos clínicos serão redesenhados com a evolução rápida das tecnologias
wearables e dispositivos que facilitem exames, veremos uma abrangência maior no
seu uso.
Até
a maioria de exames e coletas de sangue poderão ser realizados de modo
doméstico.
A
educação também será revista. A desmaterialização da educação moderna,
escolástica necessita de um texto à parte, dada sua importância.
Um
recente relatório do World Economic Forum, “Schools of the Future”, mostrou que o Brasil está muito
atrasado e despreparado para competir no novo mundo que se desenha.
Por fim, mais adiante publicarei a Parte 2 com próximos temas, a saber:
4.
O novo mundo pós-Covid vai nos obrigar a repensar muitos dos
atuais paradigmas e valores que adotamos na vida empresarial, profissional e
pessoal.
5.
Setores por completo serão transformados.
6. Algumas tendências tecnológicas que já estavam sinalizadas antes da pandemia e vieram a tona em velocidade exponencial. Tendências de tecnologia que podem ajudar a construir uma sociedade resiliente e simbiótica.
O certo é que com a emergência da civilização simbiótica não teremos um novo normal. A civilização foi ressetada e emerge um novo modus operandi diferente do que estamos habituados, com novas habilidades e capacitações para este novo mundo. Será cada vez mais simbiótica, profunda, incerta e resiliente. Demandará, inclusive, uma mudança radical na educação.