segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ADAPTAR ou REABILITAR?




A grande discussão sobre se devemos adequar o homem ao ambiente ou vice-versa é polêmica no universo da PcD e está presente na sociologia da tecnologia.

Acompanhe o debate com o sociólogo Gilson Lima, especialista no assunto.
 
 Entrevista para a Revista Sentidos por: Alexandre Quaresma. REVISTA SENTIDOS NÚMERO 84. Edição de Aniversário. Nas Bancas e Livraria Cultura.




Desenvolvimento tecnológico não Significa necessariamente desenvolvimento humano...  
Gilson Lima, (ao lado com o robô symbios) é natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, e doutor em Sociologia com foco em metodologias informacionais. É pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e também pesquisador junto à Ortobras em inovação e tecnologia, com atividades na área da interface entre corpo-cérebro-mente-máquina visando gerar novos produtos e processos de reabilitação e acessibilidade. Professor da Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul) e Membership do Research Committee on Clinical Sociology da ISA (International Sociological Association).
ENTREVISTA
"Somos também cérebros vivos estudando outros cérebros vivos e eles são muito singulares e não são objetos estáticos, não ficam quietos para analisarmos. Estão sempre ativos. Eles existem também em si, mas sempre em interação. Se auto-organizam. Daí também nossa limitação". Gilson Lima. 

Qual o papel das tecnologias na reabilitação humana?

O papel é a evolução simbiogênica entre cérebro, corpo e máquina, tanto para reaprendizagem após lesões como para a melhoria da qualidade de vida na velhice. Tecnologias acopladas ao corpo para a reabilitação são processos antigos. Podemos encontrar o uso de talhas ou talas para imobilizar um desconforto físico na Antiguidade.

O papel da tecnologia, nesse caso, é a evolução da associação entre cérebro, corpo e máquina, tanto para reaprendizagem após lesões como para a melhoria da qualidade de vida na velhice
Eram feitas de bambu, folhas, cascas etc. As primeiras evidências do uso apareceram em corpos mumificados, que datam de 2.750 a 2.625 antes de Cristo. Já em 1517, temos registros de uma órtese sofisticada feita de metal com o formato de um braço e que tinha ajuste da posição na articulação. Porém, os estudos e as pesquisas na área de lesões da medula iniciaram-se como uma das consequências da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, em razão do surgimento de um grande número de mutilados, onde cerca de 80% dos lesionados morriam por falta de cuidados bem básicos de reabilitação.
Nos últimos anos, os estudos cerebrais e da reabilitação operada com tecnologia avançaram muito. Até pouco tempo atrás os paraplégicos estavam condenados a terem suas pernas amputadas. 

Existe também muito a fazer e aprender com tecnologias de processos clínicos, não necessariamente apenas tecnologias de produtos.



Nos últimos anos, os estudos cerebrais e da reabilitação operada com tecnologia avançaram muito. Até pouco tempo atrás os paraplégicos estavam condenados a terem suas pernas amputadas.

Tenho trabalhado muito a integração da cibernética, da pilotagem de telas com microrritmos corporais na reabilitação e temos obtido resultados surpreendentes em pacientes com lesão neuronal severa.

Se por um lado alguns lutam legitimamente por direitos básicos como rampa e acesso especial para deficientes físicos, entre outras adaptações, outros, talvez mais arrojados, defendem a ideia de que seria mais inteligente e até economicamente viável fazê-Ios (pessoas com deficiência física) andar novamente, utilizando tecnologias semelhantes às atualmente usadas para fins bélicos. O que o senhor pensa sobre isso?

Não vemos esses dois lados como antagônicos. É preciso ligar o presente com o futuro, sempre. Se não estivermos pesquisando inovações, lá adiante o futuro será apenas uma repetição, melhorada ou piorada, do passado. Uma repetição mais pequenina, miniaturizada, mais forte, mais veloz, talvez, não melhor, apenas uma replicação. Mas digo, o que seria mais inteligente a curto prazo? Mudarmos as cidades totalmente inadequadas ao uso de cadeira de rodas ou apostar em tecnologias complementares e soluções de mobilidade individual? Os dois. Temos tudo a fazer. Nossas Cidades não estão sequer adequadas para uso pleno dos pedestres, mal damos conta de uma manutenção básica em vias "carroçáveis". Não falo apenas isso para os atuais cadeirantes - que são milhões neste país -, mas também para os futuros idosos que serão muitos e muitos nas próximas décadas e que exigirão assistência simbiótica de caminhada corporal; ambientes de pisos regulares e detalhes de integração cada vez mais simbióticas. Existem pesquisas de órteses robóticas também para membros superiores e temos grandes possibilidades para utilizarmos exoesqueleto como assistência aos idosos diante do envelhecimento da população. A Honda, no Japão, tem um investimento muito grande em pesquisas de diferentes produtos de exoesqueleto para idosos. Vejo que num futuro não muito distante o mercado do envelhecimento - num sentido amplo - demandará muitos produtos envolvidos na família do exoesqueleto com um enfoque na saúde e na qualidade de vida. 

Segundo o seu entendimento, qual o papel social da sociologia da tecnologia? 

Um papel geral não sabe, mas eu venho de uma formação inicialmente humana (sociologia). No Brasil, a sociologia é fortemente marcada pela abordagem clássica do surgimento da sociedade industrial na Europa do século XIX e com forte cunho ideológico e político (aqui com p minúsculo porque uma política do conhecimento também pode ser realizada amplamente com P maiúsculo). Mesmo quando trabalhava com políticas públicas tínhamos pouco diálogo com a ciência aplicada e metodologias informacionais em redes cibernéticas e engenharias. Tive que estudar muito além do que os currículos tradicionais determinavam. Os estudos "chatos". Comecei pela experimentação em metodologias informacionais em rede até chegar aos estudos neurocientíficos e da neuroaprendizagem. Tive que me deparar com temas e metodologias complexas e fragmentadas. 

É preciso ligar o presente com o futuro, sempre. Se não estivermos pesquisando inovações, lá adiante o futuro será apenas uma repetição, melhorada ou piorada, do passado.

Pesquisei e lecionei muito no campo da informática por mais de dez anos, de 1993 a 2004. Minha tese de doutorado foi em Metodologias Informacionais em 2004. Aos poucos fui me dando conta da importância da informação computável, mas também dos limites da inteligência artificial. Tenho desenvolvido projetos, processos de reabilitação em base simbiótica com tecnologias de processos e produtos aplicados para casos de lesões severas envolvendo a área micromotora operada pelos lobos cerebrais e pelo sulco lateral (ou sulco de Sylvios), onde o uso de telas computáveis tem ajudado muito na reabilitação em bases de neuroaprendizagem. A sociologia clínica, por exemplo, é um campo singular da prática, de um saber fazer pensando. Aplico uma abordagem que eu denomino simbiogênica, de simbiose. Um symbios entre o corpo, o cérebro no corpo e o ambiente onde nós acontecemos no mundo.
Acredita-se que o corpo seria apenas uma "plataforma", a partir da qual se construiriam novas possibilidades e melhoramentos, sempre pela via técnica. Por outro lado, essas mesmas tecnologias, que pretensamente seriam usadas para "melhorar" e "turbinar" o ser humano, também poderiam ser usados para a reabilitação. Seriam dois caminhos de uma só via técnica? Interessante é que vemos nesse campo do debate apenas a espécie humana como seres "superados" pela ciência (trans-humano). Precisamos da ciência e da tecnologia para isso. Por isso, já somos simbióticos. A evolução caminha em simbiose do corpo com as máquinas e o ambiente. Para ser duradouro, esse caminho deve ser marcado pela cooperação em longo prazo.

É essa cooperação de longo prazo que separa as espécies duradouras da vida na história de nosso planeta. Quem se depara com a microbiologia descobre

- de imediato - que é preciso quebrarmos a noção iluminista central de Homo universalis. Não somos - sequer - uma ilha fisiológica. Somos parte de uma rede simbiótica de longo prazo entre células nativas, micro-organismos e ambiente. A maioria das células humanas não é realmente humana. Em nosso corpo de cada 11 células apenas uma é humana! Nosso microbioma é simbiogênico. Algumas das bactérias benignas do nosso organismo contêm genes que codificam compostos benéficos que o corpo não consegue produzir sozinho. Reabilitação, mesmo a clínica, está mais no campo da reeducação interdisciplinar do que apenas das técnicas informacionais ou de engenharias prescritas. Na reabilitação, quando mais cedo começar, melhor. Nada disso é futuro.

Como estão atualmente as pesquisas em neurociências no sentido de interfacear o cérebro humano e a infraestrutura técnica já existente? Ou seja, quanto tempo ainda vai levar para um cérebro controlar uma máquina e vice-versa?


Esse debate é possível apenas se considerarmos o cérebro isolado do corpo e como se ele fosse um grande sistema de fiação telefônica e de processamento de dados. Controlar máquinas é algo comum. Hoje precisamos de máquinas para produzir máquinas. Muitas delas nós humanos não somos capazes de montar, só outras máquinas muito sofisticadas podem fazê-lo, mas são máquinas. Apenas isso. Pensar, aprender conhecimentos sociais em uma cultura é muito mais do que processar dados e informações. Acho que às vezes os tecnólogos esquecem que já controlamos ferramentas, máquinas, micromáquinas, motorizadas ou não, desde a Antiguidade. Herdamos esse talento do Homo habilis, o "faz--tudo" que começou a fabricar instrumentos de pedra cerca de dois milhões de anos atrás. Porém, hoje dependemos cada vez mais de energia inorgânica, motores e química fina para viver mais e melhor. Como disse, nosso corpo é imperfeito, mas não creio que possamos ter nesse planeta vida auto-organizada e complexa sem um corpo orgânico complexo. 
Acho que às vezes  os tecnólogos esquecem que  já  controlamos ferramentas, maquinas micromáquinas, motorizadas ou não, desde a Antiguidade.

Nosso cérebro, diferente do funcionamento maquínico e elétrico que já está muito mais esclarecido, tem ainda muitos mistérios na modelagem de sua bioenergia. Os humanos descobriram o combustível fóssil e acharam que tinham resolvido de vez o problema da energia. Descobrimos a lasca de silício para processar a lógica em sinais elétricos e acreditamos que o cosmos todo ficou digital e lógico. Agora descobrimos os displays individuais e acreditamos que o cérebro mudou e virou uma tela de pixels. O caminho é sempre a simbiose cooperativa. Veja quantos estudos estamos fazendo de produtos biocompatíveis com nossa rede biótica? Mesmo tendo por referência a absurda cifra de 30 milhões de cientistas pesquisando diariamente no mundo. Quantos? Quase nada. Muito já se pode fazer com processos não invasivos e subcutâneos, mas o sistema nervoso central não é muito afeito a visitantes estranhos, muito menos cobre silício, soldas. Sem querer desmerecer a importância dos processos de acoplamentos robóticos, existe muita confusão dos cognitivistas ao afirmar que estabelecemos comandos de sinais biológicos como se fossem comandados pelos pensamentos. Se pensarmos numa vaca vermelha e tivermos conectado o cérebro numa máquina com sensoriamento por ressonância magnética poderemos identificar que temos uma rede sensória ligada a fotos capazes de produzir sensações e imaginação de cores, mas não vamos encontrar nada de vacas e nem mesmo de vermelho. Mas se continuarmos apenas correndo atrás de conexões físicas e de identificar os microcircuitos físicos de interação das cores com vacas, vamos colonizar a imaginação, só encontraremos efetivamente redes físicas de sinapses. Sinapses são apenas pequenos choques sem toque físico entre células - para permitir abrir um canal de transmissão de substâncias químicas escravas da imaginação. Porém o inverso é verdadeiro. O pensamento é escravo da localização física da interação, mas a imaginação é como um pássaro, ele forja ninhos e acontece no mundo voando. Já treinei pacientes com lesões neurais a controlar um cursor de computador apenas com seus micromovimentos em sensoridade simbiótica. Isso já pode ser muito utilizado em reabilitação. Não se trata de controle por pensamentos, mas pelo corpo vivo. O pensamento, a imaginação são uma energia mental que é subproduto dessa interação física e sensória.


O cérebro é realmente ainda a última barreira intransponível da fisiologia humana, ou podemos dizer que já estamos começando a transformar essa realidade?

O cérebro não é para mim a última barreira intransponível da ciência, mas a conectividade mental que é operada pelo cérebro, corpo, máquinas e ambientes pode ser. O cérebro é um campo físico de energia que precisa de nutrição orgânica como qualquer outro órgão corporal complexo. Do ponto de vista material e orgânico, o cérebro é nosso órgão mais complexo, que não pode ser visto isoladamente, mas em rede simbiótica. A energia mental que gera a complexidade auto-organizada quando acontecemos no mundo ainda tem muitos mistérios. Ela vem também do corpo, do outro e do ambiente em que vivemos socialmente. A energia somática das emoções é cada vez mais percebida como significativa pelo império dos estudos racionais e da linguagem lógica. Tanto para a aprendizagem, para a memória e cada vez mais para a comunicação.

A abordagem computacional e cognitivista é muito produtiva, mas nos leva a bifurcações sem saída. Por exemplo, o neurônio é essencial para o cérebro, uma célula com comportamento social altamente complexo, mas limitada a transportar informações. Existem muitas células não neuronais que operam a rede encefálica e de modo muito importante para que possamos ser como somos. Destas sabemos ainda muito pouco. Sabemos muito sobre neurônios e os centros de atividade das redes neurais, mas o estudo da bioquímica do cérebro vivo como um todo ainda é um dilema repleto de mistérios. Na verdade somos também cérebros vivos estudando outros cérebros vivos e eles são muito singulares e não são objetos estáticos, não ficam quietos para analisarmos. Estão sempre ativos. Eles existem também em si, mas sempre em interação. Se auto-organizam. Daí também nossa limitação.



Como as próteses e exoesqueletos que começam a surgir podem contribuir nesse contexto de restabelecimento da locomoção e, por conseguinte, da dignidade humana?

Exoesqueleto é um conceito que trazemos da biologia. Os animais, segundo a biologia, podem ser artrópodes (exoesqueleto) ou vertebrados (endoesqueletos). A diferença aqui é entre ter esqueleto externo e esqueleto interno. Imaginem um caracol. Tudo que se encontra dentro do caracol está protegido pelo seu exoesqueleto (aquela casca dura que achamos ser a casinha dele). Nós, seres humanos, acabamos, de um jeito ou de outro, ao longo da nossa evolução, levando os ossos para dentro do corpo e criamos uma complexa massa externa de frágeis fibras que permitem muita flexibilidade, excitação de sensibilidade. 

Já  treinei  pacientes  com  lesões neurais a controlar um cursor de computador apenas com seus micromovimentos  em sensoridade  simbiótica. Isso já pode ser muito utilizado em reabilitação. Não se trata de controle por pensamentos, mas com o uso do corpo vivo.


A complexidade da vida está na capacidade de movimento. E os humanos são muito complexos porque seus movimentos são possíveis por seus ossos não estarem à mostra. Por outro lado, isso nos torna altamente frágeis. O estudo da possibilidade de integrarmos exoesqueleto nos seres humanos está vinculado a lesões que afetam nossa mobilidade.
Minha abordagem de exoesqueleto é muito ampla e não inclui apenas máquinas de reabilitação robotizadas como se tornou mais conhecido atualmente pela pesquisa tecnológica. Óculos são também um exoesqueleto (fantástico porque nos protege e nos repõe a visão). Imagino - num futuro próximo - roupas com tecidos entrelaçados de nanopartículas de aço e muito resistentes, tornando-se algo muito mais útil do que nos cobrir do frio, calor e da chuva. As novas vestimentas simbióticas serão também uma unidade autônoma de diagnose permanente do funcionamento de nossos órgãos no corpo, acoplado com microssensores diversos para múltiplos fins de interação com o ambiente. No mundo, algumas pessoas com déficit de mobilidade já estão utilizando em escala reduzida órteses robotizadas que são muito sofisticadas. Temos muitos desafios clínicos e tecnológicos ainda não completamente sanados para um uso pleno e em grande escala social de órteses robóticas sofisticadas de exoesqueleto.  Alguns são de infraestrutura pública e não apenas de fabricação, de montarmos um produto.


Como o Brasil está posicionado nesse competitivo e promissor mercado em termos de iniciativas de projetos e pesquisas?


O Brasil está bem na pesquisa científica. Quem dera nossas pós-graduações fossem referência para as diversas escolas e extensões de ensino em geral. No Brasil o estudo de órteses de exoesqueleto tanto puramente mecânicas como as hibridas com processos e máquinas de reabilitação robotizadas são muito recentes. Quando comecei minhas pesquisas básicas no assunto, em 2005, praticamente toda a literatura e pesquisa aplicada eram internacionais e, mesmo assim, muito reduzidas. No Brasil existem projetos acadêmicos isolados e um projeto muito apoiado e em andamento, coordenado pelo dr. Miguel Nicolelis. Trata-se de um projeto para tetraplégicos (veja, não é para paraplégicos), onde se montou um exoesqueleto para a Copa (em 2014), comandado diretamente - segundo ele - pelo "cérebro". Miguel Nicolelis é brasileiro, tem uma base de transferência de pesquisa no Brasil na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, mas ele atua efetivamente nos Estados Unidos. Seu projeto é altamente complexo, mas altamente invasivo e que só será possível de ser realizado com apoio de pesquisas acumuladas feitas nos Estados Unidos com modelo animal (ratos, camundongos e primatas).
Meu envolvimento experimental clínico com o exoesqueleto começou em 2006, quando conheci um professor universitário paraplégico e comecei a me concentrar numa possível alternativa de montar um exoesqueleto para cadeirantes. Minha primeira conferência pública sobre o tema foi em Natal, num seminário internacional de nanotecnologia, em 2008. A produção de órteses de baixa complexidade no Brasil é um campo muito modesto e recente até hoje. Não creio sequer numa possibilidade de projetos dessa complexidade apenas com apoio da comunidade brasileira. Nossas pesquisas são embasadas em experimentações e tecnologias já utilizadas internacionalmente em muitos países (Japão, Hungria, Alemanha, Israel, Estados Unidos, Rússia, França, Suíça...). Será necessário obtermos parceria e aprendizagem internacional. É o que estamos fazendo. As pesquisas em órteses complexas, amplamente interdisciplinares, são caras e de longo prazo. Temos tentado financiamentos de incremento de base para produzirmos um exoesqueleto simbiótico e não temos conseguido sucesso.




"Alexandre Quaresma é escritor ensaísta, pesquisador de tecnologias e consequências socioambientais, com especial interesse na crítica da tecnologia.  É membro da Renanosoma (Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente), vinculado à FDB (Fundação Amazônica de Defesa da Biosfera) e membro do Conselho Editorial de Ciência e Sociedade da Revista Internacional de Ciencia y Sociedad, do Common Ground Publishing. E-mail: a-quaresma@hotmail.com

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

VICIADOS EM DISPLAYS!


Dr. Gilson Lima

Coordenador Regional do Research Commitee Clinical Sociology da ISA – International Sociology Association. Professor da UNISC e Pesquisador CNPQ-Ortobras.


Texto inspirado em pesquisa Ibraim financiada pelo Google nos Estados Unidos!

Quando nós pensamos sobre vícios, nós geralmente associamos isso com alcoolismo ou abuso de drogas. No entanto os mesmos caminhos neurais no cérebro que reforçam a
dependência dessas substâncias podem levar a comportamentos tecnológicos compulsivos. São tão viciantes e potencialmente destrutivos. Quase tudo que as pessoas gostam de fazer – comer, comprar, fazer sexo, apostar – tem o potencial para dependência psicológica e fisiológica. Mas o acesso, o anonimato constante na internet tem ajudado a criar varias formas novas de comportamento compulsivo abastecido pela WWW e outras tecnologias digitais.

 Se estamos assistindo TV ou pesquisando por velhos temas musicais no YouTube, o cérebro e outros órgãos reagem automaticamente a cena e criam estímulos. A taxa cardíaca diminui, os vasos sanguíneos do cérebro se dilatam, e o sangue flui para longe dos principais músculos. Esta reação fisiológica ajuda o cérebro a focar. A mudança rápida e fluxo de estímulos visuais podem mudar nossa resposta de orientação nos movimentos e continuamos olhando para a tela, eventualmente nos sentir cansados em vez de a estimulação mental continuar.
Depois de uma maratona de na frente do computador ou televisão, nossas habilidades de concentração diminuem, e muitas pessoas relatam uma sensação de esgotamento, como se a energia fosse "sugado para fora delas." Apesar destes efeitos secundários, os computadores e a Internet são difíceis de resistir e nossos cérebros, especialmente o dos jovens, podem ficar viciados rapidamente. As vendas de jogos estão mais fortes do que nunca.

Usuários com tempo abusivo e sem critérios de aprendizagem qualificada na Internet (só clicks e navegação esquemático de links) relatam sentir uma explosão de sensações agradáveis quando visitam seus sites favoritos, como viciados em compras têm de ver anúncios da venda, colocando seus cartões de crédito em suas carteiras, e que estabelece em uma farra de gastos. Estes sentimentos de euforia,  estão ligados a alterações químicas cerebrais que controlam comportamentos que vão de uma sedução psicológica a um vício completo. O sistema de interação bioquímica do cérebro que controla estes sentimentos envolve o neurotransmissor da dopamina, um mensageiro cerebral que modula todos os tipos de atividades que envolvem recompensa, punição e exploração.

A dopamina é responsável pela euforia que os viciados sentem, começando a partir do consumo de metanfetamina, o álcool, o THC da maconha, nicotina do tabaco, alimentos como o chocolate ou comportamentos exagerados no uso de exercícios, rotinas sexuais e tantos outros, ... O uso com tempo abusivo com displays interativos  condiciona ao usuário procurar compulsivamente novos links e toques de tela para recriar o sentimento de euforia, enquanto não estiver utilizando a "droga" digital. Independente dos usos, a dopamina transmite mensagens de prazer para o núcleo  accumbens e centros corticais do cérebro, fazendo com que a sensação de prazer seja recompensada e forçando a repetição dessas ações, mais vezes, porém como tudo, isso acontece tendo como efeito de que o usuário não sinta sempre o mesmo prazer que da primeira vez exigindo mais e mais conexões e, também como tudo, gerando consequências negativas. Nada é só positivo ou só negativo.  

A estimulação tem uma recompensa mental para o sistema de dopamina. Estudos de voluntários com viciados em jogos de vídeo game mostram que os jogadores continuam jogando, apesar de múltiplas tentativas de distraí-los. O sistema de dopamina lhes permite tolerar o ruído e desconforto com facilidade. Pesquisas anteriores mostraram que tanto a alimentação como a atividade sexual altera os níveis de dopamina.
Como a repetição em busca do prazer de usar a internet se apodera, a região do cérebro de tomadas de decisões de controle fica imune ao uso excessivo e estressante celular da pilotagem dos displays. Aprendi isso analisando pesquisas com pilotos de tela com lesão neuronal severa. Os pacientes criam novos sistemas de decisões e controle de uso da interação da interface cérebro máquinas computáveis e softwares. Esta é uma área na parte frontal do cérebro que é responsável pela tomada de decisão e julgamentos. Muitas decisões de repetição auxiliam na reabilitação outras podem prejudicar e gerar frustamentos, tudo é uma questão de dosagem e diluição. Sabendo usar é praticamente um doping intelectual na reabilitação. Isso significa muito para os trenamentos clínicos, a reabilitação e a reaprendizagem cerebral.  
 O uso abusivo dos displays atinge pessoas de todas as partes da vida: donas de casa em seus trinta e quarenta anos, adolescentes, pessoas de negócios em seus cinquenta anos e mais velhos, estudantes universitários, e até crianças com menos de 10 anos. Todo mundo está em risco de ficar "viciado" em aplicações web e dos smartphones.

Muitas crianças e adolescentes não são exatamente  viciados, mas a atração de novas tecnologias pode obscurecer seu julgamento. O cingulado anterior em seus cérebros muitas vezes perde para a corrida de dopamina que começa a partir de mensagens de texto com seus amigos. Mensagens de texto dos adolescentes durante a condução têm causado milhares de acidentes de carro fatais em todos os Estados Unidos. Apesar de mensagens de texto ser muito mais perturbador do que apenas falar em um telefone celular, a partir de julho de 2007, apenas um punhado de estados neste país proibiu mensagens de texto enquanto dirige. É claro que a interação de voz que dispensa o uso dos braços e está cada vez mais acoplada nos automóveis resolverá isso para a comunicação fonada assistida enquanto dirigimos ou realizamos tarefas diárias que exigem algum risco quando precisamos de foco muscular motor.

Um recente estudo da Universidade de Stanford descobriu que até 14 por cento dos usuários de computador informou negligenciar a escola, trabalho, família, comida, sono e, a fim de permanecer online. A Internet está rapidamente se tornando o meio de entretenimento e informação de escolha que poderá em breve tornar-se mais popular do que a televisão tradicional (mas não a substituirá e conviverão ambas TV e redes sociais de modo cada vez mais complementar).

Tem sido relatado que os estudantes universitários com dificuldades de adaptação à vida campus podem usar a Internet para escapar do estresse diário. Em vez de enfrentar os desafios da vida cara a cara, eles sentem uma sensação maior de controle usando sites de redes sociais, e-mail, torpedos, e salas de chat. Mais de 18 por cento dos estudantes universitários são usuários da Internet patológicos e 58 por cento relataram que o uso da Internet excessiva interrompeu seus estudos e participação em sala de aula e também reduziu sua média de suas avaliação e aprendizagem escolar.

Não é a própria Internet, que é viciante, mas sim a aplicação específica de escolha. As pessoas podem ficar viciadas em busca de banco de dados, namoro online, compras na web, sites pornográficos, ou mesmo verificar seu e-mail. Outros se tornam compulsivos jogadores on-line, os comerciantes de ações, jogadores, ou remetentes de mensagens instantâneas.

Mesmo se você não é viciado em Internet ou a uma relacionada com tecnologia, você pode estar lutando com a sua sedução, talvez deixá-lo tirar o melhor de você de vez em quando.

Parte do apelo da nova tecnologia é a sensação de controle que ele nos dá. O comando direto e imediato que temos sobre nossos computadores dá mais poder a nós. Nós temos o poder de transformar os nossos computadores e desliga-los quando quisermos. Podemos fazê-los desligar, hibernar, ou reinicializar. Podemos medir o ritmo de nossas comunicações, ou não comunicar a todos, se quisermos.

Mas, para os indivíduos em risco para a dependência, o computador e a Internet podem oferecer uma falsa sensação de controle. A tela, teclado, mouse e tornam-se extensões do indivíduo-um link de hardware/software para o global, o mundo conectado à Internet. Usuários compulsivos relatam sentir uma sensação de libertação e anonimato online, para que eles costumam dizer ou escrever coisas que não poderiam revelar sobre suas vidas pessoais. Alguns usuários têm uma emoção de fazerem-se personalidades completamente falsas. O que alguns usuários de internet não percebem é que uma vez que você colocar seus pensamentos e sentimentos em palavras na Web, são público para sempre e acessível não apenas para amigos e familiares, mas também acessíveis para recrutadores de trabalho, e pessoas sem seus melhores interesses em mente. Com o crescente interesse em monitoramento da web, os supervisores estão começando a manter o controle dos blogs de seus funcionários e não estão hesitando em despedir trabalhadores que postam em blogs que possam comprometer as informações da empresa ou a marca.

A força do vício depende do indivíduo. A genética tem um papel. Algumas pessoas herdam uma tendência a ficar viciado em quase qualquer coisa e a Internet suporta várias formas de comportamento viciante que muitas vezes acontece quando se está off-line também, como: jogos de azar, comer, sexo e compras. Outros estão procurando uma fuga da ansiedade, depressão, tédio ou conflitos interpessoais. A pressão dos colegas estimula muitos jovens a ficarem viciados em atividades interativas on-line que envolvem salas de bate-papo, redes sociais ou jogos virtuais.

Especialistas em vícios propuseram critérios para o transtorno de dependência da Internet, que incluem alterações de humor, a tolerância, sintomas de abstinência e recaída. Alguns especialistas estimam que 10 por cento dos utilizadores da Internet atendem a esses critérios para o vício, que são semelhantes àqueles para os vícios do jogo e das compras, onde o usuário é viciado a um processo e não uma substância como drogas, álcool, tabaco ou alimentos ( a bioquímica é mais cerebral). No entanto, enquanto que um abusador de substância se esforça para abstinência completa (exceto para alimentos), um viciado em Internet tenta com mais frequência alcançar a moderação. Recentemente, a Associação Médica Americana recomendou estudo adicional para determinar se jogar vídeo game e os vícios da Internet devem ser considerados categorias oficiais de diagnóstico.

Como em todos os vícios a quantidade de uso e tempo é um valor a considerar, no caso da Internet a quantidade de tempo gasto no display é geralmente considerável, a desordem tem tanto a ver com o fato de que o sinal elétrico é imensamente mais veloz do que os bioquímicos orgânicos, mas também  na sua derivação em macro comportamentos que interferem na vida cotidiana da pessoa por perturbar o seu trabalho, a vida familiar ou atividades sociais.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

JAPÃO 2014



Coordenador Regional do Research Commitee Clinical Sociology da ISA – International Sociology Association. Professor da UNISC e Pesquisador CNPQ-Ortobras.


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Impressionante Tóquio ao vivo. Uma cidade onde gira 14 milhões de pessoas e que tem muito menos engarrafamento de carros nas ruas do que Porto Alegre.


Aqui se caminha muito a pé, uma população que não é obesa, ninguém reclama de paradas longas. Os subsolos são imensos solos criados, muito metrô e trens e pronto também para receber novos tipos de veículos elétricos individuais (veículos de indivíduos – geralmente - acima de sessenta anos) em toda sua larga infraestrutura.
O mesmo em Yokohama. SHOPPINGS são grandes estações de transbordos focadas em centro de ligação de mobilidade de pedestres. Não tem estacionamentos imensos de veículos.







VISITA AO CENTRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DE ROBÓTICA DA HONDA!

O Japão é um dos países mais avançados no campo da robótica: autômatos trabalham em equipe nas fábricas cada vez mais perto das pessoas e inclusive os acompanham em casa, da cozinha aos dormitórios. Entre as criações japonesas está Kirobo, um pequeno androide japonês enviado à Estação Espacial Internacional para acompanhar um astronauta compatriota, que no ano passado pronunciou as primeiras palavras de um robô no espaço.

O ASIMO ("Advanced Step in Innovative Mobility" ou Passo Avançado em Mobilidade Inovadora) percorreu um longo caminho desde a sua primeira versão apresentada pela companhia japonesa em 2000, após 14 anos de pesquisas no setor.


                        RELATO!!!!                           


Referência: Satoshi Shigemi, engenheiro-chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Honda e encarregado do setor de robótica humanoide.


Nova versão do ASIMO, robô humanoide mais avançado do planeta. Um Projeto que a Honda alimenta há quase 30 anos. O ASIMO é um centro de Atividade da rede de pesquisa da HONDA, gerando uma imensa família de tecnologia da Honda.

Uma máquina do tamanho de uma criança e com cabeça em formato de bolha também consegue se equilibrar em superfícies escorregadias, curvas, escadas e que rodopia em palhaçada e pula e se equilibra num um pé só, rodopia e corre em duas velocidades diferentes até 9km por hora.
O robô andou sobre superfícies curvas e pulou em círculos. Consegue abrir uma garrafa e servir um corpo. Aperta a mão educadamente para cumprimentar um desconhecido (uma destreza muito grande nas mãos - que têm a configuração das mãos humanas). A gente espera que de dentro do traje de astronauta futurista saia uma criança. Mas não. A última versão do ASIMO, o robô humanoide da Honda, surpreende pela naturalidade dos gestos.
"Olá! Obrigado por vir hoje", diz o robô repetindo a gravação de um adolescente de 16 anos. Ele também consegue se expressar em linguagem de sinais e em japonês, uma das melhorias da nova versão.
Cada vez mais sensores, mas a sistemicidade sensorial ainda é limitada. Um exemplo prático das limitações do robô, que ainda não consegue detectar se uma pessoa se aproxima para interagir com ele ou simplesmente está passando ao seu lado. Porém, em frente a uma mesa com uma garrafa e um copo, o robô reconhecerá a garrafa, pegá-la nas mãos, abri-la e servir o líquido no copo, em uma ação coordenada. Também é capaz de subir escadas sem parar diante dos degraus e bater em uma bola com força depois de uma corrida de dois passos.

Vídeo da apresentação será disponibilizado - CONFIRA <=> NITAS - Escritório de projetos Ortobras!



APRESENTAÇÃO - Palestra

YOKOHAMA => Devastada por um terremoto em 1923 foi reerguido dos escombros um espetacular Centro de Convenções a prova de terremotos.

Missão cumprida. Pesquisa e projeto ORTOBRAS e CNPQ apresentado para pesquisadores da ISA (International Sociology Association). A Ana Paula Almeida se junta a Fernanda e torna-se conhecida da equipe de pesquisa do  Research Committee Clinical Sociology da ISA (International Sociology Association). Do Japão levo um aprendizado de profundo do respeito e delicadeza pelo próximo. Um povo surpreendente e que tem muito a nos ensinar pela sua tradição e seu convívio com a alta modernidade.

Imagens do Centro de Convenção de Yokohama onde foi realizada a apresentação. Pacífico!














THE END!