quinta-feira, 28 de abril de 2011

Filme Sem Limites (Limitless): Reflexões sobre cérebro, aprendizagem e doping intelectual

Dia 16 de abril de 2011 fui ao cinema assistir ao filme Sem Limites (Limitless), indicado por alguns de meus amigos e colaboradores da minha página no Facebook. Fui solicitado a emitir uma análise do filme por ser pesquisador com interface entre o cérebro e a aprendizagem. Resolvi fazer meu comentário agrupando as diversas questões que me fizeram simulando uma entrevista em quatro atos (perguntas).

PRIMEIRO ATO: No geral, o que você achou do filme Sem Limites?

No geral, achei o filme mediano. Sem Limites toma alguns atalhos que enfraquecem a narrativa e decisões que comprometem a inteligência do roteiro. Teria vários exemplos, mas vou destacar a cena em que Lindy, a namorada de Eddie Morra (personagem principal), está em fuga e encurralada por um indivíduo violento e assassino que a persegue. Ela acaba não tendo outra escolha que a de tomar uma das pílulas da inteligência (NZT) para utilizar todo o seu potencial cerebral a fim de conseguir encontrar uma saída coerente para a situação. O problema é que a saída que ela encontra é tão óbvia que não precisaria ter os ditos 100% da capacidade do cérebro para optar por ela, pois seria fácil usar apenas seus instintos mais básicos.
O maior desvio que compromete a inteligência do roteiro, para mim, é a cena em que Eddie Morra bebe o sangue do traficante Gennady (Andrew Howard), que o próprio Eddie acabou de matar. O curioso é que Gennady tinha tomado recentemente a pílula, e Eddie, com isso, recebe com o sangue do morto os princípios ativos da droga, tornando-o apto a enfrentar os outros dois bandidos que estão dispostos a matá-lo na mesma cena. Além do apelo midiático à vampiragem, é polêmico considerar a eficácia das bases bioquímicas de transporte orgânico que são ativadas por sangue fora do corpo, sem base viral de defunto. Claro que, em se tratando de vírus, é possível por um determinado período de tempo a transferência, como no caso dos usuários de cocaína, que, através de canudos de aspiração, podem contaminar diferentes pessoas por sangramentos de lesões realizadas nas fossas nasais de terceiros. Em todo caso, trata-se de uma cena de muito mau gosto.
Por outro lado, destacaria como ponto alto do filme os recursos técnicos, os truques de imagens na abertura e, em algumas passagens, imagens em aceleração de movimento, que envolvem o telespectador e o coloca numa percepção ilusória dentro da cena. Essa técnica foi popularizada, ainda que de modo rústico mas eficiente, no final da década de setenta, com o filme Os Embalos de Sábado à Noite (1977). Trata-se, neste filme, também da abertura. Nela, John Travolta realiza uma caminhada interagindo o corpo com a música dos Bee Gess, envolvido numa técnica de zoom que acaba por induzir a percepção do telespectador. A técnica faz-nos acreditar que estamos ali na cena, caminhando e interagindo o corpo à música. Uma geração inteira correu para dentro das discotecas depois disso.
A abertura do filme Sem Limites é genial nesse sentido. A cena em que vamos subindo rapidamente andar por andar, por fora do edifício, e depois desacelerando, sendo colocados na frente do ator próximo à borda do terraço de uma sacada - girando em alguns graus e nos fazendo sentir até tontura pela altura -, é impressionante. Também as imagens de velocidade mostrando o fluxo de passagens rápidas em frames, que nos colocam dentro de cenas como se estivéssemos numa viagem de trem-bala para simular a aceleração mental, são muito criativas. Muito interessante, também, é a ideia de alterar a tonalidade do filme quando um personagem toma a pílula. Sem a pílula da inteligência o mundo de Eddie Morra era frio, desarrumado e acinzentado. Ao tomar a pílula, tudo fica mais claro, colorido e organizado. Esse truque já havia sido utilizado em Matrix. Quando o hacker Neo e seus amigos estavam conectados a Matrix, o quadro geral da cena ficava mais verde. Como em Matrix, o filme Sem Limites deixa brecha no final para a continuação.
Bem, o filme, do ponto de vista da abordagem cerebral, está repleto de equívocos diante do que já sabemos sobre o funcionamento do encéfalo. Por exemplos: o modo como aprendemos, a noção de memória de longo prazo e a memória computacional de Matrix. É importante ter claro que estamos, afinal, falando de uma ficção, e o filme não deve ser julgado cientificamente, mas apenas avaliado nesse sentido e a permitir relações com aproximações e distanciamentos.

SEGUNDO ATO. Vamos às questões sobre o cérebro. O filme começa destacando a folclórica visão de que o ser humano usa apenas 10% ou 20% da capacidade do cérebro. Isso nunca foi comprovado. Foi?

Trata-se de um mito. Um mito de grande apelo, mas mito. Quem só usasse 10% do cérebro teria os 90% de reserva e, se aprendesse a usá-la, poderia ficar dez vezes mais inteligente, fazer contas dez vezes mais rápido, falar dez vezes mais línguas, lembrar dez vezes mais informações. Sabe-se que se chegou a essa conclusão com base na teoria de William James, o qual, no Século XIX, disse: "uma pessoa comum raramente atinge senão uma pequena porção de seu potencial."
Até três décadas atrás, tudo o que se podia fazer para estudar o cérebro humano era abrir a cabeça e olhar dentro. Alguns chegaram a fazer isso com pacientes vivos, mas o normal era esperar as pessoas morrerem e olhar o que sobrava. Na época, as principais descobertas vinham de pesquisas com animais ou com pessoas com lesões no cérebro. Por exemplo, se alguém perdia o hipocampo e, com ele, a memória recente, é porque os dois deviam estar ligados. Graças aos animais devemos praticamente quase tudo que sabemos sobre os mecanismos moleculares da memória e a fisiologia dos sistemas envolvidos. Exemplos: o hipocampo é uma estrutura localizada nos lobos temporais e é considerada a principal sede da memória e importante componente do sistema límbico; a amígdala, região do sistema límbico, é um importante centro regulador do comportamento sexual, do medo e da agressividade; o núcleo accumbens, uma estrutura cerebral ligada à sensação do prazer pertencente ao sistema mesolímbico dopaminérgico. Sabemos muito sobre os tipos de memória, os mecanismos de evocação, de extinção e modulação, e devemos tudo isso aos estudos de modelos animais como ratos e camundongos.
Porém, agora surgiram maneiras novas de observar o cérebro em atividade, graças, principalmente, à ressonância magnética funcional (RMF). O princípio é colocar o paciente em um campo magnético tão forte que, pendurado em um guindaste, seria capaz de levantar dois carros juntos (o que mostra por que não é uma boa ideia aproximar objetos metálicos de aparelhos como esse). Tais sofisticados aparelhos possibilitam detectar, por ondas de rádio, o fluxo de sangue oxigenado para diferentes partes do cérebro, o que indica as regiões mais ativas em cada situação.
Foi essa técnica que permitiu, pela primeira vez, mapear o cérebro em funcionamento e, por meio de estudos e análises, enterrarmos de vez a ideia de que só usamos 10% do nosso cérebro-mente.
Sabemos agora que o cérebro trabalha no todo e o tempo inteiro. Quando dormimos, o corpo está praticamente anestesiado para organizar tudo que vivemos e/ou aprendemos durante o dia. No cérebro não há regiões silenciosas ou de reserva, e, certamente, o cérebro não é 90% reserva. Cada pedaço tem sua função específica e cada um deles consome muita energia.
O cérebro humano pesa, em média, 1,4 kg e representa apenas cerca de 2% do peso do corpo. Difere em tamanho de homens e mulheres e também de funcionamento. O cérebro, com esse modesto tamanho, consome mais de 22% da energia do todo. Dos alimentos que ingerimos, um quinto vai para o cérebro. Em momentos de escassez de alimentos, o cérebro é para nós um luxo impensável.
No entanto, apesar de toda essa energia consumida, nosso cérebro é muito econômico em termos de energia. O cérebro humano vive sendo comparado a um computador, mas certamente não o é. O modelo computacional do cérebro humano, que os cientistas da informação e suas máquinas cognitivas insistem em afirmar como sendo idênticos, não resiste a modestas comparações. Entre outras questões, o cérebro trabalha a uma potência de apenas 22 watts, bem menos do que a lâmpada que ilumina seu escritório ou quarto.
Voltando às pesquisas de imagens de ressonância, elas permitem identificar o que fazemos relacionando o que acontece com o cérebro; dependendo de quando, o que e como fazemos algumas partes são mais ativadas do que outras. Nos últimos anos, as pesquisas mostraram os sistemas se acenderem em situações como a de se apaixonar, tomar uma decisão, sentir sono, medo, desejo de uma comida ou ver alguém dar-se mal (algo interessante e fenômeno mais intenso em homens).
O que complica as pesquisas é que, assim como não existe pessoa igual à outra, cada cérebro é diferente. Além disso, a aparência dos neurônios não é um indicador fiel do que acontece na cabeça. Existe quem morra com problemas de memória e, na autópsia, percebe-se que o cérebro estava perfeito. Também há os que não apresentaram problemas até o fim da vida, mas cujo cérebro está com neurônios danificados.
Sabemos que pessoas com bom nível educacional ou o bem questionado termo do “QI alto” sofrem perdas menores da capacidade cerebral. Ao que tudo indica, exercitar o cérebro cria uma espécie de reserva. Não se preocupe, portanto, em usar mais o seu cérebro, pois você já utiliza 100% dele. Preocupe-se em usá-lo melhor! O cérebro não é uma caixa em que você vai colocando sapatos e ela enche. O cérebro, quanto mais você usa, mais ele permite colocar algo dentro. É um sistema aberto e auto-organizável, sempre se auto-organiza quando acontecemos no mundo. O cérebro envolve-se muito com o que chamamos de plasticidade, mas precisa de muita atenção e dedicação como qualquer parte do corpo.
A leitura, por exemplo, é um exercício fantástico. “Quem não lê está fadado a uma memória mais lenta”, diz Izquierdo, um dos maiores especialistas em memória humana. Enfrentar desafios e sair da frente da TV também ajuda, assim como fazer exercícios físicos, que não só permitem o melhor funcionamento do cérebro como, provavelmente, fazem nascer novos neurônios (neurogênese).


TERCEIRO ATO. Sobre a questão de a droga acelerar a aprendizagem e permitir que seja utilizado 100% do cérebro. É possível?

Sem Limites conta a história de Eddie Morra (Cooper), um escritor fracassado que não consegue manter um minuto de concentração para terminar de escrever o primeiro parágrafo de seu livro. À primeira vista, Eddie Morra é um tipo “vagal”, o que, além de fazê-lo sofrer o afastamento de sua namorada Lindy (Cornish), coloca-o à beira de um colapso. Mas a vida de Eddie está prestes a mudar quando reencontra o ex-cunhado Vernon (Whitworth), um típico traficante de luxo, que oferece-lhe uma droga ainda não lançada: a NZT.
Segundo Vernon, essa droga permitiria Eddie exercer sua capacidade de utilizar 100% do cérebro.
Um ou dois minutos após o uso da substância, lá está o fracassado Eddie debatendo assuntos fora de sua área e em diferentes línguas. Em pouco tempo, Eddie fatura apostando na bolsa de valores e acaba se destacando no ramo dos negócios. Mas para tudo há uma consequência, certo? Aí entram os efeitos colaterais da droga, que podem levar à morte, e o fato de Eddie acabar conquistando diversos inimigos, alguns deles desejando arrancar sua pele.
Vernon, o traficante de luxo, diz algo muito interessante: “a droga funciona melhor com os inteligentes”. Ela realmente é uma caricatura que amplifica processos moleculares induzindo alta performance de sentidos, conexões e tomadas de decisões. Na verdade, chamamos isso de doping intelectual, ou seja, as pessoas que procuram drogas da inteligência não querem algo que lhes dê “barato”, e sim, “cognição”.
Os cientistas sabem há muito tempo que substâncias mais comuns, como a adrenalina, a glicose e a cafeína melhoram o desempenho e a memória. O conhecido pesquisador do cérebro Gazzanica afirma: ”Claro, nós todos sabemos disto: pessoas que fazem as coisas de última hora trabalham melhor sob o efeito da descarga de adrenalina causada pela aproximação do prazo final; evitamos trabalhar ‘de estômago vazio’, e estamos dispostos a pagar a mais por um café com leite duplo - tudo isso é prova de como apreciamos essas atividades lícitas”.
Essas drogas já existem e são realmente chamadas de drogas da inteligência, mas é preciso primeiro distinguir se, quando estamos falando de uma droga da inteligência, estamos falando de inteligência ou de termos uma percepção mais rápida das coisas e do mundo. A ideia de ser mais inteligente é, com muita frequência, apenas outra definição para pensar e fazer "mais rápido".
O corpo humano, em momentos-chaves de que necessitamos ou estamos em perigo, realiza esse processo naturalmente. Geralmente os sistemas mais rápidos, mobilizados pelo cérebro, envolvem as entranhas mais primárias ligadas à sobrevivência. Se um leão entrasse em nossa casa pela porta dos fundos, uma má cópia em preto e branco da imagem do leão na nossa retina chegaria em menos de 200 milissegundos à amígdala, que responde com a elevação da tensão arterial, da pulsação e da tensão muscular muito antes que a zona da cor do nosso córtex cerebral tenha podido elaborar uma imagem nítida (em tom de amarelo-bege, castanho). Entretanto já teríamos corrido para a porta certa! (Quem não dominar rapidamente este mapa de input-output não ficará para contar a história às gerações seguintes!).
Pesquisas feitas num animal muito simples, o caracol do mar Aplysia, a aprendizagem deste tipo de reflexo condicionado faz-se acompanhar da mudança da intensidade de transporte das ligações sinápticas. Outras experiências puderam demonstrar que a ligação entre dois neurônios eleva sempre a intensidade quando eles estão simultaneamente ativos. Isto foi postulado há mais de cem anos pelo psicólogo americano William James, e formulado mais precisamente há cinquenta anos pelo neurofisiologista canadiano Donald Hebb, e precisamente demonstrado, pela primeira vez, em 1973. O processo bioquímico é conhecido por ativação de longa duração (inglês: long term potentiation, LTP). Essas investigações ajudam a compreender as bases moleculares da aprendizagem e do pensamento que nos distanciam do modo ingênuo de pensarmos o cérebro como uma máquina cognitiva, ou seja, especializada em processar e computar informações nos moldes de um computador eletrônico.
Em conjunto com a variabilidade das ligações entre neurônios e o crescimento destas conexões, permite-se observar no âmbito celular a plasticidade da aprendizagem no nível de toda a zona do córtex cerebral.
Nossa memória mais rápida é a de trabalho, muito presa aos acontecimentos. Tem uma capacidade enorme de processamento, mas não é infinita. A memória de trabalho não forma arquivos duradouros: desaparece em segundos, no máximo em minutos. A memória de trabalho depende da atividade elétrica dos neurônios do córtex pré-frontal, localizado à frente da área motora. Esse esquecimento é muito necessário. Como lembra o neurocientista Izquierdo: “Quando a memória de trabalho fracassa, uma informação se confunde com a anterior ou com a seguinte, ou com a que está ao lado ou acima, confunde informações simultâneas e não consegue ser distinguidas das informações sucessivas ou isoladas”. Então é necessário não apenas velocidade de decisão sobre o que será bloqueado e esquecido, mas o que será posteriormente tratado como uma memória de médio e de longo prazo.
Por isso que chamo a atenção em minhas aulas de neuroaprendizagem que aprender, sobretudo e significativamente, é: aprender a esquecer. Enfraquecer as sinapses que não servem para nada e que não são usadas não dão resultados interessantes na experiência. Fortalecer as que permitem ao cérebro fazer o que dá certo é que é significativo. O emaranhado de conexões vai sendo esculpido, deixam de ser apenas possibilidades e passam a ser um conjunto de caminhos eficazes e com sentido, não mais apenas possibilidades.
As comparações anatômicas ou funcionais do cérebro com o computador geram enorme confusão. O cérebro é um sistema químico, o computador, um sistema elétrico. O cérebro não opera como uma máquina cognitiva-computacional. O computador é “burro” porque não esquece nunca, lembra sempre.
Ao contrário, somos inteligentes porque esquecemos! Somos complexos porque esquecemos. Um computador é uma poderosa máquina cognitiva, mas muito menos complexa, entre outras questões porque não esquece “nunca”, porque apenas computa informações (e ainda de um modo muito simplificado, de forma discreta e de modo apenas binário). O computador não tem um complexo sistema nervoso para uma aprendizagem que efetivamente transforme seus processos em mudanças e, portanto, conquiste a aprendizagem e o conhecimento.
Do ponto de vista do funcionamento, nosso cérebro é muito mais lento do que a máquina cognitiva-computacional. Nosso cérebro é muito lento quando vai operar um pensar consciente. Somos incomparavelmente medíocres em velocidade de processamento frente a um modesto computador de mesa. Um computador funciona na velocidade de um bilionésimo de segundo, o cérebro, em milissegundo.
Toda essa conversa de milissegundos e bilionésimos de segundos pode não o impressionar muito, mas um exemplo conhecido é suficiente para ver a diferença de algo ser um milhão de vezes mais rápido do que outro. Imagine que você tivesse uma pessoa que pudesse realizar uma dada tarefa em um dia, e outra que precisasse de um milhão de vezes mais dias para realizá-la. Se a primeira pessoa tivesse começado a tarefa há 24 horas, ela estaria terminando exatamente agora. Para que a pessoa mais lenta estivesse terminando a tarefa no mesmo tempo, ele ou ela teria de ter começado a tarefa por volta de 770 a.C. Essa é a diferença de velocidade entre um transistor comum e um neurônio!
Por outro lado, sabemos que o nosso cérebro pode trabalhar muito rápido em algumas tarefas. Vamos a outro exemplo conhecido: levante sua cabeça e olhe ao redor, depois a incline. Ao fazer isso, a imagem visual que você tem do mundo permanece vertical, pois ela não se inclina como sua cabeça.
Esta operação simples é tão "automática" que é fácil perder de vista o fato de que constitui um desafio computacional enorme. Apenas muito recentemente as máquinas mais modernas têm sido capazes de executá-la em tempo real, isto porque a maneira tradicional de um computador analisar uma imagem é bem diferente da maneira como o cérebro humano o faz.
É tentador examinar o sistema nervoso humano e ver o cérebro como uma espécie de processador central digital, com os nervos do sistema nervoso periférico atuando como canais de entrada e saída de dados.
O neurônio pode ser visto como uma chave interruptora em vez de transistor - ele está ligado ou desligado. Entretanto, essa analogia não resiste a um exame mais rigoroso. Um aspecto mais importante da natureza química do cérebro diz que ele está ligado ao segundo principal modo de comunicação do corpo, que é o sistema endócrino. O cérebro, na verdade, está em um banho sempre em mudança de substâncias químicas, aquelas criadas no interior do próprio cérebro e as produzidas em outras partes do corpo.
É claro que a base da inteligência é a atenção. Por isso, as drogas que estimulam as ressonâncias sensíveis da atenção são efetivamente muito eficazes. A concentração ajuda na rapidez e na percepção para a consolidação do aprendizado. As memórias de curta e de longa duração, que são a base da consolidação do aprendizado, são feitas por células especializadas do hipocampo e das áreas do córtex com as quais se conecta.
O aprendizado consolidado de longa duração sempre depende dos estados emocionais em que os acontecimentos se realizam. Isso implica liberação de substâncias neuro-humorais (que os antigos chamavam de fluidos corporais) nos processos modulares da atividade nervosa, tais como a noradrenalina, a dopamina, a serotonina, acetilcolina ou a beta-endorfina. Também alguns hormônios são secretados na aprendizagem e é a memória de forte apelo emocional que modula a atividade cerebral dessas áreas envolvidas, sendo a adrenalina e os corticoides as mais conhecidas secreções hormonais.
Aprendemos e gravamos melhor as informações e temos menos tendência a esquecer as memórias de alto conteúdo emocional. Então, tudo depende da atenção. O estresse é uma habituação bioquímica patológica em que mantemos o estado de alerta, envolvendo modulações agressivas para as situações que não são necessárias respostas de defesas severas. Onde nenhum predador efetivamente nos coloca em risco de sobrevivência, mesmo assim algum gatilho dispara reações bioquímicas (cortisol, adrenalina), até quando não necessitamos delas, ou seja, modulações que se encontram fora do contexto. A ciência já sabe que isso são ações dependentes de neurotransmissores. Usar o cérebro intensamente é muito bom. O que mata as células nervosas é o estresse e não a quantidade de seu uso. Esquecemos mais quando aprendemos estressados.
Em geral, chamam-se neurotransmissores àquelas substâncias que são liberadas nas fendas sinápticas pela terminação do neurônio, mais especificamente pelo axônio. Essas substâncias são liberadas para a célula seguinte passando da fenda sináptica e penetrando no neurônio alvo ou receptor. O neurotransmissor mais importante é o ácido glutâmico, que, ao agir sobre o receptor da célula seguinte, habilita-a para que possa gerar impulsos elétricos e enviá-los a outros neurônios. Os neurotransmissores se dividem em exitatórios ou inibitórios.
Também drogas como ansiolíticos como o valium, alprazolam e outros agem como inibidores por conter um dos principais neurotransmissores inibitórios, o ácido gama-butitico ou GABA (sua sigla em inglês). A noradrenalina, dopamina, serotonina, acetilcolina e até opioides como a beta-endorfina podem agir como neurotransmissores ou neuromoduladores.
Algumas drogas ditas inteligentes foram aprovadas e estão no mercado, assim como alguns remédios fitoterápicos sem aprovação. Lojas conhecidas como smartshops (lojas inteligentes) têm surgido por toda a costa oeste dos Estados Unidos para vender esses produtos.
Uma das drogas mais conhecidas, atualmente, é a droga metilfenidato (nome comercial Ritalina, do laboratório Novartis Biociências, e Concerta, do laboratório Janssen Cilag).
Trata-se de uma substância química de estimulação leve do sistema nervoso central com um mecanismo estruturalmente relacionado às anfetaminas de ação ainda não totalmente bem elucidada. É uma droga usada para tratamento dos casos de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), narcolepsia e hipersônia idiopática do sistema nervoso central (SNC).
Enfim, é uma medicação psicoestimulante e seu uso provoca uma maior produção e reaproveitamento de neurotransmissores, a exemplos: dopamina e serotonina.
Entretanto, há controvérsia sobre a produção e reaproveitamento da serotonina pelo cérebro das pessoas portadoras do TDAH.
A Ritalina aumenta o rendimento escolar de crianças hiperativas e faz o mesmo por meninos e meninas saudáveis. O resultado é uma pontuação consideravelmente maior em testes escolares, tanto em hiperativos quanto em usuários normais. Segundo o neurocientista Michael S. Gazzanica: “atualmente, muitos jovens saudáveis a consomem com esse propósito - e, francamente, não há como impedi-los”.
Há, entre a população normal, homens e mulheres com memória assombrosa, ou que aprendem línguas e música muito rapidamente, e mesmo aqueles com capacidades superiores dos mais variados tipos. Algo em seu cérebro permite que codifiquem novas informações numa velocidade espantosa. Aceitamos o fato de que eles devem ter algum sistema químico superior ao nosso ou certos neurocircuitos mais eficientes, mas “sacar uma pílula e aprender coisas novas após uma única leitura pode parecer injusto”, afirma Gazzanica.

Sabe-se que camundos tem dificuldades para formação de memória de longo prazo sem uma adequada habituação de exposição longa ou repetitiva de eventos de apresendizagem. Anos de experimentos demonstram isso. Porém, recentemente camundongos testados com drogas específicas de memória como a CREB (cyclic response element binding) tem alterado esse comportamento. Então uma ativação quimica artificial pode alterar habilidades não consolidadas de aprendizagem e memória. Então o que acontece é que o que os esforços que os camundongos realizavam para aprender um evento de aprendizagem de longa duração tornam-se desnecessários. Drogados eles consolidam aprendizados com facilidade em eventos de curta duração.
O interessante é que muitas drogas da "inteligência" estão na fase de testes clínicos e devem chegar ao mercado logo. Algumas medicações atualmente disponíveis para pacientes com problemas de memória podem aumentar a inteligência de pessoas saudáveis.
Já em julho de 2002, Jerome Yesavage e seus colegas da Universidade de Stanford descobriram o Donepezil, droga aprovada pela FDA para retardar a perda de memória em pacientes com Alzheimer e que melhora a memória de pessoas sem a doença. Para muitos, o futuro já chegou e existe a possibilidade de que o Donepezil se transforme em uma Ritalina de universitários.
Já está disponível ou em estágio de aprovação pela FDA, a agência americana de controle de alimentos e fármacos, diversos estimulantes cognitivos que comprovadamente melhoram a memória. Eles estão sendo chamados de drogas inteligentes ou nootropos.
Se os testes clínicos correrem bem, uma das substâncias mais promissoras é a MEM 1414. Porém, todas as drogas possuem efeitos colaterais tal como mostra o filme. Para quem se aventura ao doping intelectual da NZT, muitas vezes pode pagar o preço de mudanças significativas em sua vida junto a pessoas significativas e vivências existenciais marcantes ou, até mesmo, o preço de sua própria vida.
Não existe droga segura, a não ser a cafeína. Como é estimulante e produz efeitos farmacológicos nos receptores de adenosina, ela é, sim, uma droga. Mas não há evidências de que vicie nem de que seja tóxica, a não ser que você tenha problemas cardiovasculares. Ainda não sabemos se é prejudicial a crianças e adolescentes, mas para adultos não há nenhum problema.
O cérebro, em consequência do uso de drogas, é modificado de maneira física e daí surge a dependência química, uma doença que muda a bioquímica, a função e a anatomia do cérebro. Ocorre da seguinte maneira: todas as drogas aumentam a concentração de dopamina no cérebro. Quando o sistema dopaminérgico é ativado, vez após outra, pelo consumo repetido dessas substâncias, ele sofre modificações, de forma que passa a não funcionar mais quando a pessoa não está sob o efeito da droga. Com isso, o usuário procura usar mais drogas para tentar compensar o déficit.
Muitos especialistas em reabilitação afirmam que nós não podemos curar o vício, mas apenas tratá-lo. Quando você tem uma infecção bacteriana, toma antibiótico e está curado. Agora, se você tem asma ou diabetes, tem de tomar algum tipo de medicamento ao longo de sua vida. É um tratamento para sua condição, não a cura. Hoje, existem apenas tratamentos para o vício, que combinam medicamentos e terapias comportamentais. Sabemos que está sendo desenvolvida uma vacina contra os vícios de cocaína e nicotina, mas ainda são apenas pesquisas.
O córtex orbitofrontal é a principal área ligada ao vício e à mesma área que envolve disfunções e o transtorno obsessivo-compulsivo. A pessoa viciada em drogas pode, em geral, desenvolver uma obsessão e uma compulsão por drogas similares àquelas que são indicadas para a doença de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). O que o vício e o TOC têm em comum? Ambas as doenças afetam as mesmas áreas do cérebro, aquelas relacionadas aos hábitos e aos controles. Mas, embora o local afetado seja o mesmo e a apresentação dos sintomas se dê de forma parecida, os mecanismos que levam a essas anormalidades não os são.

QUARTO ATO. Há equívocos reproduzidos no filme sobre a aprendizagem e a memória envolvida nos estudos do cérebro?

No primeiro ato conhecemos o vagal Eddie, depois, o Eddie em metamorfose seguido pelo Eddie rico, só para aí entrarmos na fase das consequências. Esta se inicia pouco antes da metade do filme, quando Eddie sofre com os devastadores efeitos da droga e a perseguição de terceiros, incluindo a do traficante Gennady (Andrew Howard). Trata-se de uma ficção interagindo com muita ação.

Então vejamos! É possível, sim, potencializar bioquimicamente o cérebro para a atenção, a melhora da performance na rapidez das conexões e o aproveitamento das memórias ou fragmentos pseudoextintas ou reprimidas.
Agora um dos maiores equívocos do filme é a ideia cognitivista-computacional para a aprendizagem. Ao reduzir a aprendizagem ao processamento de informação, típica dos cognitivistas, tudo passa a ser visto em termos de aprendizado só pelo acesso e processamento rápido de dados e por uma rápida tomada de decisão. Se todo o aprendizado é apenas produto de informação, basta acelerar e melhorar a captura e o processamento da informação.
Porém, não se pode tocar um piano somente lendo partituras, muito menos ser um exímio pianista apenas compreendendo as informações contidas nas notas da música e sua tonalidade sonora. A aprendizagem para a informação é importante, mas algo é mais importante: a experiência vital.
Também já sabemos que não existe um único típico de inteligência. A inteligência matemática, tão cultuada nos meios científicos anglo-saxônicos e norte-americanos, é apenas um tipo específico de inteligência. A distribuição das diferentes inteligências entre os seres humanos também é aleatória. Podemos ser muito bons em relacionamento pessoal e muito pouco hábeis com a formalização da matemática e vice-versa. Por exemplo, sabe-se que um autista, com diferentes graus, é consequência de erros migratórios na formação do córtex neuronal de modo a que as áreas funcionais da matemática sejam muito mais eficientes. Um autista é uma espécie de um superespecialista em matemática, mas com muitas dificuldades e déficits em diversas áreas, sobretudo nas de relacionamento interpessoal. Muitos deles são capazes de realizar uma equação de terceiro grau em segundos, mas são incapazes de comprar pão na esquina sozinhos.
No filme, depois de tomar a pílula, Eddie torna-se muito apto a aprender qualquer coisa universalmente: lutar, porque passou na televisão ou assistiu a um filme de Kungfu, ou uma língua em minutos, depois de ouvir alguns fonemas em italiano ou até chinês. Porém, o aprendizado de várias línguas com muita facilidade só é mais possível facilmente quando somos crianças. Os adultos possuirão sempre, em situações normais, muitas dificuldades de aprendizagem de uma língua que não é a sua língua materna.
De 5 a 6 meses de idade obtemos um crescimento cerebral que atinge a velocidade máxima espantosa em torno de 250 mil novos neurônios por minuto. Antes mesmo de você nascer, o cérebro está praticamente formado.
Cada grama do cérebro infantil consome até o dobro de energia que o cérebro adulto.
Isso gera um excesso de sinapse que é a matéria-prima do aprendizado. No entanto, o aprendizado consiste não no acréscimo de conexões novas, mas na eliminação direcionada dessas sinapses, eliminação das conexões excessivas pelo uso e fortalecimento e eliminação dos caminhos repetidos e fortalecidos.
Suzana Herculano, outra cientista do cérebro, explica esse fenômeno com a metáfora da escultura. Imaginamos um tronco de madeira que não é uma escultura com traçados coerentes. Todo o material em excesso será removido. Umas conexões serão fortalecidas, outras eliminadas, e assim, durante todo o desenvolvimento da criança para o adulto, o cérebro vai sendo esculpido. O excesso de conexões iniciais é a matéria-prima que permitirá que o cérebro, com o uso, possa transformar-se em algo definitivamente elaborado pelas experiências.
Daí em diante, segundo o que se acreditava até há pouco tempo, ele poderia aprender coisas novas, mas não ganharia novos neurônios. Só nos restava cuidar bem dos que já temos, mas já descobrimos que não é verdade.
É com a experiência da tentativa e erro que você vai consolidar o resultado que dá sentido a seu cérebro. Conforme descobre na primeira vez, esse caminho sináptico funciona e você começa a repetir e a trilhar cada vez mais até ele reforçar-se, tornando-se a via mais rápida e direta entre dois pontos. Herculano lembra que isso acontece quando mais vezes você anda pelo mesmo caminho, pois mais demarcado ele fica e mais facilmente você o encontra na próxima vez. Nesta, de tão limpo e claro, encontrá-lo e caminhar sobre ele se torna muito mais fácil e rápido (modelagem e remodelagem da aprendizagem).
Chamo a isso de a necessidade de estarmos atentos ao aprendizado por uma pedagogia da experiência do acontecimento).
Denomino de Pedagogia do acontecimento o processo constituído de dinâmicas de um aprender que valorize a própria experiência do saber, um poder aprender numa sociedade que acelera o acesso e a produção da informação e do conhecimento. Tal processo deve ser compreendido da seguinte forma: “viver como um acontecimento”. Para mergulhar nos acontecimentos, necessário se faz desassossegar-se do repouso funcional dos fatos, o que exige viver o acontecimento do mundo, mudando a maneira de pensá-lo. Os estados simbólicos de mentitude necessitam de novas práticas, novos estímulos estéticos e ambientais, novas dinâmicas de modelações criativas do aprendizado, visando não a mera disciplinarização do corpo e da cognição. Envolve motivações, prazer, conformidade com sentidos, da pessoas e junto ao mundo que acontecemos.
Estudos simbióticos de mentitude são envolvidos em dinâmicas de aprendizagens, o percurso de estados da mente e do corpo, frente às diferentes singularidades de dobras micro e macro da realidade. É um percurso vital que envolve complexos processos de associações e conexões de conflitos e cooperações desde as entranhas comportamentais micromoleculares, até as micro e macro comportamentais de nossos sentidos cotidianos, visíveis na escala macrofísica da realidade”. Essa trajetória de estado de mentitude é singular e específica em cada uma dessas “dobras micro e macro da realidade e ao mesmo tempo diferentes e singulares e simultâneas inclusive em suas regras de comportamentos. Por isto o estado de mentitude é simbiótico (de symblon, que vive junto). LIMA, Gilson Luiz de Oliveira. (2009) Redescoberta da mente na educação: a expansão do aprender e a conquista do conhecimento complexo. Educação e Sociedade. Vol 30, nº 106, p. 151-174. Jan/abril.
Voltando a aprendizagem como um acontecimento que experiencia-se. Um tocador de gaita tem mais espaço no cérebro para a mão e para a boca de quem usa, por exemplo, a boca apenas para falar e comer. Mais células representarão o tato nesses locais. Um violinista profissional, que toca o instrumento desde pequeno, tem cerca de 4 centímetros de espaço no cérebro apenas para a mão esquerda.
Se hoje, adultos, vamos começar a aprender a tocar violino poderemos chegar ao máximo a 0,5 centímetros, ou seja, ½ centímetro de espaço para a mão esquerda. É melhor começarmos mais cedo. O jovem está mais preparado para aprender mudanças, os mais velhos são mais lentos. O que é ótimo; caso contrário, teria de aprender tudo sempre novamente, que é o efeito do de novo, da criança de colo. Quando atiramos uma criança de colo para cima, em direção ao teto, ela, depois de algumas risadas, pede: “de novo”. Esse processo vai se repedindo sempre seguido de um de novo (que para a criança é uma nova primeira vez) até que a criança se dá conta de que não corre nenhum risco e que está tudo sobre controle pelo adulto. É assim que consolida sua rede de aprendizagem sobre o evento. A próxima vez não será um de novo, mas uma repetição em que perdeu-se a graça, houve o aprendizado.
No caso do cérebro adulto, aprendemos mais devagar porque nossas redes estão consolidadas. A taxa de rapidez da aprendizagem vai caindo com o tempo. Por isso o aprendizado para muitas situações como o da linguagem no cérebro tem uma JANELA DE OPORTUNIDADE: geralmente é até os 10 anos, e o aprendizado da visão, 5 anos. São, inclusive, momentos críticos essas janelas de oportunidade, período da vida em que o cérebro é especialmente capaz para modificar-se com o uso e a experiência.
Claro que é possível sempre modificar o cérebro com o uso depois de adulto, a aprender (plasticidade), mas é muito mais difícil e certamente falaremos com sotaque. Teremos de compartilhar e dividir com as mesmas trilhas da nova gramática e estabelecer paralelos com a gramática materna. Pensaremos numa palavra e, ao chegar à memória de longo prazo, não consideraremos a habituação da palavra materna memorizada àquele contexto. A criança usará trilhas independentes para diferentes linguagens. Nós já destacamos essas trilhas, temos de trabalhar com o que sobrou.
Outro exemplo. O cérebro precisa aprender a enxergar. O córtex visual tem de processar a informação visual de modo que a imagem seja coerente com os outros sentidos. Isso acontece com muita facilidade no começo da vida. É preciso que o córtex visual junte os sinais que chegam dos dois olhos e de modo coerente até os 4 ou 5 anos, mais ou menos. É por isso que a cirurgia para corrigir estrabismo deve ser realizada nessa idade (não perder a janela de oportunidade), quando o córtex visual está mais apto a se modelar para aprender essa experiência visual (juntar a informação dos dois olhos).
Por outro lado, no filme encontramos uma reducionista abordagem computacional do aprendizado e da inteligência tal como em Matrix. É uma abordagem de modelo computável do cérebro humano que, de algum modo, já comentamos.
Tem uma cena em Matrix que relaciona-se muito com essa abordagem. No primeiro Matrix, quando os dois jovens protagonistas (Neo e a bela italiana Trinity) tentam fugir para um lugar seguro, eles se deparam com um helicóptero. Neo pergunta a Trinity: "Você sabe pilotar isso?”. E ela responde: “Ainda não". Então ela pega o celular, liga para alguém na central e pede para que o sujeito carregue o programa que a faria aprender a pilotar o helicóptero em alguns poucos segundos. Com o programa na mente, ela assume o controle e voam em segurança em busca de novas aventuras.

Essa cena de educação instantânea traduz muito de nossa atualidade, tomada pela hegemonia cognitivista-computacional e da ideia de que podemos programar as pessoas, de que podemos ter acesso instantâneo aos dados (realidade fisicalista) e de que isso até se estende para programações infogenéticas (genes), capazes de indicar automaticamente comportamentos e atitudes. Um mundo que nos levou ao beco sem saída onde os homens se tornam programas ou extensões de máquinas computacionais.
As informações são processadas por Trinity e ela, a seguir, entra no helicóptero e com muita maestria passa a pilotá-lo como se tivesse mais de 40.000 horas de voo no aparelho.
Trata-se de uma visão simplificada e equivocada da aprendizagem cerebral. Nosso cérebro não é um imenso cabo de redes telefônicas, formado por sinais elétricos que perpassam sinais de um ponto a outro como ocorre no computador. Um computador limita-se a acessar, trocar, estocar e transportar dados, informações, e isso está muito longe da complexa expansão do nosso aprendizado humano.
Se considerarmos a dinâmica neural (isto é, a maneira como os padrões de atividade do cérebro se modificam ao longo do tempo), a característica especial mais impressionante dos cérebros dos vertebrados superiores é a existência de um processo que denominamos reentradas. Trata-se do constante e recorrente intercâmbio de sinais em paralelo entre áreas reciprocamente interconectadas do cérebro, um intercâmbio que coordena constantemente a atividade dessas áreas, tanto no espaço como no tempo. Uma característica impressionante dessas reentradas é a sincronização ampliada da atividade de diferentes grupos de neurônios, ativos e distribuídos entre as muitas áreas especializadas do cérebro.
O cérebro, com suas SINAPSES, é um sistema aberto que está sempre de modo ou outro se auto-organizando, quando acontecemos no mundo. Quando surgem acontecimentos que apresentam um resultado melhor do que esperávamos, isso chama a nossa atenção, não é um programa, mas uma predisposição também para aprendermos algo novo.
O cérebro é uma máquina de extração de regras. Um cientista do cérebro, Spitzer, conta-nos uma história bem simples para entendermos esse processo. Diz ele que certamente você já viu (ou comeu) milhares de tomates na sua vida; contudo, de forma alguma pode lembrar-se das características específicas de cada um dos tomates isoladamente. Essas características seriam completamente inúteis para o cérebro toda vez que você observasse um novo tomate, pois só iria utilizar o que o leitor soubesse sobre tomates em geral, para poder saber o que fazer com este. Podemos comê-los, cheirá-los, utilizá-los em ketchup, atirá-los, etc.
A aprendizagem de fatos ou acontecimentos isolados não só é na maioria dos casos pouco importante, como inoportuna. Esses conhecimentos de acontecimentos isolados são de pouca ajuda. A informação isolada da experiência é muito limitada.
Nosso cérebro, com exceção do hipocampo, que é especializado em conteúdos isolados, é muito bom com extração geral de regras, pois é especializado na aprendizagem de generalidades.
Tal generalidade, porém, não é adquirida ao aprendermos regras gerais? Não! Ela é aprendida porque construímos exemplos. É a partir desses exemplos e imitações que aprendemos a produzir as próprias regras.
As centenas de milhões de conexões que compõem a estrutura conectiva íntima do cérebro não são conexões exatas. Se indagarmos se as conexões são idênticas em quaisquer dos cérebros de tamanho semelhante, como ocorreria nos computadores de construção similar, a resposta é não. Isso está equivocado.
O mundo não se apresenta ao cérebro como uma fita magnética de computador que contém uma série de sinais claros e inequívocos. Ao contrário, o cérebro é capaz de categorizar e classificar os padrões de uma enorme série de sinais variáveis.

Para ver o Trailer do filme: http://www.youtube.com/watch?v=JMU_ksS3fq4

Gilson Lima Sociólogo da Ciência. Sócio proprietário da NITAS: tecnologia e inovação. Pesquisador do Research Committee Logic & Methodology and at the Research Committee of the Clinical Sociology Association International Sociological (ISA).E-mail: gilima@gmail.com Blog: http://glolima.blogspot.com/  

terça-feira, 1 de março de 2011

Cérebro não precisa da visão para 'ler' textos, diz pesquisa

Notícias e Comentários
Gilson Lima



Estudo com deficientes visuais lendo em Braille mostra que mesmas áreas do cérebro da leitura visual são ativadas






SÃO PAULO - A porção do cérebro responsável pela leitura visual não precisa da visão. Foi o que determinou um novo estudo analisando imagens do cérebro de cegos lendo em Braille. A descoberta desafia a noção de que o cérebro é dividido em regiões especializadas no processamento da informação vinda de sentidos diferentes, segundo os pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém e da França.
Karl-Heinz Wellmann/Divulgação

Livro escrito em Braille
 

O cérebro não é uma máquina sensorial, embora muitas vezes se pareça com uma; ele é uma máquina de realização de tarefas, afirmaram os pesquisadores responsáveis pela pesquisa. Uma área em particular é responsável por uma função única, nesse caso, pela leitura, independentemente do sentido envolvido na modalidade.
Diferentemente de outras tarefas realizadas pelo cérebro, a leitura é uma invenção recente, de cerca de 5.400 anos de idade - o Braille tem apenas 200 anos - não havendo tempo suficiente para que o cérebro tenha evoluído um módulo específico dedicado a essa tarefa.
No estudo, a equipe utilizou ressonâncias magnéticas para observar o cérebro de deficientes visuais de nascença lendo palavras ou sinais sem sentido em Braille. Quando liam palavras reais, a área do cérebro acionada no processo de leitura era as mesma acionada no processo de leitura visual.

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Meu comentário:
Recentemente escrevi um artigo (ainda não publicaso) com resultados de pesquisa que realizei envolvendo o tema da mente, o cérebro, o olho e a leitura.

Nesse artigo reafirmamos a concordância com muitas descobertas atuais das ciências da mente de que o cérebro não foi naturalmente projetado para ler e indicamos alguns aspectos filogenéticos e ontogenético do sistema nervoso central e dos estados de mentitude para a linguagem e a fala. Nosso sistema visual demonstra ao mesmo tempo a importância e os limites do olho para a leitura.



Nesse artigo que espero seja publicado ainda esse ano em uma importante revista da área de educação colocamos um sub-título específico que apresenta didaticamente o processo do sistema visual intitulado: O Olho em si não enxerga.
Nós humanos atualmente nascemos com a dádiva de enxergarmos o mundo colorido em que nele acontecemos esquecemos o que poderíamos ser e aprender sobre nós e esse mesmo mundo sem nossos olhos. No entanto, preparem-se não enxergarmos com o olho. O olho não enxerga nada.
Assim, começamos ao estudar o sistema nervoso central descobrir que no processo de ler significa também não ler e o cérebro não precisa ver tudo que está impresso no papel. Isso é muito importante e de algum modo muda a idéia que alguns reduzirem a performance da leitura totalmente focada no sistema de microrrelações voltada ao foco visual. Para ler um texto impresso precisamos não ler o que não está impresso numa página. Complicado?
Ver realmente é uma dádiva. Entendemos claramente o porque da valorização do olho, pela ciência nos processo de aprendizagem de conhecimento tem uma base de fundamento na idéia que “aparentemente” está correta, de que de todas as ressonâncias sensórias humanas, o olhar e o ver o mundo colorido e em três dimensões é uma das maiores dádivas que a evolução da vida nos legou. Também, nos diz a neurologia, de que de todos os “órgãos” dos sentidos, o olho é o que detém o mais complexo mecanismo operado por nossa mente. Só para se ter uma idéia os estudos de ressonância magnética encefálica, contabilizam mais de cem milhões de fotorreceptores conectados ao olho, contra 3.500 (três mil e quinhentas) células ciliadas internas do ouvido. No entanto, basta um simples fundo musical quando estamos assistindo a uma cena de um filme, que numa simbiose intensa, passamos também a “ver” música e a “ouvir” imagens. (LIMA, Gilson. Nômades de Pedra, Porto Alegre: Escritos, 2005: 316).
Apesar de não vermos tão longe quando um condor capaz de enxergar um pequeno peixe dentro d’água a quase 1.000 metros de altura, nosso sistema visual é muito complexo e a visão é um ponto de partida fundamental para a escrita e a leitura.
Ver não é olhar. A valorização do olho, pela ciência moderna tão enfatizada nos processo de aprendizagem de conhecimento tem uma base de fundamento na idéia que “aparentemente” está correta, de que de todas as ressonâncias sensórias humanas, o olhar e o ver o mundo colorido e em três dimensões é uma das maiores dádivas que a evolução da vida nos legou.
Desde os antigos gregos a visão somente era possível graças a um "fogo interno", emanado dos nossos olhos, iluminando os objetos do mundo. Os gregos seguiam a chamada doutrina jônica, segundo a qual "semelhante é percebido por semelhante. A percepção do som, que é ar em movimento, ocorreria graças à presença de ar nos ouvidos; e, como escreveu Aristóteles (384-322 a.C.).
Ao dizer que vemos o mundo como o vemos, significa dizer também que o mundo que vemos não é o mundo como ele efetivamente é. O mundo como o vemos é um mundo que praticamente reconstruído simbolicamente e como poucos seres vivos o vê.
É importante aqui apenas considerar que para entender o que vemos precisamos primeiro de ver. Para isso precisamos dos olhos. O olho nos permite ver, mas não entender o que enxergamos. Enxergar é um simbiótico estado de mentitude muito complexo. Nem sequer as cores que vemos existem em si mesmo, são produtos da simbiose de estados de mentitude quando acontecemos no mundo em dependência de nossos bioprocessos capazes de transmutarem sinais de fótons em determinadas cores. O mesmo vale para o som. O som lá fora de nossos processos de mentitude são penas ondas que vibram sem ruídos.
Ler exige concentração focal. Os seres humanos e vários outros animais possuem dois olhos apontados para a mesma direção e duas imagens de objetos são enviadas ao cérebro ao mesmo tempo. Se não focarmos e concentrarmos de modo adequado um livro, veremos mais de uma letra o que dificultará a leitura. Nosso raio de ação para não ser bifocal deve ser previamente considerado na leitura para permitir ao cérebro identificar a percepção de um único objeto e também sua distância e profundidade.
Não vamos nos ater nos aspectos mais complexos da transformação do sinal em símbolos socialmente compartilhados e muito menos na complexidade dos processos que envolvem a significação textual. Para nossos fins, apenas devemos ter ciência de que ler é um caso especial de percepção visual. E muito marcado pela aprendizagem e a cultura, mas, ao mesmo tempo, e tão elementar que nos, quando olhamos uma palavra, temos mesmo de ler. Dito de outra forma: não podemos simplesmente ver uma palavra e não a ler! Ler é um ato de imaginação visual.
A questão mais importante para muitos de nós educadores é repensarmos a teoria explícita ou implícita dos sentidos humanos que herdamos de antigos gregos (Aristóteles), ou seja, a idéia da existência em si de uma realidade mateiral dada que é capturada pelos modestos cinco sentidos humanos. Isso tem implicações profundas em nossas práticas de aprendizagens.


Gilson Lima
Sociólogo da Ciência.
Pesquisador do Research Committee Logic & Methodology and at the Research Committee of the Clinical Sociology Association International Sociological (ISA).


Contatos:

Msn: glolima
Orkut: Gilson Lima
Skype: gilsonlima_poa


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

VÍDEO = LESÃO CEREBRAL & PROJETO AVATAR

Continuação da matéria: Lesão cerebral, simbiogênese e o possível fim da linguagem por sinais (Libras).
O projeto envolve: Atendimento clínico-educacional interdiciplinar (alfabetização suportada por recursos computacionais).
Etnografia do cotidiano e mapeamento de comunicação alternativa (conhecimento pré-existente de comunicação).
Suporte informacional com infra vermelho e padrão de reconhecimento de face com interação com olhos e boca.
Acesso a programas windows, sintetizador de texto.
Jogos de aprendizagem, alfabetização e navegação hipertextual.

Coordenação Projeto:
Dr. Gilson Lima
&
Dr. Fleming Pedroso
IPA - Porto Alegre/RS - Brasil

Vide filme anexo!



 


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

OPERADORES TRANSVERSAIS EM POLÍTICAS PÚBLICAS

 
A utilização de operadores transversais nas políticas públicas anunciados pelo novo governo estadual do Rio Grande do Sul é uma novidade muito bem vinda. Trata-se do que de mais avançado podemos encontrar em modelagens organizacionais complexas ausentes até mesmo nas grandes agências de pesquisa do país.
Esses novos operadores são a essência de organizações contemporâneas envolvidas num permanente agenciamento informacional. É o caso de organizações como o Google, o Feceboock apenas para citar algumas.
No decorrer dos últimos anos a ciência rompeu suas limitações disciplinares e descobriu novas relações transdisciplinares. Encontramos novos sistemas complexos, abertos e auto-organizáveis compreendidos como inseparáveis de seu ambiente e em interação constante, com permanente comunicação por redes de trocas em diferentes planos: do âmbito molecular, ao microfísico (eletromagnéticos) até o âmbito molar, corporal, social.
Podemos então olhar a gestão de políticas públicas por outro ângulo? Sim. Não é tarefa fácil. Para tanto, é preciso primeiro destacar o centro de todas as atividades e energias organizadoras e dissipativas sistêmicas, ou seja, precisamos definir o agenciamento e da produção processual da informação e do conhecimento como a atividade fim.
Operadores transversais são típicos de sistemas dinâmicos (sejam eles discretos, contínuos ou híbridos). São sistemas eventualmente assíncronos e de baixa uniformidade ou de simplificação causal. São sistemas abertos e envolvidos com a dissipação e não apenas com a organização. Seus processos são baseados em operações e não em funcionalidades mecanizadas, não decorrem apenas de controles racionais com regras escritas, mas de procedimentos e insigths que permitam a recursividade.
Os operadores transversais são baseados em propriedades como invariância, criticidade, complexidade algorítmica, convergência, similitudes e que descartam as análises estatísticas clássicas. Seus instrumentos são qualitativos e quantitativos envolvidos em sofisticadas técnicas de mineração de dados, lógica fuzzy (lógica de borramento de conjuntos) e, sobretudo, sistemas aprendentes e auto-construcionais.
Nada fácil de dominar e difícil de encontrar até mesmos nas próprias gestões das universidades, mas desejável para ser de algum modo perseguido na esfera pública.


Gilson Lima – Sociólogo da Ciência – IPA.
Pesquisador do Research Committee Logic & Methodology and at the Research Committee of the Clinical Sociology Association International Sociological (ISA).

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Lesão cerebral, simbiogênese e o possível fim da linguagem por sinais (Libras)

Dr. Gilson Lima


Projeto Simbiogênese aplicada em processo de reabilitação.

Coordenadores:
Dr. Gilson Lima & Dr. Fleming Pedroso.

Dr. Gilson Lima




Contatos:


Dr. Fleming Pedroso

Tweets: http://twitter.com/#!/glolima



Segue abaixo uma apresentação descritiva (detalhada) do Projeto de Simbiogênese aplicada em reabilitação do Núcleo Interdisciplinar de Tecnologia Assistiva e Simbiogênese do Centro Universitário Metodista IPA coordenado pelo Dr. Gilson Lima. Esse núcleo integra o Programa de Pós Graduação – Mestrado Profissional – do IPA em Porto Alegre/RS.

O projeto em questão prevê alternativa de comunicação e da imposição da necessidade de aprendizagem de Libras para fala e alfabetização de crianças em idade escolar com lesão celebral e que não possuem a plenitude dos atos de fala (verbalização).

A solução alternativa da simbiogênse informacional - (IPAVOX).
Este projeto experimental integra também o esforço de sistematização da Teoria Biossocial da Simbiogênese realizada pelo sociólogo Gilson Lima. A teoria da simbiogênese serve então de base e fundamentação teórica desse projeto. Pensamos que essa abordagem dota de maior complexidade os processos reabilitadores, envolvendo interface orgânica e inorgânica tratadas de modo dual como suportes de tecnologia assistiva.
O corpo em simbiogênese com as máquinas e suas interfaces musculares e cognitivas precisa ser redirecionado e situado numa simbiozona que envolve os limites genéticos da sua realidade orgânica, molhada e genética informacional, com a realidade seca, sílica, metálica, chumbada, do mundo inorgânico dos utensílios, artefatos e das máquinas que inter-co-agem em simbiose com a vida ( LIMA, Gilson. Nômades de Pedra: Teoria da Sociedade Simbiogênica contada em prosas. Porto Alegre: Escritos, 2005, p. 161).
Pretendemos difundir e sistematizar durante todo o projeto uma nova abordagem científica inovadora da convergência pela SIMBIOGÊNESE APLICADA À REABILITAÇÃO, que integra tecnologia assistiva com o movimento científico da convergência da performance do humano e com a epistemologia da complexidade.
Na nossa abordagem priorizamos basicamente três grandes famílias de interfaces e relações simbióticas entre a vida humana e as máquinas, ou seja, symbios de amplificação humana envolvendo a interface corpo, máquinas e softwares. São elas: a chamada muscular-motora, a sensória e a cognitiva. 

Molar

Também podemos encontrar três situações frente à escala do acoplamento simbiogênico. Uma primeira escala – MOLAR: Macro acoplamento simples com interfaciamento de melhoramento apenas clínico e re-educacional . O acoplamento molar não envolve intervenção cirúrgica e não envolve programação micro-eletrônica (lasca de silício ou outro dispositivo micro informacional como o infogene).

Micro

A segunda escala – MICRO: Envolve acoplamentos com interface de programação microeletrônica (disparadores, lascas de silício com chips miniaturializados,...), ou seja, envolve acoplamento da escala micro (não visível) e macrofísica (visível) numa simbiose simultânea.


Molecular

A terceira escala: MOLECULAR: É a escala do borramento da fronteira molecular, abaixo do universo da micro realidade. Entramos nas escalas de máquinas e dispositivos nanométricos com interfaciomanentos biomoleculares. Aqui encontramos o borramento da fronteira da realidade seca inorgânica com a realidade úmida – inorgânica.  
A simbiogênese implica também numa convergência ampla de saberes – muito além das abordagens disciplinares – de modo a não reduzir a reabilitação e a simbiose do humano com as máquinas apenas na esfera da performance da engenharia física. A simbiogênese ampliou o reduzido significado de convergência para o melhoramento humano de padrão mais americano (tecnocientífico) queremos, ao contrário, uma simbiose muito mais ampla para convergir não apenas ao agenciamento da tecnociência, mas para um amplo agenciamento de todas as instituições numa efetiva sociedade do conhecimento. Por isso o projeto tem uma interface tecnológica, de engenharias informacionais, mas também uma interface clínica, pedagógica, escolar e social. Trata-se de uma convergência interdisciplinar ampla entre o conhecimento humano e o da natureza inter-relacionada na convergência e nos projetos de pesquisa.



Equipe do Projeto

Coordenadores do Projeto:

Dr. Gilson Lima e Dr. Fleming Pedroso.

Pesquisadores Auxiliares:

Dra. Maria Inês da Costa Ferreira.
Ms. André Rodrigues da Silva.
Ms Simone Rizzo Nique da Silva.
Mestrando Jefferson Leal Couto
Dr. Omar Silveira
Aluno bolsista: Cristiano Angelo Pedroso - Curso Engenharia de Computação
Mestranda e auxiliar de pesquisa: Carmela Slavutzky


Objetivo Geral do Projeto

A diretriz básica do projeto consiste em atender crianças capazes de aprender todos os processos motores e cognitivos necessários a comunicação verbal, mas por causa de determinadas lesões neurológicas são incapazes organicamente de exercitarem a verbalização em plenitude de significação social. Mais especificamente o projeto visa também:

1) Favorecer a inclusão escolar;
2) Comparar os resultados clínicos e tecnológicos sem efetivos diálogos e práticas interdisciplinares;
3) Estimular a criatividade, integração social e autonomia das crianças com lesão cerebral;
4) Proporcionar espaço que possibilite a alfabetização digital.

O Projeto envolve atividades clínicas, pedagógicas e educacionais e de engenharia de hardware e software.

Dos casos Clínicos. Descrição do Caso (1)

Menino X, 7 anos. Lesão encefálica bilateral. Lesão diagnosticada com ressonância magnética como síndrome Peri-sylviana (SP). Trata-se de malformação congênita da região peri-sylviana, mais especificamente pela polimicrogiria, a qual corresponde a múltiplos pequenos giros entorno da fissura de Sylvius, e com sulcos pouco evidentes.

Sequelas:

1. Alterações e déficits motores nos membros superiores e inferiores, mais acentuado no lado esquerdo.
2. Sialorreia (perda do controle automático da “baba”) e problemas leves de deglutição.
3. Mesmo com capacidade de aprender a ler e escrever a lesão não permitirá a plenitude dos atos de fala (verbalização).

Solução

1. Órteses (membro superior e menbro inferior).
2. Atividades clínicas e educacionais de aprendizagem de fala, escrita e sons suportada por programas computacionais especialistas.
3. Produção de um aparelho IPAvox (móvel) um sintetizador artificial de fala (bateria). Esse aparelho móvel é integrado a um módulo clínico desktop onde o profissional da reabilitação, monitora e abastece os dados sempre voltados para finalidades comunicacionais, pedagógicas e de aprendizagem.

Metodologia

A Metodologia está montada em três operações realizadas de modo independente e às vezes simultâneo:

OPERAÇÃO 01. Que envolve atendimentos clínicos, processos de alfabetização suportados por computadores e metodologias informacionais com um minilaptop e softwares facilitadores para facilitar a consciência fonológica e a amplificação dos processos de significação e alfabetização junto a um caso clínico de uma criança com lesão cerebral em idade de inclusão escolar.
A operação 01 está em pleno andamento onde os casos clínicos escolhidos estão sendo submetidos a atendimentos clínicos e educacionais monitorados envolvendo familiares e professores de suas respectivas escolas.
Para isso foi instalado uma UNIDADE EXPERIMENTAL DE PESQUISA CLÍNICA DO NITAS NO HOSPITAL PARQUE BELÉM: Equipe interdisciplinar de Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Fisioterapia, bem como uma unidade de Pesquisa com recursos computacionais e atividades integradas junto as Escolas dos pacientes envolvidos no projeto. Foi criado um conjunto de medidores de desempenho frente as atividades lúdicas, clínicas com ou sem o uso dos programas computacionais de aprendizagem. Foram realizadas entrevistas episódicas com familiares e professores e produzido dois relatórios parciais integrados (interdisciplinares) dos atendimentos clínicos.

Foram produzidas as órteses: uma superiora e outra inferiora.
Da órtese superior. Ela foi produzida pela equipe da terapia ocupacional e proporcionou uma melhora nos processos motores finos de brinquedos, digitação e mouse.

DIFERENÇA DA FORMA DE PEGAR O BRINQUEDO, SEM A ÓRTESE DE POSICIONAMENTO DO MEMBRO SUPERIOR ESQUERDO E POSTERIORMENTE COM A ÓRTESE.


Da órtese inferior. Foi produzida uma órtese inferior de interface neuroarticulada. A utilização dessa órtese além de melhorar o desempenho motor, correr, brincar, gerou, sobretudo, um significativo resultado de autoestima contribuindo para uma melhora frente as demais atividades educacionais e clínicas.
Quanto aos atendimentos clínicos e educacionais o paciente progrediu consideravelmente nas diversas áreas: emocional, motora, cognitiva. Está adaptado em uma escola regular e sendo devidamente alfabetizado.
Também na escola foi criada uma unidade de recursos visando acompanhar o processo de aprendizagem escolar do menino x e atuando sempre em parceria com as professores e a família da criança.

O desafio da inclusão escolar


Estudos da literatura envolvendo casos de lesão cerebral e de situações idênticas as lesões Bilaterais Perisylvian como o caso do menino x estudado no projeto indicam a necessidade de produção de um programa genérico e inovador de avaliação situacional de conhecimentos pré-escolares para crianças com lesões cerebrais e com dificuldades de fala. Esse mesmo programa poderia ser também facilitador do complexo processo de inclusão escolar dessas crianças. 75% dos casos de paralisia cerebral apresentam restrição intelectual em diferentes graus.
Para a inclusão escolar, nosso principal objetivo inicial visou identificar as habilidades pré-escolares existentes como suporte para o início da alfabetização em determinados casos clínicos.
Na síndrome Peri-sylviana (SP) as crianças inicialmente apresentam atraso de fala e, depois, problemas para articular os sons. Na pesquisa estamos identificando habilidades necessárias para predizer o desempenho ulterior em leitura e escrita nessas crianças em estudo.
Estamos tentando implementar uma unidade de pesquisa na Escola Municipal Jardim do Sol para acompanhar todo o processo de alfabetização do menino x onde estaremos também subsidiando a escola e ajudando o menino x nas suas dificuldades de aprendizado e de fala.

Infelizmente os dados mostram que a maioria dos pais de crianças com lesões cerebrais somente com a proximidade da idade escolar é que vão procurar um tratamento sistemático (uma lástima, pois quanto mais cedo for o início do tratamento de reabilitação das lesões maior será a probabilidade de resultados positivos e reversíveis de suas consequências, sobretudo, de possíveis reversões orgânicas neuronais).
Essas crianças apresentam, na sua maioria, deficiências múltiplas, onde se incluem deficiências motoras e de linguagem (dificuldades de expressão através da linguagem oral e ou escrita). Essas crianças podem ter inteligência normal ou até acima do normal, mas também podem ter atraso intelectual, não só devido às lesões cerebrais, mas também pela falta de experiências resultante das suas deficiências.

AudioVox - Windows SE. Simulação e Testes.
Doação da Empresa Vivo - interessada em um celular para mudos
OPERAÇÃO 02. Realizar uma simulação com um produto industrial do mercado já disponível, visando testes e demonstrações. Essa operação será executada em simultaneidade com a operação 01. Essa operação foi realizada com um produto de mercado conhecido como AudioVox (doado por parcerias empresariais e industriais) onde realizou-se simulações com integração de imagens e recursos sonoros, testes junto a pacientes identificando potencialidades, limites e diretrizes para a produção do futuro protótipo IPAVOX. Foram realizados inúmeros testes e demonstrações indicando alternativas para um produto especialista final.

OPERAÇÃO 03. Indicar, explicitar, descrever, desenhar e demonstrar um protótipo funcional (IPAVOX) como um dispositivo móvel encapsulado por um sistema especialista operando de modo integrado dois módulos: 1. O módulo do usuário (dispositivo móvel) e 2. O módulo clínico (Desktop). Trata-se de um artefato móvel (multitarefa) para pessoas com diferentes tipos de perda da capacidade de expressão da fala como afasias e apraxias severas.
O projeto de pesquisa instalou uma Unidade de pesquisa HARDWARE/SOFTWARE do NITAS (Núcleo interdisciplinar de tecnologia assistiva e simbiogênese), localizada no DC Negantes do Centro Universitário Metodista IPA. O produto IPAVOX está sendo desenvolvido numa célula de trabalho localizada nessa unidade de pesquisa. Essa unidade conta com a participação direta dos professores Jefferson Couto, Omar Silveira, André Rodrigues. Esse projeto trata de uma pesquisa financiada pelo CNPQ coordenada pelo Sociólogo Dr. Gilson Lima e pelo neuologista Dr. Fleming Peixoto. O projeto propõe a criação de novos processos de reabilitação clínica e educacional integrados em simbioses digitais com um hardware móvel de sintetização “artificial” de voz.
Como vimos diante das dificuldades enfrentadas por crianças com lesões cerebrais portadores de habilidades funcionais deficitárias de atos de fala, sobretudo, em idade escolar, observou-se o potencial de aplicar a abordagem simbiogênica na cooperação da interface entre a realidade orgânica e inorgânica mediada pelas tecnologias assistivas visando suprir, reduzir ou ampliar essas funcionalidades orgânicas sensitivos-sensoriáis, motoras, comunicativas deficitárias dos atos de fala.
A operação 03 em pleno andamento. Plataforma do hardware escolhida => ARM7, linha de processadores de 32 bits estabelecida no mercado e utilizada em diversos dispositivos móveis. O protótipo está sendo desenvolvido junto a um kit de LPC 2478 que conta com controlador ARM7, display touch screen, interfaces de comunicação (serial, usb, cartão SD, som, e outros) para o desenvolvimento de drive de controle para cada periférico (tela, touch screen, comunicação, som, etc).

Alguns dos principais elementos da base de elaboração do HARDWARE/SOFTWARE

Diretriz básica: Interface facilitadora. O hardware contará flexibilidade adaptativa de processos simbiogênicos nômades e bateria com autonomia para longo tempo de uso adequada, interface de toque de tela e provável apoio de teclado virtual e interface de comunicação com desktop para alimentação de dados. Recurso de apresentação de imagens associando atividades frequentes: Bom dia, Boa tarde, Boa noite. Nome. Identificação. Situações (fome, desejos,...). Essas imagens integradas a recursos de fala serão executadas após um estido de proposições também mais frequentes.

1. Mobilidade. O protótipo deve ter uma ampla mobilidade e flexibilidade adaptativa a processos simbiogênicos nômades. Bateria com tempo de uso longo. A Produção e integração do software de sintetização de voz num protótipo no aparelho móvel denominado IPAVOX proposto inicialmente para ser utilizado num dos braços do paciente logo acima das mãos. Esse aparelho deve permitir dotar o paciente de um suporte de sintetização artificial de voz através de uma interface amigável.

2. Ter um módulo clínico e um módulo de usuário. Integração do dispositivo periférico e sistema operado em desktop. A carga de dados e controle do módulo clínico (em desktop) deve estar integrada entre o desktop e o dispositivo móvel.

3.    Interface de toque de tela com provável apoio de teclado virtual. Trata-se de um projeto que envolve alguns anos de construção. Estamos chegando na fase final do protótipo 1.0 e já foi construído para o produto os drives para controle do display (função  de  escrita  e  captura  de coordenadas de toque na tela), mapeamento de dados em memória e tratamento de eventos. Estamos iniciando a integração do IPAVOX com Desktop e os efetivos programas de conteudo e fala.
O IPAVOX é um produto chave no processo integrado de inclusão escolar e comunicação alternativa envolvendo interface computacional, com o auxilio do software que será desenvolvido para facilitação da consciência fonológica e da amplificação dos processos de significação e alfabetização beneficiará casos gerais de crianças com lesões cerebrais em idade de inclusão escolar.

Desafio para o futuro. Na versão 2.0 – proximo projeto estamos propondo:

1. Integração a banco e dados para opções verbalização rápida on-line e em tempo histórico, banco de proposições, banco de perguntas freqüentes e banco de respostas freqüentes.
2. Teclado virtual de texto no dispositivo móvel.
3 Teclado com recurso priming. Esse reurso visa também aplicar no artefato uma abordagem de interface amigável tipo janelas gráficas dentro do paradigma de priming onde no mesmo momento da digitalização antes de cada estimulo de enter completo da execução vocal, permite ir se formando léxicos a serem escolhidos por tecla de atalho rápido – tanto para destros como para canhotos – e sendo apresentada uma palavra.
4 Estudos futuros e indicações para o uso de um suporte em dicionário de apoio para as conversações.

Dos casos Clínicos. Descrição do Caso (2). Uma lesão mais grave de paralisia celerebral

Menina Y, 14 anos Tetraplegia.

Identificação da codificação da comunicação alternativa com a irmã mais nova; Atendimento interdisciplinar de: Terapia Ocupacional- Fonoaudiologia- Fisioterapia.
Implantação de programas computacionais especiais com infra-vermelho para fins de aprendizagem escolar.

O primeiro passo foi realizar uma ressonância magnética para estabelecer uma diagnosemais precisa tanto das áreas anatômicas, massa encefálica atingidas como os potenciais problemas funcionais. A Ressonância indicou:
Presença de múltiplas anomalias do córtex cerebral incluindo => 1. Áreas perisilvianas, rolândigas e ;
     2. Áreas Parieto-occipitais superiores

Situação: Compreensão verbal sem linguagem expressiva: oral e fala.

Quadro sintético: Tetraplegia => Solução sedentária/avatar – situação mais crítica da lesão.
tendimento clínico-educacional interdisciplinar. Etnografia do cotidiano e mapeamento de comunicação alternativa.
Solução sedentária: acoplamento de infravermelho com interação de interface de boca e olhos integrando minilaptop e recursos computacionais de interface.
O aparelho será acoplado na cadeira de rodas (sedentário).
As atividades de atendimento clínico e os processos de alfabetização da menina y serão suportadas por programas especialistas integrada na interface Avatar um suporte informacional com infravermelho e padrão de reconhecimento de face com interação com de comandos por olhos e boca.


No minilaptop é adaptado uma câmara especial voltada a leitura da musculatura orbicular (do olho) e dos micro movimentos da boca. Hoje já é possível encontrarmos avançados sintetizadores de comunicação alternativa falante, com falas, palavras e letras pré-armazenadas, que, inclusive, conjugam os verbos automaticamente e pode ser acionada pelo piscar de olhos ou pela leitura de varredura da boca. Nosso projeto envolve todo o rosto e a boca como os principais acionadores de comando e navegação e os olhos apenas para conectar e desconectar a paciente junto ao minilaptop. Ao se conectar a paciente e a máquina ficam integras, torna-se um avatar sua face e sua boca passam a compor e a comandar a máquina. A interface avatar permite acesso a programas windows, sintetizador de texto, jogos de aprendizagem e navegação hipertextual. Uma experiência difícil, mas altamente desafiadora e reveladora, permitindo não apenas uma expansão simbiótica motora, mas uma expansão do córtex da paciente (hipercórtex) agora integrado na aprendizagem e comunicação computacional.
Diferente do primeiro caso onde começamos com as atividades clínicas para depois ir integrando os processos de engenharia e construção do produto no caso periférico mais grave (sedentário) fez-se um caminho ao contrário. Toda a solução tecnológica foi realizada e está sendo instada. Agora nesse primeiro semestre de 2011 será iniciada as atividades clínicas e educacionais interdisciplinares integrando a solução avatar com diferentes programas especialistas de aprendizagem.

CONCLUSÃO

Conclui-se que os atendimentos interdisciplinares proporcionaram Inclusão social, inclusão digital e inclusão escolar e a abordagem interdisciplinar ampla apesar de ser muito mais complexa ao mesmo tempo produz diferentes olhares e diferentes resultados nos processos e produtos de reabilitação.
A simples produção de processos clínicos ou de produtos que envolvem o modelo de reabilitação disciplinar e reducionista não permitiria que enxergássemos tão longe e que resolvêssemos inúmeros problemas tanto técnicos como sociasis quen encontramos no caminho da execução do projeto. Isso repercute em todas as áreas que atuam na pesquisa e todos se enriquecem mutuamente tanto as atividades clínicas, as de engenharia, as atividades pedagógicas e as relações sociais permanentemente estabelecidas juntos aos familiares e as escolas dos pacientes envolvidos.
Enfim, muitas soluções só foram possíveis diante do amplo diálogo e das interfaces entre as fronteiras de conhecimento envolvidas, juntamente com a atenção desta ampla simbiose de saberes.

REFERÊNCIAS

1. PROJETO DE PESQUISA SIMBIOGÊNESE APLICADA EM PROCESSO DE REABILITAÇÃO: reabilitação sócio-educacional interdisciplinar. Coordenadores: Dr. Gilson Lima e Dr. Fleming Pedroso.
2. PROJETO CNPQ – Processo Número: 400750/2009. Coordenador: Dr. Gilson Lima.
3. Relatório parcial da situação do NITAS – projeto 400750. Centro Universitário Metodista IPA. Agosto 2009 – Agosto 2011. Centro Universitário Metodista IPA. Pós-graduação em Reabilitação e Inclusão. Núcleo Interdisciplinar de Tecnologia Assistiva e Simbiogênese. Dr. Gilson Lima.
4. LIMA, Gilson, Dr. Fleming Pedroso , Dra. Maria Inês Dornelles da Costa Ferreira , Ms. André Rodrigues , Ms. Jefferson Leal Couto. A broad interdisciplinary convergence of knowledge for rehabilitation and inclusive education: a case study.
5. LIMA, Gilson. Nômades de Pedra: Teoria da Sociedade Simbiogênica contada em prosas. Porto Alegre: Escritos, 2005.
6. MARGULIS, Lynn. O Planeta Simbiótico: nova perspectiva da evolução. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
7. _______________ ; SAGAN, Dorion. O que é vida? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
8. PEDROSO, Fleming Salvador; ROTTA, Newra Telleche. In: Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre, ArtMed, 2006.
9. POMBO, Olga. Interdisciplinaridade: ambições e limites. Lisboa: Relógio d'Água, 2004, p. 73-104.
10. ____________. Práticas interdisciplinares. Revista Sociologias, Porto Alegre, Ano 8, número 15. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006, p. 208-249.
11. SCHWARTZMAN, José Salomão. Paralisia Cerebral. São Paulo: Memnon, n. 6, p.3-5, maio-junho 1992.